O
presente do Catar que uniu apoiadores e oponentes contra Trump
Em sua
ânsia de aceitar um avião do Catar, Donald Trump alcançou um
feito notável, unindo representantes de ambos os lados da profunda divisão
política nos Estados Unidos.
O
problema para a Casa Branca é que a união está acontecendo em oposição ao
governo.
Como
era de se esperar, os oponentes de Trump do Partido Democrata criticaram o
presidente depois que ele indicou que aceitaria um jato de luxo oferecido pela
família real do Catar.
Mais
digno de nota — e potencialmente mais preocupante para o presidente — é que
alguns de seus mais fortes apoiadores também possuem sérias reservas em relação
ao acordo, embora ele ainda não tenha sido finalizado.
Influenciadores
do movimento Maga (Make America Great Again) descreveram a iniciativa
como um "suborno", uma fraude e um exemplo da corrupção de alto nível
que o próprio Trump sempre prometeu erradicar.
A
família real do Catar planeja doar o luxuoso Boeing 747-8, avaliado em US$ 400
milhões, ao Departamento de Defesa dos EUA para ser usado como parte da frota
de aviões da Air Force One — o meio de transporte aéreo oficial do presidente.
A frota
atual inclui dois jatos 747-200 que estão em uso desde 1990, além de vários 757
menores.
A Casa
Branca diz que o novo avião —que pode levar anos e milhões de dólares para ser
reformado e modernizado — vai ser transferido para o acervo presidencial de
Trump ao final do seu mandato.
Depois
que a notícia foi divulgada no domingo (11/5), a reação foi feroz e imediata.
"Acho
que o termo técnico é 'suspeito'", disse o comentarista conservador do
Daily Wire, Ben Shapiro, em seu podcast.
"O
Catar não está supostamente dando ao presidente Trump um jato de US$ 400
milhões por ter um bom coração", ele acrescentou. "Eles tentam enfiar
dinheiro no bolso de forma totalmente bipartidária."
Assim
como outros, ele citou alegações de que o Catar direcionou dinheiro para grupos
terroristas — acusações que o país nega —, e chamou os cataris de "os
maiores defensores do terrorismo em escala internacional".
A
influenciadora Laura Loomer, que espalha teorias conspiratórias nas redes
sociais e pede a demissão de altos funcionários da Casa Branca que não são
considerados leais o suficiente, interrompeu seu fluxo constante de mensagens
pró-Trump para criticar a medida.
Embora
tenha dito que ainda apoia o presidente, ela classificou a transação
relacionada à aeronave como "uma mancha" — e publicou uma caricatura
do Cavalo de Troia, redesenhado como um avião e repleto de militantes islâmicos
armados.
Trump
também encontrou pouco apoio para o plano entre os veículos de comunicação
mais mainstream.
O New
York Post, com o qual ele geralmente pode contar para apoiar grande parte da
agenda populista do Maga, publicou um editorial contundente: "O jato
'Palace in the Sky' do Catar NÃO é um 'presente grátis' — e Trump não deveria
aceitá-lo como tal."
E Mark
Levin, um constante entusiasta do presidente na Fox News e em seu programa de
rádio, postou no X (antigo Twitter) acusando o Catar de ser um "Estado
terrorista". "O jato deles e todas as outras coisas que estão
comprando em nosso país não vai dar a eles o disfarce que procuram",
escreveu.
Durante
seu primeiro mandato, o próprio Trump acusou o Catar de financiar grupos
terroristas.
Quando
contatada pela BBC, a embaixada do Catar em Washington indicou uma entrevista
que o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani,
deu à rede CNN sobre o avião.
"Trata-se
de uma transação entre governos. Não tem nada a ver com relacionamentos
pessoais — nem por parte dos EUA, nem por parte do Catar. É entre os dois
ministérios da Defesa", ele disse.
"Por
que compraríamos influência nos EUA?", acrescentou, argumentando que o
Catar "sempre foi um parceiro confiável e fidedigno. Esta não é uma
relação de mão única".
Em
resposta às críticas ao plano, a Casa Branca reforçou sua intenção. A
secretária de imprensa de Trump, Karoline Leavitt, disse em comunicado que o
governo estava "comprometido com a transparência total".
"Qualquer
presente dado por um governo estrangeiro é sempre aceito em total conformidade
com todas as leis aplicáveis", ela afirmou.
Embora
não tenha sido oferecido nada em troca do avião, muitos analistas disseram que
seria ingênuo esperar que a família real do Catar oferecesse um item tão
grandioso sem nenhuma contrapartida.
"É
óbvio que eles imaginam que, se recompensarem Donald Trump com presentes, isso
pode render frutos no futuro", afirmou o estrategista político Doug Heye,
ex-diretor de comunicação do Comitê Nacional Republicano, à BBC. "A
bajulação leva você a algum lugar com Donald Trump, e já vimos isso várias
vezes."
A
Constituição dos EUA inclui uma cláusula que impede autoridades de aceitar
"qualquer presente, emolumento, cargo ou título, de qualquer tipo, de
qualquer rei, príncipe ou Estado estrangeiro".
Mas a
Casa Branca ressaltou que, pelo menos inicialmente, o avião está sendo
presenteado ao governo dos EUA.
A
procuradora-geral Pam Bondi teria investigado a legalidade do acordo e
determinado que, como não há condições explícitas vinculadas, não seria
considerado suborno.
Conservadores,
entre outros, foram rápidos em apontar que Bondi era registrada como lobista do
Catar antes de entrar para o gabinete de Trump, chegando a ganhar até US$ 115
mil por mês com seu trabalho para o governo catari.
A Trump
Organization, conglomerado empresarial do presidente, também mantém laços com o
Catar e, no mês passado, anunciou um acordo para construir um resort de golfe
de luxo no país.
Durante
uma coletiva de imprensa na Casa Branca na terça-feira (13/5), o presidente
repreendeu uma jornalista que levantou questionamentos sobre a ética da
transação.
"O
que você tem a dizer às pessoas que veem esse jato de luxo como um presente
pessoal?", perguntou a repórter Rachel Scott, da rede ABC.
"Você
deveria ter vergonha de fazer essa pergunta", respondeu Trump, depois de
usar seu jargão padrão de "fake news".
"Eles
estão nos dando um jato de graça", disse o presidente. "Eu poderia
dizer 'não, não, não, não deem o jato para a gente, quero pagar a vocês um
bilhão ou 400 milhões'... ou eu poderia dizer 'muito obrigado'."
Na
plataforma Truth Social, o presidente repostou posteriormente várias mensagens
destacando que a Estátua da Liberdade foi um presente da França, e escreveu no
fim de terça-feira: "O Boeing 747 está sendo dado à Força
Aérea/Departamento de Defesa dos EUA, NÃO A MIM!"
"Somente
um TOLO não aceitaria esse presente em nome do nosso país", acrescentou.
No
entanto, até mesmo alguns membros do Partido Republicano de Trump estavam
manifestando preocupação.
"Acho
que não vale a pena a aparência de impropriedade, seja ela imprópria ou
não", afirmou Rand Paul, senador republicano do Kentucky, à Fox News.
"Eu
me pergunto se nossa capacidade de julgar o histórico de direitos humanos [do
Catar] será obscurecida por este grande presente", completou Paul.
Outro
senador republicano, Ted Cruz, do Texas, disse que aceitar o presente
representaria "problemas significativos de espionagem e vigilância".
Trump
encontrou, no entanto, algum apoio dentro do partido. "De graça é bom.
Sabe como é, não temos muito dinheiro agora para comprar coisas assim",
afirmou o senador Tommy Tuberville à rede CNN.
Doug
Heye, estrategista republicano, sugeriu que o acordo pode não prejudicar a
popularidade de Trump dentro da sua base de apoio no longo prazo.
"Há
anos, Trump tem sido capaz de transformar escândalos que, de outra forma,
seriam debilitantes para outros políticos em coisas que esquecemos",
observou. "Ele é muito habilidoso nisso."
Ex-lobista
defende "propina" do Catar a Trump
O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rompeu a antiga tradição da Casa
Branca e fez sua primeira viagem internacional ao Oriente Médio -- com
passagens pela Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Tradicionalmente,
presidentes dos EUA davam prioridade ao Canadá ou ao Reino Unido.
Diferentemente
do que aconteceu com a viagem de Lula à Rússia e China, a mídia brasileira não
denunciou o périplo de Trump por países de regimes autoritários. Na Arábia
Saudita, Trump foi tão badalado que o príncipe-herdeiro Mohammed Bin Salman
providenciou uma lanchonete móvel do McDonald's para servir aos jornalistas e
assessores que acompanharam Trump. Salman lidera um regime que mandou matar o
estadunidense Jamal Khashoggi, colunista do Washington Post, na embaixada
saudita na Turquia.
Os
sauditas prometeram investimentos de U$ 600 bilhões nos EUA. Em Doha, no Catar,
Trump anunciou a venda de 210 aeronaves da Boeing à empresa aérea local, um
negócio avaliado em U$ 96 bilhões.
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Lobista no governo dá aprovação
O
conflito de interesses bate recorde histórico no governo Trump.
O
ocupante da Casa Branca confirmou que aceitará um "castelo voador" de
presente do Catar: um Boeing modificado, avaliado em U$ 400 milhões, que tem
três saguões, dois dormitórios, nove banheiros, cinco cozinhas e um escritório.
Por questões de segurança, no entanto, o avião que será entregue a Trump para
uso oficial terá de ser reformado -- a estimativa é de que isso leve até dois
anos, além de centenas de milhões de dólares.
O
Boeing será adequado aos critérios de segurança, comunicações e defesa vigentes
na frota oficial dos EUA. Assim, o "novo" Air Force One custará ao
contribuinte dos Estados Unidos. Trump alega que não pode esperar pela nova
frota presidencial, já em construção na Boeing.
Assim
que Trump deixar a Casa Branca, o avião presenteado pelo Catar será
transferido para uso pessoal do ex-presidente -- uma jogada e tanto. Em outras
palavras, o republicano ganha um presente pessoal do Catar, que será
reformado com dinheiro público, enquanto os dois filhos fecham negócios que vão
turbinar a fortuna da família -- inclusive no Catar.
A
procuradora-geral de Justiça dos Estados Unidos, Pam Bondi, já tem
pronto um memorando endossando o "presente". Ao passar por
audiência no Senado, Bondi admitiu que fez lobby para o Catar quando
trabalhava numa empresa de advocacia.
O
contrato do emirado com o escritório era de 115 mil dólares mensais. Ou seja,
uma ex-lobista do Catar chancelará o presente do Catar a Trump.
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Trump conclui viagem ao Oriente Médio, marcada por
reaproximação com Síria e promessas de investimentos
A
viagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Oriente Médio terminou nesta sexta-feira
(16), nos Emirados Árabes Unidos. A visita foi marcada por promessas de
investimentos bilionários nos Estados Unidos, mas também pelo fim das sanções impostas
à Síria e pelo otimismo
nas negociações com o Irã.
Embora
tenha visitado uma região com várias questões geopolíticas em aberto, a primeira viagem internacional do
segundo mandato do presidente americano teve um intenso tom econômico e
empresarial.
O
republicano recebeu muitas promessas de investimentos: US$ 600 bilhões da Arábia Saudita, um contrato com a Boeing de US$ 200 bilhões no Catar e US$ 1,4 trilhão dos Emirados Árabes Unidos em
investimentos durante os próximos 10 anos.
"É
o maior investimento já feito, e realmente valorizamos. E vamos tratá-los como
vocês merecem, de forma magnífica", agradeceu Trump ao presidente dos
Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed, em uma reunião nesta quinta-feira
(15).
A Casa Branca também detalhou que foram assinados
acordos no valor total de 200 bilhões de dólares, incluindo um pedido de US$
14,5 bilhões para a Boeing e para a GE Aerospace, além da participação do
grupo ADNOC em um projeto de 60 bilhões de dólares nos Estados Unidos.
O
cumprimento dos valores de investimento e contratos tão elevados costuma ser
difícil de verificar a longo prazo.
Segundo
o jornal local "The National", os Emirados Árabes Unidos também
buscam uma aliança com os Estados Unidos no setor de tecnologia e Inteligência
Artificial (IA).
Os
países do Golfo, que estão entre os principais exportadores de petróleo do
mundo, apostam na IA na estratégia de diversificar suas economias e querem
garantir o acesso à tecnologia de ponta americana.
Além do
componente econômico, a viagem de Trump incluiu declarações e gestos
impactantes sobre as várias crises que abalam a região, como o novo governo
na Síria, a guerra em Gaza ou
o programa nuclear do Irã.
Na
quinta-feira, ainda no Catar, o republicano disse que Washington e Teerã estão se
aproximando de um "acordo" sobre o programa
nuclear iraniano, após quatro reuniões entre os dois países nas últimas
semanas.
Em sua
primeira escala da viagem, a Arábia Saudita, Trump surpreendeu com o anúncio da
suspensão das sanções dos Estados Unidos contra a Síria e uma reunião com seu homólogo Ahmed al
Sharaa, ex-jihadista que derrubou o governo de Bashar al-Assad.
E sobre
a Faixa de Gaza, Trump reiterou sua
vontade de assumir o controle do território palestino, destruído por 19 meses
de guerra entre Israel e Hamas, e transformá-lo em "uma zona de liberdade".
O
republicano confirma com a viagem uma ruptura radical com a diplomacia de seu
antecessor democrata Joe Biden, baseada em parte no respeito aos direitos
humanos.
Em seu
primeiro dia na capital saudita, Trump apoiou os regimes da região e criticou
as estratégias diplomáticas ocidentais baseadas na promoção da democracia.
Fonte:
BBC News Mundo/Fórum/g1

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