Manobra para livrar Bolsonaro aprofunda crise
entre Câmara e STF
Ministros
da primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF) classificaram como
"provocação" a aprovação, na noite desta quarta-feira (8), pela
Câmara dos Deputados do pedido de suspensão da ação penal sobre o golpe contra
o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). A aprovação contou com o aval de 315
parlamentares, outros 143 foram contrários à extensão da trama golpista.
Propositalmente,
o requerimento – apresentado pelo PL e relatado pelo deputado Alfredo Gaspar
(União-AL) – foi redigido de maneira genérica, para estender o benefício para
Jair Bolsonaro (PL) e os outros seis réus do núcleo crucial da organização
golpista que tentou um golpe de Estado no Brasil.
Em vez
de dizer que o processo deve ser suspenso apenas no caso de Ramagem e apenas em
relação aos crimes que ele teria cometido depois que foi diplomado deputado, em
dezembro de 2022, o texto afirma que está suspenso todo o processo e “em
relação a todos os crimes imputados”.
A
provocação, segundo ministros do Supremo, se dá justamente porque em abril o
ministro Cristiano Zanin, ao notificar a Câmara sobre o recebimento da denúncia
contra Ramagem, deixou claro que não é possível suspender os trechos da ação
penal relativos à tentativa de golpe e aos crimes cometidos antes da diplomação
do parlamentar.
O
pedido leva em consideração o artigo 53 da Constituição, que trata da imunidade
parlamentar. Do núcleo crucial golpista, apenas Ramagem, teoricamente, poderia
usufruir do benefício.
No
entanto, o próprio Zanin já esclareceu que só dois dos cinco crimes atribuídos
a ele poderiam ser paralisados –porque ocorreram depois de sua posse como
deputado: Dano qualificado ao patrimônio público e Deterioração de patrimônio
tombado.
Os
outros três crimes, que envolvem diretamente a tentativa de golpe de Estado –
organização criminosa armada, golpe de Estado e abolição violenta do Estado
Democrático de Direito – foram praticados antes de ele tomar posse. Por isso,
não podem ser suspensos pela Câmara, segundo a interpretação já consolidada do
STF.
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Reação
Enquanto
o pedido tramitava a toque de caixa na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
e, em seguida, no Plenário da Câmara, Jair Bolsonaro (PL) lançou nova
provocação à corte em cima de um trio elétrico no flopado ato pela
"anistia" em Brasília, poucos dias após deixar o Hospital DF Star,
onde passou por uma cirurgia de reconstrução do intestino.
“Anistia
é um ato político e privativo do Parlamento brasileiro. Se o Parlamento votou,
ninguém tem que se meter em nada, tem que cumprir a vontade do parlamento, que
representa a vontade da maioria do povo brasileiro”, bradou ao lado de
Malafaia.
No
entanto, Bolsonaro já contava com a manobra em torno da imunidade a Ramagem, já
que o PL da Anistia foi enterrado por Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara.
Nesta
quinta-feira (8), a Câmara deve comunicar o STF da decisão. Como é um assunto
interno da Câmara, o pedido não passa pelo Senado e não necessita de sanção
presidencial.
Em meio
à movimentação na Câmara, o presidente do STF, Luis Roberto Barroso já havia
mandado um recado durante palestra a advogados e empresários rebatendo críticas
de que a corte estaria influenciando de forma excessiva no poder legislativo.
"Não
é o Supremo que se mete em tudo, é o arranjo institucional brasileiro que faz
com que o Supremo tenha que se envolver em diversos temas", alegou.
Ao
receber a decisão da Câmara, os ministros do Supremo devem apontar a
inconstitucionalidade do texto, que abrange um benefício parlamentar a todos os
réus, inclusive Jair Bolsonaro.
A
rejeição do pedido, no entanto, vai aprofundar a crise entre os dois poderes e
serve para que Bolsonaro ganhe tempo e álibi para incitar extremistas em novo
levante contra os ministros do Supremo, além de embasar a narrativa de
perseguição judicial.
A
medida aconteceu no mesmo dia em que Alexandre de Moraes, relator da tentativa
de golpe na corte, definiu as datas dos depoimentos das testemunhas
indicadas pelos réus.
Pelo
cronograma, as testemunhas serão ouvidas até o dia 30 de maio, dentro do prazo
estipulado por ministros para julgar o caso até outubro.
Caso
seja condenado, Bolsonaro pode apresentar recurso, que deve ser analisado pela
corte antes do recesso do judiciário. Com a representação negada, o Supremo já
sinalizou que pode pedir a prisão do ex-presidente antes da apresentação de
novos embargos - que seriam feitos já com Bolsonaro na cadeia.
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Entenda o golpe da Câmara com a suspensão da ação contra
Ramagem
"Tá
suspenso! Ninguém prende Bolsonaro até o final de 2026!". Foi desta
maneira que bolsonaristas, como o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), comemoraram
na Câmara, na noite desta quarta-feira (7), a aprovação de um pedido do PL para
trancar a ação penal no
Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Alexandre Ramagem
(PL-RJ) por
tentativa de golpe de Estado.
O
texto, aprovado por 315 votos favoráveis e 143 contrários, prevê que será
“sustado o andamento da ação penal contida na Petição 12.100, em curso no STF,
em relação a todos os crimes imputados”. A redação não especifica que a
sustação do processo se refere ao deputado, sendo que a ação engloba oito
acusados, inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro.
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O que foi aprovado?
O texto
aprovado pela Câmara susta o andamento da ação penal no STF contra o
deputado Alexandre Ramagem por tentativa de golpe de Estado.
No
entanto, o requerimento – apresentado pelo PL e relatado pelo deputado
Alfredo Gaspar (União-AL) – foi redigido de maneira genérica. Em vez de dizer
que o processo deve ser suspenso apenas no caso de Ramagem e apenas em relação
aos crimes que ele teria cometido depois que virou deputado, o texto afirma
que está suspenso todo o processo e “em relação a todos os crimes
imputados”.
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Com
isso, abre-se uma brecha para trancar não só parte do processo, mas
toda a ação penal, incluindo os trechos que envolvem Jair Bolsonaro e
outros aliados.
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Por que isso é um golpe?
A
Constituição Federal permite que a Câmara suste ações penais contra
parlamentares em exercício, mas com limites claros: isso só vale para crimes
cometidos após a diplomação do deputado ou senador.
No caso
de Ramagem, o próprio STF já esclareceu que só dois dos cinco crimes atribuídos
a ele poderiam ser paralisados –porque ocorreram depois de sua posse como
deputado:
- Dano qualificado
ao patrimônio público
- Deterioração de
patrimônio tombado
Os
outros três crimes, que envolvem diretamente a tentativa de golpe de Estado –
organização criminosa armada, golpe de Estado e abolição violenta do Estado
Democrático de Direito – foram praticados antes de ele tomar posse. Por
isso, não podem ser suspensos pela Câmara, segundo a interpretação já
consolidada do STF.
Mesmo
assim, o texto aprovado ignora esse limite e pede a suspensão total
da ação penal, sem fazer qualquer distinção entre datas ou réus. Na prática,
isso é uma tentativa de usar uma prerrogativa legítima do Legislativo
para interferir em um processo criminal que atinge o próprio Bolsonaro.
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Manobra para livrar Bolsonaro da cadeia
A
redação do texto permite que bolsonaristas aleguem, futuramente, que o processo
inteiro está suspenso, e não apenas a parte que envolve Ramagem. Isso cria uma
brecha jurídica para paralisar as investigações contra Bolsonaro, mesmo
que ele não tenha mandato parlamentar.
A ideia
é simples: se a ação estiver suspensa até o fim do mandato de Ramagem, em
2026, o STF ficaria impedido de julgar Bolsonaro durante esse
período – o que, na prática, funciona como um escudo contra qualquer
responsabilização penal. Isso daria tempo ao ex-presidente para tentar uma nova
candidatura e seguir com sua retórica de perseguição.
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Câmara atropelou o STF e a Constituição
A
votação foi feita às pressas, no mesmo dia em que o requerimento passou pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sem qualquer debate aprofundado ou
possibilidade de emendas. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), alegou “tempo
exíguo” para justificar a velocidade da tramitação.
Mas o
Supremo já havia se pronunciado sobre o caso. Em abril, o ministro Cristiano Zanin, ao notificar a
Câmara sobre o recebimento da denúncia contra Ramagem, deixou claro que não é possível
suspender os trechos da ação penal relativos à tentativa de golpe e
aos crimes cometidos antes da posse parlamentar.
"O
extrapolamento, onde se passa do ponto, é quando diz que a decisão do Poder
Legislativo susta a ação em relação ao parlamentar e aos demais corréus. Isso
não tem amparo na Constituição. O artigo 53, parágrafo 3.º, elencado, traz no
início ‘recebida a denúncia contra deputado e senador’", afirmou o
deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) durante a sessão.
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STF deve barrar
É
provável que o STF barre o texto aprovado. A decisão da Câmara não tem
efeito jurídico sobre os crimes que extrapolam os limites previstos pela
Constituição. Mas o impacto político é evidente: parte significativa do
Congresso está disposta a continuar o golpe por outros meios.
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PSOL entra com ação no
STF para barrar manobra que livra Bolsonaro
A bancada do PSOL vai ingressar com uma
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal
Federal (STF) nesta quinta-feira (8) contestando a aprovação da manobra,
aprovada por 315 deputados, do pedido que pretende sustar a ação penal contra
Jair Bolsonaro (PL) e a organização criminosa golpista.
O anúncio foi feito pelas redes sociais logo
após a aprovação do pedido, protocolado pelo PL de Valdemar da Costa Neto, para
suspender a tramitação da ação contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), um
dos réus do julgamento do núcleo crucial da quadrilha golpista.
No entanto, uma manobra feita no texto
estende a suspensão do "andamento da ação penal contida na Petição 12.100,
em curso no STF, em relação a todos os crimes imputados”.
Com isso, Bolsonaro e militares, como os
generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, seriam beneficiados com a
decisão, que será comunicada ao STF nesta quinta-feira (8).
Em discurso na Câmara, a deputada Fernanda
Melchiona (PSOL-RS) afirmou que "estamos vivendo um dos momentos mais
graves da Câmara dos Deputados".
"Vocês, uma parte do trenzinho da
Anistia, a chincalham, apequenam e rasgam a Constituição Federal do Brasil.
Aqueles e aquelas que querem transformar essa suspensão no trenzinho da Anistia
para os golpistas do 8 de janeiro não honram o mandato parlamentar",
disparou.
"E, presidente Hugo Mota, essa
responsabilidade também é sua. Imunidade parlamentar não é impunidade
parlamentar. Um parlamento de investigar adversários políticos, o que acontece
aqui é que os golpistas de ontem e de hoje querem pegar uma carona e anistiar
núcleos que comandaram a tentativa de golpe do 8 de janeiro. Mas vocês querem
fazer política para a base radicalizada da extrema direita, que é a crise
institucional com o Supremo Tribunal Federal, aplaudindo discursos contra as
liberdades democráticas, desonram aqueles que lutaram pela Constituição",
emendou.
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Bolsonaro vai a ato
golpista esvaziado 3 dias após alta hospitalar
Apenas
três dias após a alta hospitalar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus
apoiadores minimizaram a tentativa de golpe do 8 de janeiro enquanto
transitaram em Brasília em prol da anistia aos envolvidos na tentativa de
golpe do 8 de janeiro de 2023. Eles se reuniram num evento
esvaziado, coordenado pelo pastor Silas Malafaia, chamado Caminhada
Pacífica pela Anistia Humanitária, nesta quarta-feira (7).
Essa
caminhada também ocorre apenas alguns dias após uma publicação de
Bolsonaro, nas redes sociais, na qual ele expõe seus órgãos internos
abdominais, o que não agradou muita gente, tanto entre seus apoiadores
quanto na oposição. A caminhada reuniu diversas figuras políticas,
Malafaia e os parlamentares Izalci Lucas, Marco Pontes, Bibo Nunes,
Delegado Caveira e Capitão Alberto Fraga, além do próprio ex-presidente.
Entre
os assuntos abordados pelos parlamentares, o foco principal foi a anistia.
Houve até quem tentasse, com muito malabarismo, explicar o que é um golpe de
Estado, sob o argumento de que um golpe necessariamente precisa de uso de
força militar armada: “Golpe de Estado sem uma faca, sem uma arma, sem
metralhadora, sem um tanque na rua… O bem sempre vence o mal e se não
venceu ainda é porque não é o fim”, afirmou o deputado federal Bibo Nunes.
Contudo,
o Código Penal brasileiro não considera que apenas atos violentos ou com
armamentos são tentativas ou golpes de Estado de fato. O artigo 359-M, incluído
pela Lei nº 14.197/2021, estipula reclusão de até 12 anos em caso de
“tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça”. Não há descrições sobre
“combate armado”, e a menção à “grave ameaça” por si só já basta – e
isso pode incluir pressão contra o Congresso e/ou Judiciário, tentativa de
invalidação de eleições, incitação por meio de fake news e/ou conspirações,
coação, além de outros casos.
No ato,
os participantes divulgaram ainda um abaixo-assinado pela plataforma
change.org, que reúne um manifesto “pela
liberdade e em defesa das garantias constitucionais” – que foi lido pela
deputada Bia Kicis durante essa caminhada pela anistia, de acordo com o
Movimento Advogados de Direita. Até às 17h13 desta quarta (7), haviam sido
contabilizadas apenas 169 assinaturas.
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Pedidos de Bolsonaro na presidência
A
manifestação golpista teve ainda pedidos para que Bolsonaro retornasse à
presidência. “O Brasil precisa de você na presidência da república”, disse
Izalci Lucas ao ex-presidente. “Anistia humanitária irrestrita a todos,
presidente Bolsonaro de volta na Presidência e nossa bandeira jamais será
vermelha”, completou o Delegado Caveira, com o clichê extremista já batido.
É
válido destacar que Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) até 2030, em 30 de junho de 2023, após condenação
por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
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Estudante para Flávio
Bolsonaro em ato pela anistia: "Seu papai vai preso"
O
estudante e influenciador Bernardo Moreira, que no final de
2023 viralizou com um vídeo no qual aparece fazendo o deputado
Nikolas Ferreira (PL-MG) chorar na Câmara, atacou novamente. Desta vez,
o alvo foi o senador Flávio Bolsonaro
(PL-RJ).
Durante
o ato esvaziado pela
anistia aos golpistas em
Brasília, nesta quarta-feira (7), Bernardo Moreira abordou o filho do
ex-presidente Jair Bolsonaro com uma pergunta: "Como é saber que
seu papai vai ser preso?".
Flávio
Bolsonaro ficou visivelmente irritado. "Tua mãe!", respondeu o
senador, que ainda proferiu mais algumas palavras inaudíveis enquanto o
estudante gritava "sem anistia".
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Fez Nikolas chorar
Bernardo
Moreira, um estudante de Gestão de Politicas Públicas da Universidade de
Brasília (UnB) e influenciador digital, viralizou nas redes sociais em
2023 após abordar o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) na
Câmara e tirar o parlamentar bolsonarista do sério. Em entrevista
à Fórum, ele detalhou o ocorrido e deu detalhes que ainda não tinham sido
divulgados [confira ao final da matéria].
Moreira
compareceu à Câmara e abordou Ferreira quando ele estava deixando
a sessão da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Fazendo vídeo
com um celular, o influenciador chamou o deputado de "Nicole
Chupeta" e disse, entre outras coisas, que ele não trabalha.
A
alcunha "Nicole" foi criada pelo próprio deputado, que em março deste
ano discursou no plenário com uma peruca para atacar mulheres
trans.
Extremamente
exaltado, Nikolas Ferreira, então, passou a responder, afirmando que aquele é
seu ambiente de trabalho e dizendo que o influenciador teria
"problemas", enquanto agentes da Polícia
Legislativa conduziam o homem para fora da Câmara.
"Não
é o defensor da liberdade de expressão irrestrita? Aí, ó, Nicole ficou
bravinha", afirmava Moreira enquanto era retirado do local pela
Polícia Legislativa. O influenciador foi conduzido até até a delegacia da
Polícia Legislativa, onde foi autuado por injúria e difamação.
Fonte: Fórum

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