A
acusação de fraude que “afastou” presidente da CBF
Ednaldo
Rodrigues foi afastado da presidência da Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) nesta quinta-feira (15/5).
A
decisão do desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro (TJ-RJ), foi motivada "em razão da incapacidade mental e de
possível falsificação da assinatura de um dos signatários, Antônio Carlos Nunes
de Lima, conhecido como Coronel Nunes", de acordo com o despacho.
Nunes
teria sido um dos signatários no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado
entre o Ministério Público do Rio de Janeiro e a CBF para tentar por fim ao
processo que levou Ednaldo Rodrigues à presidência da entidade.
Na
decisão, o desembargador também nomeou Fernando Sarney, um dos vice-presidentes
da entidade, como interventor e o responsável por convocar novas eleições.
No
início de maio, a deputada federal Daniela Carneiro (União Brasil-RJ),
conhecida como Daniela do Waguinho, e Fernando Sarney, protocolaram um pedido
no Supremo Tribunal Federal (STF) para que Ednaldo fosse afastado da
presidência, suspendendo o TAC que o mantinha no poder.
O
argumento do pedido era centrado em um laudo que questiona a autenticidade da
assinatura de Nunes no TAC firmado no início deste ano.
O
ministro do STF, Gilmar Mendes, negou o pedido e afirmou que o questionamento
era de competência da Justiça do Rio de Janeiro julgar. O ministro também
determinou a "apuração imediata e urgente dos fatos narrados nas
petições".
Baseado
no histórico de saúde de Nunes, o desembargador Zéfiro decidiu então acatar o
pedido, anulando o acordo.
"Há
muito o Coronel Nunes não tem condições de expressar de forma consciente sua
vontade. Seus atos são guiados. Não emanam da sua vontade livre e
consciente", escreveu o desembargador em sua decisão.
• Como foi firmado o acordo
Ednaldo
Rodrigues foi nomeado presidente interino da CBF em agosto de 2021, após o
afastamento de Rogério Caboclo, motivado por denúncias de assédio moral e
sexual.
Em
março de 2022, Ednaldo foi eleito presidente da CBF com mandato até março de
2026. Ele foi o único candidato e recebeu 137 dos 141 votos.
A
eleição de Ednaldo ocorreu depois que o Ministério Público do Rio de Janeiro,
que havia entrado com uma ação, em 2017, questionando a eleição de Caboclo,
firmou um TAC com a CBF.
No
entanto, uma nova ação foi movida em seguida, questionando esse TAC. Mas, no
início deste ano, um novo acordo, firmado por cinco dirigentes, encerrou esse
processo.
Porém,
um dos dirigentes seria o Coronel Nunes, cuja assinatura está sendo contestada.
Sem a validade dela, o acordo é anulado.
Essa é
a segunda vez que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afasta Ednaldo.
A
primeira foi em dezembro de 2023, motivada justamente pela ação movida pelo
MPRJ em 2017. Mas ele recorreu e o caso foi parar no Supremo. Ednaldo retornou
um mês depois por decisão do ministro Gilmar Mendes.
Durante
a gestão de Ednaldo, o técnico Tite deixou o cargo de treinador da Seleção
Brasileira. Isso ocorreu depois que a equipe foi eliminada da Copa do Mundo de
2022 nas quartas de final pela Croácia.
Na
sequência, Seleção Feminina não passou nem da segunda fase da Copa do Mundo, e
a técnica, Pia Sundhage, foi demitida.
As
primeiras Copas sob o comando de Ednaldo foram consideradas, portanto, um
fracasso.
Já em
2024, o Brasil não conseguiu uma vaga para disputar as Olimpíadas de Paris,
ficando de fora da competição. A Seleção Brasileira foi eliminada da Copa
América nas quartas de final, mas a Seleção Feminina conquistou a prata
olímpica em Paris.
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Cronologia do caso
2018:
Ednaldo deixa a direção da Federação Baiana de Futebol, onde permaneceu por 18
anos, para assumir a vice-presidência da CBF. O presidente era Rogério Caboclo.
2021:
Ednaldo é escolhido pelo Conselho de Administração da CBF para presidir a
entidade de forma interina, após o afastamento de Caboclo, acusado de assédio
sexual e moral contra uma funcionária.
2022:
Ednaldo é eleito, por meio da Assembleia Geral Eleitoral da CBF, para
presidente da entidade, com mandato até 2026.
2023: O
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro invalida um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC), celebrado em 2022 entre o Ministério Público do
Rio de Janeiro (MPRJ) e a CBF, destituindo, portanto, Ednaldo da presidência.
O TAC
alterava as regras para as eleições presidenciais da CBF, que vinham sendo
questionadas desde 2017 pelo MPRJ. Ednaldo Rodrigues venceu a eleição, que,
nessa ocasião, foi anulada.
2025:
Em janeiro, MPRJ aceitou um acordo, assinado por cinco dirigentes, que
reconheceu a legitimidade da eleição vencida por Ednaldo Rodrigues, encerrando
a manifestação contra a CBF.
2025:
Em fevereiro, o STF legitima a eleição de 2022, que conduziu Ednaldo à
presidência da CBF, garantindo, portanto, a permanência do dirigente na
presidência até o fim do mandato, em 2026.
2025:
No mês seguinte, Ednaldo Rodrigues antecipa as eleições e acaba reeleito
presidente da CBF. Candidato único no pleito, ele recebe 137 dos 141 votos.
2025:
Mas, em abril, a deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), protocolou no
STF um pedido de "afastamento imediato" de Ednaldo da presidência da
confederação.
A
parlamentar contestou a autenticidade da assinatura de Antonio Carlos Nunes de
Lima, o Coronel Nunes, ex-presidente da entidade e vice de Ednaldo no último
mandato.
Nunes
foi diagnosticado com câncer no cérebro em 2018 e, segundo a deputada, em 2023
já existia laudo médico apontando que Coronel Nunes "não tinha as
condições físicas e cognitivas para expor seu aceite a qualquer condição que
lhe fosse apresentada".
2025:
No último dia 7, o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, rejeitou o pedido para
afastar Ednaldo da presidência da CBF, atribuindo ao Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro a competência para julgar o caso.
Nesta
quinta-feira (15/5), o desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, do TJ-RJ,
destituiu Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF.
• Ednaldo Rodrigues pede ao STF que anule
decisão que o tirou da presidência da CBF
O
presidente afastado da CBF, Ednaldo Rodrigues, pediu, na noite desta
quinta-feira, que a decisão proferida pelo desembargador Gabriel Zéfiro, do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que o destituiu do poder da
entidade, seja anulada. O pedido foi feito na ação que julga a legitimidade do
Ministério Público de celebrar acordos com entidades esportivas.
Na
petição apresentada nesta quinta-feira, a defesa de Ednaldo pede também que,
caso o pedido de nulidade da decisão proferida pelo TJ-RJ não seja acolhido,
que o estatuto da CBF, que afirma que o vice-presidente mais idoso deve assumir
o poder em caso de vacância na presidência, seja adotado. Assim, segundo o
documento, Hélio Menezes assumiria o posto.
O
julgamento desta ação, que entre outras consequências, determinou a recondução
de Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF em janeiro de 2024, está marcado para
o dia 28 de maio, no Supremo Tribunal Federal.
Outro
pedido apresentado por Ednaldo foi o de que o desembargador Gabriel Zéfiro,
responsável pela destituição do agora ex-presidente da CBF, seja informado com
urgência da decisão, solicitando ainda que o TJRJ não profira mais nenhuma
decisão que interfira no poder da entidade enquanto durar a vigência da liminar
de Gilmar Mendes que reconduziu Ednaldo ao poder, em janeiro de 2024.
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Entenda o caso
O
desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro (TJ-RJ), afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF nesta
quinta-feira. O magistrado nomeou um dos vice-presidentes da entidade, Fernando
Sarney, como interventor e determinou que ele deverá convocar novas eleições
"o mais rápido possível".
—
DECLARO NULO O ACORDO FIRMADO ENTRE AS PARTES, HOMOLOGADO OUTRORA PELA CORTE
SUPERIOR, em razão da incapacidade mental e de possível falsificação da
assinatura de um dos signatários, ANTÔNIO CARLOS NUNES DE LIMA, conhecido por
CORONEL NUNES — escreveu o magistrado em sua decisão.
Ednaldo
recebeu a notícia do afastamento em Assunção, onde participou do congresso da
Fifa. Existe a chance de recondução do dirigente à presidência da CBF em caso
de decisão dos tribunais superiores (STJ ou STF). Na primeira vez em que foi
afastado, em dezembro de 2023, Ednaldo recorreu ao STF e voltou a cargo um mês
depois.
Nomeado
interventor nesta quinta, Fernando Sarney é um dos atuais vice-presidentes da
CBF, mas rompeu politicamente com Ednaldo e faz parte da oposição. Ele não
integrou, por exemplo, a chapa da reeleição do presidente por aclamação no dia
24 de março. Mas seu mandato como vice vai até março de 2026. Ele disse ao ge
que nada muda na contratação do técnico Carlo Ancelotti.
— Não
vou mexer com isso, não. O futebol segue a sua vida. Sou apenas transitório —
disse Sarney.
Na
semana passada, dois pedidos foram feitos ao STF para saída de Ednaldo do
cargo. O argumento da deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) e do
próprio agora interventor Fernando Sarney era de que foi falsificada a
assinatura do Coronel Nunes, ex-presidente da entidade, em acordo do início
deste ano. Há também um laudo pericial indicando que a assinatura não é
verdadeira.
• Interventor da CBF diz que "não vai
mexer" em acerto com Carlo Ancelotti
Nomeado
interventor da CBF nesta quinta-feira por decisão judicial, Fernando Sarney
promete convocar eleições com a maior brevidade possível. Primeiro, quer
"sentar a bunda na cadeira um ou dois dias" para tomar pé da
situação, mas sem mudanças radicais.
— Estou
assinando termo de posse no TJ e depois vou à CBF. Vamos lá para fazer eleição
com o menor prazo possível. Temos que fazer uma transição democrática — disse
Sarney em contato com o ge.
Sobre o
acerto com Carlo Ancelotti, que foi alvo de um dos questionamentos de Sarney em
sua ação no TJ-RJ, o interventor lembrou que a petição na Justiça tratava do
que via como "manobra diversionista" de Ednaldo Rodrigues no meio da
crise na CBF.
— Não
vou mexer com isso, não. O futebol segue a sua vida. Sou apenas transitório -
afirmou.
— Meu
objetivo é no menor espaço de tempo fazer a eleição, primeiro vou sentar a
bunda na cadeira um, dois dias. Resolver isso para acabar com isso, essas
brigas na Justiça.
Em sua
petição ao TJ-RJ na noite de segunda-feira, os advogados de Fernando Sarney
criticaram o anúncio da contratação de Carlo Ancelotti, feito na manhã do mesmo
dia.
—
Agora, ao que parece, como uma tentativa de “emparedar” a atuação jurisdicional
sobre a irregularidade de sua manutenção na direção da CBF, às pressas, por
ordem de Edinaldo Rodrigues a CBF anunciou a contratação milionária do técnico
Carlo Ancelotti — diz trecho do texto.
• Ancelotti avisa que vai cumprir contrato
com a CBF
O
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afastou o presidente da CBF, Ednaldo
Rodrigues, apenas três dias após o dirigente anunciar a contratação do técnico
Carlo Ancelotti para a Seleção. Com a mudança no comando da entidade, surgiu a
dúvida: existe a chance de o acordo ser desfeito?
Horas
depois de ser nomeado interventor da CBF, Fernando Sarney avisou que "não
vai mexer" no contrato. E o ge apurou que a posição de Ancelotti é a
mesma: o italiano foi avisado por interlocutores da queda de Ednaldo no fim da
noite de quinta-feira no horário de Madri e garantiu que nada muda. Seu
contrato é com a CBF, não com Ednaldo, disse o treinador.
Nas
conversas, Ancelotti transpareceu tranquilidade ao saber da notícia. A delicada
situação política da CBF foi tema das negociações com o treinador, conduzidas
pelo intermediário Diego Fernandes. O italiano estava ciente do risco de
mudança no comando da entidade.
Ancelotti,
por sinal, recebeu sinalizações de opositores de Ednaldo de que eles aprovavam
o acerto com o técnico e nada fariam para mudar a situação em caso de
afastamento do presidente.
Nos
bastidores da CBF, existe um consenso: a Seleção precisa ser separada das
questões políticas e eleitorais. Por isso, a intenção é manter em seus cargos o
coordenador de seleções masculinas, Rodrigo Caetano, e coordenador técnico da
entidade, Juan.
Os
dois, inclusive, estão em Madri, onde se reuniram com Carlo Ancelotti horas
antes do afastamento de Ednaldo Rodrigues da CBF. Os interventores da entidade
desejam que Rodrigo Caetano e Juan mantenham a Seleção separada da turbulência
política.
Fernando
Sarney tem pressa para convocar novas eleições. No melhor cenário, ele espera
que as eleições sejam realizadas antes mesmo do jogo contra o Equador, no dia
5, que vai marcar a estreia de Carlo Ancelotti à frente da Seleção. A chegada
do italiano ao Brasil está prevista para o dia 26 de maio, quando vai iniciar o
trabalho.
Fonte:
BBC News Brasil

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