Analista: EUA sentem que 'ganharam' a
Europa na Guerra Fria e agora colhem os louros da vitória
Nas últimas semanas, o
presidente francês Emmanuel Macron ameaçou enviar tropas para a região de
Odessa, na Ucrânia, representando uma grande escalada no conflito e, se for
seguida, uma declaração de guerra contra a Rússia. A declaração surge em um
momento em que a Rússia obtém ganhos consistentes no campo de batalha.
Os EUA sentem que
"ganharam" a Europa na Guerra Fria, disse o comentarista político e
pesquisador sênior do Instituto de Política Global, George Szamuely, à Sputnik
na quarta-feira (20).
Ao discutir a situação
na Ucrânia, Szamuely disse que os EUA viam a preparação para o conflito na
Ucrânia como uma situação "ganha-ganha", dizendo que o esforço para
incluir a Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) teria cercado
a Rússia se Moscou não respondesse ou teria proporcionado a oportunidade de
prejudicar militar e economicamente a Rússia, caso o fizessem.
"Para os Estados
Unidos, [o conflito na Ucrânia] cumpre os objetivos que estabeleceram para si
próprios no final da Guerra Fria: 'Ei, ganhamos a Guerra Fria, queremos as
nossas vitórias. E os nossos ganhos são conquistar todo o continente europeu dentro
da nossa aliança militar.'"
Szamuely observou que
o objetivo dos EUA de infligir danos econômicos à Rússia "não funcionou
muito bem", descrevendo a política como "muito cínica" e
"sanguinária".
"No que diz
respeito aos Estados Unidos e à OTAN, foi uma situação vantajosa para eles. Ou
empurram a Rússia cada vez mais contra o muro, puxando a Ucrânia para a
OTAN", que cercaria a Rússia, transformando-a em uma "potência menor
no mundo essencialmente", ou "a Rússia é forçada a intervir e tentar
evitar que isso aconteça, caso em que a Rússia teria uma guerra difícil nas
mãos [...] o que separaria a Rússia da Europa."
Entretanto, Szamuely
disse que as ameaças de Macron tinham como objetivo estabelecer uma linha
vermelha na Ucrânia para dividi-la "com vista a continuar a guerra em uma
data posterior", acrescentando que é óbvio que Macron está
"perseguindo uma agenda impulsionada pelos EUA" e isso está
"prejudicando claramente a Europa".
A decisão de aceitar a
Suécia e a Finlândia na OTAN foi também um ataque geopolítico à Rússia, admitiu
Szamuely, apesar de lhes faltar "muitos militares dignos de nota",
eles servirão de base para a infraestrutura de inteligência dos EUA.
Quando questionado
sobre líderes europeus como o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e o
primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, que se distanciaram da posição dos
EUA/OTAN sobre a Ucrânia e a Rússia, Szamuely argumentou que a União Europeia
(UE) gostaria de se livrar deles.
"A UE e os EUA
investiram muito nas eleições de há alguns anos que falharam [...]. Eles tinham
um embaixador dos EUA, David Pressman, ameaçando abertamente Orbán",
lembrou Szamuely. "Você nunca pode descartar [isso]. Eles têm todo tipo de
coisas à sua disposição e se realmente quiserem se livrar de um líder que
consideram preocupante, provavelmente encontrariam alguma maneira dissimulada
de fazê-lo", alertou.
"A UE [e os EUA]
vão ter de tomar esta decisão [...]. Orbán normalmente fica isolado quando têm
estes votos [...], mas se nas próximas eleições parlamentares da UE, os vários
partidos populistas — a Alternativa para a Alemanha na Alemanha, o Reagrupamento
Nacional na França — então poderão decidir que Orbán está realmente se tornando
um problema para [eles]."
Szamuely observou que
"[Robert] Fico está agora sob ataque" da UE e que são semelhantes aos
que Orbán enfrentou. "A UE está pensando em tomar medidas contra Fico que
sejam as mesmas questões de 'Estado de Direito' [que foram usadas contra a
Hungria] na Eslováquia", explicou Szamuely. "É incrível como a UE
inventa subitamente este Estado de Direito quando alguém critica a política da
UE."
¨ EUA e Reino Unido querem expandir pacto de defesa do Pacífico
antes das eleições, diz mídia
Desde 2021, uma nova aliança
militar ocidental chamada AUKUS tem operado na região do Indo-Pacífico sob o
olhar desconfiado de países como a China e a Coreia do Norte. Esta aliança, no
entanto, poderá tornar-se ainda maior com a entrada de novos membros, no meio
de tensões crescentes no mundo, como na Ucrânia e em Gaza.
Enquanto a Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) expande suas redes na Europa integrando
Suécia, Finlândia e construindo a sua maior base militar no continente, do
outro lado do mundo, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália — os únicos
membros do AUKUS até agora - também procuram consolidar o seu poder no Oriente.
Isso significa que o
AUKUS poderá em breve integrar o Canadá e o Japão antes que os três países
realizem eleições nos próximos 14 meses, de acordo com o jornal Politico.
Segundo a mídia,
Ottawa e Tóquio poderiam aderir ao bloco antes do final deste ano. Além disso,
os Estados Unidos e o Reino Unido são dois dos principais membros da OTAN.
"Um diplomata
sênior envolvido nas negociações disse ao Politico que Japão e Canadá estão
alinhados para aderir à chamada seção do segundo pilar do acordo AUKUS, que
verá os participantes assinarem uma ampla colaboração em tecnologia militar, no
final de 2024 ou início de 2025", detalha a mídia norte-americana.
Este segundo pilar
permite que as três nações fundantes cheguem a acordos para desenvolver
tecnologia militar avançada em áreas como inteligência artificial, mísseis
hipersônicos e tecnologias quânticas, destaca a reportagem.
A possível
reconfiguração deste grupo militar surge em um momento em que há receios em
Washington de que Donald Trump chegue novamente à Casa Branca e reduza a
participação dos EUA em blocos como a OTAN e o AUKUS.
O jornal também afirma
que, com base nos estatutos da aliança, nações como Nova Zelândia e Coreia do
Sul também poderiam aderir; ambas manifestaram o desejo de pertencer ao bloco e
são aliadas de Washington.
A urgência com que
novos membros adeririam ao AUKUS deve-se ao fato de os EUA terem eleições em
novembro deste ano, o Reino Unido em janeiro e a Austrália em maio de 2025,
aponta o portal de notícias.
·
"O que a OTAN vai fazer com a
Ásia?"
Em dezembro do ano
passado, o presidente russo Vladimir Putin perguntou o que a OTAN fazia ao
tentar influenciar países asiáticos a apoiar os esforços dos EUA para
"conter" a China.
"Vemos tentativas
do Ocidente de transferir as atividades da OTAN para a Ásia, o que claramente
ultrapassa o âmbito dos objetivos estatutários desta organização. Chama-se
bloco do Atlântico Norte, o que vai fazer na Ásia? Mas não, estão arrastando a
Ásia, provocando, agravando a situação, criando mais blocos político-militares
de composição variável", disse o líder russo em uma coletiva de imprensa.
Camberra disse que
desde que o bloco foi formado em 2021, o acordo AUKUS visa permitir que a
Austrália tenha uma frota de submarinos com propulsão nuclear. Em troca, o país
abriria as portas às bases militares dos seus aliados. Além disso, o pacto
também prevê a cooperação em "capacidades cibernéticas, inteligência
artificial, tecnologias quânticas e capacidades subaquáticas adicionais",
conforme os estatutos.
À medida que as
guerras comerciais e tecnológicas entre Washington e Pequim se intensificam, o
Pentágono tem vindo a reforçar a sua presença na região do Indo-Pacífico,
formando alianças como o AUKUS e o Diálogo de Segurança Quadrilateral (QUAD, na
sigla em inglês), que incorpora a Austrália, a Índia e o Japão.
O governo da China
alertou que a tentativa da OTAN de fazer incursões na região da Ásia-Pacífico
"não é consistente com o seu mandato como organização defensiva regional e
apenas trará confronto entre blocos na Ásia e sabotará a paz e a estabilidade
regional".
¨ Após vetar resoluções, EUA apresentam rascunho pedindo
cessar-fogo em Gaza no Conselho de Segurança
Os Estados Unidos
anunciaram o rascunho para resolução ao Conselho de Segurança das Nações Unidas
apelando a um "cessar-fogo imediato" em Gaza, disse ontem (20) o
secretário de Estado, Antony Blinken.
O texto da proposta
não é conhecido, mas o secretário de Estado diz que liga o cessar-fogo à
libertação de reféns, segundo a NBC News.
Washington
"espera muito que os países apoiem isso", disse o secretário de
acordo com a transcrição da entrevista que o Departamento de Estado concedeu ao
canal de televisão da Arábia Saudita, Al Haddath. Ele acrescentou que a ação
enviaria uma "mensagem forte".
No entanto, o apoio
requerido soa um pouco impudente visto que os Estados Unidos já vetaram pelo
menos três resoluções de "cessar-fogo" no conselho feito por outros
países desde que o conflito começou em 7 de outubro do ano passado.
Washington já foi
criticado por diversos governos por vetar resoluções que poriam fim imediato à
guerra em Gaza, ao mesmo tempo que continuam a apoiar militarmente Israel.
Neste momento, que o
enclave já tem mais de 31,5 mil mortos e crianças já morrem de fome, os
norte-americanos dão um diferenciado passo na sua abordagem ao conflito.
Blinken está na sua sexta viagem ao Oriente Médio desde outubro.
O secretário
acrescentou que "as lacunas estão diminuindo" nas negociações de
cessar-fogo entre Israel e o Hamas e considerou que um acordo era "muito
possível", embora não tenha explicado o porquê, escreve a mídia.
Nesta quinta-feira
(21), Tel Aviv disse que assumirá o controle de Rafah mesmo que isso cause um
conflito com o governo Biden, disse uma autoridade israelense de alto escalão à
Reuters. No local, há cerca de 1,5 milhão de palestinos que se refugiaram das
ações militares no norte da Faixa de Gaza.
Ø
Trump 'flerta' com setor automobilístico
chinês antes das eleições presidenciais dos EUA
O ex-presidente dos
EUA, Donald Trump, teria "aberto as portas" para a China instalar
fábricas de carros elétricos em território norte-americano. De acordo com um
veículo de comunicação asiático, possíveis negociações podem contribuir para um
"degelo" na relação entre os países.
Em seu discurso no
último sábado (16) em Dayton, Ohio, o candidato presidencial republicano
prometeu impor uma tarifa de 100% sobre as importações de automóveis chineses,
seja diretamente do continente asiático ou de intermediários, como o México.
Mas também fez um convite.
"Se estiver
ouvindo, o presidente [chinês] Xi [Jinping] – e você e eu somos amigos – mas
ele entende minha maneira de negociar – essas grandes fábricas de carros
monstruosos que vocês estão construindo no México agora [...] vocês não vão
contratar americanos e não vão vender os carros para nós", disse Trump.
"E eu vou te
avisar: se você quiser construir uma fábrica no Michigan, em Ohio, na Carolina
do Sul, podem fazê-lo usando trabalhadores norte-americanos. Vocês não podem
enviar trabalhadores chineses, como às vezes fazem. Mas se quiserem fazê-lo,
são bem-vindos, certo? Mas não vão construí-las no México e nem vão fazer
isso", acrescentou o ex-presidente.
Entretanto, segundo o
jornal Asia Times, os meios de comunicação ocidentais não destacaram este
"convite" de Trump às empresas chinesa, repetindo a narrativa contra
os investidores e o governo do país asiático.
Conforme uma análise
trazida pelo jornal, a automação industrial acelera na China ao passo que
"fica para trás" nos Estados Unidos. Zhang Weiwei, professor da
Universidade Fudan, disse ao jornal chinês que o país asiático já tem 10 mil
aplicações 5G para a Internet industrial, enquanto o país norte-americano tem
menos de 10, segundo uma contagem informal feita por um especialista.
Além disso, de acordo
com o Asia Times, a China instala, atualmente, mais robôs industriais e forma
mais engenheiros do que o resto do mundo combinado e, em 2023, tornou-se o
maior exportador mundial de automóveis e está criando novos mercados para automóveis
no Sul Global.
"Os Estados
Unidos talvez nunca consigam igualar a combinação de pessoal qualificado,
infraestrutura e economias de escala gigantescas da China. É mais fácil
permitir que as empresas chinesas tragam a automação industrial para os Estados
Unidos do que tentar recuperar o atraso. Este é o caminho de menor resistência
e Trump o abriu", pontuou o veículo de comunicação asiático.
"Se as montadoras
chinesas construírem fábricas de veículos elétricos nos Estados Unidos, será
mais difícil para Washington bloquear a indústria chinesa de chips. Os veículos
elétricos requerem até 4 mil chips cada vez mais sofisticados. Na verdade, um
veículo elétrico é um computador sobre rodas", acrescentou o jornal,
dizendo que, caso esse passo seja dado, pode significar um "degelo"
na relação entre os dois países.
Ø
Visando a China, Câmara dos EUA aprova lei
que proíbe passar 'dados sensíveis' a 'adversários'
A medida, que ainda
deve ser aprovada pelo Senado e pelo presidente norte-americano, restringiria o
acesso de "países adversários" a informações como identificadores
emitidos pelo governo e dados de geolocalização.
A Câmara dos
Representantes dos EUA aprovou na quarta-feira (20) por unanimidade um projeto
de lei que vai proibir empresas comerciais de vender "dados
sensíveis" de cidadãos americanos para "países adversários",
incluindo a China, cita na quinta-feira (21) o jornal chinês South China
Morning Post.
Patrocinado por Frank
Pallone, de Nova Jersey, e Cathy Rodgers, de Washington, o projeto de lei
pretende bloquear a venda de identificadores emitidos pelo governo, números de
contas bancárias, informações genéticas, informações de geolocalização e comunicações
privadas, como e-mails.
"A amplitude e o
alcance das informações pessoais sensíveis agregadas pelos corretores de dados
tornam a venda desses dados a nossos adversários estrangeiros uma ameaça única
à segurança nacional e à privacidade individual", disse na terça-feira
(19) Pallone.
Ele acusou a China e
alguns outros países de poderem usar essas informações "para lançar
campanhas de influência sofisticadas [e] realizar espionagem".
O projeto de lei foi
aprovado na Câmara por 414 votos a favor e zero contra, e precisa agora ser
aprovado no Senado, e depois por Joe Biden, presidente dos EUA, para se tornar
lei.
A ação segue uma ordem
executiva da Casa Branca de fevereiro que restringe a venda de informações dos
americanos a "países preocupantes", o que parece ter em mente a
Rússia, a China e provavelmente outros.
Fonte: Sputnik Brasil
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