Como Trump impulsionou a vitória da
centro-esquerda no Canadá
O Partido Liberal, do atual primeiro-ministro
Mark Carney, venceu as eleições do Canadá nesta segunda-feira (28) — e ao que
parece, o resultado foi conquistado graças à grande ajuda de Donald Trump.
A constante insistência do presidente dos EUA
em relação a seu vizinho a norte e as provocações sobre fazer do Canadá o 51º
estado americano coincidiram com uma reversão dramática na sorte do partido de
centro-esquerda.
Carney concentrou sua campanha e suas
políticas nos últimos meses quase que exclusivamente em seu vizinho, e isso se
refletiu em seu discurso de vitória. "O presidente Trump está tentando nos
destruir para que os Estados Unidos possam nos possuir. Isso nunca
acontecerá", disse o premiê, afirmando que os EUA querem o território e os
recursos do Canadá.
Até o retorno de Trump ao poder, o Partido
Conservador de Pierre Poilievre mantinha o que parecia ser uma vantagem grande
e insuperável nas pesquisas de opinião, em meio à insatisfação geral com o
estado da economia canadense e quase uma década de governo liberal sob o
comando do então primeiro-ministro Justin Trudeau.
O ano passado foi devastador para os governos
em exercício em todo o mundo, com partidos de todo o espectro político perdendo
terreno ou controle absoluto — com os EUA, Reino Unido, Japão, Alemanha, França
e Índia entre os exemplos mais proeminentes.
Mas a eleição geral canadense quebrou essa
tendência, após os liberais forçarem Trudeau a renunciar e escolherem um
forasteiro político, o ex-chefe dos bancos centrais do Canadá e da Inglaterra,
Carney, como líder.
Ele enfrentou duramente o que o partido
caracteriza como a ameaça real que Trump representava não apenas para a
economia, mas também para a própria soberania do Canadá.
Embora Trump não pareça ter o mesmo desgosto
por Carney que claramente sentia por Trudeau, os interesses políticos dos EUA e
do Canadá parecem destinados a continuar divergindo.
Já existem indícios de que o Canadá está
olhando mais para a Europa como um parceiro confiável do que para a América de
Trump — uma medida que certamente irritará o líder americano.
Carney prometeu iniciar rapidamente novas
negociações comerciais com Trump em uma tentativa de evitar as tarifas dos EUA
sobre as exportações de automóveis canadenses, que devem entrar em vigor em 3
de maio.
A economia canadense, que depende fortemente
das exportações para os EUA, corre um risco considerável se uma guerra
comercial total eclodir, e Carney — economista de formação e banqueiro veterano
— prometeu aos eleitores que fará tudo ao seu alcance para impedir que o Canadá
entre em recessão.
Enquanto isso, Trump virou tema da política
canadense mais uma vez nesta segunda-feira. Enquanto os eleitores votavam, o
presidente americano voltou a dizer que a fronteira EUA-Canadá foi
"traçada artificialmente" e afirmou que o país estaria melhor como um
estado americano "querido".
Carney ascendeu ao poder repentinamente, em
um momento em que seu país enfrenta um dos maiores desafios em uma geração com
vizinho superpoderoso.
Muitos líderes mundiais ainda estão
descobrindo como lidar com Donald Trump em seu segundo mandato, mas poucos
enfrentarão um desafio semelhante ao do Canadá.
No entanto, não se deve esperar que os
liberais agradeçam ao líder americano — ou que Trump suavize sua retórica,
embora no mês passado ele tenha dito que preferia um primeiro-ministro liberal.
(Posteriormente, ele afirmou que realmente não se importava com quem vencesse.)
Em vez disso, o resultado provável é mais do
mesmo: piadas mais incisivas sobre a adesão do Canadá aos EUA, mais ameaças de
uma guerra comercial e mais vontade de colocar em dúvida laços e acordos de
longa data com o vizinho do norte dos Estados Unidos.
A ironia, no entanto, é que o foco irrisório
de Trump no Canadá pode ter negado a ele um vizinho ao norte comandado por um
político mais alinhado com suas prioridades conservadoras populistas do que o
liberal Carney.
O líder do Partido Conservador canadense, o
veterano Pierre Poilievre, tem algumas semelhanças com o presidente americano:
é favorável à diminuição do governo, à redução dos impostos e dos serviços
sociais e à promoção da produção de combustíveis fósseis. Assim como Trump, ele
também critica o que chama de uma cultura esquerdista 'woke'.
Uma vitória conservadora nesta eleição teria
sido vista por muitos — nos Estados Unidos e em todo o mundo — como um novo
sinal de que a vitória de Trump no ano passado foi mais do que apenas um evento
americano isolado.
Teria representado o que muitos na órbita de
Trump gostam de acreditar ser um movimento global em direção à sua marca de
política culturalmente conservadora, anti-elite, anti-imigração e pró-classe
trabalhadora.
• Partido
Liberal não era favorito até Trump tentar interferir na eleição no Canadá
O Partido Liberal, do atual primeiro-ministro
Mark Carney, venceu as eleições do Canadá nesta segunda-feira (28). Os liberais
mantiveram-se no governo, mas formam minoria no governo.
O partido não garantiu os 172 distritos
eleitorais, conhecidos como cadeiras, necessários para a maioria.
A Câmara tem 343 cadeiras. Apenas com a
minoria, Carney terá que fazer acordos com outros partidos para continuar no
poder. Segundo a Reuters, governos minoritários no Canadá geralmente duram
menos de dois anos e meio.
Na madrugada desta terça (29), após seu
partido ter vencido as eleições, Carney se pronunciou dizendo que está animado
para trabalhar com os outros partidos.
<><> Reviravolta causada por
Trump
Após a renúncia de Justin Trudeau, era
improvável que os liberais ganhassem as eleições. Porém, com o tarifaço de
Trump e outras declarações do presidente, o sentimento de nacionalismo começou
a crescer no Canadá, o que favoreceu os liberais.
Antes dessa reviravolta, o partido chegou a
ficar 20 pontos atrás dos conservadores nas pesquisas eleitorais.
Após as declarações de Trump, entretanto,
Carney prometeu uma abordagem firme com Washington em relação às tarifas e
disse que o Canadá precisaria gastar bilhões para reduzir sua dependência dos
Estados Unidos. Mas os conservadores, de centro-direita, que pediam mudança
após mais de nove anos de governo liberal, mostraram uma força inesperada.
O último partido a vencer quatro eleições
consecutivas no Canadá foram os liberais, em 2004.
O resultado foi uma grande derrota para o
líder conservador Pierre Poilievre, que concentrou sua campanha em questões
domésticas e na necessidade de consertar um país que, segundo ele, os liberais
haviam “quebrado”.
¨
Partido de Scholz apoia
conservadores para novo governo na Alemanha
Os
sociais-democratas da Alemanha apoiaram um tratado para uma coalizão com os
conservadores da CDU/CSU, informou o partido na quarta-feira (30), superando o
último obstáculo para a formação de um novo governo na maior economia da
Europa.
A
coalizão conservadora-SPD era o único caminho para um governo majoritário
depois que ambos os principais partidos sofreram pesadas derrotas nas eleições
federais de fevereiro. Ambos descartaram a possibilidade de governar com o
partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que conquistou um
histórico segundo lugar.
Nas
últimas duas semanas, os integrantes do SPD votaram no tratado de coalizão
elaborado pelos líderes de ambos os partidos. Sua aprovação, que já era
esperada, permitiria que o líder
conservador Friedrich Merz se tornasse chanceler em 6 de maio.
Na
votação, que terminou na terça-feira (29) pouco antes da meia-noite, 84% dos
membros que participaram foram a favor do acordo, disse o partido,
acrescentando que 56% dos cerca de 360 mil membros participaram da votação.
“Nestes
tempos muito difíceis na política global, somos responsáveis pela nossa segurança,
pelo crescimento econômico, pela segurança dos empregos e pela
igualdade de oportunidades”, disse o secretário-geral
do partido, Matthias Miersch, em uma declaração por e-mail.
Revitalizar a maior
economia da Europa é uma das principais prioridades do próximo
governo da Alemanha, em meio a temores de que uma guerra comercial desencadeada
pelos anúncios
de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, possa
prejudicar ainda mais sua economia voltada para a exportação.
Apesar
da baixa histórica de apenas 16,4% dos votos do SPD, especialistas políticos
dizem que ele garantiu ganhos importantes no acordo de coalizão, alavancando a
falta de caminhos alternativos dos conservadores para a chancelaria pelos
próximos quatro anos.
A
próxima coalizão pretende, por exemplo, investir pesadamente na infraestrutura
da Alemanha, aumentar o salário mínimo para 15 euros (cerca de R$ 96,00) por
hora, manter as pensões em 48% do salário médio atual e estender o teto dos
aluguéis, de acordo com o contrato da coalizão .
O SPD
também garantiu o cobiçado ministério das finanças, juntamente com outros seis
cargos no gabinete.
As
concessões do SPD sobre regras de migração mais rígidas e cortes nos benefícios
de desemprego, bem como sua incapacidade de garantir aumentos de impostos para
os ricos, no entanto, atraíram duras críticas da influente ala jovem do
partido, Jusos, cujos líderes pediram aos membros que rejeitassem o acordo.
Fonte: BBC News/g1/CNN Brasil

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