quarta-feira, 30 de abril de 2025

Como Trump impulsionou a vitória da centro-esquerda no Canadá

O Partido Liberal, do atual primeiro-ministro Mark Carney, venceu as eleições do Canadá nesta segunda-feira (28) — e ao que parece, o resultado foi conquistado graças à grande ajuda de Donald Trump.

A constante insistência do presidente dos EUA em relação a seu vizinho a norte e as provocações sobre fazer do Canadá o 51º estado americano coincidiram com uma reversão dramática na sorte do partido de centro-esquerda.

Carney concentrou sua campanha e suas políticas nos últimos meses quase que exclusivamente em seu vizinho, e isso se refletiu em seu discurso de vitória. "O presidente Trump está tentando nos destruir para que os Estados Unidos possam nos possuir. Isso nunca acontecerá", disse o premiê, afirmando que os EUA querem o território e os recursos do Canadá.

Até o retorno de Trump ao poder, o Partido Conservador de Pierre Poilievre mantinha o que parecia ser uma vantagem grande e insuperável nas pesquisas de opinião, em meio à insatisfação geral com o estado da economia canadense e quase uma década de governo liberal sob o comando do então primeiro-ministro Justin Trudeau.

O ano passado foi devastador para os governos em exercício em todo o mundo, com partidos de todo o espectro político perdendo terreno ou controle absoluto — com os EUA, Reino Unido, Japão, Alemanha, França e Índia entre os exemplos mais proeminentes.

Mas a eleição geral canadense quebrou essa tendência, após os liberais forçarem Trudeau a renunciar e escolherem um forasteiro político, o ex-chefe dos bancos centrais do Canadá e da Inglaterra, Carney, como líder.

Ele enfrentou duramente o que o partido caracteriza como a ameaça real que Trump representava não apenas para a economia, mas também para a própria soberania do Canadá.

Embora Trump não pareça ter o mesmo desgosto por Carney que claramente sentia por Trudeau, os interesses políticos dos EUA e do Canadá parecem destinados a continuar divergindo.

Já existem indícios de que o Canadá está olhando mais para a Europa como um parceiro confiável do que para a América de Trump — uma medida que certamente irritará o líder americano.

Carney prometeu iniciar rapidamente novas negociações comerciais com Trump em uma tentativa de evitar as tarifas dos EUA sobre as exportações de automóveis canadenses, que devem entrar em vigor em 3 de maio.

A economia canadense, que depende fortemente das exportações para os EUA, corre um risco considerável se uma guerra comercial total eclodir, e Carney — economista de formação e banqueiro veterano — prometeu aos eleitores que fará tudo ao seu alcance para impedir que o Canadá entre em recessão.

Enquanto isso, Trump virou tema da política canadense mais uma vez nesta segunda-feira. Enquanto os eleitores votavam, o presidente americano voltou a dizer que a fronteira EUA-Canadá foi "traçada artificialmente" e afirmou que o país estaria melhor como um estado americano "querido".

Carney ascendeu ao poder repentinamente, em um momento em que seu país enfrenta um dos maiores desafios em uma geração com vizinho superpoderoso.

Muitos líderes mundiais ainda estão descobrindo como lidar com Donald Trump em seu segundo mandato, mas poucos enfrentarão um desafio semelhante ao do Canadá.

No entanto, não se deve esperar que os liberais agradeçam ao líder americano — ou que Trump suavize sua retórica, embora no mês passado ele tenha dito que preferia um primeiro-ministro liberal. (Posteriormente, ele afirmou que realmente não se importava com quem vencesse.)

Em vez disso, o resultado provável é mais do mesmo: piadas mais incisivas sobre a adesão do Canadá aos EUA, mais ameaças de uma guerra comercial e mais vontade de colocar em dúvida laços e acordos de longa data com o vizinho do norte dos Estados Unidos.

A ironia, no entanto, é que o foco irrisório de Trump no Canadá pode ter negado a ele um vizinho ao norte comandado por um político mais alinhado com suas prioridades conservadoras populistas do que o liberal Carney.

O líder do Partido Conservador canadense, o veterano Pierre Poilievre, tem algumas semelhanças com o presidente americano: é favorável à diminuição do governo, à redução dos impostos e dos serviços sociais e à promoção da produção de combustíveis fósseis. Assim como Trump, ele também critica o que chama de uma cultura esquerdista 'woke'.

Uma vitória conservadora nesta eleição teria sido vista por muitos — nos Estados Unidos e em todo o mundo — como um novo sinal de que a vitória de Trump no ano passado foi mais do que apenas um evento americano isolado.

Teria representado o que muitos na órbita de Trump gostam de acreditar ser um movimento global em direção à sua marca de política culturalmente conservadora, anti-elite, anti-imigração e pró-classe trabalhadora.

•        Partido Liberal não era favorito até Trump tentar interferir na eleição no Canadá

O Partido Liberal, do atual primeiro-ministro Mark Carney, venceu as eleições do Canadá nesta segunda-feira (28). Os liberais mantiveram-se no governo, mas formam minoria no governo.

O partido não garantiu os 172 distritos eleitorais, conhecidos como cadeiras, necessários para a maioria.

A Câmara tem 343 cadeiras. Apenas com a minoria, Carney terá que fazer acordos com outros partidos para continuar no poder. Segundo a Reuters, governos minoritários no Canadá geralmente duram menos de dois anos e meio.

Na madrugada desta terça (29), após seu partido ter vencido as eleições, Carney se pronunciou dizendo que está animado para trabalhar com os outros partidos.

<><> Reviravolta causada por Trump

Após a renúncia de Justin Trudeau, era improvável que os liberais ganhassem as eleições. Porém, com o tarifaço de Trump e outras declarações do presidente, o sentimento de nacionalismo começou a crescer no Canadá, o que favoreceu os liberais.

Antes dessa reviravolta, o partido chegou a ficar 20 pontos atrás dos conservadores nas pesquisas eleitorais.

Após as declarações de Trump, entretanto, Carney prometeu uma abordagem firme com Washington em relação às tarifas e disse que o Canadá precisaria gastar bilhões para reduzir sua dependência dos Estados Unidos. Mas os conservadores, de centro-direita, que pediam mudança após mais de nove anos de governo liberal, mostraram uma força inesperada.

O último partido a vencer quatro eleições consecutivas no Canadá foram os liberais, em 2004.

O resultado foi uma grande derrota para o líder conservador Pierre Poilievre, que concentrou sua campanha em questões domésticas e na necessidade de consertar um país que, segundo ele, os liberais haviam “quebrado”.

¨      Partido de Scholz apoia conservadores para novo governo na Alemanha

Os sociais-democratas da Alemanha apoiaram um tratado para uma coalizão com os conservadores da CDU/CSU, informou o partido na quarta-feira (30), superando o último obstáculo para a formação de um novo governo na maior economia da Europa.

A coalizão conservadora-SPD era o único caminho para um governo majoritário depois que ambos os principais partidos sofreram pesadas derrotas nas eleições federais de fevereiro. Ambos descartaram a possibilidade de governar com o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que conquistou um histórico segundo lugar.

Nas últimas duas semanas, os integrantes do SPD votaram no tratado de coalizão elaborado pelos líderes de ambos os partidos. Sua aprovação, que já era esperada, permitiria que o líder conservador Friedrich Merz se tornasse chanceler em 6 de maio.

Na votação, que terminou na terça-feira (29) pouco antes da meia-noite, 84% dos membros que participaram foram a favor do acordo, disse o partido, acrescentando que 56% dos cerca de 360 mil membros participaram da votação.

“Nestes tempos muito difíceis na política global, somos responsáveis ​​pela nossa segurança, pelo crescimento econômico, pela segurança dos empregos e pela igualdade de oportunidades, disse o secretário-geral do partido, Matthias Miersch, em uma declaração por e-mail.

Revitalizar a maior economia da Europa é uma das principais prioridades do próximo governo da Alemanha, em meio a temores de que uma guerra comercial desencadeada pelos anúncios de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, possa prejudicar ainda mais sua economia voltada para a exportação.

Apesar da baixa histórica de apenas 16,4% dos votos do SPD, especialistas políticos dizem que ele garantiu ganhos importantes no acordo de coalizão, alavancando a falta de caminhos alternativos dos conservadores para a chancelaria pelos próximos quatro anos.

A próxima coalizão pretende, por exemplo, investir pesadamente na infraestrutura da Alemanha, aumentar o salário mínimo para 15 euros (cerca de R$ 96,00) por hora, manter as pensões em 48% do salário médio atual e estender o teto dos aluguéis, de acordo com o contrato da coalizão .

O SPD também garantiu o cobiçado ministério das finanças, juntamente com outros seis cargos no gabinete.

As concessões do SPD sobre regras de migração mais rígidas e cortes nos benefícios de desemprego, bem como sua incapacidade de garantir aumentos de impostos para os ricos, no entanto, atraíram duras críticas da influente ala jovem do partido, Jusos, cujos líderes pediram aos membros que rejeitassem o acordo.

 

Fonte: BBC News/g1/CNN Brasil

 

Nenhum comentário: