segunda-feira, 19 de maio de 2025

Áudios reforçam denúncia contra Bolsonaro e demais golpistas e constrangem Hugo Motta e Ramagem

Gravações obtidas pela Polícia Federal indicam que a tentativa de golpe de Estado no Brasil foi mantida ativa até a antevéspera da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em diálogos interceptados com autorização judicial, o agente da PF Wladimir Matos Soares, preso por integrar o núcleo operacional da trama, relata que o plano golpista ainda estava “de pé” até 28 de dezembro de 2022, relata Daniela Lima, do g1.

Wladimir conversa com um aliado em 29 de dezembro de 2022, apenas três dias antes da posse de Lula. Na gravação, ele lamenta o recuo de Jair Bolsonaro (PL): “o presidente vai dar para trás”. O interlocutor questiona: “em quê?”, ao que o policial responde: “vai fugir!”. A fuga, no caso, seria a viagem de Bolsonaro para os Estados Unidos, realizada no dia 30. Segundo o policial, Michelle Bolsonaro já havia deixado o país no dia anterior: “Michelle foi ontem”.

O mesmo diálogo revela que, para os aliados envolvidos na conspiração, ainda havia expectativa de sucesso na virada de poder. “Nunca levei fé de que poderia ter alguma reviravolta... essa possibilidade foi real?”, pergunta o interlocutor. “Até ontem!”, responde Wladimir, numa clara referência à manutenção do plano golpista até 28 de dezembro.

As gravações reforçam o que já havia sido apontado por outras provas da Polícia Federal: uma articulação estruturada, com agentes de segurança pública destacados e diálogo direto com membros do governo Bolsonaro. O plano incluía até o assassinato de autoridades, como o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Parte dessas articulações, segundo os áudios, ocorreu dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob o comando, à época, de Alexandre Ramagem. Deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro, Ramagem é citado como integrante do núcleo que discutia os detalhes do golpe. Os áudios também revelam a participação de agentes que estavam sob seu comando direto e que usaram as instalações da Abin para tratar da conspiração.

O conteúdo das gravações aumenta o constrangimento político de Ramagem e do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem atuado para impedir o avanço de um processo contra o parlamentar bolsonarista. A avaliação de ministros do Supremo Tribunal Federal é de que os áudios não alteram substancialmente o curso jurídico da investigação, mas confirmam a gravidade da articulação golpista.

Além de comprovar o envolvimento de agentes do Estado em reuniões clandestinas, os áudios trazem nova concretude à violência implícita no plano, que vinha sendo minimizada por aliados de Bolsonaro. Com a revelação das conversas, a investigação da PF ganha mais respaldo político.

<><> "Clima é de zero animosidade”, diz Motta sobre relação entre Legislativo e Judiciário

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), minimizou qualquer tensão entre os Poderes após acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) no caso do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado no inquérito que apura a trama golpista.

Diante de questionamentos sobre um possível atrito entre o Legislativo e o Judiciário, Motta negou a existência de crise institucional. “O clima é de zero animosidade”, afirmou. Segundo ele, o pedido ao STF tem natureza técnica, e não política.

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Na terça-feira (13), o presidente da Câmara protocolou uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo, para tentar suspender integralmente a ação penal contra Ramagem.

A iniciativa veio após a Primeira Turma do STF limitar os efeitos da decisão da Câmara, que havia determinado a paralisação total do processo. A Corte restringiu a suspensão a apenas dois dos cinco crimes atribuídos ao parlamentar — os relacionados a atos supostamente cometidos após sua diplomação como deputado federal.

•        Temendo "40 anos de cadeia no lombo”, Bolsonaro se vitimiza: "vou morrer, não vai demorar"

Durante entrevista concedida ao canal do YouTube AuriVerde Brasil nesta sexta-feira (16), Jair Bolsonaro (PL) voltou a minimizar as acusações que enfrenta no inquérito da tentativa de golpe de Estado em 2022, afirmando não ter intenção de deixar o Brasil mesmo que venha a ser preso. “Eu com 40 anos de cadeia no lombo, não tenho recurso para lugar nenhum, eu vou morrer na cadeia”, disse o ex-mandatário, aos 70 anos.

Segundo a Folha de S. Paulo, Bolsonaro ironizou as investigações conduzidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), classificando o caso como um “golpe da Disney”. “Qual crime? Crime impossível, golpe da Disney. Junto com o Pateta, com a Minnie e com o Pato Donald, que eu estava lá em Orlando, programou esse golpe aí”, disse, referindo-se ao período em que esteve nos Estados Unidos durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

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<><> Acusações e risco de prisão

Bolsonaro responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento em um plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A denúncia da PGR aponta que ele cometeu crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e liderança de organização criminosa armada. Caso seja condenado, a pena pode ultrapassar 40 anos de prisão.

Apesar de ter deixado o país antes da eclosão dos ataques golpistas em Brasília, o STF já afirmou que a ausência física no dia 8 de janeiro não é determinante para afastar a responsabilidade. Durante o julgamento que o tornou réu, os ministros Cristiano Zanin e Flávio Dino ressaltaram que o envolvimento pode ter se dado de outras formas.

<><> Discurso de perseguição e menções ao “sistema”

Na mesma entrevista, Bolsonaro voltou a se colocar como vítima de uma suposta perseguição política. “Está previsto 40 anos de cadeia. Me prendam. Estou com 70 já, quase morri em uma cirurgia. Vou morrer, não vai demorar”, afirmou. Ele também declarou: “eu não sei até quando vou resistir”.

O ex-presidente apontou a condenação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por falsidade ideológica e invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça como um exemplo do que chamou de “ativismo judicial”. Também mencionou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado no mesmo inquérito da tentativa de golpe, como mais um caso dessa suposta atuação política do Judiciário para inviabilizar candidaturas da direita em 2026.

•        Gilmar Mendes: defesa da anistia é para livrar a cúpula da tentativa de golpe

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes criticou nesta sexta-feira (16) a possibilidade de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado. De acordo com o magistrado, o perdão seria para beneficiar a "cúpula do golpe".

"A rigor, se fala na anistia, na defesa do interesse da cúpula do sistema, da cúpula do golpe. As pessoas descobrem que havia idosos e mães de filhos menores de 12 anos nas prisões, passando a defender não só redução da pena, o que é legítimo, mas a própria anistia", disse o ministro em entrevista à coluna Poder e Mercado.

Possíveis anistia para envolvidos nos atos golpistas podem beneficiar quem é alvo do inquérito da trama golpista. No Supremo Tribunal Federal, as manifestações terroristas do 8 de janeiro, em Brasília (DF), são parte de uma investigação mais ampla, sobre tentativa de golpe.

Se parlamentares do Congresso Nacional aprovarem a proposta de anistia aos participantes dos 8/1, o projeto pode resultar, por exemplo, em diminuição de penas para os investigados no plano golpista.

O STF já tornou mais de 500 réus por envolvimento nas manifestações terroristas, em que bolsonaristas invadiram e quebraram estruturas do Congresso, do Planalto e do Supremo. A Corte também tornou 21 réus pela participação na trama golpista - o número pode aumentar, porque novos julgamentos acontecerão.

O ministro Gilmar Mendes faz parte da Segunda Turma do STF junto com Dias Toffoli, Edson Fachin, André Mendonça e Kassio Nunes Marques. O julgamento do plano golpista ocorre na Primeira Turma da Corte - Cristiano Zanin, Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Flávio Dino. A divisão de Turmas existe para agilizar processos.

No Congresso, parlamentares da oposição a Lula, principalmente, podem aprofundar as articulações para aprovar medidas que atingem o STF. Aprovada pelo Senado, a PEC 8/2021 proíbe que ministros do Supremo concedam medidas cautelares individuais, impõe que tais decisões sejam exclusivamente colegiadas, por decisão do plenário do STF.

Outra medida (PEC 28/2024) autoriza o Congresso a suspender decisões do STF quando dois terços dos parlamentares discordarem das sentenças do Supremo. Uma terceira proposta facilita o impeachment de ministros do Supremo.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), por exemplo, já alertou para as tentativas de retaliação ao STF por causa de parlamentares bolsonaristas.

•        Moraes determina suspensão parcial de ação do golpe contra Ramagem

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira (16) a suspensão parcial da ação penal contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) no caso da trama golpista do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A decisão do ministro foi tomada para cumprir a decisão da Primeira Turma da Corte, que, na semana passada, decidiu que o parlamentar vai continuar respondendo a três dos cinco crimes imputados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Dessa forma, o deputado continuará sendo processado por:

•        Golpe de Estado,

•        Organização criminosa armada,

•        Tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

No entanto, ficam suspensas duas acusações: dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado.

A suspensão começou a contar a partir de 14 de maio, data da publicação do acórdão da decisão da turma, e terminará no fim do mandato de Ramagem.

Na quarta-feira (14), a Câmara dos Deputados entrou com uma ação para rever a decisão da Primeira Turma. O processo será relatado por Alexandre de Moraes e não tem data definida para ser julgado.

<><> Entenda

No mês passado, o Supremo enviou um ofício à Câmara para informar que os deputados não poderiam suspender a íntegra do processo da trama golpista contra o deputado, que é um dos réus do núcleo 1.

A possibilidade de suspensão de processos contra deputados federais e senadores está prevista na Constituição. Conforme o Artigo 53, a Câmara e o Senado podem suspender uma ação penal contra um parlamentar.

No ofício enviado à Câmara, o STF disse que, apesar da permissão constitucional, somente os crimes que teriam sido cometidos por Ramagem após a diplomação, ocorrida em dezembro de 2022, podem ser suspensos.

Antes de ser eleito, Ramagem foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e foi acusado de usar a estrutura do órgão para espionar ilegalmente desafetos de Bolsonaro. O caso ficou conhecido como "Abin Paralela".

No dia 8 deste mês, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), comunicou o Supremo sobre a decisão da Câmara que deliberou pela suspensão do processo.

"Comunico a Vossa Excelência que esta Casa, em sessão deliberativa extraordinária realizada no dia 7 de maio de 2025, resolveu pela sustação da ação penal decorrente do recebimento da denúncia contida na petição n. 12.100, em curso no Supremo Tribunal Federal", diz o ofício.

O texto aprovado abriu brecha para a suspensão de todas as acusações contra Ramagem e contra todos os demais réus do núcleo 1 da trama golpista, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em seguida, Alexandre de Moraes, relator do caso, fez uma questão de ordem e pediu o julgamento da questão e, por unanimidade, os ministros evitaram a manobra da Câmara.

 

Fonte: Brasil 247

 

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