quinta-feira, 22 de maio de 2025

No futuro, a China será dominante. Os EUA serão irrelevantes

Durante anos, teóricos sugeriram a chegada do “século chinês”: um mundo em que a China, finalmente, aproveitaria seu vasto potencial econômico e tecnológico para ultrapassar os Estados Unidos e reorganizar o poder global com centro em Pequim.

Esse século talvez já tenha começado. E, quando os historiadores olharem para trás, poderão identificar os primeiros meses do segundo mandato de Trump como o ponto de virada em que a China se distanciou e deixou os EUA para trás.

Não importa que Washington e Pequim tenham chegado a uma trégua temporária e inconclusiva na guerra comercial de Trump. O presidente norte-americano imediatamente declarou vitória, o que apenas destaca o problema fundamental do governo Trump e dos EUA: um foco míope em escaramuças insignificantes enquanto a guerra maior contra a China é perdida de forma decisiva.

Trump está demolindo os pilares do poder e da inovação dos EUA. Suas tarifas comprometem o acesso das empresas americanas a mercados e cadeias globais. Ele está cortando financiamento público para pesquisa, enfraquecendo universidades e levando pesquisadores talentosos a considerar sair do país. Também quer reduzir programas em áreas como energia limpa e semicondutores, ao mesmo tempo em que desmantela o poder brando americano em amplas regiões do planeta.

A trajetória da China é bem diferente.

O país já lidera a produção global em diversos setores — aço, alumínio, construção naval, baterias, energia solar, veículos elétricos, turbinas eólicas, drones, equipamentos 5G, eletrônicos de consumo, ingredientes farmacêuticos ativos e trens de alta velocidade. A previsão é que a China represente 45% da manufatura global até 2030. Em março, Pequim anunciou um fundo nacional de capital de risco de US$ 138 bilhões para investir em tecnologias de ponta, como computação quântica e robótica, além de ampliar seu orçamento para pesquisa e desenvolvimento públicos.

Os resultados são impressionantes.

Quando a startup chinesa DeepSeek lançou seu chatbot de inteligência artificial em janeiro, muitos americanos perceberam que a China podia competir em IA. Houve vários momentos semelhantes a esse.

A montadora chinesa BYD, antes motivo de piada por Elon Musk, ultrapassou a Tesla em vendas globais no ano passado, está construindo fábricas ao redor do mundo e, em março, atingiu um valor de mercado maior que Ford, GM e Volkswagen juntas. A China avança também em descobertas farmacêuticas, especialmente em tratamentos contra o câncer, e instalou mais robôs industriais em 2023 do que o resto do mundo combinado. Em semicondutores, um ponto historicamente fraco, o país constrói uma cadeia autossuficiente impulsionada por avanços da Huawei. O domínio chinês em várias tecnologias interligadas cria um ciclo virtuoso em que os progressos em um setor elevam outros.

Mesmo assim, Trump continua obcecado por tarifas. Ele parece não compreender a escala da ameaça chinesa. Antes do anúncio de redução das tarifas, Trump minimizou as críticas às tarifas anteriores, dizendo que os americanos poderiam simplesmente comprar menos bonecas — uma visão da China como fábrica de produtos baratos, completamente fora da realidade atual.

Os Estados Unidos precisam entender que tarifas e pressões comerciais não farão a China abandonar sua política econômica estatal, que tem funcionado com grande sucesso. Pelo contrário, Pequim está dobrando a aposta, com uma abordagem similar ao Projeto Manhattan para conquistar a liderança em setores de alta tecnologia.

A China enfrenta seus próprios desafios. O prolongado declínio imobiliário ainda freia o crescimento, embora haja sinais de recuperação. Desafios estruturais também se avizinham, como a força de trabalho em declínio e o envelhecimento populacional. Mas os céticos vêm prevendo, há anos, o pico e a queda inevitável da China — previsões sempre contrariadas. A força persistente do sistema estatal chinês, capaz de mudar políticas e redirecionar recursos para o fortalecimento nacional, é agora inegável, gostem ou não os defensores do livre mercado.

A obsessão de Trump por soluções curtas como tarifas, enquanto mina as bases do poder americano, apenas acelera a ascensão de um mundo dominado pela China.

Se as trajetórias atuais se mantiverem, a China deverá dominar a manufatura de ponta — de carros e chips a máquinas de ressonância magnética e jatos comerciais. A disputa pela supremacia em IA será travada não entre EUA e China, mas entre cidades chinesas de alta tecnologia como Shenzhen e Hangzhou. Fábricas chinesas ao redor do mundo reconfigurarão as cadeias de suprimentos com a China no centro, como superpotência tecnológica e econômica global.

Os EUA, em contraste, podem se tornar uma nação profundamente diminuída. Protegidas por tarifas, as empresas venderiam quase exclusivamente para o mercado interno. A perda de vendas internacionais reduziria os lucros, limitando investimentos. Os consumidores ficariam com produtos medianos, mais caros que os concorrentes globais, devido ao custo de produção doméstico. Famílias enfrentariam inflação crescente e rendas estagnadas. Indústrias tradicionais, como automóveis e farmacêutica, já estão sendo perdidas para a China — as indústrias do futuro seguirão o mesmo caminho. Seria como transformar Detroit ou Cleveland em um retrato de todo o país.

Evitar esse cenário exige escolhas políticas óbvias e já com apoio bipartidário: investir em pesquisa e desenvolvimento, apoiar a inovação acadêmica, científica e corporativa, estabelecer laços econômicos com o mundo e atrair talentos e capitais internacionais. No entanto, o governo Trump faz o oposto em todas essas áreas.

Se este século será chinês ou americano, depende de nós. Mas o tempo para mudar de rumo está acabando.

Kyle Chan é pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Princeton, especializado em política industrial e tecnológica da China. Ele também escreve a newsletter High Capacity, sobre os mesmos temas.

¨      Investidores ampliam aposta na China em meio a rebaixamento da nota dos EUA

A China registrou uma entrada líquida de US$ 17,3 bilhões em seus mercados financeiros no mês de abril, segundo dados divulgados nesta segunda-feira, 20, pela Administração Estatal de Câmbio.

O fluxo de capital ocorreu em meio a um cenário internacional marcado por tensões comerciais com os Estados Unidos, incertezas fiscais e rebaixamento da classificação de crédito soberano norte-americana.

De acordo com o relatório, investidores estrangeiros aumentaram suas posições em títulos chineses em US$ 10,9 bilhões líquidos. Já o investimento em ações locais passou de vendas líquidas para compras líquidas no final de abril.

A entrada de capital se deu apesar do agravamento das disputas comerciais entre Washington e Pequim, intensificadas após a imposição de tarifas anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump no início de abril.

A movimentação contrasta com a instabilidade nos mercados norte-americanos. Na última sexta-feira, 17, a agência de classificação Moody’s retirou a nota AAA dos títulos soberanos dos Estados Unidos, rebaixando a avaliação para Aa1.

A decisão foi atribuída ao aumento da dívida pública e aos riscos fiscais associados. Em consequência, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 30 anos ultrapassaram 5% na abertura dos mercados na segunda-feira, 20, alcançando o maior patamar desde novembro de 2023.

Analistas do Bank of America apontaram que a combinação entre o enfraquecimento do dólar, a elevação dos juros longos norte-americanos e sinais de recuperação econômica da China favorece os mercados emergentes. “Dólar americano mais fraco, rendimento dos títulos americanos no topo, recuperação econômica da China… é hora dos mercados emergentes”, escreveram analistas da instituição.

A Moody’s foi a última das três principais agências de rating a retirar a classificação máxima dos Estados Unidos.

Para o Deutsche Bank, o rebaixamento simboliza um desgaste crescente do “privilégio exorbitante” dos EUA de emitir dívida em moeda forte com baixos custos. Em nota, o banco destacou: “A grande incógnita é quando tudo isso ruirá.”

A percepção de risco em relação à economia americana tem gerado revisões nos fluxos de investimento internacional. Desde o anúncio das tarifas por Trump, em 2 de abril — apelidadas de medidas do “Dia da Libertação” —, a hipótese de uma saída contínua de capitais da China perdeu força, ao passo que aumentaram os questionamentos sobre a sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos.

“Nosso entendimento é que o ‘Dia da Libertação’ provavelmente antecipou esse acerto de contas”, afirmaram analistas do Deutsche Bank. Para George Saravelos, diretor de pesquisa de câmbio da instituição, a reação do mercado ao rebaixamento da nota indica que “o mercado está perdendo o apetite para financiar os déficits dos Estados Unidos e os crescentes riscos à estabilidade financeira”.

Em resposta ao cenário, o Ministério das Relações Exteriores da China declarou nesta segunda-feira que os Estados Unidos deveriam “tomar medidas políticas responsáveis para manter a estabilidade do sistema econômico e financeiro internacional e proteger os interesses dos investidores”.

A movimentação favorável aos ativos chineses ocorre também após a trégua comercial de 90 dias firmada entre Pequim e Washington em 12 de maio. Segundo analistas, esse acordo, somado à resiliência da economia chinesa registrada em abril, levou bancos de investimento a revisarem para cima as projeções de crescimento do país asiático.

Larry Tentarelli, fundador do Blue Chip Daily Trend Report, afirmou em entrevista à Bloomberg que está observando oportunidades nos mercados asiáticos.

“A China apareceu recentemente. Estou vendo oportunidades na China, Índia, Coreia e Taiwan”, declarou. Tentarelli alertou ainda que um retrocesso nas negociações entre Estados Unidos e China pode representar risco para os mercados americanos nos próximos três a seis meses.

A discussão fiscal nos Estados Unidos também ganhou novos contornos. Segundo analistas do Bank of America, a tendência é de agravamento da situação com a possível aprovação de um novo pacote de cortes de impostos. O Senado norte-americano estuda um projeto de lei que, segundo a análise, “aumentará ainda mais o déficit do que o que a Câmara está considerando”.

A proposta poderá elevar os déficits públicos anuais para algo entre 7% e 8% do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos dez anos, segundo estimativa do Bank of America, superando com folga o teto de 3% proposto pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent.

Em meio às incertezas quanto à estabilidade fiscal e ao papel do dólar nos fluxos internacionais, os dados de abril apontam uma tendência de reorientação de parte do capital estrangeiro para ativos chineses. A resposta do mercado ao rebaixamento da nota norte-americana e à volatilidade dos títulos do Tesouro pode seguir influenciando as decisões de investidores globais nos próximos meses.

¨      Apesar de Trump, China segue atraindo capital externo

Nem mesmo a guerra tarifária imposta por Donald Trump impediu a China de receber um fluxo expressivo de capital estrangeiro para seus mercados de títulos e ações, e analistas projetam mais investimentos estrangeiros em ativos chineses.

Dados da Administração Estatal de Câmbio chinesa apontou uma entrada de capital líquido no total de US$ 17,3 bilhões em abril, vindo tanto de pessoas jurídicas como de pessoas físicas.

Segundo comunicado do regulador cambial, os investidores estrangeiros aumentaram suas posições em títulos chineses em US$ 10,9 bilhões líquidos em abril, enquanto o investimento estrangeiro em ações domésticas passou a ser comprado no final de abril.

O site South China Morning Post ressalta a mudança na dinâmica global dos investimentos, uma vez que investidores continuam diminuindo suas posições em dólar por conta da guerra comercial lançada pelo presidente dos EUA em abril.

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Além disso, a divulgação de tais dados contrasta com as preocupações existentes no mercado internacional, muito por conta do aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro e pela onda de vendas decorrentes do rebaixamento da classificação de crédito soberano dos Estados Unidos anunciada pela agência Moody’s na última semana.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 30 anos ultrapassaram 5% durante as negociações de segunda-feira, o primeiro dia de negociação desde o rebaixamento e o nível mais alto desde novembro de 2023.

Enquanto isso, diversos bancos de investimento projetam melhora no ritmo de crescimento econômico da China, muito por conta da resiliência apresentada pelo país após as medidas impostas por Trump, enquanto as preocupações com os EUA continuam a crescer.

Os sinais contrastantes de Washington e Pequim destacam a mudança na dinâmica global dos investimentos, à medida que mais investidores continuam se afastando de ativos em dólar desde que Trump lançou sua guerra comercial global no início de abril, de acordo com analistas.

¨      China lança sistema de criptografia comercial com proteção contra ataques quânticos

A China Telecom Quantum Group anunciou o lançamento do que afirma ser o primeiro sistema comercial de criptografia resistente a ataques de computadores quânticos.

A tecnologia foi apresentada como parte de um esforço para lidar com os riscos crescentes que os avanços na computação quântica representam para os métodos tradicionais de criptografia.

De acordo com informações divulgadas pela empresa, o sistema utiliza uma arquitetura de três camadas baseada em duas abordagens centrais: a Distribuição de Chaves Quânticas (QKD, na sigla em inglês), que permite a transmissão segura de chaves criptográficas utilizando os princípios da mecânica quântica, e a Criptografia Pós-Quântica (PQC), que adota algoritmos matemáticos projetados para resistir à capacidade de processamento dos futuros computadores quânticos.

A empresa também afirmou ter realizado com sucesso a primeira chamada telefônica criptografada com tecnologia quântica entre regiões, utilizando a nova infraestrutura. A ligação, feita entre as cidades de Pequim e Hefei, teve uma distância de mais de 600 milhas (aproximadamente 965 quilômetros), segundo relatório publicado pelo jornal South China Morning Post (SCMP).

O cientista-chefe de tecnologia quântica da China Telecom e professor da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, Peng Chengzhi, destacou que os sistemas atuais de criptografia baseados em chaves públicas estão se tornando vulneráveis frente ao avanço global da computação quântica.

“Há uma necessidade urgente de acelerar o desenvolvimento e a implementação de infraestrutura cibernética resistente à computação quântica para enfrentar as ameaças emergentes”, afirmou.

A empresa informou que o novo sistema foi submetido a testes em condições reais e está pronto para implantação em larga escala. A estrutura de três camadas foi projetada para aplicações críticas como comunicações em tempo real, proteção de dados e autenticação de identidade.

Paralelamente ao lançamento do sistema, a China Telecom relatou avanços na implantação de redes quânticas em áreas metropolitanas, com cobertura em 16 cidades chinesas, incluindo Xangai, Pequim, Guangzhou e Hefei.

Essas redes compõem a espinha dorsal nacional para comunicação segura baseada em tecnologia quântica, consolidando a posição da China como um dos principais países na implementação prática de segurança quântica.

A rede quântica da cidade de Hefei foi destacada como a maior e mais avançada do tipo em operação no mundo. De acordo com a empresa, essa rede possui oito nós principais e 159 pontos de acesso, com aproximadamente 713 milhas (cerca de 1.147 quilômetros) de fibra óptica dedicada à distribuição de chaves quânticas. A estrutura atende cerca de 500 órgãos governamentais e 380 empresas estatais, com o objetivo de assegurar comunicações criptografadas com alto nível de segurança.

SCMP informou ainda que a China Telecom apresentou o Quantum Secret, que é descrito como a primeira plataforma de mensagens instantâneas e colaboração com nível de segurança quântica voltada para operadoras. A ferramenta é destinada ao uso por empresas e agências governamentais para proteger comunicações sensíveis.

Além disso, a empresa revelou a plataforma Quantum Cloud Seal, projetada para aplicações críticas, como trâmites governamentais, auditorias financeiras e gestão de processos empresariais.

Ambos os serviços já foram adotados por diversas organizações públicas e privadas, o que, segundo a empresa, reflete a demanda crescente por soluções de segurança com proteção contra as futuras ameaças da computação quântica.

A combinação de criptografia baseada em princípios quânticos e algoritmos pós-quânticos representa uma tentativa de antecipar os impactos esperados da computação quântica sobre os sistemas tradicionais de segurança digital.

Com a introdução dessas tecnologias em ambientes operacionais, a China Telecom busca atender à necessidade de novos modelos de proteção de dados diante do desenvolvimento de algoritmos capazes de quebrar métodos atuais de criptografia em tempo reduzido.

A implantação da nova infraestrutura marca um movimento estratégico na ampliação da segurança cibernética nacional, com aplicações voltadas para serviços públicos, setor financeiro e gestão empresarial. A empresa afirmou que a implementação comercial do sistema será expandida progressivamente, com foco inicial nas cidades já cobertas pelas redes metropolitanas quânticas.

 

Fonte: New York Times/SCMP/Jornal GGN/O Cafezinho 

 

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