As
6 grandes extinções em massa do planeta
Em
cerca de 4,5 bilhões de anos de existência, o planeta Terra passou por pelo
menos cinco grandes extinções em massa — e é bem provável que estejamos no
sexto fenômeno do tipo justamente no período em que vivemos.
Esses
momentos são caracterizados por um aumento na taxa de seres vivos que deixam de
existir.
Para
ter ideia, cerca de 98% dos organismos que habitaram o globo já não estão mais
aqui.
Os
cientistas estimam que a média "normal" de extinção é de 0,1 a 1
espécie por 10 mil espécies a cada 100 anos.
Porém,
em pelo menos cinco ou seis episódios ao longo das eras, essa taxa acelerou
além da conta: de acordo com o Museu de História Natural de Londres, no Reino
Unido, "um evento de extinção em massa acontece quando as espécies
desaparecem muito mais rápido do que são substituídas".
"Isso
geralmente ocorre se cerca de 75% das espécies do mundo são perdidas em um
'curto' período de tempo geológico — menos de 2,8 milhões de anos",
calcula a instituição.
O
paleontólogo Mario Cozzuol, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), cita outra característica fundamental desses
acontecimentos: eles aconteceram de forma homogênea em todas as partes do
mundo.
"Falamos
de eventos em escala global, com uma grande extensão, num tempo geólogo
relativamente próximo", acrescenta.
Mas que
eventos de extinção de massa são esses? E como os cientistas conseguem
determinar que eles de fato ocorreram?
• 1. Ordoviciano-Siluriano, 440 milhões de
anos atrás
Numa
publicação disponível online, o Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz
(FioCruz) explica que, nessa era, o planeta vivia um momento de progresso.
"O
número de espécies, principalmente de animais marinhos, estava em crescimento.
Foi nessa época que surgiram também as primeiras plantas terrestres",
contextualiza o artigo.
Mas a
bonança acabou com o desaparecimento de 85% das espécies, especialmente de
pequenos seres marinhos invertebrados.
Entre
as possíveis causas para a crise, os cientistas apontam a movimentação dos
continentes em direção ao pólo sul, as quedas na temperatura, a formação de
glaciares e a redução do nível dos mares (dos quais boa parte da vida
dependia).
• 2. Devoniano, 370-360 milhões de anos
atrás
Cerca
de 75 milhões de anos depois, a Terra passou por uma nova hecatombe, que varreu
do mapa entre 70 e 80% de todas as espécies.
À
época, o mundo "era povoado por muitos peixes primitivos. Também surgiram
os primeiros vertebrados terrestres com quatro membros e os insetos. As
plantas, por sua vez, estavam cada vez mais altas", descreve o Museu da
Vida.
Ainda
não há consenso sobre os motivos por trás dessa extinção em massa.
As
evidências apontam para diversas alterações no ambiente, como aumento e redução
intercalados da temperatura, elevação e baixa do nível dos oceanos e uma queda
na concentração de oxigênio na atmosfera.
Alguns
também especulam sobre possíveis impactos de meteoritos e cometas.
• 3. Permiano, 250 milhões de anos atrás
Eis o
pior evento de todos: estima-se que mais de 95% dos seres foram extintos nesse
período.
O Museu
Americano de História Natural, em Nova York, explica que o fenômeno atingiu
muitos vertebrados (seres que possuem coluna vertebral e crânio).
Conhecido
como "A Grande Morte", esse evento também está relacionado às
mudanças no ambiente.
É
possível que a movimentação dos continentes, as erupções vulcânicas, o
aquecimento do clima e o aumento da acidez dos oceanos tenham representado o
fim da linha para muitas espécies que habitavam o planeta.
"Alguns
cientistas apontam que a Terra foi atingida por um grande asteroide, que encheu
o ar de partículas de poeira, bloqueou a luz solar e provocou chuvas ácidas.
Outros pensam que uma grande explosão vulcânica aumentou a quantidade de
dióxido de carbono (CO2) e tornou os oceanos tóxicos", detalha o Museu de
História Natural de Londres.
• 4. Triássico, 200 milhões de anos atrás
Os
estudos calculam que três quartos das espécies desapareceram nessa época,
marcada pelo desenvolvimento dos pinheiros e outras plantas do grupo das
gimnospermas, dos dinossauros e dos primeiros mamíferos.
A
principal explicação para o fenômeno é a separação da Pangeia — o
supercontinente que reunia praticamente toda a superfície terrestre do globo.
Essa
atividade geológica colossal elevou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na
atmosfera, deixou os oceanos mais ácidos e engatilhou a erupção de vários
vulcões.
Com
isso, a vida deixou de ser viável para muitas criaturas.
As
mudanças, porém, representaram uma vantagem para aqueles que resistiram, como
foi o caso de alguns dinossauros.
As
espécies de répteis que não morreram acabaram encontrando um terreno fértil
para prosperar pelos próximos milhões de anos, aponta o Museu Americano de
História Natural.
• 5. Cretáceo, 65 milhões de anos atrás
Essa
talvez seja a mais famosa de todas: ela representou a extinção da maioria dos
dinossauros.
"A
maior parte desse grupo foi dizimado. Só sobrou a linhagem das aves",
resume o biólogo geneticista Fabrício Rodrigues dos Santos, também professor da
UFMG.
Estima-se
que cerca de 80% das espécies sumiram nesse momento.
"Um
dos argumentos mais aceitos para o fenômeno é a queda de um asteroide, cujo
impacto tomou uma dimensão global", complementa o pesquisador.
Muito
provavelmente, esse asteroide atingiu a Península de Yucatán, território que
atualmente pertence ao México.
"E
é possível mapear as ondas de impacto até hoje, com evidências disso não apenas
na região, mas em partes da África, das Américas e até da Ásia", diz
Santos.
É claro
que o tal asteroide sozinho não acabou com todos os dinossauros do dia para a
noite.
Acredita-se
que ele tenha sido o gatilho para uma série de mudanças no ambiente — poeira,
diminuição da luz solar, morte das plantas, redução de oxigênio, chuvas ácidas,
atividade vulcânica — que acabou com esses répteis aos poucos, ao longo de um
milhão de anos.
A
ativação devastadora de um vulcão no que hoje conhecemos como Índia é um
exemplo desses desdobramentos.
E quem
sobreviveu à catástrofe? "Só bichos muito pequenos, que necessitavam de
poucos recursos", responde Santos.
"Embora
tenham aparecido até antes, a diversidade de mamíferos ficou reprimida por
causa dos dinossauros. Eles estavam restritos a determinados ambientes",
diz Cozzuol.
"Com
o desaparecimento dos dinossauros, os mamíferos e as aves que sobreviveram se
aproveitaram desse espaço ecológico novo para se diversificar. Então, a partir
daí, sem o limitante que os dinossauros colocavam, eles puderam
prosperar", explica o paleontólogo.
• 6. 'Antropoceno', 2022
Alguns
especialistas entendem que o planeta passa atualmente pela sexta extinção em
massa agora, no momento em que vivemos.
E, ao
contrário dos cinco episódios anteriores, as causas não são as mudanças
ambientais fortuitas ou a chegada de asteroides. Dessa vez, a culpa é da
humanidade.
Lembra
aquela taxa "normal" de extinção de espécies? Pois alguns cálculos
apontam que ela está entre 100 e mil vezes mais acelerada desde o surgimento
dos hominídeos.
As
pesquisas apontam que a atividade humana está por trás disso — e tudo só tem
piorado nos últimos séculos.
"Desde
a Revolução Industrial, nós estamos aumentando a pressão sobre a natureza ao
usar os recursos, sem pensar em como recuperá-los", aponta o Museu de
História Natural de Londres.
"Por
exemplo, a mudança no uso da terra continua a destruir grandes porções de
paisagens naturais. Os seres humanos já transformaram mais de 70% das
superfícies terrestres e usam cerca de três quartos dos recursos de água
doce", continua o texto.
A
atividade agropecuária é uma das principais fontes da degradação do solo, do
desmatamento, da poluição e da perda de biodiversidade.
E isso,
por sua vez, destrói o habitat de diversas espécies, que passam a competir
pelos mesmos recursos, cada vez mais escassos.
"Não
é exagero pensar que várias espécies que nem conhecemos ainda estão sendo
extintas agora mesmo", diz Cozzuol.
Para
complementar, o lançamento de toneladas e mais toneladas de CO2 na atmosfera
por meio dos combustíveis fósseis e de outras fontes aumenta a temperatura
média do planeta e instiga secas, enchentes e outras catástrofes — o que
inviabiliza a vida sob muitos aspectos.
"Se
compararmos com o Cretáceo, os dinossauros declinaram ao longo de um milhão de
anos. Agora, estamos vendo isso acontecer numa escala de tempo muito
menor", pontua Santos.
"Mesmo
com tantas mudanças, o planeta vai continuar a existir. A maior preocupação é
justamente saber o que vai acontecer com a nossa própria espécie",
complementa.
Cozzuol
pondera que, apesar de o ritmo acelerado da extinção atual ser um consenso
dentro da comunidade acadêmica, é difícil compará-lo ao de períodos anteriores.
Segundo
o pesquisador, a grande dificuldade está na "resolução temporal", ou
na escala de tempo entre o passado e o presente.
"Tivemos
algumas extinções de escala global que levaram até 5 milhões de anos. E o
pleistoceno todo, que é o período em que a humanidade surgiu e se desenvolveu,
compreende ao redor de 2 milhões de anos", informa.
"Mas
de fato passamos por um tempo em que a taxa de extinção está maior que a média
normal. Só que é difícil comparar isso em termos de eras geológicas",
conclui.
• Como os cientistas sabem disso tudo?
Para
coletar essa montanha de informações, geólogos, paleontólogos e biólogos
utilizam uma série de métodos para analisar formações rochosas e fósseis.
"Fazemos
a datação desses indícios ao longo das eras e comparamos aspectos qualitativos.
A partir daí, é possível ver quais espécies sobreviveram ou se
extinguiram", explica Santos.
Ou
seja: se os especialistas viam fósseis de determinada espécie e, a partir de um
certo período, esse material desaparece, isso representa um indicativo de que
aquele ser vivo deixou de existir no planeta.
"Nessa
linha do tempo, é possível ver que um número muito grande de espécies não
passou para o outro lado, ou seja, não conseguiu transpor alguma dificuldade
que apareceu no ambiente. E isso sugere uma extinção em massa", resume
Cozzuol.
"E
o que determina a segmentação do tempo geológico em períodos são justamente as
extinções. Todos os grandes períodos, como o Paleozoico, o Mesozoico e o
Cenozoico, foram marcados por esses fenômenos massivos", complementa.
• Uma extinção ancestral?
Nas
últimas semanas, uma equipe de pesquisadores americanos descreveu a possível
ocorrência de uma sétima extinção em massa — ou primeira, a depender do ponto
de vista.
De
acordo com a pesquisa, conduzida na Universidade da Califórnia em Riverside e
na Virginia Tech, ambas nos Estados Unidos, esse fenômeno de desaparecimento
das espécies teria acontecido há 550 milhões de anos, durante o período
Ediacarano.
Calcula-se
que 80% dos seres vivos tenham sumido do mapa.
"Os
registros geológicos indicam que os oceanos perderam muito oxigênio durante
aquele período, e as poucas espécies que sobreviveram tinham organismos
adaptados aos ambientes com baixa oxigenação", conta o paleoecólogo Chenyi
Tu, um dos coautores do artigo, em comunicado à imprensa.
Entre
as criaturas ancestrais do Ediacarano que acabaram extintas estão o Obamus
coronatus, que tinha um formato de disco, e o Attenborites janeae, que lembra
um ovo — os nomes deles fazem homenagens ao ex-presidente americano Barack
Obama e ao naturalista inglês David Attenborough, respectivamente.
Embora
as descobertas sejam interessantes e curiosas, os especialistas consultados
pela BBC News Brasil entendem que essa extinção em massa ancestral ainda carece
de mais evidências para ser considerada do mesmo nível das outras cinco.
"Ainda
não há consenso sobre essa extinção do Ediacarano e precisamos de mais
informação antes de equipará-la às demais", avalia Santos.
Na
visão do biólogo, a grande dificuldade em analisar eras tão antigas está na
dificuldade em encontrar fósseis e outros registros geológicos.
"Falamos
de seres que não fossilizam, o que dificulta a obtenção de um 'extrato' desse
período", conclui.
Fonte:
BBC News Brasil

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