Febre do Oropouche: há risco de surto de
uma 'nova' doença no Brasil? Entenda origem, sintomas e tratamento
Autoridades de saúde
estão investigando o primeiro caso da Febre do Oropouche (FO) no estado do Rio
de Janeiro depois que um homem de 42 anos contraiu a doença após uma recente
viagem ao Amazonas.
Este ano, o estado já
contabiliza 1.398 casos confirmados da febre, um aumento significativo em
relação ao ano passado (número três vezes maior).
Portanto, há a
suspeita de que o paciente tenha "importado" a doença, ou seja,
contraído a FO durante sua estadia no Norte do país.
📊Entenda o cenário
Especialistas ouvidos
pelos g1 concordam que o registro da doença no Rio é uma situação preocupante,
por causa dos riscos de uma transmissão local. Apesar disso, eles alertam que a
possibilidade de um surto da doença em todo o país - ou até mesmo no Rio de
Janeiro - é bastante baixa neste momento. Entenda mais:
1. Origem: A doença é transmitida
principalmente por mosquitos. O vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) é
mantido no sangue desses animais após eles picarem uma pessoa ou outro animal
infectado.
2. Sintomas: Ela apresenta sintomas
similares à dengue e à chikungunya, incluindo dor de cabeça, muscular, nas
articulações, náusea e diarreia - o que pode complicar diagnósticos clínicos.
3. Risco de surto: Embora haja registro de
um caso "importado" no Rio de Janeiro, a possibilidade de um surto
nacional não é iminente, mas é crucial monitorar a transmissão local, alertam
especialistas. (Veja aqui o que é um surto.)
4. Tratamento: Não há tratamento específico
para a Febre do Oropouche. Recomenda-se repouso, tratamento sintomático e
acompanhamento médico.
5. Vigilância epidemiológica: A vigilância é
fundamental para identificar os sintomas, detectar e prevenir possíveis surtos,
além de permitir o diagnóstico diferencial com outras arboviroses - como a
dengue.
Na avaliação de
Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a situação
mais crítica nesse momento é justamente no Amazonas, já que a doença tem
sintomas parecidos com os da dengue e da chikungunya.
"É pouco provável
que a gente tenha um surto de grande intensidade este ano da Febre do Oropouche
(FO) em todo o país, concomitantemente com a dengue. Você pode ter casos
esporádicos acontecendo e muitas vezes eles acabam não sendo diagnosticados ou
sendo diagnosticados como dengue. Porque clinicamente é difícil
diferenciar", alerta Chebabo.
Assim como o colega,
Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, afirma que é preciso
considerar que a Febre do Oropouche é comum na região Norte, onde já houve
registros de surtos nos últimos anos.
Por isso, o risco de
termos outros casos ou casos não importados existe. Quando há circulação do
vírus numa região, há a chance de o mosquito picar a pessoa infectada, se
contaminar e transmitir a doença para outras pessoas.
"A gente pode ter
um ou outro caso fora dessa região que não vão ser casos importados, mas isso
não vai ser um risco alto. A gente observou nos últimos surtos da doença que
eles se concentram em regiões específicas", comenta Kobayashi.
"Explicando de
uma forma mais objetiva, o risco epidemiológico de ter surtos dessa doença fora
da região Norte, que já é o comum de acontecer, ele existe, mas é baixo",
acrescenta a especialista.
• O que é a febre e quais seus sintomas
A Febre Oropouche é
transmitida principalmente por mosquitos. Depois de picarem uma pessoa ou
animal infectado, os mosquitos mantêm o vírus em seu sangue por alguns dias.
Quando esses mosquitos picam outra pessoa saudável, podem passar o vírus para
ela.
Segundo o Ministério
da Saúde, a doença tem dois ciclos de transmissão:
1. Ciclo Silvestre: Neste ciclo, os animais,
como bichos-preguiça e macacos, são os portadores do vírus. Alguns tipos de
mosquitos, como o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus, também podem
ser portadores do vírus. Mas o mosquito Culicoides paraenses, conhecido como
maruim ou mosquito-pólvora, é considerado o principal transmissor nesse ciclo.
2. Ciclo Urbano: Aqui, os humanos são os
principais portadores do vírus. O maruim também é o vetor principal. Além
disso, o mosquito Culex quinquefasciatus (o famoso pernilongo ou muriçoca),
comum em ambientes urbanos, também pode ocasionalmente transmitir o vírus.
"A possibilidade
de adaptação do Culex seria bem complicada, a gente tem bastante aqui no Rio de
Janeiro. Mas se isso vai acontecer ou não, a gente não sabe", alerta
Chebabo.
Ainda segundo o
Ministério da Saúde, os sintomas da doença são parecidos com os da dengue e da
chikungunya:
• dor de cabeça,
• dor muscular,
• dor nas articulações,
• náusea
• e diarreia.
>>> Doença
não tem tratamento, mas não é grave
O diagnóstico da Febre
do Oropouche envolve uma avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial. Além
disso, todos os casos de infecção devem ser comunicados, pois a doença é de
notificação obrigatória devido ao seu potencial epidêmico e capacidade de mutação,
podendo representar uma ameaça à saúde pública.
Por isso, como
clinicamente é difícil distinguir os seus sintomas com os da dengue, a
vigilância epidemiológica (ações que promovem a detecção e prevenção de
doenças) exerce um papel crucial no controle dos casos. O diagnóstico aumenta a
suspeita clínica para outras doenças e permite uma análise laboratorial que
pode revelar outras arboviroses, como a febre ou a dengue.
Se uma pessoa vem da
região Norte do país, isso aumenta nossa suspeita não apenas de dengue, mas de
outras doenças. É fundamental ter a informação sobre um surto de outra doença
semelhante no país para que, ao atender alguém com sintomas sugestivos dessas
doenças, possamos estar preparados. — Carla Kobayashi, infectologista do
Hospital Sírio-Libanês.
Kobayashi também
ressalta um aspecto crucial: a doença não é de alta gravidade.
Embora a Febre do
Oropouche (FO) possa causar complicações sérias, como meningite ou encefalite,
que afetam o sistema nervoso central, esses casos são raros.
"Então é
importante a gente ter isso em mente também para não ter uma percepção de risco
maior", diz.
Apesar disso, a FO NÃO
possui tratamento específico - assim como a dengue.
O Ministério da Saúde
recomenda que os pacientes descansem, recebam tratamento para os sintomas e
sejam acompanhados por médicos.
E para prevenir a
doença, são aconselháveis as mesmas medidias de prevenção à dengue:
• Evitar áreas com muitos mosquitos, se
possível.
• Usar roupas que cubram o corpo e aplicar
repelente nas áreas expostas da pele.
• Manter a casa limpa, eliminando
possíveis locais de reprodução de mosquitos, como água parada e folhas
acumuladas.
Alerta na saúde: Brasil passa de 1 milhão
de casos de dengue, com 214 mortes no ano
O Brasil passou de 1
milhão de casos (prováveis e confirmados) de dengue em 2024. Segundo dados do
Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde desta quinta-feira (29), o país
registrou 1.017.278 casos nas primeiras oito semanas deste ano. No mesmo período
do ano passado, o Brasil tinha 207.475 casos.
Até o momento, 214
mortes foram confirmadas desde janeiro e 687 seguem em investigação. Em 2023,
foram 149 óbitos entre as semanas 01 e 08.
Renato Kfouri,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), comenta que o
início precoce de alta de casos, que ainda estão em ascensão, chamou atenção no
comportamento da dengue neste ano.
"Nesse 1 milhão
de casos nós temos uma imprevisibilidade da dengue. Tem anos que a temporada
começa mais cedo e acalma mais cedo. Tem anos que a temporada vai num platô.
Tem anos que você tem um pico muito grande, mas de curta duração", analisa
Kfouri.
Em entrevista recente
ao g1, Kleber Luz, infectologista e consultor da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e Opas para a elaboração de diretrizes estratégicas para prevenção e
controle das arboviroses, também analisou o comportamento da curva de casos em 2024.
"A curva está
tendo uma inclinação muito positiva desde o início do ano, e isso é ruim. O
gráfico deveria subir mais lentamente, e não é isso que estamos vendo. A
expectativa é que a gente bata todos os recordes de dengue em 2024, já que a
largada começou com alta velocidade", disse.
• 'Dia D'
Com a alta de casos,
sete estados do país (AC, GO, MG, ES, RJ, SC e SP) e o Distrito Federal
declararam emergência em saúde pública por causa da dengue. Para conter o
avanço da doença, o Ministério da Saúde disse que irá implementar um "Dia
D" de mobilização nacional contra a dengue, neste sábado, 2 de março.
"[Será] um
momento de atenção do país, de atenção das autoridades sanitárias, do
Ministério da Saúde, de um monitoramento muito próximo ao que está acontecendo
nas diferentes regiões, estados e municípios", disse a ministra da Saúde,
Nísia Trindade.
• O que devemos fazer
A dengue só acontece
se houver a presença do mosquito Aedes aegypti. Essa é, praticamente, a única
forma de transmissão da doença que causa repercussão na sociedade. Para evitar,
então, não há muito segredo: precisamos acabar com os criadouros do mosquito. E
o combate depende de todos, seja a sociedade em geral, governo e profissionais
de saúde.
Segundo o Ministério
da Saúde, cerca de 75% dos criadouros do mosquito transmissor estão nos
domicílios, como em vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis,
pingadeira, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral e
materiais em depósitos de construção (sanitários estocados, canos e outros).
Esses criadouros permitem a proliferação da fêmea do mosquito Aedes aegypti
(transmissora da dengue).
"O controle é
vetorial, precisamos combater o mosquito. A população precisa ser educada,
entender que a dengue é uma doença grave e devemos controlar o criadouro. Já os
gestores precisam disponibilizar larvicidas, fumacê, distribuição de
inseticidas", diz Kleber Luz.
O infectologista e
consultor da OMS lembra que a dengue mata pessoas absolutamente saudáveis e de
qualquer idade. Por isso, ao apresentar os primeiros sintomas, a pessoa deve
procurar uma unidade de saúde para diagnóstico e tratamento adequados, visto que
a infecção pode evoluir rápido e o óbito pode vir no terceiro ou quarto dia.
Fonte: g1
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