Extremismo digital no País usa métodos
nazista e fascista, diz Moraes
Ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Alexandre de Moraes comparou os métodos utilizados para a propagação de
desinformação pelas “milícias digitais” na internet àqueles utilizados em
regimes fascista e nazista. O tema faz parte da tese que o ministro elaborou e
inscreveu para participar do concurso para uma vaga de professor titular da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
“O novo populismo
digital extremista evoluiu na utilização dos métodos utilizados pelos regimes
ditatoriais que chegaram ao poder no início do século XX – regimes nazista e
fascista -, com aprimoramento na divulgação de notícias fraudulentas, com
patente corrosão da linguagem, na substituição da razão pela emoção, no uso de
massiva desinformação, no ataque à imprensa livre e à independência do Poder
Judiciário”, afirma o ministro em um trecho do trabalho.
Moraes é relator de
uma série de inquéritos que miram Jair Bolsonaro (PL) e seu aliados mais
próximos. Entre eles, o dos ataques do 8 de Janeiro às sedes dos Três Poderes,
em Brasília, e o de uma suposta investidura golpista após as eleições de 2022.
Foi ele quem autorizou no início do mês a operação da Polícia Federal (PF)
Tempus Veritatis, que investiga o ex-presidente por organização criminosa em
tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.
Segundo a
investigação, a tentativa de golpe estava organizada em seis núcleos. Um deles
teria atuado exclusivamente na “produção, divulgação e amplificação de notícias
falsas e de ‘estudos’ quanto à falta de lisura das eleições presidenciais de
2022?.
Moraes também é o
responsável pelo inquérito das milícias digitais, que investiga a atuação de
grupos organizados na internet para atacar a democracia.
Os assuntos estão na
tese apresentada por Moraes, intitulada “O Direito Eleitoral e o novo populismo
digital extremista”. No estudo, o ministro afirma que a instrumentalização das
redes sociais e de serviços de mensagens por milícias digitais é, neste momento,
“um dos mais graves e perigosos instrumentos de corrosão da democracia”,
afirmando que é preciso uma nova postura, tanto do Legislativo quanto da
Justiça Eleitoral.
Para Moraes, as
milícias digitais têm “conivência passiva” das empresas responsáveis pelos
serviços digitais e “extrapolam ilicitamente todos os limites razoáveis e
constitucionais da liberdade de expressão”.
“Como tenho
constantemente afirmado: liberdade de expressão não é liberdade de agressão!
Liberdade de expressão não é liberdade de destruição da democracia, das
instituições e da dignidade e honra alheias! Liberdade de expressão não é
liberdade de propagação de discursos de ódio e preconceituosos!”, afirma
Moraes.
O ministro também
menciona em diversos momentos do texto a necessária regulamentação por parte do
Poder Legislativo sobre as grandes empresas de tecnologia, defendendo regras
tanto de caráter preventivo, “que garantam o respeito à igualdade de condições eleitorais
e protejam a livre e consciente vontade do eleitorado no momento de sua
escolha”, como de caráter repressivo, com possibilidade de “punições
eleitorais, civis e penais aos candidatos e aos provedores das redes sociais e
serviços de mensageria privada”.
Atual professor
associado da instituição, Moraes concorre à vaga sozinho. O trabalho foi
submetido em 12 de janeiro, mas nesta quinta-feira, 29, a inscrição será
apreciada pela Congregação da Faculdade e a banca avaliadora será definida.
Uma vez aprovada a
inscrição, o trabalho ficará à disposição do público em geral e ela será
divulgada no Diário Oficial do Estado. A partir daí, o presidente da banca
poderá marcar a data das próximas etapas do concurso, que é composto de
avaliações escritas e orais.
Lula diz que IA está manipulando a
humanidade e fake news são ‘violência contra a democracia’
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) disse que a humanidade está se tornando vítima dos
algoritmos e está sendo manipulada com inteligência artificial (IA). O
presidente também manifestou preocupação com informações falsas disseminadas na
internet, afirmando que elas representam uma “violência contra a democracia e
contra as pessoas”.
“O dado concreto é que
a humanidade está virando vítima dos algoritmos. Ou seja, ela está sendo
manipulada, agora, com inteligência artificial, como jamais aconteceu em
qualquer outro momento da história da humanidade. Se isso não preocupa os
democratas do mundo, a mim preocupa”, disse Lula, em entrevista à RedeTV nesta
terça-feira, 27.
Ao ser questionado
sobre a manifestação bolsonarista na Avenida Paulista do último domingo, 25, e
anistia solicitada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o chefe do Executivo
afirmou que as plataformas de redes sociais estão sendo usadas pela extrema direita
para propagar mentiras e fake news.
Para Lula, é
necessário que o debate seja internacional. Ele afirmou que pretende discutir
sobre o assunto no G-20. “Como você vai combater isso se você não tem uma
decisão, que não é só de um país, é do sistema ONU, para que a gente possa
controlar as chamadas empresas de aplicativos naquilo que diz respeito à
violência contra a democracia, contra as pessoas”, questionou.
O presidente também
admitiu que o ato em apoio a Bolsonaro foi grande. “Não é possível negar um
fato. Eles fizeram uma grande manifestação em São Paulo. O dado concreto é que
foi uma manifestação em defesa do golpe”, disse.
A estimativa da
Secretaria de Segurança Pública (SSP) estima que 600 mil pessoas estiveram
presentes na Avenida Paulista, com projeção até 750 mil, incluindo região
adjacente à Paulista. Em paralelo, o Monitor do Debate Político no Meio
Digital, projeto de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), calculou 185
mil manifestantes durante pico do protesto.
Esquerda convoca atos pela prisão de Jair
Bolsonaro por investigação sobre tentativa de golpe
Frentes de esquerda
que abrigam sindicatos e movimentos sociais anunciaram que irão realizar, no
dia 23 de março, manifestações nas 27 capitais para defender a prisão do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O anúncio da manifestação ocorreu nesta
terça-feira, 27, dois dias após o ex-presidente reunir centenas de milhares de
pessoas na Avenida Paulista e defender uma anistia para golpistas presos pelos
atos de 8 de Janeiro.
As manifestações serão
organizadas pelos movimentos de esquerda Frente Povo Sem Medo (FPSM) e Frente
Brasil Popular. Nesta terça-feira, 27, os coletivos se reuniram com
representantes do PT, PCdoB e PSOL e líderes de movimentos sociais para definir
a data do ato.
As manifestações irão
acontecer em todas as 27 capitais do País, mas deve ter um esforço de
mobilização reforçado em São Paulo e em Salvador. Ao Estadão, lideranças de
esquerda que participaram da reunião disseram que a capital paulista será
privilegiada pelo seu histórico de manifestações e pelo resultado obtido por
Bolsonaro no último domingo. A metrópole baiana, por sua vez, será privilegiada
por ser a maior cidade do Nordeste e um dos principais redutos eleitorais do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro é
investigado pela Polícia Federal (PF) por ter planejado um golpe de Estado após
as eleições de 2022, junto com seus aliados e militares de alta patente. Após
ser alvo da Operação Tempus Veritatis no último dia 8, o ex-presidente convocou
apoiadores para um ato na Avenida Paulista, que aconteceu neste domingo, 25, e
reuniu centenas de milhares de pessoas
No evento, ele negou
ter atuado na tentativa de um golpe de Estado e minimizou a “minuta de golpe”
de Estado encontrada pela PF, que se tornou uma das principais provas contra o
ex-chefe do Executivo.
“O que é golpe? Golpe
é tanque na rua. É arma. É conspiração. É trazer classes políticas para o seu
lado, empresariais. Isso que é golpe. Nada disso foi feito no Brasil. E fora
isso, por que ainda continuam me acusando de um golpe? Agora, o golpe é porque
tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição?
Tenham santa paciência”, discursou Bolsonaro a apoiadores.
Bolsonaro também disse
que busca a “pacificação” do País e pediu anistia para os golpistas presos pelo
ataque aos prédios públicos no 8 de Janeiro. O ex-presidente chamou os vândalos
de “pobres coitados que estão presos em Brasília”.
“Teria muito a falar.
Tem gente que sabe o que eu falaria. Mas o que eu busco é a pacificação, é
passar uma borracha no passado, é buscar uma maneira de nós vivermos em paz,
não continuarmos sobressaltados. Por parte do Parlamento brasileiro, é uma
anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não
queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos”, disse o
ex-presidente.
• Ato contará com carta pedindo as prisões
do ex-presidente e de aliados
Durante o ato, está
prevista a leitura de uma carta onde será defendida a prisão de Bolsonaro e dos
seus aliados que também foram alvos da operação da PF. Ao Estadão, o
coordenador geral do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Rud Rafael,
que integra a Frente Brasil Sem Medo, disse que os setores da esquerda que irão
participar da manifestação consideram que as provas já coletadas pela PF
sustentariam a privação de liberdade do ex-chefe do Executivo.
“A prisão de Bolsonaro
precisa ser feita em decorrência das investigações. A gente quer que seja
concluída o mais rápido possível. As provas já estão colocadas e a gente quer
que haja o julgamento para que tenha a punição para ele e para todos que tiveram
envolvimento com essa tentativa de golpe”, disse o coordenador geral do MTST.
O ato será realizado
dois dias após o aniversário de 69 anos de Bolsonaro. Porém, segundo os seus
organizadores, ele será feito no dia 23 de março para relembrar os 60 anos do
Golpe Militar de 1964. O acontecimento se deu no dia 31 de março, porém as
frentes de esquerda disseram que adiantaram uma semana por conta do feriado da
Páscoa.
Além da prisão do
ex-presidente e dos demais investigados pela Polícia Federal, a manifestação
também terá como pauta o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Segundo organizadores das manifestações ouvidos pelo Estadão, os movimentos
irão prestar solidariedade ao povo palestino e pedir o fim do conflito na
região.
No último dia 18, Lula
comparou a incursão de Israel na Faixa de Gaza com o extermínio de judeus
promovido pela Alemanha nazista. A declaração fez com que o petista fosse
declarado “persona non grata” pelo estado israelense, além de gerar um pedido
de impeachment que foi assinado por 139 parlamentares da Câmara dos Deputados e
protocolado na semana passada.
• Sindicatos e movimentos sociais
A Frente Povo Sem Medo
foi criada em 2015, durante a crise política que desencadeou o impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A partir do coletivo, que serve como uma
articulação de sindicatos e movimentos de esquerda, foram feitos protestos de
oposição ao processo de cassação. Após o afastamento da petista, as
manifestações lideradas pelo grupo prosseguiram nas gestões de Bolsonaro e do
ex-presidente Michel Temer (MDB).
Um dos principais
integrantes da FPSM é o MTST, que realiza protestos pautados no direito à
moradia e reforma urbana. Um dos maiores representantes do MTST é o deputado
federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que é pré-candidato à Prefeitura de São
Paulo e atua na liderança do movimento desde 2002.
Também formada durante
a crise política no governo Dilma, a Frente Brasil Popular é mais próxima do
Partido dos Trabalhadores. O coletivo tem como integrantes de destaque a
Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Fonte: IstoÉ/Agencia
Estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário