Marcelo
Zero: Cérebros de segunda classe
A
ignorância e a má-fé continuam.
Agora,
a mídia, em vez de comentar o grande sucesso da viagem de Lula à China, um
marco geopolítico muito importante para o nosso país e para um mundo ameaçado
pelo unilateralismo dos EUA, prefere fazer comentários negativos relativos às
preocupações da primeira-dama sobre o Tik Tok, manifestadas em um jantar
reservado com os chineses, as quais, segundo a fofoca, teriam causado
“constrangimentos”.
Evidentemente,
o autor do vazamento/fofoca deve ter poderes telepáticos que escapam aos
mortais comuns para ter chegado à conclusão tão assertiva, já que suas
observações não foram corroboradas por outras entidades mediúnicas porventura
presentes na reunião. Ou talvez fale mandarim e tenha captado alguma conversa
entre chineses. Uma pessoa talvez de cultura invulgar, mas de comportamento
vulgar, certamente.
Em
primeiro lugar, vazamentos de conversas privadas e sensíveis (não protocolares
e que, portanto, tem agenda livre), ainda mais em tom propositalmente
distorcido, não são “normais”. Só os fazem aqueles que têm interesse em
prejudicar o governo. Mas, nesse caso específico, o intento talvez seja o de
inventar um suposto incômodo nas relações bilaterais Brasil/China, no contexto
de uma visita relevante e exitosa, que assegurou US$ 27 milhões de
investimentos ao Brasil.
Em
segundo lugar, a preocupação com as ligações das redes sociais, inclusive do
Tik Tok, com a extrema-direita é mundial. Não é exclusiva da primeira-dama e do
Brasil.
Na
Alemanha, por exemplo, o Tik Tok é acusado de ter claramente favorecido o
partido neonazista AfD, nas últimas eleições. De fato, o AfD esteve muito ativo
nas redes sociais, especialmente no Tik Tok, o que, segundo os analistas
alemães, fez crescer o apoio aos neonazistas, especialmente entre os jovens.
Saliente-se que, na faixa etária entre 16 e 24 anos, metade da população alemã
forma opinião política através do Tik Tok.
Pesquisadores
da Universidade de Potsdam realizaram uma análise de dados de usuários, a qual
sugere que, nas semanas que antecederam a votação, o conteúdo relacionado à AfD
alcançou um público muito maior na plataforma de mídia social do que o conteúdo
relacionado a outros partidos políticos.
Para
realizar a análise, eles criaram 30 perfis fictícios do TikTok, de usuários
nascidos em 2006, e residentes na Turíngia, Saxônia e Brandemburgo.
Em
seguida, eles analisaram mais de 75.000 vídeos que apareceram nos feeds desses
perfis, durante as semanas que antecederam as eleições.
Em
média, eles descobriram que esses usuários recebiam cerca de nove vídeos por
semana com conteúdo da AfD — em comparação com pouco mais de um vídeo por
semana relacionado à União Democrata Cristã (CDU), e significativamente menos
conteúdo relacionado a qualquer outro partido.
E isso
não ocorreu por falta de conteúdo de outros partidos. O SPD, por exemplo,
produziu mais vídeos do que a AfD nas oito semanas anteriores às eleições
estaduais. Mas os vídeos do partido quase não foram exibidos nos feeds dos
usuários do Tik Tok.
Em
outras palavras, os algoritmos da rede impulsionavam muito os conteúdos dos
neonazistas, mas obstaculizavam os conteúdos de outros partidos.
O mesmo
acontece em outros países e no Brasil. Não é que a esquerda não saiba trabalhar
as redes sociais (ou não é apenas isso). O fato concreto, estrutural, é que boa
parte das redes sociais é controlada, ou parcialmente controlada, pela
extrema-direita e seus interesses. As redes sociais não são neutras. Têm lado.
Um lado obscuro e frequentemente antidemocrático.
Por
isso mesmo, a direita brasileira não quer saber de regulação das redes. Não
quer saber de democracia e de soberania nacional. Quer algoritmos nazistóides à
solta.
O Tik
Tok vem sendo ameaçado de ser fechado nos EUA desde 2019 e, especialmente,
desde 2024, quando a Câmara dos Representantes aprovou a lei “Protecting
Americans from Foreign Adversary Controlled Applications Act (PAFACA)”.
Tal lei
proibiria as operações relacionadas ao aplicativo completamente dentro dos EUA,
a menos que a Byte Dance, empresa chinesa controladora do TIk Tok, fizesse uma
venda qualificada de seu controle acionário conforme determinado pelo
presidente dos EUA. Após modificações, o ato foi aprovado pela Câmara novamente
e pelo Senado dos Estados Unidos, antes de ser sancionada por Joe Biden, em 24
de abril de 2024. A proibição entrou em vigor em 19 de janeiro de 2025.
Porém,
sua aplicação vem sendo postergada seguidamente por Trump. Por quê? Ora, porque
o Tik Tok tornou-se completa e descaradamente uma plataforma trumpista. O
próprio Trump, que tem conta pessoal no Tik Tok, chegou a divulgar a hashtag
“Save Tik Tok”. Não fosse o atual conflito tarifário entre China e EUA, a
situação já teria sido resolvida.
Os
fofoqueiros talvez não saibam, mas Xi Jinping sabe perfeitamente disso e
considera que os países deveriam regular as suas redes. Duvidamos que Xi tenha
ficado surpreso ou incomodado com as inquietações brasileiras.
A União
Europeia e a Austrália, por exemplo, já têm regulamentações bastante exigentes
sobre o funcionamento das redes sociais em seus territórios.
A
própria China, onde o Tik Tok não funciona, tem regulamentações que, ao
contrário do que a mídia e os fofoqueiros afirmam, podem ser úteis ao Brasil.
Tais
regulamentações dizem respeito essencialmente a regras para proteger as
crianças e os adolescentes da influência excessiva das redes sociais, outra
preocupação mundial. A ideia da China (Cyberspace Administration of
China (CAC) é evitar a exposição à violência e ao vício na internet e nos
games, de forma a preservar a dedicação aos estudos, a interação pessoal entre
crianças e jovens e o próprio convívio familiar.
Assim,
os jovens com menos de 18 anos não podem acessar a internet e as redes entre 22
p.m. e 6:00 a.m. Para os menores de 8 anos, tal uso ficará restrito a 40
minutos por dia, sob supervisão dos responsáveis. Para os que têm 16 e 17 anos,
a restrição é de 2 horas ao dia.
As
medidas se baseariam também em esforços para fortalecer a proteção online de
menores, inclusive mediante o "enriquecimento de conteúdo educativo
apropriado para a idade" e a redução da "influência de informações
incorretas".
Mas os
pais serão os responsáveis, em última instância, em fazer cumprir as regras, e
poderão flexibilizá-las.
Ter
alguém da China para ajudar a pensar em soluções para assuntos tão graves e
universais não é má ideia. Achar que a simples presença de um consultor chinês
sobre o assunto poderia conduzir o país a se transformar em um “Estado
totalitário” é o cúmulo da oligofrenia e da paranoia.
A
China, ao contrário dos EUA, não intervém em assuntos internos de outros
países. Não há notícia de golpe de Estado promovido pela China no Brasil e na
América Latina. Mas há inúmeras evidências de intervenções desse tipo por parte
dos EUA, em nosso continente.
Não
obstante, a mídia obtusa não vê nenhum perigo nisso e nas redes sociais
desregulamentadas de extrema-direita, apoiadas pelo Estado norte-americano.
Curioso, não é? Não se preocupam com a NSA, a CIA e o Elon Musk. Se
preocupam com o tenebroso “consultor chinês”. Que piada!
Aliás,
a China e o Brasil já cooperam há muito nessa área. Nesta última viagem,
diga-se de passagem, foi firmado um Memorando de Entendimento específico sobre
cooperação em inteligência artificial, algo extremamente estratégico e
sensível. Ninguém se importou, até agora. Que coisa curiosa!
Frise-se
que a limitação do uso da internet, até mesmo em sala de aula, está sendo
adotada, agora, em países que foram vanguarda no uso das TICs nas escolas, como
os países nórdicos. Verificou-se que a experiência não foi boa. Até o QI
diminuiu, segundo pesquisas fidedignas.
Será
que diminuiu ainda mais no Brasil?
No
Brasil não há cidadãos ou cidadãs de segunda classe. O que há é cérebros de
segunda classe. Ou terceira. E colunas de quinta.
¨
Brasil, um país bipolar. Por Denise Assis
Estamos
vivendo em dois países. Se diagnosticados à luz da psicologia, seríamos
“bipolares”. De um lado, a bolsa bate recorde, atingindo a significativa marca
de 138.963,11 pontos, quando a marca mais impactante foi a de agosto de 2024,
de 137.343,96 pontos.
O
desmatamento no país caiu 32% pela primeira vez em seis anos, há redução do
número de homicídios – a despeito de tudo o que está embutido nesse dado, que
nos impede de comemorar. Por exemplo, a informação de que 67% das mortes de
crianças e adolescentes acontecem dentro de casa. E voltamos da China com um
enfieira de itens de investimentos em todas as áreas que, quando saírem do
papel, farão o Brasil dar um salto em tecnologia e desenvolvimento (vide a
ferrovia bioceânica, que permitirá o escoamento da nossa produção direto para a
China).
Estudo
da Fundação Getúlio Vargas, (com base na PNAD Contínua) apontou que o país
testemunhou a maior redução da desigualdade social dos últimos anos. A renda
dos trabalhadores mais pobres cresceu 10,7% - o que representou um aumento
significativamente superior aos dos mais ricos, (fato raro), que tiveram uma
alta de 6,7% -, levando a média geral de crescimento de renda do trabalho para
7,1%.
O
sucesso desses números – que para o mercado financeiro é ofensivo -, deveria
encher o nosso “peito varonil” de orgulho. Mas tem a Janja...
Mas tem
o Lula conversando com o Putin e sentado perto daqueles africanos...
Mas tem
um Brasil pantanoso, onde o pus da barriga aberta de Bolsonaro escorre pela
sarjeta. Seus correligionários estreitam a pauta no Congresso e reduzem o nosso
cenário político a um samba de uma nota só. Querem anistia, querem a
impunidade, querem a normalização de um crime hediondo, que poderia levar
milhares de brasileiros à morte, à tortura e ao suplício da prisão por
convicções políticas.
Mas tem
2026... No bojo das discussões obsessivas de um ex-presidente, que não se
conforma em ser ex, ficam todos pendurados a uma “influência” que já não
influi, ou influi cada vez menos, à espera do El Cid, que vai liderar a
batalha.
Enquanto
isso, no pântano, os partidos da direita se movem, se unem, e tentam isolar o
governo. Esse mesmo, dos números acima. Buscam desesperadamente uma via
alternativa. Tentaram com Michel – aquele, das mãos macarrônicas, moles, sem
energia -, mas já queimou a largada.
Esperam
pela indecisão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), atado ao destino traçado
por Bolsonaro. Enquanto o ex não decidir o que faz com a própria incapacidade
de se candidatar – não acredita que está inelegível -, Tarcísio está no ar,
antes de mergulhar. Com isto, foi ultrapassado pelo azarão Ronaldo Caiado, que,
captando as insinuações lançadas pelos fascistas e a direita mais comportada,
pegou o bastão do triathlon e disparou: “sou candidato, tenho credenciais para
isso, pois sou o govenador mais bem avaliado desse país”.
Rapidamente,
os que andam ávidos por um candidato para chamar de seu, desde que não seja
Luiz Inácio Lula da Silva, abrem o sorriso e coaxam, do fundo do pântano em
aprovação. Enquanto isto, os artífices Davi Alcolumbre e Hugo Motta correm pela
grande área, rolam a bola pelas laterais – ora pela esquerda, ora pela direita
-, à espreita daquele passe certeiro. Onde a bola cair, eles chutam. Querem é
fazer gol.
Por
enquanto, acompanhamos atentos a movimentação dos partidos em federações,
encolhendo o tamanho do campo em que joga o governo. Falta alguém com força e
determinação para costurar as bandas do país desapartado. Há um Bolsonaro no
meio do caminho. No meio do caminho, há um Bolsonaro...
Fonte: Brasil 247

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