sábado, 2 de março de 2024

Febre do Oropouche: há risco de surto de uma 'nova' doença no Brasil? Entenda origem, sintomas e tratamento

Autoridades de saúde estão investigando o primeiro caso da Febre do Oropouche (FO) no estado do Rio de Janeiro depois que um homem de 42 anos contraiu a doença após uma recente viagem ao Amazonas.

Este ano, o estado já contabiliza 1.398 casos confirmados da febre, um aumento significativo em relação ao ano passado (número três vezes maior).

Portanto, há a suspeita de que o paciente tenha "importado" a doença, ou seja, contraído a FO durante sua estadia no Norte do país.

📊Entenda o cenário

Especialistas ouvidos pelos g1 concordam que o registro da doença no Rio é uma situação preocupante, por causa dos riscos de uma transmissão local. Apesar disso, eles alertam que a possibilidade de um surto da doença em todo o país - ou até mesmo no Rio de Janeiro - é bastante baixa neste momento. Entenda mais:

1.       Origem: A doença é transmitida principalmente por mosquitos. O vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) é mantido no sangue desses animais após eles picarem uma pessoa ou outro animal infectado.

2.       Sintomas: Ela apresenta sintomas similares à dengue e à chikungunya, incluindo dor de cabeça, muscular, nas articulações, náusea e diarreia - o que pode complicar diagnósticos clínicos.

3.       Risco de surto: Embora haja registro de um caso "importado" no Rio de Janeiro, a possibilidade de um surto nacional não é iminente, mas é crucial monitorar a transmissão local, alertam especialistas. (Veja aqui o que é um surto.)

4.       Tratamento: Não há tratamento específico para a Febre do Oropouche. Recomenda-se repouso, tratamento sintomático e acompanhamento médico.

5.       Vigilância epidemiológica: A vigilância é fundamental para identificar os sintomas, detectar e prevenir possíveis surtos, além de permitir o diagnóstico diferencial com outras arboviroses - como a dengue.

Na avaliação de Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a situação mais crítica nesse momento é justamente no Amazonas, já que a doença tem sintomas parecidos com os da dengue e da chikungunya.

"É pouco provável que a gente tenha um surto de grande intensidade este ano da Febre do Oropouche (FO) em todo o país, concomitantemente com a dengue. Você pode ter casos esporádicos acontecendo e muitas vezes eles acabam não sendo diagnosticados ou sendo diagnosticados como dengue. Porque clinicamente é difícil diferenciar", alerta Chebabo.

Assim como o colega, Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, afirma que é preciso considerar que a Febre do Oropouche é comum na região Norte, onde já houve registros de surtos nos últimos anos.

Por isso, o risco de termos outros casos ou casos não importados existe. Quando há circulação do vírus numa região, há a chance de o mosquito picar a pessoa infectada, se contaminar e transmitir a doença para outras pessoas.

"A gente pode ter um ou outro caso fora dessa região que não vão ser casos importados, mas isso não vai ser um risco alto. A gente observou nos últimos surtos da doença que eles se concentram em regiões específicas", comenta Kobayashi.

"Explicando de uma forma mais objetiva, o risco epidemiológico de ter surtos dessa doença fora da região Norte, que já é o comum de acontecer, ele existe, mas é baixo", acrescenta a especialista.

•        O que é a febre e quais seus sintomas

A Febre Oropouche é transmitida principalmente por mosquitos. Depois de picarem uma pessoa ou animal infectado, os mosquitos mantêm o vírus em seu sangue por alguns dias. Quando esses mosquitos picam outra pessoa saudável, podem passar o vírus para ela.

Segundo o Ministério da Saúde, a doença tem dois ciclos de transmissão:

1.       Ciclo Silvestre: Neste ciclo, os animais, como bichos-preguiça e macacos, são os portadores do vírus. Alguns tipos de mosquitos, como o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus, também podem ser portadores do vírus. Mas o mosquito Culicoides paraenses, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, é considerado o principal transmissor nesse ciclo.

2.       Ciclo Urbano: Aqui, os humanos são os principais portadores do vírus. O maruim também é o vetor principal. Além disso, o mosquito Culex quinquefasciatus (o famoso pernilongo ou muriçoca), comum em ambientes urbanos, também pode ocasionalmente transmitir o vírus.

"A possibilidade de adaptação do Culex seria bem complicada, a gente tem bastante aqui no Rio de Janeiro. Mas se isso vai acontecer ou não, a gente não sabe", alerta Chebabo.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, os sintomas da doença são parecidos com os da dengue e da chikungunya:

•        dor de cabeça,

•        dor muscular,

•        dor nas articulações,

•        náusea

•        e diarreia.

>>> Doença não tem tratamento, mas não é grave

O diagnóstico da Febre do Oropouche envolve uma avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial. Além disso, todos os casos de infecção devem ser comunicados, pois a doença é de notificação obrigatória devido ao seu potencial epidêmico e capacidade de mutação, podendo representar uma ameaça à saúde pública.

Por isso, como clinicamente é difícil distinguir os seus sintomas com os da dengue, a vigilância epidemiológica (ações que promovem a detecção e prevenção de doenças) exerce um papel crucial no controle dos casos. O diagnóstico aumenta a suspeita clínica para outras doenças e permite uma análise laboratorial que pode revelar outras arboviroses, como a febre ou a dengue.

Se uma pessoa vem da região Norte do país, isso aumenta nossa suspeita não apenas de dengue, mas de outras doenças. É fundamental ter a informação sobre um surto de outra doença semelhante no país para que, ao atender alguém com sintomas sugestivos dessas doenças, possamos estar preparados. — Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês.

Kobayashi também ressalta um aspecto crucial: a doença não é de alta gravidade.

Embora a Febre do Oropouche (FO) possa causar complicações sérias, como meningite ou encefalite, que afetam o sistema nervoso central, esses casos são raros.

"Então é importante a gente ter isso em mente também para não ter uma percepção de risco maior", diz.

Apesar disso, a FO NÃO possui tratamento específico - assim como a dengue.

O Ministério da Saúde recomenda que os pacientes descansem, recebam tratamento para os sintomas e sejam acompanhados por médicos.

E para prevenir a doença, são aconselháveis as mesmas medidias de prevenção à dengue:

•        Evitar áreas com muitos mosquitos, se possível.

•        Usar roupas que cubram o corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele.

•        Manter a casa limpa, eliminando possíveis locais de reprodução de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas.

 

       Alerta na saúde: Brasil passa de 1 milhão de casos de dengue, com 214 mortes no ano

 

O Brasil passou de 1 milhão de casos (prováveis e confirmados) de dengue em 2024. Segundo dados do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde desta quinta-feira (29), o país registrou 1.017.278 casos nas primeiras oito semanas deste ano. No mesmo período do ano passado, o Brasil tinha 207.475 casos.

Até o momento, 214 mortes foram confirmadas desde janeiro e 687 seguem em investigação. Em 2023, foram 149 óbitos entre as semanas 01 e 08.

Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), comenta que o início precoce de alta de casos, que ainda estão em ascensão, chamou atenção no comportamento da dengue neste ano.

"Nesse 1 milhão de casos nós temos uma imprevisibilidade da dengue. Tem anos que a temporada começa mais cedo e acalma mais cedo. Tem anos que a temporada vai num platô. Tem anos que você tem um pico muito grande, mas de curta duração", analisa Kfouri.

Em entrevista recente ao g1, Kleber Luz, infectologista e consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Opas para a elaboração de diretrizes estratégicas para prevenção e controle das arboviroses, também analisou o comportamento da curva de casos em 2024.

"A curva está tendo uma inclinação muito positiva desde o início do ano, e isso é ruim. O gráfico deveria subir mais lentamente, e não é isso que estamos vendo. A expectativa é que a gente bata todos os recordes de dengue em 2024, já que a largada começou com alta velocidade", disse.

•        'Dia D'

Com a alta de casos, sete estados do país (AC, GO, MG, ES, RJ, SC e SP) e o Distrito Federal declararam emergência em saúde pública por causa da dengue. Para conter o avanço da doença, o Ministério da Saúde disse que irá implementar um "Dia D" de mobilização nacional contra a dengue, neste sábado, 2 de março.

"[Será] um momento de atenção do país, de atenção das autoridades sanitárias, do Ministério da Saúde, de um monitoramento muito próximo ao que está acontecendo nas diferentes regiões, estados e municípios", disse a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

•        O que devemos fazer

A dengue só acontece se houver a presença do mosquito Aedes aegypti. Essa é, praticamente, a única forma de transmissão da doença que causa repercussão na sociedade. Para evitar, então, não há muito segredo: precisamos acabar com os criadouros do mosquito. E o combate depende de todos, seja a sociedade em geral, governo e profissionais de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 75% dos criadouros do mosquito transmissor estão nos domicílios, como em vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis, pingadeira, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral e materiais em depósitos de construção (sanitários estocados, canos e outros). Esses criadouros permitem a proliferação da fêmea do mosquito Aedes aegypti (transmissora da dengue).

"O controle é vetorial, precisamos combater o mosquito. A população precisa ser educada, entender que a dengue é uma doença grave e devemos controlar o criadouro. Já os gestores precisam disponibilizar larvicidas, fumacê, distribuição de inseticidas", diz Kleber Luz.

O infectologista e consultor da OMS lembra que a dengue mata pessoas absolutamente saudáveis e de qualquer idade. Por isso, ao apresentar os primeiros sintomas, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde para diagnóstico e tratamento adequados, visto que a infecção pode evoluir rápido e o óbito pode vir no terceiro ou quarto dia.

 

Fonte: g1

 

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