A "cultura da urgência" pode levar
você ao esgotamento. Como é possível combatê-la?
Em um mundo cada vez mais acelerado e
hiperconectado, que recompensa o imediatismo, a cultura da urgência obscurece a
linha entre o que é realmente importante e o que não é.
No trabalho, isso pode envolver lidar com
solicitações frequentes de última hora, prazos ou carga de trabalho irrealistas
e a expectativa de estar disponível mesmo depois do expediente.
Na vida pessoal, as manifestações da cultura
da urgência incluem estender-se demais nos relacionamentos, verificar com
frequência as atualizações das mídias sociais por medo de perder alguma coisa e
responder imediatamente a chamadas e mensagens de texto, mesmo quando isso for
inconveniente.
A correria constante e a expectativa tácita
de estar sempre "ligado" profissionalmente e pessoalmente podem criar
um estado de alerta elevado. Essa hipervigilância aumenta significativamente o
estresse e a ansiedade, diz Joel Frank, psicólogo clínico de Los Angeles e
proprietário da Duality Psychological Services, na Califórnia, Estados Unidos.
De acordo com o relatório Stress in America
de 2023 realizado pela American Psychological Association, quase um quarto dos
adultos relatam sentir altos níveis de estresse após a pandemia de covid-19,
marcando um aumento de 19% desde 2019. Os adultos mais jovens são os mais
atingidos, com quase metade da geração Z e mais de um terço da geração do
milênio relatando sentir-se ansiosos ou estressados o tempo todo ou na maior
parte do tempo.
"A ansiedade, por sua vez, alimenta a
urgência, criando um ciclo em que um reforça o outro", explica Frank.
• Os
efeitos colaterais de estar “sempre ligado”
Fazer parte da cultura do "sempre
ligado" muitas vezes exige a realização de várias tarefas. No entanto,
pesquisas mostram que o cérebro humano não tem a arquitetura neurocognitiva
para realizar duas ou mais tarefas simultaneamente. Portanto, toda vez que
realizamos uma multitarefa, o cérebro fica mais lento e pode reduzir a
produtividade em até 40%.
Além disso, "a atração pela distração
que impulsiona a maioria das multitarefas pode ser difícil de ser
desligada", afirma Friederike Fabritius, neurocientista e autora de The
Brain-Friendly Workplace. "Como resultado, você pode achar difícil se
concentrar mesmo quando não está realizando multitarefas."
Enquanto isso, a superestimulação constante –
um contribuinte significativo para a cultura da urgência – dessensibiliza seu
sistema de dopamina. Em resumo, quanto mais superestimulado você estiver, menos
alegria poderá sentir, diz Fabritius.
Isso também impede o pensamento reflexivo.
Quando o cérebro está sobrecarregado pela necessidade constante de processar
informações e tomar decisões rapidamente, ele geralmente recorre ao pensamento
superficial. Isso compromete sua capacidade de se envolver em um trabalho
profundo, que exige longos períodos de concentração sem distrações, explica
Frank.
Com o tempo, a cultura da urgência também
pode ser prejudicial à saúde física. Um falso senso de urgência leva o corpo a
reagir como se estivesse em uma situação ameaçadora, ativando a resposta de
"lutar ou fugir". A respiração fica mais rápida, a pressão arterial e
a frequência cardíaca aumentam e você perde a capacidade de regular suas
emoções, diz David Rabin, neurocientista e cofundador da Apollo Neuro, uma
empresa de tecnologia de saúde com sede em São Francisco, nos Estados Unidos.
De acordo com Rabin, uma resposta de luta ou
fuga hiperativa contribui para a hipertensão, a privação do sono, o colesterol
alto e os distúrbios inflamatórios.
• Como
combater a cultura da urgência
Para evitar a armadilha da urgência, Frank
recomenda fazer uma pausa por alguns momentos antes de entrar em ação sempre
que algo surgir. "Isso permite que você dê um passo atrás e avalie se essa
demanda por sua atenção está alinhada com suas prioridades", diz ele.
Definir expectativas claras nos
relacionamentos pessoais e profissionais também pode ajudar a planejar,
priorizar e solucionar problemas sem induzir a uma falsa urgência, diz Peter
Economou, diretor do programa de Saúde Comportamental e Psicologia do Esporte
da Universidade Rutgers e autor do livro “Mindfulness Workbook for Beginners”
(em tradução livre, "Manual de atenção plena para iniciantes").
A melhor coisa que você pode fazer para lidar
com a cultura da urgência é se envolver regularmente em atividades que o
lembrem de que não há pressa, diz Rabin.
Ele recomenda "as quatro práticas de
controle" para se acalmar e se centrar sempre que se sentir apressado,
sobrecarregado ou superestimulado – respiração intencional consciente, escuta,
movimento e toque.
Estabelecer limites claros, inclusive os
digitais, também é fundamental para evitar a falsa urgência resultante de
expectativas irracionais, excesso de compromissos e multitarefas. Priorizar a
realização de uma única tarefa sempre que possível é outra estratégia eficaz
para obter um foco claro e aumentar a produtividade.
Se você acha difícil trabalhar em uma única
tarefa até a conclusão, Fabritius sugere usar blocos de tempo para se
concentrar exclusivamente em uma tarefa por um período específico antes de
passar para a próxima. "A satisfação de concluir cada bloco de tempo deve
lhe dar uma dose de dopamina, assim como a perspectiva de enfrentar a próxima
'nova' tarefa", diz ela.
Ida Taghavi, psicóloga clínica do
Williamsburg Therapy Group, em Nova York, recomenda a prática da atenção plena
para aumentar a consciência, a regulação emocional e a tolerância ao estresse.
A atenção plena é a consciência e a aceitação
sem julgamentos das experiências presentes. "Ela oferece uma oportunidade
de refletir e escolher respostas que consideramos mais eficazes e alinhadas com
nossas intenções e valores", explica Ida.
A atenção plena cria um amortecedor entre um
estímulo, como um pensamento, uma emoção ou uma sensação física, e nossa
resposta a ele. "Esse espaço interrompe reações habituais que podem ser
destrutivas, como desregulação ou evitação emocional, comportamentos
compulsivos ou padrões de pensamento negativo", diz Taghavi.
Além disso, "observar as experiências
internas sem resistência abre espaço para que elas passem inevitavelmente, o
que pode regular as emoções e aumentar a tolerância ao sofrimento", diz
Taghavi.
• Sedentarismo
e como ele impacta na saúde
O Ministério da Saúde brasileiro define o
sedentarismo (ou comportamento sedentário) como aquele em que se gasta pouca
energia e “envolve atividades realizadas quando se está acordado e sentado,
reclinado ou deitado”, diz o site governamental. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 47% dos brasileiros são
sedentários, um dos índices mais altos da América Latina.
Tanto o órgão de governo do Brasil quanto a
própria Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam que um estilo de vida
sedentário está associado a danos ao bem-estar geral das pessoas.
A OMS menciona ainda que a atividade física
regular ajuda a prevenir e controlar doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e
câncer. Também pode ajudar a reduzir os sintomas de depressão e ansiedade e
melhorar a concentração, o aprendizado e o bem-estar geral.
<><> Quanto de atividade física
uma pessoa deve fazer para não ser considerada sedentária?
"Um estilo de vida sedentário em excesso
pode ser prejudicial à saúde e aumentar o risco de doenças cardíacas, câncer e
diabetes tipo 2", alerta a OMS em suas Diretrizes sobre Atividade Física e
Hábitos Sedentários, um documento publicado em 2020 que incentiva as pessoas em
todo o mundo a se movimentarem.
A OMS recomenda pelo menos 150 a 300 minutos
de atividade aeróbica moderada por semana (ou o equivalente em atividade
vigorosa) para todos os adultos, e uma média de 60 minutos por dia para
crianças e adolescentes.
No entanto, a agência deixa claro que
qualquer quantidade de exercício físico é melhor do que nenhum – e quanto mais,
melhor. Ela também reconhece que toda atividade conta – desde esportes e
recreação, até movimentar-se para se deslocar ao trabalho ou tarefas
domésticas.
<><> As 11 dicas para abandonar o
estilo de vida sedentário
Segundo a OMS, cerca de 4 a 5 cinco milhões
de mortes poderiam ser evitadas, a cada ano, se as pessoas se tornassem mais
ativas fisicamente.
Ainda que abandonar um estilo de vida
sedentário e praticar esportes possa ser um desafio, a lista de ações abaixo
pode ajudar:
1. Busque motivação: escolha um programa de
exercícios que o mantenha incentivado, sugere o MedlinePlus (um serviço de
informações da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos). Ter uma
meta, como melhorar o estresse ou controlar um problema de saúde pode ajudar a
atingir o objetivo.
2. Começar devagar: essa dica é útil
especialmente para quem não se exercita há muito tempo. Isso também ajuda a
evitar lesões. "Uma caminhada rápida de dez minutos, duas vezes por
semana, é um bom começo", diz o MedlinePlus.
3. Escolha uma atividade física que você
goste: dessa forma, é mais fácil manter o exercício ao longo do tempo. Aulas de
dança, ioga ou caratê podem funcionar, por exemplo. Além disso, os aspectos
sociais desses grupos podem ser gratificantes e motivadores para sair do
sedentarismo, afirma a fonte médica.
4. Prefira as escadas ao elevador: esta é
outra maneira eficaz de incorporar a atividade física à rotina. Atitudes
semelhantes incluem caminhar para conversar com um colega de trabalho em vez de
enviar um e-mail e incluir pelo menos dez minutos de caminhada durante o
horário de almoço.
5. Pare o carro longe: o MedlinePlus também
sugere caminhar ou estacionar longe de onde você pretende ir, porque assim a
pessoa irá se movimentar mais.
6. Não fugir das tarefas domésticas: passar
aspirador de pó, cuidar do jardim, lavar o carro… As atividades rotineiras
também fazem a diferença.
7. Caminhe mais quando usa o transporte
público: Por exemplo, para quem viaja de ônibus, a dica é descer em um ponto
antes e caminhar o resto do caminho, diz o serviço médico norte-americano.
8. Reduza tempo de telas: "para a
maioria das pessoas, a melhor maneira de reduzir os comportamentos sedentários
é reduzir o tempo que passam assistindo à TV e usando o computador e outros
dispositivos eletrônicos", admite o MedlinePlus.
9. Levante-se a cada 30 minutos: a Mayo
Clinic, uma organização sem fins lucrativos de pesquisa e educação médica,
sugere pausas para ficar de pé e para evitar passar o dia todo sentado.
10. Caminhe enquanto fala ao telefone: a ação
é mais uma pequena mudança de rotina que se torna uma alternativa a passar todo
o tempo sentado, sugere a clínica.
11. Use uma mesa alta: trabalhar usando uma
bancada para ficar mais tempo de pé é uma opção para quem trabalha usando uma
mesa e precisa ficar sentado o dia todo.
O MedlinePlus enfatiza a importância de
procurar atendimento médico antes de iniciar um programa de exercícios.
Especialmente se a pessoa não tiver sido ativa recentemente ou tiver uma doença
crônica.
Fonte: National Geographic Brasil

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