Denise Assis: Nota 'Ordem da Noite' desafia
acordo sobre 1964
'Desde a tarde de quarta-feira
(20/03), circula nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp do meio militar uma
nota com cheiro de naftalina, bolor e ranço. Ela chegou a ser atribuída a um
“coronel reformado”, mas como a turma do “covardão” tem esse sentimento como
método, o da covardia, a nota não está assinada. Apenas conclama aos seus pares
a embarcar numa máquina do tempo, de volta a um passado “formatado” em cima de
um discurso que rios de tinta e celulose já derrubou: o país vivia em 1964 a
ameaça de um “comunismo” armado e organizado, que queria implantar um sistema
exótico de governo.
“Em 1964 não
hesitamos em cumprir o mais elementar dos deveres: correr em defesa de nossa
Pátria ameaçada pelo inimigo. Estejam certos de que a decisão tomada pelos
chefes de hoje em nada mancha a honra de nossa geração. Pelo contrário, exalta
nossa fidelidade a nossos princípios e nosso amor a esse povo do qual fazíamos
parte, que naquela época também nos amava e que hoje nos abomina, com razão.”
Como é que é???
Debalde – para ficar
num termo correspondente à linguagem da nota -, foram os esforços durante esses
60 anos que nos separam daquele 1 de abril de 1964, para apontar o óbvio: se a
ameaça comunista existia, e se os “comunistas” estavam tão organizados, por que
não se utilizaram de seus “exércitos vermelhos” para reagir aos tanques e
garruchas do senhor Olympio Mourão, o general do golpe?
Porque, de fato, essa
não era a ideia em curso no seio do governo João Goulart, um estancieiro rico,
nacionalista, que só queria um país mais igual e menos injusto. Tanto é assim,
que juntou meia dúzia de pertences e deixou vaga a cadeira da Presidência, para
que – eles sim, os estadunidenses que estavam com um transatlântico prontinho
na costa brasileira -, não derramassem litros de sangue dos nossos, a fim de
manter o país longe de um modelo de socialismo recém-implantado em Cuba (1959),
verdadeira paranoia para o Pentágono.
A ex-presidente Dilma
Rousseff proibiu a leitura da “Ordem do Dia” em 31 de março, (ou seria primeiro
de abril???) durante o seu governo. Como sabemos, não conseguiu terminar o
mandato. Não por isso, mas a decisão foi um dos argumentos usados para elencar
a irritação – sim, eles ficam irritados por qualquer dê cá a minha pena -, como
o “bicho-papão” dos militares, quanto a atitudes tomadas pela presidente.
Obviamente, embora
quilos de análises sobre o impeachment apontem a descoberta do pré-sal, a
ambição estadunidense sobre a descoberta e a sua exploração, as ações
desmedidas da Lava Jato, a criação da Comissão Nacional da Verdade e outros
motivos, essa e outras razões ecoam e são usadas como desculpa para o governo
atual pisar em ovos com relação aos uniformizados.
Com seu terno mais
bonito, José Múcio visitou, para mais um cafezinho, os comandos, a fim de
(“solicitar, penhoradamente”), imagina-se que foram os termos usados por ele,
que não houvesse “ordem do dia”, lida nos quartéis país afora. Baixar uma
proibição, como fez Dilma, é para poucos. Vai daí, que esse “anônimo” redigiu
uma “Ordem da Noite”, para na encolha disseminar mentiras chorosas sobre as
tropas.
“Só a Marinha de
Tamandaré o honrou. O Povo, que confiou naquelas palavras e por mais de 60 dias
implorou pela ajuda e a proteção do EB nas portas dos quartéis, foi entregue à
Gestapo tupiniquim e conduzida brutalmente a campos de concentração”. Como
diria o personagem do desenho animado: Ó dia, ó azar... Dessa forma,
lamurienta, querem fazer prevalecer nas fileiras o discurso golpista. Por
agora, enquanto reina o pacto do “vamos virar a página”, a mensagem do coronel
anônimo e “covardinho”, não encontra eco. Mas, a prevalecer a compreensão da
“tutela”, a pergunta que fica é: até quando? (Leia a íntegra da “Ordem da
Noite”. Nome apropriado, pois joga com o breu do obscurantismo).
>>>>> “NÃO
DEIXE DE LER! Ordem da Noite
A Pátria
não é ninguém; são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia,
à palavra, à associação. A Pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um
monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a
consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão
da lei, da língua e da liberdade. // Ruy Barbosa, 1903
A
Contrarrevolução de 1964 foi tão importante para a história de nosso País que é
fora de questão deixar seu aniversário passar em branco. Como membro da geração
que participou dela, na inexistência de uma Ordem do Dia, envio algumas
palavras àqueles meus irmãos de armas do Exército de Caxias e as chamo “Ordem
da Noite”.
Esse nome
não somente evita excitar os pruridos do senhor cmt do EB como se aplica
perfeitamente aos tempos trevosos que a Força vem vivendo hoje em sua transição
rumo ao bolivarianismo.
É
dispensável repetir para nós aqui a descrição dos acontecimentos que precederam
e sucederam o 31 de março de 1964. Nós os vivemos. Além disso, outros mais
competentes que eu já o fizeram e ainda o fazem muito bem, o que é importante
para evitar que o inimigo reescreva a história a seu bel-prazer.
A
Contrarrevolução de 1964 foi uma obra do povo brasileiro, o civil e o fardado.
Com o aumento do caos político instaurado no País por mais uma tentativa de
tomada do poder arquitetada pelos comunistas, as Marchas da Família com Deus
pela Liberdade clamaram pela intervenção das Forças Armadas para assegurar que
nossa Pátria não fosse envenenada por aquela ideologia demoníaca.
Se há uma
constante nos regimes comunistas, essa é a imutabilidade. Seus defensores
mantêm sempre a mesma promessa: um povo feliz e trabalhador, que abra mão de
“alguns” direitos em troca de viver em um país onde todos seriam iguais (embora
os dirigentes sejam mais iguais que os outros), dirigido e sustentado por um
governo sábio, honesto, bondoso e capaz de gerir com eficiência todas as
necessidades materiais de seus habitantes sem necessidade de iniciativas
privadas. A harmonia reinante justificaria a existência de apenas um partido
político e a obediência a ele seria a única religião permitida.
E oferecem
sempre o mesmo resultado: o totalitarismo, a servidão, a desumanidade, a
corrupção, a degradação moral, o fausto dos dirigentes e a miséria, a fome a
fuga ou a morte para aqueles que não estejam entre eles.
Não há um
lugar na face da Terra onde regimes dessa natureza tenham prosperado.
Em 1964
senti, como vocês, o orgulho e o prazer de cumprir nossa missão e com
humildade, como convém a um tenente, colaborar para derrotar mais um esforço
para colocar o comunismo no poder em nosso País. E o Exército a que
pertencíamos, comandado pelos Chefes de então, sepultou as tentativas do
inimigo, venceu a guerrilha urbana, venceu a guerrilha na selva e tornou o
Brasil um dos poucos países latino-americanos onde não puderam prosperar bandos
criminosos como os Montoneros, os Tupamaros, o MIR, as FARC, o ELN, o Sendero
Luminoso etc.
O amor
pela Pátria, a coragem, a lealdade, o profissionalismo, virtudes que tanto
prezamos, hoje são conceitos mortos. Ao mesmo tempo que decide não publicar uma
Ordem do Dia em memória do movimento histórico de 1964, o cmt do EB envia uma
nota às suas organizações que em seu item 32 fala em “fortalecer o culto às
tradições, aos valores militares e à ética.”
A que
tradições, a que valores, a que ética o cmt do EB se refere? Não são as mesmas
do nosso tempo.
Da mesma
forma, os chefes das Forças Armadas assinaram uma nota ao Povo Brasileiro em 11
de novembro de 2022 na qual diziam “… a Marinha do Brasil, o Exército
Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e
inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e
social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças
Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa
história”.
Até entre
os contraventores do jogo do bicho “vale o que está escrito”. O que significa
“compromisso irrestrito e inabalável”? É possível confiar em quem depois de
escrever isso preferiu evitar o “incômodo” de um eventual confronto?
Só a
Marinha de Tamandaré o honrou. O Povo, que confiou naquelas palavras e por mais
de 60 dias implorou pela ajuda e a proteção do EB nas portas dos quartéis, foi
entregue à Gestapo tupiniquim e conduzida brutalmente a campos de concentração.
Mas as
pessoas que hoje comandam o EB não são donas da Força. O nível de testosterona
e de patriotismo de outra safra melhor que venha por aí, ou mesmo uma brecha
qualquer no sistema há de permitir que um Chefe de verdade chegue a tempo,
antes que o Brasil se transforme no enorme Estado narcotraficante e bolivariano
que o governo está construindo.
Em 1964
não hesitamos em cumprir o mais elementar dos deveres: correr em defesa de
nossa Pátria ameaçada pelo inimigo. Estejam certos que (sic) a decisão tomada pelos chefes de hoje em nada
mancha a honra de nossa geração. Pelo contrário, exalta nossa fidelidade a
nossos princípios e nosso amor a esse povo do qual fazíamos parte, que naquela
época também nos amava e que hoje nos abomina, com razão.
Fomos
chamados a escolher entre condenar nosso País a uma existência miserável sob a
espora e o rebenque do comunismo ou colocá-la no caminho da Pátria descrita
acima por Ruy Barbosa. Nossa geração fez sua escolha. Que cada um hoje faça
também a sua.
Parabéns (sic) meus irmãos de armas, velhos guerreiros de 1964.
Os cabelos da geração de ferro embranqueceram, o corpo sente os efeitos do
passar do tempo, mas a lembrança daqueles dias gloriosos nos rejuvenesce. Nesta
data nossos corações brasileiros batem mais forte, nossa alma patriota se eleva
e nossas consciências tranquilas brilham com a luz intensa do dever bem
cumprido".
Ø Emir Sader: A esquerda morreu! Viva a esquerda!
Uma análise que não
consegue captar onde está a esquerda, onde está a direita, não está em
condições de compreender o Brasil.
Afinal de contas, qual
é a linha divisória, para entender onde estão a esquerda e a direita. Qual o
critério para a definição dos dois campos?
O período histórico
atual está marcado pela adoção, pelo capitalismo, do modelo neoliberal. A
direita assumiu seu modelo atual, é uma força neoliberal, que centra sua ação
contra o Estado, pela desregulação econômica, pelo livre comércio. Ser de
direita hoje é assumir o neoliberalismo.
Nesse sentido, onde
está a direita, onde está a esquerda? Uma força, um governo de direita, é uma
força e um governo neoliberal. Uma força e um governo de esquerda, por sua vez,
são força e governo antineoliberal.
Absurdos de quem faz
demagogia na mídia, chega a questionar se o governo brasileiro atual é de
esquerda. Ou, se a esquerda teria morrido, o governo do Lula e o PT, deixariam
de ser de esquerda.
Fosse assim, não
conseguiriam distinguir os governos do PT e os governos do PSDB e, agora, os
governos de extrema direita, do Bolsonaro. Perderam a capacidade de diferenciar
direita e esquerda.
Os governos
neoliberais se caracterizam pela privatização generalizada de empresas. Se
opõem frontalmente ao Estado, chegam a defini-lo como seu inimigo central.
Promovem os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos.
Para quem perdeu a
perspectiva, os governos e as forças antineoliberais priorizam as políticas
sociais, promovem o fortalecimento do Estado e os processos de integração,
tanto regionais, quanto Sul-Sul.
Em suma, o
enfrentamento entre o neoliberalismo e o anti-neoliberalismo caracteriza o
nosso período político. Há detalhes, aspectos parciais, mas nada altera esse
enfrentamento central.
O governo do Lula é um
governo anti-neoliberal. Com a dificuldade de que foi eleito sem maioria no
Congresso e herdando um presidente do Banco Central neoliberal, nomeado pelo
Bolsonaro.
Isso faz com que o
terceiro mandato do Lula seja distinto dos outros. As alianças são
indispensáveis para poder conviver com um Congresso onde não tem maioria. Tem
que conviver, pelo menos em metade do seu mandato, com taxas de juros
extremamente altas.
Mas nada que
descaracterize seu mandato, que é frontalmente anti-neoliberal, de esquerda.
Quem perde essa perspectiva, perde a capacidade de compreensão do Brasil
contemporâneo.
Nem a direita acha que
a esquerda morreu. Ao contrário. Acusam a esquerda de ter se apropriado do
Brasil e de querer sempre mais.
De onde vem então
artigos na internet de que “a esquerda morreu”? Tipo de tema que não me
interessa, porque não me ajuda em nada, nem a compreender o Brasil hoje, nem a
compreender a própria esquerda.
Quem preside o Brasil
hoje, com as alianças indispensáveis por não ter tido maioria? Onde está a
esquerda? E a direita?
Fonte: Brasil 247
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