sábado, 23 de março de 2024

Analista: EUA sentem que 'ganharam' a Europa na Guerra Fria e agora colhem os louros da vitória

Nas últimas semanas, o presidente francês Emmanuel Macron ameaçou enviar tropas para a região de Odessa, na Ucrânia, representando uma grande escalada no conflito e, se for seguida, uma declaração de guerra contra a Rússia. A declaração surge em um momento em que a Rússia obtém ganhos consistentes no campo de batalha.

Os EUA sentem que "ganharam" a Europa na Guerra Fria, disse o comentarista político e pesquisador sênior do Instituto de Política Global, George Szamuely, à Sputnik na quarta-feira (20).

Ao discutir a situação na Ucrânia, Szamuely disse que os EUA viam a preparação para o conflito na Ucrânia como uma situação "ganha-ganha", dizendo que o esforço para incluir a Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) teria cercado a Rússia se Moscou não respondesse ou teria proporcionado a oportunidade de prejudicar militar e economicamente a Rússia, caso o fizessem.

"Para os Estados Unidos, [o conflito na Ucrânia] cumpre os objetivos que estabeleceram para si próprios no final da Guerra Fria: 'Ei, ganhamos a Guerra Fria, queremos as nossas vitórias. E os nossos ganhos são conquistar todo o continente europeu dentro da nossa aliança militar.'"

Szamuely observou que o objetivo dos EUA de infligir danos econômicos à Rússia "não funcionou muito bem", descrevendo a política como "muito cínica" e "sanguinária".

"No que diz respeito aos Estados Unidos e à OTAN, foi uma situação vantajosa para eles. Ou empurram a Rússia cada vez mais contra o muro, puxando a Ucrânia para a OTAN", que cercaria a Rússia, transformando-a em uma "potência menor no mundo essencialmente", ou "a Rússia é forçada a intervir e tentar evitar que isso aconteça, caso em que a Rússia teria uma guerra difícil nas mãos [...] o que separaria a Rússia da Europa."

Entretanto, Szamuely disse que as ameaças de Macron tinham como objetivo estabelecer uma linha vermelha na Ucrânia para dividi-la "com vista a continuar a guerra em uma data posterior", acrescentando que é óbvio que Macron está "perseguindo uma agenda impulsionada pelos EUA" e isso está "prejudicando claramente a Europa".

A decisão de aceitar a Suécia e a Finlândia na OTAN foi também um ataque geopolítico à Rússia, admitiu Szamuely, apesar de lhes faltar "muitos militares dignos de nota", eles servirão de base para a infraestrutura de inteligência dos EUA.

Quando questionado sobre líderes europeus como o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, que se distanciaram da posição dos EUA/OTAN sobre a Ucrânia e a Rússia, Szamuely argumentou que a União Europeia (UE) gostaria de se livrar deles.

"A UE e os EUA investiram muito nas eleições de há alguns anos que falharam [...]. Eles tinham um embaixador dos EUA, David Pressman, ameaçando abertamente Orbán", lembrou Szamuely. "Você nunca pode descartar [isso]. Eles têm todo tipo de coisas à sua disposição e se realmente quiserem se livrar de um líder que consideram preocupante, provavelmente encontrariam alguma maneira dissimulada de fazê-lo", alertou.

"A UE [e os EUA] vão ter de tomar esta decisão [...]. Orbán normalmente fica isolado quando têm estes votos [...], mas se nas próximas eleições parlamentares da UE, os vários partidos populistas — a Alternativa para a Alemanha na Alemanha, o Reagrupamento Nacional na França — então poderão decidir que Orbán está realmente se tornando um problema para [eles]."

Szamuely observou que "[Robert] Fico está agora sob ataque" da UE e que são semelhantes aos que Orbán enfrentou. "A UE está pensando em tomar medidas contra Fico que sejam as mesmas questões de 'Estado de Direito' [que foram usadas contra a Hungria] na Eslováquia", explicou Szamuely. "É incrível como a UE inventa subitamente este Estado de Direito quando alguém critica a política da UE."

¨      EUA e Reino Unido querem expandir pacto de defesa do Pacífico antes das eleições, diz mídia

Desde 2021, uma nova aliança militar ocidental chamada AUKUS tem operado na região do Indo-Pacífico sob o olhar desconfiado de países como a China e a Coreia do Norte. Esta aliança, no entanto, poderá tornar-se ainda maior com a entrada de novos membros, no meio de tensões crescentes no mundo, como na Ucrânia e em Gaza.

Enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) expande suas redes na Europa integrando Suécia, Finlândia e construindo a sua maior base militar no continente, do outro lado do mundo, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália — os únicos membros do AUKUS até agora - também procuram consolidar o seu poder no Oriente.

Isso significa que o AUKUS poderá em breve integrar o Canadá e o Japão antes que os três países realizem eleições nos próximos 14 meses, de acordo com o jornal Politico.

Segundo a mídia, Ottawa e Tóquio poderiam aderir ao bloco antes do final deste ano. Além disso, os Estados Unidos e o Reino Unido são dois dos principais membros da OTAN.

"Um diplomata sênior envolvido nas negociações disse ao Politico que Japão e Canadá estão alinhados para aderir à chamada seção do segundo pilar do acordo AUKUS, que verá os participantes assinarem uma ampla colaboração em tecnologia militar, no final de 2024 ou início de 2025", detalha a mídia norte-americana.

Este segundo pilar permite que as três nações fundantes cheguem a acordos para desenvolver tecnologia militar avançada em áreas como inteligência artificial, mísseis hipersônicos e tecnologias quânticas, destaca a reportagem.

A possível reconfiguração deste grupo militar surge em um momento em que há receios em Washington de que Donald Trump chegue novamente à Casa Branca e reduza a participação dos EUA em blocos como a OTAN e o AUKUS.

O jornal também afirma que, com base nos estatutos da aliança, nações como Nova Zelândia e Coreia do Sul também poderiam aderir; ambas manifestaram o desejo de pertencer ao bloco e são aliadas de Washington.

A urgência com que novos membros adeririam ao AUKUS deve-se ao fato de os EUA terem eleições em novembro deste ano, o Reino Unido em janeiro e a Austrália em maio de 2025, aponta o portal de notícias.

·        "O que a OTAN vai fazer com a Ásia?"

Em dezembro do ano passado, o presidente russo Vladimir Putin perguntou o que a OTAN fazia ao tentar influenciar países asiáticos a apoiar os esforços dos EUA para "conter" a China.

"Vemos tentativas do Ocidente de transferir as atividades da OTAN para a Ásia, o que claramente ultrapassa o âmbito dos objetivos estatutários desta organização. Chama-se bloco do Atlântico Norte, o que vai fazer na Ásia? Mas não, estão arrastando a Ásia, provocando, agravando a situação, criando mais blocos político-militares de composição variável", disse o líder russo em uma coletiva de imprensa.

Camberra disse que desde que o bloco foi formado em 2021, o acordo AUKUS visa permitir que a Austrália tenha uma frota de submarinos com propulsão nuclear. Em troca, o país abriria as portas às bases militares dos seus aliados. Além disso, o pacto também prevê a cooperação em "capacidades cibernéticas, inteligência artificial, tecnologias quânticas e capacidades subaquáticas adicionais", conforme os estatutos.

À medida que as guerras comerciais e tecnológicas entre Washington e Pequim se intensificam, o Pentágono tem vindo a reforçar a sua presença na região do Indo-Pacífico, formando alianças como o AUKUS e o Diálogo de Segurança Quadrilateral (QUAD, na sigla em inglês), que incorpora a Austrália, a Índia e o Japão.

O governo da China alertou que a tentativa da OTAN de fazer incursões na região da Ásia-Pacífico "não é consistente com o seu mandato como organização defensiva regional e apenas trará confronto entre blocos na Ásia e sabotará a paz e a estabilidade regional".

¨      Após vetar resoluções, EUA apresentam rascunho pedindo cessar-fogo em Gaza no Conselho de Segurança

Os Estados Unidos anunciaram o rascunho para resolução ao Conselho de Segurança das Nações Unidas apelando a um "cessar-fogo imediato" em Gaza, disse ontem (20) o secretário de Estado, Antony Blinken.

O texto da proposta não é conhecido, mas o secretário de Estado diz que liga o cessar-fogo à libertação de reféns, segundo a NBC News.

Washington "espera muito que os países apoiem isso", disse o secretário de acordo com a transcrição da entrevista que o Departamento de Estado concedeu ao canal de televisão da Arábia Saudita, Al Haddath. Ele acrescentou que a ação enviaria uma "mensagem forte".

No entanto, o apoio requerido soa um pouco impudente visto que os Estados Unidos já vetaram pelo menos três resoluções de "cessar-fogo" no conselho feito por outros países desde que o conflito começou em 7 de outubro do ano passado.

Washington já foi criticado por diversos governos por vetar resoluções que poriam fim imediato à guerra em Gaza, ao mesmo tempo que continuam a apoiar militarmente Israel.

Neste momento, que o enclave já tem mais de 31,5 mil mortos e crianças já morrem de fome, os norte-americanos dão um diferenciado passo na sua abordagem ao conflito. Blinken está na sua sexta viagem ao Oriente Médio desde outubro.

O secretário acrescentou que "as lacunas estão diminuindo" nas negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas e considerou que um acordo era "muito possível", embora não tenha explicado o porquê, escreve a mídia.

Nesta quinta-feira (21), Tel Aviv disse que assumirá o controle de Rafah mesmo que isso cause um conflito com o governo Biden, disse uma autoridade israelense de alto escalão à Reuters. No local, há cerca de 1,5 milhão de palestinos que se refugiaram das ações militares no norte da Faixa de Gaza.

 

Ø  Trump 'flerta' com setor automobilístico chinês antes das eleições presidenciais dos EUA

 

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, teria "aberto as portas" para a China instalar fábricas de carros elétricos em território norte-americano. De acordo com um veículo de comunicação asiático, possíveis negociações podem contribuir para um "degelo" na relação entre os países.

Em seu discurso no último sábado (16) em Dayton, Ohio, o candidato presidencial republicano prometeu impor uma tarifa de 100% sobre as importações de automóveis chineses, seja diretamente do continente asiático ou de intermediários, como o México. Mas também fez um convite.

"Se estiver ouvindo, o presidente [chinês] Xi [Jinping] – e você e eu somos amigos – mas ele entende minha maneira de negociar – essas grandes fábricas de carros monstruosos que vocês estão construindo no México agora [...] vocês não vão contratar americanos e não vão vender os carros para nós", disse Trump.

"E eu vou te avisar: se você quiser construir uma fábrica no Michigan, em Ohio, na Carolina do Sul, podem fazê-lo usando trabalhadores norte-americanos. Vocês não podem enviar trabalhadores chineses, como às vezes fazem. Mas se quiserem fazê-lo, são bem-vindos, certo? Mas não vão construí-las no México e nem vão fazer isso", acrescentou o ex-presidente.

Entretanto, segundo o jornal Asia Times, os meios de comunicação ocidentais não destacaram este "convite" de Trump às empresas chinesa, repetindo a narrativa contra os investidores e o governo do país asiático.

Conforme uma análise trazida pelo jornal, a automação industrial acelera na China ao passo que "fica para trás" nos Estados Unidos. Zhang Weiwei, professor da Universidade Fudan, disse ao jornal chinês que o país asiático já tem 10 mil aplicações 5G para a Internet industrial, enquanto o país norte-americano tem menos de 10, segundo uma contagem informal feita por um especialista.

Além disso, de acordo com o Asia Times, a China instala, atualmente, mais robôs industriais e forma mais engenheiros do que o resto do mundo combinado e, em 2023, tornou-se o maior exportador mundial de automóveis e está criando novos mercados para automóveis no Sul Global.

"Os Estados Unidos talvez nunca consigam igualar a combinação de pessoal qualificado, infraestrutura e economias de escala gigantescas da China. É mais fácil permitir que as empresas chinesas tragam a automação industrial para os Estados Unidos do que tentar recuperar o atraso. Este é o caminho de menor resistência e Trump o abriu", pontuou o veículo de comunicação asiático.

"Se as montadoras chinesas construírem fábricas de veículos elétricos nos Estados Unidos, será mais difícil para Washington bloquear a indústria chinesa de chips. Os veículos elétricos requerem até 4 mil chips cada vez mais sofisticados. Na verdade, um veículo elétrico é um computador sobre rodas", acrescentou o jornal, dizendo que, caso esse passo seja dado, pode significar um "degelo" na relação entre os dois países.

 

Ø  Visando a China, Câmara dos EUA aprova lei que proíbe passar 'dados sensíveis' a 'adversários'

 

A medida, que ainda deve ser aprovada pelo Senado e pelo presidente norte-americano, restringiria o acesso de "países adversários" a informações como identificadores emitidos pelo governo e dados de geolocalização.

A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou na quarta-feira (20) por unanimidade um projeto de lei que vai proibir empresas comerciais de vender "dados sensíveis" de cidadãos americanos para "países adversários", incluindo a China, cita na quinta-feira (21) o jornal chinês South China Morning Post.

Patrocinado por Frank Pallone, de Nova Jersey, e Cathy Rodgers, de Washington, o projeto de lei pretende bloquear a venda de identificadores emitidos pelo governo, números de contas bancárias, informações genéticas, informações de geolocalização e comunicações privadas, como e-mails.

"A amplitude e o alcance das informações pessoais sensíveis agregadas pelos corretores de dados tornam a venda desses dados a nossos adversários estrangeiros uma ameaça única à segurança nacional e à privacidade individual", disse na terça-feira (19) Pallone.

Ele acusou a China e alguns outros países de poderem usar essas informações "para lançar campanhas de influência sofisticadas [e] realizar espionagem".

O projeto de lei foi aprovado na Câmara por 414 votos a favor e zero contra, e precisa agora ser aprovado no Senado, e depois por Joe Biden, presidente dos EUA, para se tornar lei.

A ação segue uma ordem executiva da Casa Branca de fevereiro que restringe a venda de informações dos americanos a "países preocupantes", o que parece ter em mente a Rússia, a China e provavelmente outros.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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