sábado, 17 de maio de 2025

O presente do Catar que uniu apoiadores e oponentes contra  Trump

Em sua ânsia de aceitar um avião do CatarDonald Trump alcançou um feito notável, unindo representantes de ambos os lados da profunda divisão política nos Estados Unidos.

O problema para a Casa Branca é que a união está acontecendo em oposição ao governo.

Como era de se esperar, os oponentes de Trump do Partido Democrata criticaram o presidente depois que ele indicou que aceitaria um jato de luxo oferecido pela família real do Catar.

Mais digno de nota — e potencialmente mais preocupante para o presidente — é que alguns de seus mais fortes apoiadores também possuem sérias reservas em relação ao acordo, embora ele ainda não tenha sido finalizado.

Influenciadores do movimento Maga (Make America Great Again) descreveram a iniciativa como um "suborno", uma fraude e um exemplo da corrupção de alto nível que o próprio Trump sempre prometeu erradicar.

A família real do Catar planeja doar o luxuoso Boeing 747-8, avaliado em US$ 400 milhões, ao Departamento de Defesa dos EUA para ser usado como parte da frota de aviões da Air Force One — o meio de transporte aéreo oficial do presidente.

A frota atual inclui dois jatos 747-200 que estão em uso desde 1990, além de vários 757 menores.

A Casa Branca diz que o novo avião —que pode levar anos e milhões de dólares para ser reformado e modernizado — vai ser transferido para o acervo presidencial de Trump ao final do seu mandato.

Depois que a notícia foi divulgada no domingo (11/5), a reação foi feroz e imediata.

"Acho que o termo técnico é 'suspeito'", disse o comentarista conservador do Daily Wire, Ben Shapiro, em seu podcast.

"O Catar não está supostamente dando ao presidente Trump um jato de US$ 400 milhões por ter um bom coração", ele acrescentou. "Eles tentam enfiar dinheiro no bolso de forma totalmente bipartidária."

Assim como outros, ele citou alegações de que o Catar direcionou dinheiro para grupos terroristas — acusações que o país nega —, e chamou os cataris de "os maiores defensores do terrorismo em escala internacional".

A influenciadora Laura Loomer, que espalha teorias conspiratórias nas redes sociais e pede a demissão de altos funcionários da Casa Branca que não são considerados leais o suficiente, interrompeu seu fluxo constante de mensagens pró-Trump para criticar a medida.

Embora tenha dito que ainda apoia o presidente, ela classificou a transação relacionada à aeronave como "uma mancha" — e publicou uma caricatura do Cavalo de Troia, redesenhado como um avião e repleto de militantes islâmicos armados.

Trump também encontrou pouco apoio para o plano entre os veículos de comunicação mais mainstream.

O New York Post, com o qual ele geralmente pode contar para apoiar grande parte da agenda populista do Maga, publicou um editorial contundente: "O jato 'Palace in the Sky' do Catar NÃO é um 'presente grátis' — e Trump não deveria aceitá-lo como tal."

E Mark Levin, um constante entusiasta do presidente na Fox News e em seu programa de rádio, postou no X (antigo Twitter) acusando o Catar de ser um "Estado terrorista". "O jato deles e todas as outras coisas que estão comprando em nosso país não vai dar a eles o disfarce que procuram", escreveu.

Durante seu primeiro mandato, o próprio Trump acusou o Catar de financiar grupos terroristas.

Quando contatada pela BBC, a embaixada do Catar em Washington indicou uma entrevista que o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, deu à rede CNN sobre o avião.

"Trata-se de uma transação entre governos. Não tem nada a ver com relacionamentos pessoais — nem por parte dos EUA, nem por parte do Catar. É entre os dois ministérios da Defesa", ele disse.

"Por que compraríamos influência nos EUA?", acrescentou, argumentando que o Catar "sempre foi um parceiro confiável e fidedigno. Esta não é uma relação de mão única".

Em resposta às críticas ao plano, a Casa Branca reforçou sua intenção. A secretária de imprensa de Trump, Karoline Leavitt, disse em comunicado que o governo estava "comprometido com a transparência total".

"Qualquer presente dado por um governo estrangeiro é sempre aceito em total conformidade com todas as leis aplicáveis", ela afirmou.

Embora não tenha sido oferecido nada em troca do avião, muitos analistas disseram que seria ingênuo esperar que a família real do Catar oferecesse um item tão grandioso sem nenhuma contrapartida.

"É óbvio que eles imaginam que, se recompensarem Donald Trump com presentes, isso pode render frutos no futuro", afirmou o estrategista político Doug Heye, ex-diretor de comunicação do Comitê Nacional Republicano, à BBC. "A bajulação leva você a algum lugar com Donald Trump, e já vimos isso várias vezes."

A Constituição dos EUA inclui uma cláusula que impede autoridades de aceitar "qualquer presente, emolumento, cargo ou título, de qualquer tipo, de qualquer rei, príncipe ou Estado estrangeiro".

Mas a Casa Branca ressaltou que, pelo menos inicialmente, o avião está sendo presenteado ao governo dos EUA.

A procuradora-geral Pam Bondi teria investigado a legalidade do acordo e determinado que, como não há condições explícitas vinculadas, não seria considerado suborno.

Conservadores, entre outros, foram rápidos em apontar que Bondi era registrada como lobista do Catar antes de entrar para o gabinete de Trump, chegando a ganhar até US$ 115 mil por mês com seu trabalho para o governo catari.

A Trump Organization, conglomerado empresarial do presidente, também mantém laços com o Catar e, no mês passado, anunciou um acordo para construir um resort de golfe de luxo no país.

Durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca na terça-feira (13/5), o presidente repreendeu uma jornalista que levantou questionamentos sobre a ética da transação.

"O que você tem a dizer às pessoas que veem esse jato de luxo como um presente pessoal?", perguntou a repórter Rachel Scott, da rede ABC.

"Você deveria ter vergonha de fazer essa pergunta", respondeu Trump, depois de usar seu jargão padrão de "fake news".

"Eles estão nos dando um jato de graça", disse o presidente. "Eu poderia dizer 'não, não, não, não deem o jato para a gente, quero pagar a vocês um bilhão ou 400 milhões'... ou eu poderia dizer 'muito obrigado'."

Na plataforma Truth Social, o presidente repostou posteriormente várias mensagens destacando que a Estátua da Liberdade foi um presente da França, e escreveu no fim de terça-feira: "O Boeing 747 está sendo dado à Força Aérea/Departamento de Defesa dos EUA, NÃO A MIM!"

"Somente um TOLO não aceitaria esse presente em nome do nosso país", acrescentou.

No entanto, até mesmo alguns membros do Partido Republicano de Trump estavam manifestando preocupação.

"Acho que não vale a pena a aparência de impropriedade, seja ela imprópria ou não", afirmou Rand Paul, senador republicano do Kentucky, à Fox News.

"Eu me pergunto se nossa capacidade de julgar o histórico de direitos humanos [do Catar] será obscurecida por este grande presente", completou Paul.

Outro senador republicano, Ted Cruz, do Texas, disse que aceitar o presente representaria "problemas significativos de espionagem e vigilância".

Trump encontrou, no entanto, algum apoio dentro do partido. "De graça é bom. Sabe como é, não temos muito dinheiro agora para comprar coisas assim", afirmou o senador Tommy Tuberville à rede CNN.

Doug Heye, estrategista republicano, sugeriu que o acordo pode não prejudicar a popularidade de Trump dentro da sua base de apoio no longo prazo.

"Há anos, Trump tem sido capaz de transformar escândalos que, de outra forma, seriam debilitantes para outros políticos em coisas que esquecemos", observou. "Ele é muito habilidoso nisso."

Ex-lobista defende "propina" do Catar a Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rompeu a antiga tradição da Casa Branca e fez sua primeira viagem internacional ao Oriente Médio -- com passagens pela Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Tradicionalmente, presidentes dos EUA davam prioridade ao Canadá ou ao Reino Unido.

Diferentemente do que aconteceu com a viagem de Lula à Rússia e China, a mídia brasileira não denunciou o périplo de Trump por países de regimes autoritários. Na Arábia Saudita, Trump foi tão badalado que o príncipe-herdeiro Mohammed Bin Salman providenciou uma lanchonete móvel do McDonald's para servir aos jornalistas e assessores que acompanharam Trump. Salman lidera um regime que mandou matar o estadunidense Jamal Khashoggi, colunista do Washington Post, na embaixada saudita na Turquia.

Os sauditas prometeram investimentos de U$ 600 bilhões nos EUA. Em Doha, no Catar, Trump anunciou a venda de 210 aeronaves da Boeing à empresa aérea local, um negócio avaliado em U$ 96 bilhões.

Curiosamente, os filhos de Trump, Donald Jr. e Eric, em nome do pai estão fechando negócios nos três países visitados, inclusive um campo de golfe e um hotel.

<><> Lobista no governo dá aprovação

O conflito de interesses bate recorde histórico no governo Trump.

O ocupante da Casa Branca confirmou que aceitará um "castelo voador" de presente do Catar: um Boeing modificado, avaliado em U$ 400 milhões, que tem três saguões, dois dormitórios, nove banheiros, cinco cozinhas e um escritório. Por questões de segurança, no entanto, o avião que será entregue a Trump para uso oficial terá de ser reformado -- a estimativa é de que isso leve até dois anos, além de centenas de milhões de dólares.

O Boeing será adequado aos critérios de segurança, comunicações e defesa vigentes na frota oficial dos EUA. Assim, o "novo" Air Force One custará ao contribuinte dos Estados Unidos. Trump alega que não pode esperar pela nova frota presidencial, já em construção na Boeing.

Assim que Trump deixar a Casa Branca, o avião presenteado pelo Catar será transferido para uso pessoal do ex-presidente -- uma jogada e tanto. Em outras palavras, o republicano ganha um presente pessoal do Catar, que será reformado com dinheiro público, enquanto os dois filhos fecham negócios que vão turbinar a fortuna da família -- inclusive no Catar.

A procuradora-geral de Justiça dos Estados Unidos, Pam Bondi, já tem pronto um memorando endossando o "presente". Ao passar por audiência no Senado, Bondi admitiu que fez lobby para o Catar quando trabalhava numa empresa de advocacia.

O contrato do emirado com o escritório era de 115 mil dólares mensais. Ou seja, uma ex-lobista do Catar chancelará o presente do Catar a Trump.

¨      Trump conclui viagem ao Oriente Médio, marcada por reaproximação com Síria e promessas de investimentos

A viagem do presidente dos Estados UnidosDonald Trump, ao Oriente Médio terminou nesta sexta-feira (16), nos Emirados Árabes Unidos. A visita foi marcada por promessas de investimentos bilionários nos Estados Unidos, mas também pelo fim das sanções impostas à Síria e pelo otimismo nas negociações com o Irã.

Embora tenha visitado uma região com várias questões geopolíticas em aberto, a primeira viagem internacional do segundo mandato do presidente americano teve um intenso tom econômico e empresarial.

O republicano recebeu muitas promessas de investimentos: US$ 600 bilhões da Arábia Saudita, um contrato com a Boeing de US$ 200 bilhões no Catar e US$ 1,4 trilhão dos Emirados Árabes Unidos em investimentos durante os próximos 10 anos.

"É o maior investimento já feito, e realmente valorizamos. E vamos tratá-los como vocês merecem, de forma magnífica", agradeceu Trump ao presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed, em uma reunião nesta quinta-feira (15).

Casa Branca também detalhou que foram assinados acordos no valor total de 200 bilhões de dólares, incluindo um pedido de US$ 14,5 bilhões para a Boeing e para a GE Aerospace, além da participação do grupo ADNOC em um projeto de 60 bilhões de dólares nos Estados Unidos.

O cumprimento dos valores de investimento e contratos tão elevados costuma ser difícil de verificar a longo prazo.

Segundo o jornal local "The National", os Emirados Árabes Unidos também buscam uma aliança com os Estados Unidos no setor de tecnologia e Inteligência Artificial (IA).

Os países do Golfo, que estão entre os principais exportadores de petróleo do mundo, apostam na IA na estratégia de diversificar suas economias e querem garantir o acesso à tecnologia de ponta americana.

<><>SíriaIrã, Gaza...

Além do componente econômico, a viagem de Trump incluiu declarações e gestos impactantes sobre as várias crises que abalam a região, como o novo governo na Síria, a guerra em Gaza ou o programa nuclear do Irã.

Na quinta-feira, ainda no Catar, o republicano disse que Washington e Teerã estão se aproximando de um "acordo" sobre o programa nuclear iraniano, após quatro reuniões entre os dois países nas últimas semanas.

Em sua primeira escala da viagem, a Arábia Saudita, Trump surpreendeu com o anúncio da suspensão das sanções dos Estados Unidos contra a Síria e uma reunião com seu homólogo Ahmed al Sharaa, ex-jihadista que derrubou o governo de Bashar al-Assad.

E sobre a Faixa de Gaza, Trump reiterou sua vontade de assumir o controle do território palestino, destruído por 19 meses de guerra entre Israel e Hamas, e transformá-lo em "uma zona de liberdade".

O republicano confirma com a viagem uma ruptura radical com a diplomacia de seu antecessor democrata Joe Biden, baseada em parte no respeito aos direitos humanos.

Em seu primeiro dia na capital saudita, Trump apoiou os regimes da região e criticou as estratégias diplomáticas ocidentais baseadas na promoção da democracia.

 

Fonte: BBC News Mundo/Fórum/g1

 

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