sexta-feira, 1 de março de 2024

Banco Mundial vai triplicar fundos de garantias para investimentos em energia renovável

O Banco Mundial deve triplicar seus fundos de garantias de investimento e atingir US$ 20 bilhões até 2030 para projetos de energia renovável em países emergentes, anunciou nesta quarta-feira (28) o presidente da instituição, Ajay Banga, em evento em São Paulo.

A ideia é reformar a estrutura interna da instituição e formar uma única plataforma para facilitar o acesso a garantias de investimentos do banco.

Hoje, o banco tem garantias na casa dos US$ 6,7 bilhões, afirmou Banga, que oferece por meio da Agência Multilateral de Garantias de Investimentos -essas garantias incluem seguros para riscos políticos e quebra de contrato, entre outros.

A necessidade de ampliar investimentos para mitigar a crise do clima foi discutida por Banga e pelos presidentes de instituições multilaterais em uma agenda paralela ao encontro de ministros das finanças do G20, que acontece nesta semana na capital paulista.

Além de Banga, no evento estiveram a diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, e o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Ilan Goldfajn -o encontro paralelo foi organizado pelo BID.

Ilan destacou que, se todo o financiamento multilateral disponível na América Latina e Caribe fosse destinado a ações climáticas, o montante cobriria apenas 3% do investimento necessário.

A região teria que investir US$ 1,3 trilhão por ano, o equivalente a 12% do PIB total, para atender às necessidades de mitigação e adaptação climática.

Goldfajn afirmou que o BID está comprometido a triplicar o financiamento para ações climáticas para US$ 150 bilhões nos próximos 10 anos.

Na segunda-feira (26), o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou um programa para tentar atrair capital estrangeiro e financiar projetos ligados à transição energética. A iniciativa movimenta US$ 5,4 bilhões (R$ 27 bilhões) do BID.

Para Georgieva, do FMI, "mobilizar financiamento para mitigação, adaptação e transição é uma prioridade primordial, porque, se não, choques climáticos vão afetar a performance das nossas economias e o bem estar das pessoas que fazem negócios".

Segundo ela, só os países emergentes precisariam gastar US$ 2 trilhões em ações de mitigação por ano, com economistas prevendo US$ 3 trilhões, "e nós não temos esse dinheiro."

Georgieva criticou ainda a manutenção de subsídios para atividades que pioram a crise climática, como combustíveis fósseis, setor que no ano passado recebeu subsídios de US$ 1,3 trilhões. Considerando o impacto na saúde da poluição dos combustíveis fósseis, os governos gastam US$ 7 trilhões por ano, segundo o FMI. "Temos que encontrar políticas para redirecionar esse dinheiro."

·        Banco Mundial simplificará garantias de empréstimos e investimentos com meta anual de US$20 bi

O Banco Mundial disse nesta quarta-feira que consolidará a estrutura de garantias de empréstimos e investimentos como parte de sua meta de triplicar suas garantias anuais para 20 bilhões de dólares até 2030 para impulsionar os investimentos privados em energia renovável nos países em desenvolvimento.

As reformas, anunciadas durante reunião de líderes financeiros do G20 em São Paulo, transferirão todos os especialistas em garantias das unidades de negócios do Banco Mundial para uma única plataforma.

O banco disse que as mudanças, que começarão em 1º de julho, proporcionarão "uma experiência integrada para os clientes e um acesso mais fácil ao conjunto completo de garantias".

O Banco Mundial atualmente garante cerca de 6,8 bilhões de dólares em empréstimos e contratos de investimento anualmente em suas unidades de negócios, incluindo a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA, na sigla em inglês), o International Finance Corp do setor privado e seu braço de empréstimos Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento.

As garantias incluem seguro para riscos de crédito, riscos políticos, quebra de contrato, restrições monetárias e outros impedimentos ao investimento privado em países em desenvolvimento. A expansão dessas garantias é um componente essencial dos esforços do banco para ampliar seu balanço patrimonial e aumentar os empréstimos em mais de 150 bilhões de dólares em 10 anos para ajudar a combater as mudanças climáticas e outras crises globais.

As mudanças anunciadas nesta quarta-feira marcam os primeiros resultados tangíveis de um grupo de executivos de investimento do setor privado reunidos no ano passado pelo presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, chamado de Laboratório de Investimento do Setor Privado, para desenvolver ideias para atrair mais capital privado para energia limpa e outros investimentos em países em desenvolvimento.

O Banco Mundial disse que o plano pede a simplificação dos produtos de garantia em um único menu abrangente que permitiria aos clientes identificar e selecionar facilmente o instrumento mais adequado às suas necessidades. Uma nova abordagem comum padroniza as revisões de garantia, substituindo uma colcha de retalhos de diferentes processos, regras e padrões que agora "retêm seu potencial e impede o acesso do cliente", disse o banco.

"Precisamos dos recursos e da engenhosidade do setor privado para enfrentar os principais desafios globais", disse Banga em um comunicado. "Ao consolidar nossas ofertas, simplificar os processos e aumentar o acesso, estamos proporcionando às empresas um acesso mais rápido e fácil às garantias."

 

Ø  Temos sido um pouco lentos no enfrentamento da crise climática, avalia diretora do FMI

 

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, destacou hoje a necessidade de criação de instrumentos adequados para financiar a transição climática, dada a falta de recursos destinados atualmente a este objetivo.

Ao falar sobre inovação financeira para clima em evento promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em paralelo à reunião ministerial do G20 em São Paulo, Georgieva avaliou que o mundo tem avançado devagar nas ações contra a crise climática. Hoje, os investimentos somados dos países permitem uma redução de apenas 11% nas emissões de carbono, quando o objetivo é cortá-las entre 25% e 50%.

Conforme a representante do FMI, ações de mitigação do aquecimento global e transição climática devem ser tratadas pelos países como prioritárias, uma vez que choques das adversidades no clima prejudicam negócios e as economias. O problema, emendou, é que os recursos necessários nessa frente são da ordem de US$ 2 trilhões por ano, ou US$ 3 trilhões, a depender da conta. “Ainda não temos este valor”, disse Georgieva.

Para chegar lá, a diretora do FMI pontuou que o primeiro ponto a ser considerado é que os países ainda investem em iniciativas que geram problemas. Georgieva também associou a agenda climática à saúde fiscal dos países, uma vez que os investimentos públicos dependem da capacidade dos governos de arrecadar e da qualidade dos gastos.

Ao concluir sua fala, a diretora do FMI disse que a mobilização de recursos é difícil, mas não impossível. Nesse momento, ela lembrou uma fala de Pelé, rei do futebol, que faleceu em dezembro de 2022. “Pelé disse: ‘quanto mais difícil for a vitória, maior será a felicidade de vencer. Então, vamos vencer nessa mobilização”, concluiu.

 

Ø  ONG denuncia crimes ambientais cometidos por mineradoras chinesas

 

Em Moçambique, a ONG Centro de Integridade Pública (CIP) realizou uma pesquisa de campo nas comunidades hospedeiras de projetos de mineração, implementados por três companhias mineiras, nomeadamente, Dingsheng Minerals (Gaza), África Great Wall Mining Development Company Ltd (Zambézia), e Haiyu (Mozambique) Mining Co. Lda (Nampula).

De acordo com a pesquisa- hoje (28,02) divulgada, "esta indústria tem sido responsável por causar danos sociais, económicos e ambientais para as comunidades hospedeiras. Por esta razão, estas comunidades têm reportado potenciais casos de crimes ambientais, com efeitos nefasto ao clima, à saúde e segurança humana e dos ecossistemas associados". O trabalho constanta ainda que "esta situação agrava as desigualdades sociais, a pobreza, a desconfiança em relação às instituições governamentais, pelas comunidades locais, entre outras consequências".

O membros das comunidades próximas dos projetos estão descontentes com os danos causados pelas empresas chinesas.

"Cortaram rios para montar fábricas”, lamenta Domingos Jamal, 39 anos, natural de Coropa, que vê, pela primeira vez, os rios da sua aldeia a secarem na sequência das ações da empressa Haiyu.

Domingas Macedo, de Mponha, também se queixa da mesma empresa: "A poeira entra até dentro das casas, ao ponto de sujar nossas roupas, tudo lá dentro. Já não digo de nós próprios cá fora, que sujamos todo o momento. Costumamos ter doenças aqui”.

O estudo intitulado "Extrativismo que destrói o ambiente: Desvendando crimes ambientais cometidos por empresas chinesas de exploração mineira em Moçambique" pretendia, segundo a ONG, "avaliar o impacto da ação destas empresas para o meio ambiente e para a vida das comunidades locais e confrontá-lo com as denúncias reportadas em diversas plataformas sociais".

Conclusões e recomedações

A investigação concluiu que "a proteção do ambiente em Moçambique não tem se mostrado ser prioritária para as autoridades governamentais. Pelo contrário, os casos aqui documentados [no estudo] demonstram que, pelo país adentro, tem estado a ocorrer das mais trágicasatrocidades contra o ambiente".

Também concluem que "o nível dos desmandos cometidos pelas empresas, à luz do dia e sob olhar impávido das autoridades, convoca-nos a questionar o papel do Estado na proteção deste que se tornou num dos direitos fundamentais para a humanidade".

Nesse sentido, a ONG, através do estudo, deixa recomendações a diversos setores. Ao Governo pede, por exemplo, que "privilegie a preservação do ambiente e a defesa dos direitos das comunidades e não se limitar, apenas, ao lucro" bem como o reforço da luta contra a corrupção e a criação de condições necessárias para uma efetiva fiscalização e penalização dos infratores.

Às empresas envolvidas, pede o respeito pela legislação nacional e internacional e pelas boas práticas na exploração de recursos, preservando sempre o ambiente.

O CIP, através do seu estudo, lembra que "a indústria extrativa em Moçambique tem gerado receitas para o Estado e constitui, atualmente, uma das principais áreas responsáveis pelo crescimento económico do país". No primeiro trimestre de 2023 apresentou um nível de crescimento de 38,02% contra uma previsão de 23,1%, acrescenta ainda.

 

Fonte: FolhaPress/IstoÉ/Deutsche Welle

 

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