“Não
adianta fazer propaganda política”, critica o padre Júlio Lancellotti sobre a
Cracolândia
O
prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), comemorou na última quarta-feira
(14) o vazio das ruas na região da Luz, anteriormente ocupadas por dependentes
químicos na chamada Cracolândia, e negou que o Executivo municipal promoveu um
espalhamento de usuários pela cidade.
Mas,
também nesta quinta, o padre Júlio Lancellotti, conhecido pelo trabalho voltado
a pessoas em situação de rua, publicou um vídeo no Instagram para rebater a
versão oficial das autoridades.
“Diante
de todo esse mistério de que todos desapareceram da área chamada Cracolândia e
naquela área da Luz, eles estão ficando espalhados pela cidade”, iniciou o
pároco.
“Dizer
que todos estão em clínicas ou que foram para um lado ou para outro não é
verdade. O bonito é a autoridade assumir e dizer a verdade”, continuou
Lancellotti.
O padre
então pergunta a um dependente, que não se identifica no vídeo, onde ele
estava. O homem confirma que estava na Cracolândia e denuncia as ameaças
sofridas para deixar a região central da capital paulista.
“Saí de
lá por causa da opressão da polícia. A polícia vive batendo na gente, manda a
gente de um canto para outro, e agora estão ameaçando a gente de morte”,
continua o usuário.
Julio
Lancellotti pergunta então se a prefeitura ofereceu clínica ou trabalho para o
homem. Ambas as respostas são negativas.
“E qual
é a opressão que eles têm feito contra você?”, questiona o padre.
“Eles
batem na gente, jogam spray de pimenta, ameaçam a gente de morte”, relata o
dependente químico.
O
padre, então, se compromete a encontrar um lugar para abrigá-lo e encerra o
vídeo com um apelo para que as autoridades façam de São Paulo uma cidade mais
humana.
“Vamos
fazer essa cidade qualificada humanamente. Não adianta fazer propaganda
política dizendo que a Cracolândia desapareceu. A Cracolândia não é um espaço
físico, são as pessoas”, pediu o religioso. “Os irmãos precisam de acolhimento
e não de violência.”
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Entenda o caso
Desde
terça-feira (13), o vazio nas ruas da Cracolândia ganharam destaque no
noticiário e nas redes sociais, feito que o prefeito Ricardo Nunes considera
“uma vitória da cidade e da sociedade”, apesar de reconhecer que o problema não
foi completamente resolvido.
“Eu,
prefeito de São Paulo, faço um apelo: vamos parar de picuinha e olhar coisas
que não devemos ver. Dê luz às coisas mais importantes e parem de dar luz a
pequenos pontos, para querer descaracterizar e desconsiderar o avanço que o
governo do estado e a prefeitura fizeram. Tem hora que cansa. É só crítica.
Essa luta não é só do prefeito e do governador, é de todos nós. E a imprensa
tem responsabilidade sobre isso também”, disse o chefe do Executivo.
Em
janeiro, o painel de monitoramento da prefeitura indicava tendência de queda na
concentração de usuários na Rua dos Protestantes.
Porém,
o diretor do HUB de Cuidados em Crack e Outras Drogas, Quirino Cordeiro,
observou, na época, que a redução da concentração de dependentes químicos na
região central não significava a diminuição de usuários.
E, há
cinco meses atrás, já era possível constatar a formação de novas mini
concentrações em outros pontos da cidade, como Avenida Jornalista Roberto
Marinho, na Zona Sul da capital, e a Rua Doutor Avelino Chaves, na Vila
Leopoldina, Zona Oeste.
Em
nota, a Prefeitura de São Paulo informou que repudia qualquer conduta
inadequada em relação aos dependentes químicos e que excessos policiais devem
ser feitos às corregedorias.
“A
Prefeitura de São Paulo reafirma que tem feito desde 2021 um trabalho contínuo
para oferecer tratamento em saúde e atendimento social às pessoas em situação
de vulnerabilidade na Cena Aberta de Uso (CAU), além de segurança à população
em geral com o combate ao tráfico de drogas. O Município não compactua com
conduta inadequada, repudiando veementemente qualquer ação dessa natureza.
Denúncias de excesso policial devem ser feitas às Corregedorias das polícias.
Em lugares com ocupações momentâneas ou periódicas na cidade, por pessoas em
situação de rua, usuários ou não de drogas, a Prefeitura realiza abordagens de
forma ativa por 1.600 agentes, que oferecem acolhimento e encaminhamento a
serviços de saúde e assistência social, seguindo todos os protocolos. A Guarda
Civil Metropolitana (GCM) permanece em patrulhamento por toda a região central
para garantir a segurança e coibir o tráfico de drogas”, informa a nota.
Fonte:
Jornal GGN

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