O que ‘deseja’ Putin ao levar líderes do Sul
Global a Moscou?
Ao
menos 20 líderes estrangeiros aceitaram o convite de Vladimir Putin para
participar, em 9 de maio, das celebrações em Moscou do aniversário de 80 anos
da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial. Entre os nomes que
devem desembarcar na capital russa nos próximos dias estão o chinês Xi Jinping e o
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O líder brasileiro
posteriormente segue para Pequim, para uma visita de Estado à China e
participação no IV Fórum China-CELAC entre 12 e 13 de maio.
O
convite da Rússia para participar
do chamado Dia da Vitória, celebrado todos os
anos em diversas partes do país, também foi acolhido por outras lideranças
de países do chamado Sul Global, como os chefes de
Estado de Cuba, Sérvia, Eslováquia, Indonésia e das ex-repúblicas soviéticas.
Para
especialistas em política externa russa consultados pela BBC Brasil, Putin usa
a data comemorativa para incitar o patriotismo entre a população russa, ao
mesmo tempo em que busca mostrar ao resto do mundo que não está isolado e vem
fortalecendo sua posição como liderança alternativa ao Ocidente. "Para a
Rússia, nesse momento, é muito importante demonstrar que existem países que
aderem à sua órbita de influência", avalia Gulnaz Sharafutdinova, diretora
do Instituto Rússia da King's College London. "E a orientação em relação
ao Sul Global encaixa na narrativa do Kremlin de se posicionar como uma
alternativa ao Ocidente imperialista", completa.
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Resgate de um 'passado vitorioso'
O
principal evento em torno do Dia da Vitória é o desfile
militar na Praça Vermelha. Sob o governo de Vladimir Putin, a partir de 2008, a
parada passou a ser anual e se tornou uma demonstração de força das tropas e
equipamentos militares, além de uma chance de lembrar os sacrifícios da 2ª Guerra
Mundial.
O
resgate do passado, aliás, é uma parte central da data para o Kremlin, explica
Sergey Radchenko, historiador e professor da Universidade Johns Hopkins. "[O
9 de maio] é um feriado importante na Rússia e um momento simbólico para
Putin", diz. "Quase nada na história russa se compara à forma como a
vitória na 2ª Guerra Mundial é vista no país." E segundo Radchenko, o
momento é utilizado para canalizar o sentimento patriótico da população e
difundir a imagem de uma Rússia vitoriosa e poderosa — algo que se tornou ainda
mais importante para o governo desde o início da guerra contra a Ucrânia.
As
lembranças em torno da vitória da então União Soviética (URSS) sobre a Alemanha
nazista ainda
servem como uma forma de legitimar as políticas contemporâneas do Estado russo
e traçar paralelos entre o passado e o presente, diz o historiador e professor
da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Johns Hopkins. "Os
aparatos de propaganda russos vendem a ideia de que o governo está lutando
contra o nazismo na Ucrânia da mesma maneira que fez entre 1941 e 1945, e que
esta também é uma guerra patriótica que exige sacrifícios", afirma.
Um dos
argumentos centrais de Vladimir Putin para justificar a invasão da Ucrânia é o
objetivo de "desnazificar" o país. Apoiadores da Ucrânia rejeitam
essa acusação e contra-argumentam que o presidente, Volodymyr Zelensky, é
judeu. "O [Kremlin] passou a construir praticamente um culto à 2ª Guerra
Mundial na Rússia e a torná-lo mais popular entre o público, especialmente
porque a geração mais velha, que lutou e acompanhou a guerra, está aos poucos
morrendo." E a presença de chefes de Estados estrangeiros, dizem os
especialistas, torna ainda possível para Putin difundir sua mensagem também
para o exterior, em primeira mão.
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'Coalizão com o Hemisfério Sul'
Mas,
certamente, o maior objetivo do Kremlin com as visitas é fortalecer laços e se
posicionar como um ator forte, relevante e bem conectado, diz Radchenko. "Para
Putin, ter alguém como Xi Jinping ao seu lado, durante o desfile, projeta uma
imagem de aliança para o resto do mundo", afirma o especialista,
acrescentando ainda que a presença de países como o Brasil ainda passa a ideia
de que o Sul Global está ao lado da Rússia.
Ao
mesmo tempo, avalia Gulnaz Sharafutdinova, a presença das lideranças
estrangeiras serve ao Kremlin como forma de dar mais legitimidade para sua
política externa dos últimos anos. "Especialmente desde a invasão (da
Ucrânia), criou-se [na Rússia] a imagem de um Ocidente imperialista e
colonialista e de uma Rússia que luta pelos direitos dos países menores de
seguirem seu próprio caminho e construírem alianças alternativas", diz. E
segundo a professora especializada em política russa, ter os presidentes de países
como Brasil e Eslováquia ao lado de Putin, em Moscou, ajuda com essa mensagem
"antiocidental. De certa forma, isso sinaliza que existe uma coalizão com
o Hemisfério Sul", afirma.
Ainda
de acordo com Sharafutdinova, levar autoridades para a Rússia durante um
período de guerra demonstra uma certo "controle sobre a situação". "Para
o Kremlin é uma forma de sinalizar para o resto do mundo que a Rússia pode
garantir a segurança desses líderes e sabe o que está fazendo", afirma. Putin
propôs um cessar-fogo de 3 dias durante as comemorações de 9 de maio.
O
desfile em Moscou também é geralmente utilizado para uma demonstração de poder
bélico, com a exibição de tanques e outros armamentos de guerra. Desta vez,
porém, ainda não está claro se o Kremlin será capaz de manter a tradição, já
que muitos dos aparatos estão sendo utilizados no campo de batalha na Ucrânia.
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Oportunidade de negociação?
O
evento na capital russa ainda é visto como uma oportunidade para encontros
bilaterais e negociações paralelas entre os líderes presentes. O Kremlin já
confirmou que Vladimir Putin deve se reunir de forma privada com alguns de seus
convidados — e um encontro do líder russo com Lula é esperado, segundo a
imprensa brasileira.
Para
Sergey Radchenko, da Universidade Johns Hopkins, o encontro de maior atenção
deve ser com o presidente chinês Xi Jinping.
Durante
evento em Brasília na semana passada, Celso Amorim, assessor especial de
assuntos internacionais da Presidência, disse que será uma espécie de
"mensageiro da paz" durante sua viagem para a Rússia. "O
presidente Lula levará a mensagem de forte apoio às negociações de paz nas
viagens que fará, em alguns dias, a Moscou e Pequim", disse Amorim durante
a abertura da reunião de assessores de Segurança Nacional dos Brics, no
Itamaraty, na quarta-feira (30/4). O chefe de Estado brasileiro já tentou se
posicionar no passado como uma espécie de mediador para o conflito entre Rússia
e Ucrânia.
Há
cerca de um ano, Brasil e China apresentaram uma proposta conjunta de paz
durante a reunião de cúpula dos Brics realizada em Kazan, na Rússia, em outubro
do ano passado. O plano incluía, entre outras coisas, o comprometimento com a
não expansão do campo de batalha e não escalada dos combates, um aumento da
ajuda humanitária para as pessoas afetadas pela guerra em ambos os lados, e a
realização de uma conferência internacional de paz com participação igualitária
de todas as partes relevantes. Na época em que foi anunciada, a proposta foi
elogiada por Putin, mas rejeitada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Mas
para Gulnaz Sharafutdinova, o presidente brasileiro não deve ter um papel
relevante na continuidade das negociações pela paz. "Não acho que Lula
será usado nas negociações sobre a Ucrânia. No momento, os maiores atores são
Rússia, Ucrânia, EUA e Europa. Esses são os lados que importam", diz.
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'Ninguém pode me dizer para onde ir'
Além
dos cerca de 20 líderes estrangeiros que confirmaram sua presença nos eventos
do Dia da Vitória, outros chefes de Estado foram convidados, mas recusaram. O
primeiro-ministro indiano Narendra Modi, por exemplo, não poderá comparecer
diante do aumento de tensão entre seu país e o Paquistão, após um ataque mortal
na Caxemira, disse o Kremlin. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
também foi convidado, mas já confirmou que não irá comparecer. Putin e Trump
ensaiaram uma aproximação nos primeiros meses do ano. Os dois tiveram algumas
conversas telefônicas para negociar um acordo de paz na Ucrânia e chegaram até
a discutir uma colaboração entre Rússia e Estados Unidos em projetos de
mineração.
Mas a
relação deles oscila entre afagos e pressões conforme as tensões geopolíticas
globais. Trump primeiro elogiou o fato de as conversas terem sido muito
produtivas. Depois, diante da lentidão em se chegar a um cessar-fogo mais
amplo, disse estar muito irritado com Putin — e ameaçou impor tarifas sobre
países que comprassem petróleo russo.
Entre
as autoridades que confirmaram presença, chamou atenção o primeiro-ministro da
Eslováquia, Robert Fico. Lembrado por suas posições favoráveis ao Kremlin, Fico
afirmou que comparecerá às celebrações militares apesar
dos apelos da União Europeia (UE) para que nenhum país
membro aceitasse o convite russo. "Ninguém pode me dizer para onde ir ou
não ir", disse Fico, após a alta representante da UE para a Política
Externa, Kaja Kallas, advertir que qualquer participação europeia no evento
"não será considerada de forma leviana pelo lado europeu".
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O que é o Dia da Vitória, celebrado em Moscou
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou
nesta quinta-feira das celebrações do Dia da Vitória em Moscou, a convite do
presidente russo Vladimir Putin. A data marca a
rendição da Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial e é um dos
eventos mais simbólicos do calendário nacional russo.
Mas o
que exatamente é o Dia da Vitória? E por que o evento é tão importante para
Putin e sua estratégia de governo?
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'Mais do que um feito militar'
Todos
os anos, o governo russo organiza uma série de eventos e celebrações para
marcar a vitória sobre a Alemanha nazista em 1945. A rendição incondicional dos
alemães entrou em vigor na noite de 8 de maio de 1945, mais precisamente às
23h01 na Europa Ocidental, quando já passava da meia-noite em Moscou. Por isso,
enquanto países como França, Reino Unido e os Estados Unidos celebram o fim da
guerra em 8 de maio, a União Soviética passou a comemorar no dia seguinte, 9 de
maio.
A data
foi celebrada durante o período da URSS, ocasionalmente com a realização de
desfiles militares. Em 1995, o então presidente Boris Yeltsin também organizou
eventos para a comemoração de 50 anos da vitória militar. Mas foi só sob o
governo de Vladimir Putin, a partir de 2008, que o governo passou a realizar o
desfile militar na Praça Vermelha em Moscou de forma anual. A data passou então
a representar mais do que uma simples comemoração histórica, e se tornou um
pilar de legitimação política para o Kremlin, além de uma demonstração de força
das tropas e equipamentos militares.
A
transformação liderada por Putin também ampliou o papel da data no imaginário
coletivo russo, como foco nos sacrifícios da 2ª Guerra Mundial e na afirmação
nacional. Vinte e sete milhões de cidadãos soviéticos morreram, de longe a
maior perda de qualquer país, no que os russos chamam de Grande Guerra
Patriótica. E a ideia reforçada pelo governo até hoje é que a vitória sobre o
nazismo não foi apenas um feito militar, mas uma prova da coragem e resiliência
do povo. "O governo russo tem usado o Dia da Vitória como um evento
performático, para reforçar a ideia de que a Rússia é uma nação poderosa e que
seus sacrifícios históricos a tornam merecedora de respeito no cenário
internacional", afirma Sergey Radchenko, historiador e professor da Johns
Hopkins University.
As
lembranças em torno da vitória da então União Soviética (URSS) sobre a Alemanha
nazista ainda servem como uma forma de legitimar as políticas contemporâneas do
Estado russo, diz o historiador. "O aparato de propaganda do Kremlin
promove a ideia de que a Rússia está hoje, novamente, lutando contra o nazismo
— desta vez na Ucrânia — e que, como na 2ª Guerra, esse é um conflito
patriótico que exige sacrifícios do povo", explica Radchenko.
Um dos
principais argumentos usados por Vladimir Putin para justificar a invasão da
Ucrânia é o objetivo de "desnazificar" o país. A alegação, no
entanto, é amplamente contestada por analistas e líderes ocidentais, que
apontam, entre outros fatos, que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky é
judeu e tem familiares que morreram no Holocausto. "O Kremlin construiu,
nos últimos anos, quase um culto em torno da 2ª Guerra Mundial. A popularização
dessa memória tornou-se ainda mais intensa à medida que a geração que viveu o
conflito começa a desaparecer", diz o historiador.
A
participação de chefes de Estado estrangeiros, como o presidente Lula neste
ano, serve também como uma plataforma para Moscou projetar essa narrativa além
das fronteiras russas — e mostrar ao público doméstico que ainda possui aliados
no cenário internacional. "É um exercício de construção de patriotismo e
nacionalismo, ainda mais relevante agora, em tempos de guerra", diz Gulnaz
Sharafutdinova, professora na King's College London.
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Em Moscou, mas também em todo o país
O
destaque das celebrações do Dia da Vitória fica por conta do desfile na Praça
Vermelha, que inclui tanques, mísseis e soldados em formação, diante de
milhares de espectadores e câmeras de televisão. Na celebração de 2024, 9 mil
marcharam no evento em Moscou. Mas em anos anteriores — antes da invasão da
Ucrânia pela Rússia — os números eram ainda maiores. No passado, a exibição de
equipamentos militares também já foi maior. O único tanque que participou do
desfile no ano passado foi um T-34. E a expectativa é que em 2025 a tendência
continue, já que muitos dos armamentos estão sendo utilizados no campo de
batalha.
Mas as
comemorações também acontecem fora de Moscou, como explica o historiador Sergey
Radchenko. "Cada cidadezinha tem seu mini desfile, com soldados acendendo
o que eles chamam de 'chama eterna'", diz. "E quanto maior a cidade,
maior a celebração."
Nos
últimos anos, a data também tem sido incorporada ao sistema educacional russo,
com eventos promovidos em escolas, universidades e instituições culturais. Livros
escolares e livros de história no país focam na Rússia como libertadora da
Europa durante a guerra. "Não é apenas um evento de Moscou, mas usado pelo
Estado também nos níveis mais locais para formar o 'cidadão russo ideal',
patriótico e alinhado com a política externa do Kremlin", explica Gulnaz
Sharafutdinova, diretora do Instituto Rússia da King's College London. Também
segundo a especialista, para muitos russos, assistir à parada militar no dia 9
de maio continua sendo um ritual anual.
Ainda
que o alcance da televisão estatal esteja diminuindo entre os mais jovens, os
mais velhos continuam fiéis ao evento. E é justamente esse público — que vê a
vitória de 1945 como um marco de orgulho nacional — que o Kremlin busca atingir
com ainda mais intensidade em tempos de incerteza, diz. Por outro lado, a
pesquisadora também vê motivos para que o Kremlin adote um tom mais contido
diante da guerra na Ucrânia. "Mostrar força demais nas ruas, enquanto os
resultados no front não correspondem, pode gerar descrença", alerta a
pesquisadora. "As pessoas querem ver progresso real na guerra, não só encenações."
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Em Moscou, presidente
cubano diz que ‘povo russo salvou a humanidade’ do nazismo
Por
ocasião do 80º aniversário da derrota do
exército nazista pelas mãos da União Soviética —vitória
conhecida como a Grande Guerra Patriótica—, o presidente russo, Vladimir Putin,
se reuniu nesta quarta-feira (07/07) com seu homólogo cubano, Miguel
Díaz-Canel.
Díaz-Canel
chegou a Moscou no último domingo (04/05). Sua primeira parada foi em São
Petersburgo, onde prestou homenagem às vítimas do cerco de Leningrado com uma
coroa de flores no cemitério de Piskariovskoye, onde estão enterrados os restos
mortais de mais de 490 mil pessoas que morreram durante o bloqueio nazista.
Segundo
a imprensa local, Putin considerou
“simbólica” a coincidência entre o Dia da Vitória e o 65º aniversário do
restabelecimento das relações diplomáticas entre a então União Soviética e
Cuba, celebrado em 8 de maio de 1960. “Cuba contribuiu para a luta contra o
nazismo. Sei que o senhor iniciou sua visita por São Petersburgo, ou
Leningrado, e gostaria de destacar que voluntários cubanos lutaram ao lado do
Exército Vermelho, inclusive em Leningrado”, afirmou Putin.
“Datas
marcantes nos unem”, declarou o líder cubano. “A mais importante delas é a
vitória na Grande Guerra Patriótica; em segundo lugar, o 65º aniversário do
estabelecimento das relações entre nossas nações”, acrescentou. Durante seu
discurso, Díaz-Canel destacou a importância de preservar a memória histórica
diante das tentativas de reescrevê-la. “Tudo o que propomos em prol do resgate
da memória histórica é essencial nestes tempos, em que aumentam as tentativas
de minimizar o papel protagonista e heroico da União Soviética, do Exército
Vermelho e do povo russo na vitória sobre o fascismo”, afirmou.
O
presidente cubano declarou ainda que “o povo russo salvou a humanidade”, em
referência ao papel soviético na derrota do fascismo, e alertou para o
ressurgimento de novas formas desse fenômeno no cenário global atual. “Nossa
unidade nos permite enfrentar desafios comuns”, concluiu. Em Moscou, Díaz-Canel
participará do desfile militar do Dia da Vitória, ao lado de outros líderes,
como Xi Jinping, Nicolás Maduro e Luiz Inácio Lula da Silva. As comemorações
fazem parte dos esforços do Kremlin para demonstrar alianças sólidas diante do
Ocidente em um contexto de crescentes tensões internacionais.
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“Irmandade através dos anos e da distância”
Por
ocasião do 65º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre
Moscou e Havana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov,
divulgou nesta quarta-feira (07/05) uma extensa carta intitulada “Irmandade
através dos anos e da distância”.
No
texto, o diplomata revisita os principais marcos da relação bilateral desde o
triunfo da Revolução Cubana e destaca a figura de Fidel Castro como símbolo de
luta e justiça. “O Comandante Fidel fez muito pelo fortalecimento das nossas
relações bilaterais e pela promoção, no cenário internacional, de valores como
paz, liberdade, verdade e justiça. Para muitas gerações de russos, seu nome
tornou-se símbolo de dedicação ao povo cubano”, afirmou Lavrov. A carta destaca
momentos significativos da parceria entre os dois países, desde visitas de
líderes revolucionários até intercâmbios culturais e educacionais. Cuba é
descrita como “um aliado confiável na política externa e um parceiro
prioritário da Rússia na América Latina”.
Lavrov
ressalta as convergências nas abordagens geopolíticas e diplomáticas entre as
duas nações, observando que ambas compartilham “a visão de uma maioria global
que defende a construção de uma ordem multipolar mais justa, que leve em
consideração os interesses de todos os Estados, inclusive os pequenos e
médios”. O chanceler também destaca a cooperação entre Rússia e Cuba na luta
contra práticas neocoloniais, lembrando o trabalho conjunto em 2023 para
aprovar na Assembleia Geral da ONU a resolução “Erradicação do colonialismo em
todas as suas formas e manifestações”. Além disso, ambos os países rejeitam
sanções unilaterais, que, segundo Lavrov, “não apenas violam o Direito
Internacional, como também atingem de forma mais severa os setores mais
vulneráveis da população”.
Sobre o
conflito na Ucrânia, o texto afirma que “a liderança cubana já apontou, em
diversas ocasiões, que uma das causas fundamentais do conflito está na
prolongada expansão da OTAN rumo às fronteiras russas. Também é essencial
garantir o respeito aos direitos humanos nos territórios controlados pelo
regime de Kiev, que, após o golpe de Estado de 2014, adotou uma política de
eliminação de tudo que se relaciona à Rússia e ao Mundo Russo — sua língua,
cultura, tradições, ortodoxia canônica e meios de comunicação russófonos”.
Em
relação à recente entrada de Cuba no grupo BRICS, Lavrov considera que a adesão
“contribuirá para o fortalecimento da coordenação da política externa cubana”. Por
fim, ele prevê uma mudança estrutural na economia global: “Nos últimos anos, o
centro de gravidade da economia mundial tem se deslocado, de forma objetiva e
irreversível, para a Eurásia, onde novos polos de poder, desenvolvimento e
tomada de decisão estão ganhando protagonismo. Nesse contexto, abrem-se novos
horizontes para Cuba como Estado observador na União Econômica Euroasiática”
Fonte: BBC News Brasil/Opera Mundi

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