sábado, 23 de março de 2024

Cinco motivos que fazem da agricultura irrigada uma atividade sustentável

O mundo moderno vive hoje um sério dilema entre a necessidade de uma economia global que gere riquezas e benefícios para as pessoas, mas ao mesmo tempo preserve ao máximo os recursos naturais. A agricultura, por suas peculiaridades, é um dos setores em que mais se discute esse impasse entre produtividade, que neste caso está ligada à própria segurança alimentar do mundo, e sustentabilidade.

Nesse sentido, o uso racional dos recursos hídricos se apresenta neste 22 de março, Dia Nacional das Águas, como um dos maiores, se não o maior, desafio da moderna agricultura. O Brasil, como o terceiro maior produtor agrícola do mundo, pode ser considerado um país de vanguarda no uso e desenvolvimento de tecnologias de irrigação agrícola. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) , a agricultura irrigada representa 17% das áreas produtoras, porém responde por aproximadamente 40% da produção de alimentos do mundo.

O dado acima demonstra que as tecnologias de irrigação são o caminho muito provável no futuro de equacionar esse dilema entre produção e sustentabilidade. O técnico agrícola e gerente geral de irrigação do Grupo Pivot, Silvio Dias, explica que “a irrigação funciona como um seguro, garantindo a produtividade da lavoura , uma vez que o maior risco enfrentado pelos produtores é a falta de chuva”.

Mas se você ainda tem alguma dúvida de como a irrigação pode sim manter produtividade e ao mesmo tempo racionalizar o uso dos recursos naturais, Silvio Dias cita cinco razões que fazem da agricultura irrigada uma atividade sustentável, confira:

1) Muitos dizem que o investimento em irrigação, embora potencialize a produção, eleva o custo dos alimentos. Mas de acordo com o técnico agrícola Silvio Dias, é justamente por aumentar a produção é que a agricultura irrigada resulta numa maior oferta e consequentemente menor preço dos alimentos. “Com as soluções em irrigação que temos hoje pode-se aumentar em até três vezes a quantidade de alimentos produzidos na mesma área, garantindo assim uma disponibilidade maior de alimentos e consequentemente um menor preço”, explica o técnico agrícola.

2) Muito também se fala do caráter expansivo e predatório da agricultura em larga escala. Mas, de acordo com o especialista da Pivot, é graças às modernas tecnologias de irrigação que é possível aumentar a produtividade de alimentos sem a necessidade de ampliar as áreas de cultivo. “A irrigação ajuda a diminuir a necessidade de abertura e desmatamento de novas áreas, uma vez que ela propicia produzir mais nas áreas já abertas”, afirma.

3) Segundo Sílvio, essa característica da agricultura irrigada, de não necessitar de grandes áreas para produzir, pode, inclusive, ajudar no combate aos atuais problemas causados pelas mudanças climáticas. O especialista lembra que uma das causas da crise climática é o desmatamento de áreas florestais. “Ao contrário do que era necessário antes, hoje com as  modernas tecnologias de irrigação, não há necessidade de derrubar florestas para plantar. Aliás, por meio da agricultura irrigada, é possível recuperar  áreas degradas pelo pasto e usá-la para o plantio”, esclarece o especialista.

4) Outra vantagem da agricultura irrigada, que a torna uma prática sustentável, é a possibilidade de cultivar determinados tipos de espécies vegetais em locais com escassez hídrica ou com baixa regularidade de chuvas, como em áreas áridas e semiáridas do nordeste brasileiro. “Numa única propriedade, e com o devido planejamento e por meio da agricultura irrigada, você pode plantar em qualquer época do ano e diferentes culturas,  onde não tem irrigação isso não é possível”, pontua Dias.

5) Com o uso mais racional e ao mesmo tempo eficiente dos recursos hídricos, a agricultura irrigada possibilita a produção de culturas com maior valor agregado, ou que tenham maior dificuldade de cultivo, como hortaliças e frutas. “Isso faz com que o custo na produção desses alimentos também baixe, usando a quantidade de água exata para o bom desenvolvimento da espécie vegetal”, pontua Silvio Dias.

 

       Indústria destina água residual para irrigação de pasto

 

O uso da água potável no país deverá crescer 24% até 2030, superando a marca de 2,5 milhões de litros por segundo, segundo dados do Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil. Embora sejamos uma das nações mais ricas na disponibilidade de água doce no mundo, abusamos dessa abundância natural e perpetuamos uma cultura do desperdício.

Sendo assim, neste 22 de março, Dia Mundial da Água, os brasileiros tem pouco o que comemorar e muitos desafios pela frente, e um dos principais é o reaproveitamento da água, uma prática ainda pouco relevante no País. Para se ter uma ideia, segundo o estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) “O Impacto Econômico dos Investimentos de Reúso de Efluentes Tratados para o Setor Industrial”, de 2018,  menos de 1% da oferta de água no país provém de reúso de efluentes tratados. Enquanto isso, em Israel, país que convive com a escassez desde sua origem, 70% da oferta vem da reutilização de efluentes.

Estima-se que o reúso de água não potável seja de 2m³/s, uma vazão ínfima perto do total da água retirada no País, 2.083 m³/s segundo dados do estudo Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, de 2018. A meta proposta pelo governo federal é que o reúso não potável direto no Brasil alcance 13 m³/s até 2030.

E é frente a esse desafio ambiental enorme que iniciativas como da indústria de laticínio Marajoara, localizada na cidade goiana de Hidrolândia, a 36 quilômetros de Goiânia, merecem ser aplaudidas e copiadas.  A empresa inaugurou recentemente um inovador projeto de fertirrigação desenvolvido em que direciona a água residual de seus processos fabris, que é tratada de sua própria Estação de Tratamento de Resíduos (ETE), para uma área de pasto vizinha à sede da indústria.

“O nosso sistema de tratamento da água por flotação assegura uma eficiência superior a 90%, bem mais do que os 60% exigidos pela legislação ambiental. Com esse projeto de fertirrigação conseguiremos dar uma destinação mais sustentável para essa água”, diz o presidente do Grupo Marajoara, André Luiz Rodrigues Junqueira. O projeto recebeu reconhecimento nacional com o Prêmio Crea de Meio Ambiente.

Por meio de tubulação e bombeamento, os tanques de água tratada foram ligados a um pasto de 160 mil metros quadrados, situado a um quilômetro da indústria. A área foi dividida em 15 setores. Cada um recebe, em média, uma hora de irrigação por dia. Seiscentos aspersores foram instalados no local para lançar a água, fazendo com que cada gota seja muito bem aproveitada. Assim, mesmo durante a seca, o pasto mantém-se vertiginoso e o pecuarista consegue criar seis vezes mais cabeças do que no manejo tradicional.

•        Aquíferos

Da concepção do projeto até o início das obras para sua instalação, no fim de janeiro, foram necessários seis meses de estudos técnicos no solo da área e outros quase cinco meses para aprovação junto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

De acordo com a bióloga Daniela Souza Silva, diretora da Ecovel, empresa que assessorou ambientalmente a Marajoara, o projeto também, a médio prazo, servirá como um importante mecanismo de recarga dos aquíferos locais ou lençóis freáticos. “Com esse sistema de fertirrigação, parte da água é absorvida pela planta, no caso o capim do pasto, parte é evaporada e uma parte significativa vai para o lençol freático”, explica a consultora.

O projeto de fertirrigação é uma continuidade de um outro projeto de sustentabilidade da empresa, que é desenvolvido há pouco mais de dois anos a partir da ETE da Indústria: é o uso da biomassa, que é extraída dos efluentes após o processo de tratamento, virando fertilizante. Esse adubo é fornecido a pequenos produtores rurais em Hidrolândia. Rica em nutrientes importantes para o gado leiteiro, a mistura é aplicada no pasto dessas pequenas propriedades, assegurando uma produtividade e qualidade para alimentação dos animais, e o que é melhor, sem agredir o meio ambiente.

 

Fonte: Comunicação Sem Fronteiras

 

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