terça-feira, 6 de maio de 2025

Cubanos voltaram às ruas em 1º de maio, pedindo ‘que a Revolução siga firme’

Milhões de cubanos, autoridades políticas, sociais e sindicais do país, assim como convidados de delegações internacionais, se reuniram nesta quinta-feira (1) nos principais pontos do país para celebrar o Dia Internacional do Trabalhador. A maior concentração ocorreu na Praça da Revolução José Martí em Havana, capital de Cuba, que contou com cerca de 600 mil pessoas.

A marcha deste ano foi dedicada aos médicos cubanos, o chamado “exército de jalecos brancos”. A professora Miltadia González Giménez conversou com a reportagem no Brasil de Fato nas ruas de Havana e disse que os cubanos estão “interessados na paz”.

“Cuba acredita num mundo melhor, Cuba acredita na juventude, acredita na paz, no Brasil, no movimento pela terra. É disso que precisamos: trabalhadores, não guerra, não bombas. Comida e médicos, não bombas”, disse.

Além disso, a mobilização teve um caráter especial, pois marcou o 25º aniversário do emblemático discurso de Fidel Castro durante as comemorações do 1º de Maio de 2000, quando ele definiu o significado da Revolução.

Foi a primeira vez que Fidel fez uma definição da palavra e, naquela ocasião, diante de milhares de pessoas, ele declarou que: “Revolução é sentido do momento histórico, é mudar tudo o que deve ser mudado, é a plena igualdade e liberdade; é ser tratado e tratar os demais como seres humanos; é emancipar-se por nós mesmos e com nossos próprios esforços; é desafiar as poderosas forças dominantes dentro e fora da esfera social e nacional; é defender os valores em que se acredita ao preço de qualquer sacrifício; é modéstia, abnegação, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é jamais mentir ou violar princípios éticos; é a profunda convicção de que não há força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das ideias. Revolução é unidade, é independência, é lutar por nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base de nosso patriotismo, nosso socialismo e nosso internacionalismo”.

Apoio à Palestina

Além disso, a luta palestina também foi homenageada pelos trabalhadores e pelo governo cubano. A aposentada Irma Dulce fez questão de estar presente no ato. Ao Brasil de Fato, ela destacou a importância de marchar e apoiar a Palestina.

“Neste dia, 1º de maio, exigimos que o imperialismo levante o bloqueio. Mas também lutamos pela Palestina e por todos os povos em guerra, que estão sofrendo. É Cuba lutando pelo mundo, lutando por nossas ideias, por nossos princípios, por nossa revolução”, disse.

Para a ativista estadunidense Destiny Rivera Gomez, que está em Cuba, a história do país está “ligada a várias lutas humanas em outras partes do mundo”.

“Vemos a correlação entre a Palestina e Cuba. Vemos a correlação entre a pilhagem e o roubo dos recursos naturais da América Latina. Para mim, foi uma decisão óbvia vir para cá. Eu, na verdade, sentia que talvez não soubesse o suficiente para estar aqui e apoiar o povo cubano. Mas também estou aqui para me educar, para aprender e, basicamente, para entender como posso ser melhor defensora do fim das sanções e da organização em prol do povo cubano”, disse ao BdF.

Mais de 600 mil pessoas marcharam em Havana e a delegação internacional estava composta de quase mil pessoas de 39 países diferentes. Em todo o país, estima-se que quase 5 milhões de pessoas tenham se mobilizado.

Fim do bloqueio

Antes do desfile, o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores de Cuba, Ulises Guilarte de Nacimiento, elencou vários motivos para a marcha deste ano.

“Celebramos a festa do proletariado mundial em meio a um cenário internacional complexo. O mundo sofre uma renovada e perigosa ofensiva imperialista, com expressões neofascistas que buscam redesenhar o sistema internacional, desrespeitando os princípios da coexistência pacífica e da igualdade soberana entre os Estados”, disse.

O dirigente sindical destacou que “esta celebração do Dia Internacional dos Trabalhadores em Cuba é uma nova e inequívoca demonstração do apoio avassalador do heroico povo cubano à sua Revolução, que representa seus interesses e, com a participação e o compromisso de todos, busca soluções a cada dia para os problemas e enormes desafios impostos pela batalha econômica que travamos com nossos próprios esforços”.

O povo cubano ainda aproveitou a ocasião para a protestar contra os EUA e exigir o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba, agora intensificado com novas medidas coercitivas impostas por Donald Trump.

O líder cubano Raúl Castro, uma das lideranças da Revolução Cubana, e o presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez também estiveram presentes nos desfiles em Havana.

Segundo o líder sindical, a manutenção da Revolução é “o resultado das contribuições de todos os compatriotas, especialmente dos trabalhadores que apoiam a transformação econômica e o desenvolvimento do país, focados em atender às necessidades da população e melhorar as condições de trabalho e salários, mesmo que isso não seja possível no ritmo que desejamos”.

“Temos consciência de que ainda há muito a ser feito, processos a serem organizados, distorções e tendências negativas a serem erradicadas, incluindo muitas atitudes burocráticas, e métodos e estilos de trabalho a serem aperfeiçoados com disciplina, esforço, criatividade, ciência e conhecimento”, acrescentou.

¨      Díaz-Canel se encontra com quase mil delegados em evento contra bloqueio e fascismo

Quase mil representantes de sindicatos e movimentos sociais de 39 países participaram na sexta-feira (2), em Havana, do primeiro Encontro Internacional de Solidariedade com Cuba, pelo Anti-imperialismo e contra o Ressurgimento do Fascismo.

A atividade fez parte das comemorações do Dia Internacional dos Trabalhadores. Durante o encontro, representantes de 269 organizações da Europa, América e Ásia se reuniram com o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez; o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla; e Ulises Guilarte de Nacimiento, secretário-geral da Central de Trabalhadores de Cuba. Também esteve presente Carolina Rangel Gracida, secretária-geral do Comitê Executivo Nacional do Morena (México).

O evento foi aberto pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Carlos Fernández de Cossío, que apresentou uma análise detalhada dos impactos do bloqueio imposto pelos Estados Unidos sobre a economia e a vida cotidiana em Cuba.

Durante sua fala, Cossío destacou que o bloqueio se transformou em “um cerco tão sufocante” que restam poucas ações que Washington ainda não tenha tomado para tentar “estrangular a economia cubana”. Ele também criticou as recentes ameaças feitas pelo senador Marco Rubio, que pretende impor sanções a quem contratar os serviços médicos cubanos.

Afirmando a longa tradição revolucionária da ilha, Cossío lembrou que “nada ensina mais do que a adversidade”, e ressaltou que o povo cubano não se rende diante das dificuldades, mas aprende com elas para fortalecer sua resistência e seguir em frente, mesmo nos contextos mais adversos.

Ao tomar a palavra, o presidente Díaz-Canel ironizou as versões da mídia hegemônica que negam o amplo apoio popular à Revolução.

“Alguns meios de comunicação vivem dizendo que a Revolução não tem apoio. Mas, diante da imensa mobilização de ontem, esses mesmos meios passaram a afirmar que as imagens impressionantes haviam sido geradas por inteligência artificial”, comentou.

Sob aplausos, Díaz-Canel agradeceu aos delegados por “serem a voz de Cuba no mundo” e afirmou: “vivenciamos uma magnífica demonstração de unidade e resistência, que mostra que nosso povo jamais será vencido”.

Ele reforçou a urgência de pôr fim ao bloqueio e combater as campanhas que atacam a colaboração médica cubana, considerada por ele “o verdadeiro orgulho da nossa Revolução”. Como exemplo, lembrou a pandemia de covid-19. Embora Cuba tenha desenvolvido sua própria vacina, o país foi impedido de importar agulhas por conta do bloqueio. “Foi graças à solidariedade internacional que conseguimos essas agulhas e salvamos milhões de vidas.”

<><> “A determinação de vencer”

Em entrevista ao Brasil de Fato, Emerson, do Comitê de Ação de Michigan por Cuba, contou que esta é a primeira vez que sua delegação visita a ilha. Vieram dos Estados Unidos há mais de uma semana para conhecer experiências organizativas locais e participar da mobilização do Dia dos Trabalhadores.

Emerson destacou “o alto nível de organização do governo cubano mesmo diante da escassez e da pobreza”. Segundo ele, “a determinação de Cuba em vencer na luta revolucionária é justamente o que o governo dos EUA tenta suprimir”.

“O que meu governo tenta reprimir é aquilo que mantém o povo cubano de pé: o otimismo e o espírito revolucionário”, afirmou.

Michael, da Rede Nacional sobre Cuba, também conversou com o Brasil de Fato e destacou a importância das conexões entre Cuba e Palestina.

“De um lado, o governo dos EUA acusa Cuba de não ter liberdade de expressão e a rotula como país terrorista; de outro, envia armas a Israel que perpetuam o genocídio contra o povo palestino e ainda reprime os que protestam contra essa política dentro dos próprios Estados Unidos”, disse.

Michael lembrou que, enquanto Washington envia armas e bombas para o mundo, Cuba envia médicos.

“Uma ferida aberta na consciência da humanidade”

A ameaça do neocolonialismo e o avanço do fascismo – “alimentado pela política de interferência dos EUA” – também marcaram os debates. O genocídio palestino foi um dos temas centrais. Ao fim do encontro, os delegados aprovaram uma “Declaração de solidariedade e apoio ao povo palestino”.

“Denunciamos diante da história o crime que está sendo cometido”, afirma o documento, que define o genocídio sofrido pelos palestinos como “uma ferida aberta na consciência da humanidade”.

O texto relata que a violência contra civis palestinos, como o incêndio de campos de refugiados e os ataques indiscriminados a hospitais e ambulâncias, são “atos frequentes”.

Desde 7 de outubro de 2023, mais de 51.355 pessoas foram mortas, e o número de feridos ultrapassa 117.248. Mais de um milhão de crianças foram deslocadas à força, vivendo em condições desumanas, sem acesso à água potável, alimentos, abrigo ou atendimento médico.

“Não haverá silêncio até que o heroico povo da Palestina conquiste sua liberdade definitiva, autodeterminação, soberania nacional e o direito ao retorno de todos os refugiados”, conclui o documento.

¨      ‘Não somos terroristas’: o grito dos cubanos contra bloqueio dos EUA e por retirada de lista de terrorismo

Sob os lemas “não somos terroristas, tirem-nos da lista” e “acabem com o bloqueio”, milhares de cubanos marcharam em repúdio ao bloqueio mantido pelos Estados Unidos contra Cuba. A manifestação da "Marcha do Povo Combatente" ocorreu na frente à embaixada estadunidense.

Em breve discurso antes do início da mobilização, o presidente Díaz-Canel afirmou que a manifestação constituía uma demonstração da luta do povo cubano pela soberania, apesar dos obstáculos impostos pelo bloqueio.

Ele também destacou que, apesar da promessa de campanha do presidente Joe Biden, de retirar Cuba da unilateral “lista de países que patrocinam o terrorismo”, a menos de um mês do fim de seu mandato, ele não tinha adotado nenhuma medida para reverter a política de “pressão máxima” que o governo de Donald Trump impôs contra a ilha. 

“Nas últimas semanas e dias, houve inúmeros pronunciamentos de personalidades dos EUA e de outras partes do mundo exigindo que [Joe] Biden faça uso de sua autoridade para pelo menos remover o nome de uma nação que nunca deveria ter estado nessa lista espúria”, afirmou o presidente. 

Referindo-se aos setores de ultradireita sediados na Flórida, Díaz-Canel disse que “apontar Cuba como um Estado que supostamente patrocina o terrorismo é, no mínimo, falso e imoral, venha de onde vier a acusação. Mas o é duplamente quando a acusação vem do território norte-americano, onde atualmente treinam grupos paramilitares que organizam, promovem e financiam ações terroristas contra as estruturas sociais e econômicas de Cuba”, enfatizou o presidente.

A “marcha combatente” costumava ser tradicionalmente convocada por Fidel. No entanto, nos últimos anos, a mobilização não tinha sido realizada.  Segundo o governo, ao menos 500 mil pessoas participaram dos atos deste sábado. 

<><> O direito de ter uma vida normal

Durante várias horas, milhares de pessoas marcharam pelo tradicional Malecon de Havana, acompanhadas de batucadas musicais e intervenções artísticas exibidas em frente ao mar. 

Sergio Jorge Pastrala, professor universitário, que chegou à manifestação com sua esposa, assegura que “não há como acusar Cuba de ser um país que patrocina o terrorismo”, enquanto enumera as diferentes ações de solidariedade que o povo cubano tem realizado, desde a luta contra o Apartheid na África até as campanhas de alfabetização em diferentes partes do continente latino-americano. 

Para o professor, ao contrário do que diz Washington, Cuba é vítima do terrorismo. A política norte-americana contra Cuba é dirigida “contra todo um povo que sofre cada uma das limitações impostas ao país e que afetam todas essas pessoas na obtenção do necessário para a vida cotidiana, do necessário para poder manter uma família, para que os filhos possam estudar, para que possam ser atendidos nos hospitais, para que possamos levar uma vida normal”, pontua.

Ele também definiu como “totalmente injusto” classificar Cuba como um “país patrocinador do terrorismo” quando o próprio Departamento de Estado dos EUA indica que Cuba é “um país que coopera plenamente contra o terrorismo”. 

“É um absurdo que o mesmo governo imponha duas medidas contraditórias que afetam um povo inteiro”, disse.

Para a médica Katria Trujillo, que participou da marcha com seus colegas do hospital, toda vez que Cuba é acusada de ser um país "terrorista", está se limitando o direito do povo cubano de viver em paz. Porque "eles estão limitando a possibilidade de todas as pessoas doentes poderem adquirir seus medicamentos", opinou. 

Ela explicou ainda que, embora os medicamentos em Cuba sejam muito baratos (uma vez que são altamente subsidiados pelo Estado), o bloqueio torna cada vez mais difícil para o país ter acesso aos materiais usados para fabricá-los. Como resultado, os hospitais não estão tendo os suprimentos necessários para tratar seus pacientes. 

“Do ponto de vista da oncologia, temos muitas limitações para tratar doenças que ameaçam a vida. É muito, muito triste ver como isso afeta as crianças. E acho que isso tem que acabar de uma vez por todas. É uma verdadeira calamidade o que estão fazendo contra nosso povo”, lamentou.

<><> “Crime contra a humanidade”

Há mais de 60 anos, Cuba está sob um bloqueio dos Estados Unidos, a principal potência econômica e militar do mundo. Trata-se de uma medida de guerra não convencional, cujo objetivo explícito é sufocar a economia da ilha e, assim, enfraquecer seu sistema econômico e social. Atualmente, mais de 80% da população cubana tem vivido toda a sua vida sob o embargo. 

Todos os anos, desde 1992, Cuba tem apresentado ao mais alto órgão deliberativo e representativo das Nações Unidas um projeto de resolução intitulado “A necessidade de pôr fim ao embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos”. Todos os anos, desde então, a resolução foi aprovada por uma esmagadora maioria, com a única oposição vinda dos Estados Unidos e de Israel, que votam contra, com algum aliado ocasional. 

Este ano, pela 32ª vez consecutiva, 187 países votaram contra o bloqueio dos EUA na Assembleia Geral da ONU. O documento aprovado pela ONU afirma que, somente entre 1º de março de 2023 e 29 de fevereiro de 2024, o bloqueio gerou uma perda estimada de 5,5 bilhões de dólares para Cuba, o que significa uma perda de mais de 421 milhões de dólares por mês.

Por sua vez, a Assembleia Geral da ONU descreve o bloqueio como “um crime contra a humanidade, um ato de genocídio e uma violação flagrante, maciça e sistemática dos direitos humanos de mais de 11 milhões de cubanos. É uma política cruel de punição”.

 

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Fonte: Brasil de Fato

 

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