Movimento Rosa Branca: o sacrifício dos
jovens alemães que desafiaram Hitler
Em 18 de fevereiro de 1943, os irmãos Hans e
Sophie Scholl eram capturados pela Gestapo — a polícia secreta da Alemanha
nazista. Eles seriam guilhotinados quatro dias depois, na prisão de Stadelheim.
Hans e Sophie eram líderes do movimento de
resistência antinazista Rosa Branca. O grupo era formado por estudantes alemães
que se dedicavam a distribuir panfletos onde denunciavam os crimes do Terceiro
Reich e exortavam a população à luta.
• O
nazismo na sociedade alemã
Desde a década de 1920, o Partido Nazista
havia posto em prática um plano bem sucedido de infiltração de seus ideólogos
nas instituições da sociedade alemã. Após a ascensão de Adolf Hitler ao cargo
de chanceler, esse processo se tornou uma política de Estado.
Em pouco tempo, das Forças Armadas às escolas
infantis, não havia nenhuma organização social que não estivesse submetida à
influência do ideário nazista.
O Terceiro Reich deu atenção especial ao
aparelhamento de instituições que pudessem ser instrumentalizadas para a
doutrinação de jovens, visando impregná-los com um sentimento de fidelidade
incondicional ao Partido Nazista e criar os alicerces para a sobrevivência do
regime a longo prazo.
Ao mesmo tempo, a repressão violenta dos que
questionassem o regime e a criação de uma rede de delações — incentivando,
inclusive, as crianças a denunciarem os próprios pais que fizessem críticas a
Hitler ou ao nazismo — criava um ambiente de medo e insegurança, desestimulando
a criação de núcleos de resistência.
Esse contexto de forte controle social
costuma alimentar a impressão de que toda a sociedade alemã apoiou ou foi
conivente com os horrores do regime nazista. Houve, entretanto, diversos
núcleos domésticos de resistência ao Terceiro Reich — e alguns deles
floresceram dentro das próprias instituições hitleristas. É o caso do movimento
Rosa Branca.
• O
movimento Rosa Branca
O movimento foi criado em 27 de junho de 1942
e era composto por jovens estudantes da Universidade de Munique. Seus líderes
eram Alexander Schmorell, Willi Graf, Christoph Probst e os irmãos Hans e
Sophie Scholl. O nome era uma referência a um poema A Rosa Branca de Clemens
Brentano.
Muitos dos integrantes do movimento eram
previamente ligados à instituições nazistas. Hans Scholl, por exemplo, era
filiado à Juventude Hitlerista e sua irmã, Sophie, pertenceu à Liga das Moças
Alemãs.
Aos poucos, o entusiasmo com o forte
sentimento de comunhão e otimismo alimentado por essas instituições foi
arrefecendo e os jovens começaram a perceber que, apesar dos discursos
recheados de exaltação ao regime, havia algo muito errado com a Alemanha nazista.
Não obstante, a maioria, mesmo frustrada e
assustada com os rumos que as coisas tomavam, permaneceu inerte. Sobre isso,
Sophie registrou: “o que escrevemos e falamos é o que muitas pessoas pensam,
mas não têm coragem de dizer”.
O movimento Rosa Branca tinha por objetivo
articular um núcleo de resistência ao nazismo dentro da própria Alemanha
nazista. Os jovens organizavam reuniões clandestinas nas universidades,
tentavam cooptar apoio de professores e pessoas confiáveis para a iniciativa e
pichavam frases contra o regime nazista nas paredes e muros das cidades alemãs.
• Os
panfletos
A principal atividade do movimento consistia
na distribuição de panfletos contra o regime nazista. Os jovens imprimiam
milhares de unidades e distribuíam nas caixas de correio das grandes cidades da
Alemanha, sobretudo em Munique e Hamburgo.
Os panfletos condenavam a passividade da
sociedade alemã, denunciavam os crimes cometidos pelos nazistas e conclamavam o
povo a se organizar para resistir e lutar contra o Terceiro Reich.
O grupo produziu seis modelos de panfletos
com textos diferentes. No primeiro deles, lia-se: “não é verdade que todo
alemão honesto tem vergonha de seu governo atualmente? Quem entre nós tem
alguma ideia do tamanho da vergonha que se abaterá sobre nós e nossos filhos
quando um dia o véu cair de nossos olhos e o mais horrível dos crimes — crimes
que se distanciam infinitamente de cada medida humana — alcançar a luz do
dia?”.
No segundo folheto, o grupo denunciava o
assassinato em massa de judeus: “desde a conquista da Polônia, 300.000 judeus
foram assassinados neste país das formas mais bestiais. O povo alemão continua
dormindo em um sono entorpecido e estúpido e encoraja os criminosos fascistas.
Todos querem ser exonerados da culpa, todos seguem seu caminho com a
consciência plácida e tranquila. Mas não podem ser desculpados. São culpados!
Culpados! Culpados!”.
• Captura
e execução
Muito cautelosos, os jovens passaram meses
contornando as tentativas do regime nazista de identificá-los. Mas em 18 de
fevereiro de 1943, enquanto distribuíam panfletos no prédio principal da
Universidade de Munique, os irmãos Hans e Sophie Scholl foram flagrados por
Jakob Schmid, zelador da universidade.
Schmid alertou a Gestapo que localizou e
prendeu os jovens. Os irmãos foram torturados durante um brutal interrogatório,
mas se negaram a revelar o nome dos outros integrantes do movimento.
Os interrogadores da Gestapo, entretanto,
encontraram no bolso de Hans um texto manuscrito por Christoph Probst e
conseguiram identificá-lo através de comparação caligráfica.
Hans Scholl, Sophie Scholl e Christoph Probst
foram condenados à morte por “traição” e executados na guilhotina da Prisão de
Stadelheim em 22 de fevereiro de 1943. Outros membros da Rosa Branca, tais como
Willi Graf, Kurt Huber e Alexander Schmorell, também seriam denunciados às
autoridades alemãs por estudantes da Universidade de Munique. Eles foram
executados entre outubro de 1943 e janeiro de 1945.
O martírio dos estudantes do movimento Rosa
Branca comoveu e inspirou outros estudantes alemães, fomentando a criação de
novas células de resistência ao regime nazista.
Ainda em 1943, vários grupos anônimos
seguiram a estratégia dos estudantes, copiando e distribuindo panfletos
antinazistas nas cidades do país.
O romancista alemão Thomas Mann, radicado na
Suíça desde que os nazistas ascenderam ao poder, passou a divulgar o conteúdo
dos folhetos do movimento Rosa Branca nas suas transmissões de rádio pela BBC,
direcionadas ao povo alemão.
O Exército Vermelho distribuiu materiais com
homenagens aos estudantes, também reproduzindo os textos dos panfletos. E os
aviões aliados, ao sobrevoarem as grandes cidades do Reich, passaram a jogar
cópias do último panfleto escrito pelos jovens, sob o título de “Manifesto dos
Estudantes de Munique”.
Fonte: Por Estevam Silva, em Opera Mundi

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