Pablo Marçal inelegível por 8 anos pela
segunda vez: o que se sabe sobre nova decisão judicial
O influenciador digital e empresário Pablo
Marçal (PRTB), candidato derrotado na eleição para a Prefeitura de São Paulo no
ano passado, foi novamente condenado a ficar inelegível por oito anos, segundo
decisão judicial deste sábado (26/4).
Na sentença, o juiz Antonio Maria Patiño
Zorz, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, determinou ainda que Marçal pague uma
multa de R$ 420 mil por descumprimento de medida liminar.
Ao comentar a decisão, Marçal disse, em nota
por meio de sua assessoria de imprensa, que acredita que a sentença será
revertida.
"Essa decisão é temporária. Cumprimos
todos os requisitos legais durante a campanha. Confio na justiça e estou certo
de que vamos reverter", afirmou o influenciador.
Em fevereiro, o ex-coach já havia sido
condenado a oito anos de inelegibilidade, mas as penas não são comutativas.
Então, mesmo com a nova condenação, são contados apenas oito anos a partir da
eleição.
Na decisão publicada neste sábado, o
magistrado considerou Marçal culpado por "abuso no uso indevido dos meios
de comunicação, captação e gastos ilícitos de recursos e abuso de poder
econômico".
Segundo o juiz, Marçal cooptava colaboradores
para disseminar conteúdos em redes sociais e serviços de streaming, usando o
sistema de 'corte', com a publicação de vídeos curtos.
Através de concurso de cortes e de
premiações, conteúdo teria sido impulsionado de forma ilícita. E o pagamento
aos "cortadores" teria sido feito de uma forma que impede a
fiscalização pela Justiça Eleitoral da origem e destino dos recursos.
A multa de R$ 420 mil foi imposta, segundo o
juiz, por Marçal ter descumprido por 42 dias a determinação da Justiça de
suspensão temporária de seus perfis nas redes sociais até o fim da eleição, ao
manter ativa sua conta na plataforma Discord.
A ação foi movida pelo Partido Socialista
Brasileiro (PSB), legenda da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que
também disputou a prefeitura.
Tabata comentou a decisão deste fim de semana
nas redes sociais: "Marçal vive de vender o 'segredo pro sucesso'. Mas o
'sucesso' dele é baseado numa coisa só: o desrespeito às leis", escreveu a
deputada.
"Enquanto outros se calaram, por medo ou
interesse, fomos nós que denunciamos e levamos o caso à Justiça. Agora, decisão
atrás de decisão, fica clara a importância de termos enfrentado quem tentou
fraudar a eleição e enganar os eleitores."
• Condenação
em fevereiro
Em fevereiro, Marçal foi punido por abuso de
poder político e econômico, uso indevido de meios de comunicação e captação
ilícita de recursos na campanha eleitoral de 2024, por conta de um vídeo em que
prometeu apoio a candidatos a vereador que fizessem doações de R$ 5 mil para
sua campanha.
A condenação ocorreu em resposta a ações
abertas pelo PSB e PSOL, siglas respectivamente dos ex-candidatos à prefeitura
Tabata Amaral e Guilherme Boulos. As ações foram julgadas conjuntamente
O vídeo em que Marçal ofereceu apoio mediante
doações em Pix de R$ 5 mil foi publicado em setembro de 2024.
"Quero te fazer uma pergunta: você
conhece alguém que quer ser vereador e é candidato, que não seja de esquerda,
tá? De esquerda não precisa avisar. Se essa pessoa é do bem e quer um vídeo meu
para ajudar a impulsionar a campanha dela, você vai mandar esse vídeo e falar
'mano, olha que oportunidade'. Essa pessoa vai fazer o quê? Ela vai mandar um
um pix pra minha campanha, de doação. Pix de R$ 5 mil. Fez essa doação, eu
mando o vídeo", disse.
A condenação também foi determinada pelo juiz
da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, Antonio Maria Patiño Zorz. Sobre as
infrações, o juiz argumentou:
• Abuso
de poder político: Marçal teria usado as redes sociais para divulgar notícias
falsas sobre o fundo partidário e para realizar propaganda negativa contra os
adversários
• Abuso
de poder midiático: Para o juiz, o candidato teria usado sua relevância e
aptidão para distorcer "gravemente" o eleitorado, colocando-se como
vítima
• Captação
ilícita de recursos: O influenciador teria simulado que as doações seriam algo
simples, lícito e sem encargos — em vez de venda de apoio político, o que é
vedado pela legislação eleitoral.
À época, a assessoria de imprensa de Marçal
divulgou nota afirmando que sua defesa iria apresentar recurso.
"Gravei milhares de vídeos de apoio
político para candidatos a prefeito e vereadores em todo o país e estou em paz
por não ter feito nenhum vídeo em troca de apoio financeiro, conforme
demonstrado na prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral. Continuo
acreditando na Justiça e tenho certeza de que tudo será esclarecido durante o
processo de recurso", afirmava a nota.
• Outras
ações contra Marçal
Segundo o jornal Valor Econômico, Marçal é
alvo de cinco ações na Justiça Eleitoral.
Uma delas é a ação que trata dos
"cortes" de vídeos. Com eles, usuários que editassem e divulgassem
trechos que conquistassem grande engajamento eram remunerados.
Outra ação diz respeito a um laudo falso
divulgado pelo candidato do PRTB, o que fez com que sua conta no Instagram
fosse suspensa na véspera do primeiro turno.
Na ocasião, a campanha de Boulos entrou com
uma ação pedindo a prisão de Marçal por ter publicado um laudo falso — o que
foi comprovado por perícia da Polícia Civil — alegando que o candidato do PSOL
teria procurado ajuda médica após consumir cocaína.
Em novembro daquele ano, Marçal foi indiciado
pela Polícia Federal (PF) por conta do laudo.
No primeiro turno da eleição municipal em
2024, Marçal ficou em terceiro lugar, com 28,14% dos votos — portanto, não
passando para o segundo turno.
A eleição foi vencida por Ricardo Nunes
(MDB), que derrotou Guilherme Boulos e conseguiu se reeleger.
Marçal não teve tempo no horário eleitoral
gratuito porque seu partido, o nanico PRTB, não cumpria os requisitos da
legislação para tal. A maioria da receita da campanha do influenciador veio de
doações.
Na campanha, uma das cenas mais marcantes o
envolvendo foi quando se tornou alvo de uma cadeirada do candidato do PSDB José
Luiz Datena, durante um debate.
A agressão ocorreu depois que o influenciador
citou uma denúncia de assédio sexual contra Datena — que saiu de onde estava e
lançou uma cadeira contra Marçal.
Após a derrota no primeiro turno, Marçal
declarou que 2026 estava "logo ali".
"Eu prometo ser combativo na política
brasileira nos próximos 12 anos. Foi o tempo que eu decidi no meu coração para
servir à política", disse a jornalistas.
Marçal declarou à Justiça eleitoral um
patrimônio de R$ 169 milhões — o maior dentre os candidatos ao pleito em São
Paulo.
Na época, ele e sua holding (empresa
controladora de participações em outras companhias) figuravam como sócio ou
administrador de pelo menos 26 empresas, de ramos variados.
¨
Bolsonarista chora ao
receber pena de 7 anos de cadeia nos EUA
George Anthony Devolder Santos deu golpes
variados ao longo de sua vida. Filho de imigrantes brasileiros, gay assumido,
ele conseguiu um "milagre" em 2022 ao derrotar um democrata na
disputa por um distrito eleitoral em Long Island, estado de Nova York.
Trumpista e bolsonarista assumido, parecia
uma promessa de renovação navegando na oposição a Joe Biden -- onda que
eventualmente levou Trump de volta à Casa Branca.
Nesta sexta-feira, 25, no entanto, Santos
chorou ao receber a sentença de 7 anos e 3 meses de cadeia da juíza Joanna
Seybert.
Ninguém consegue dizer se foram lágrimas
verdadeiras, uma vez que a própria juíza constatou: "Você se elegeu com
suas palavras, a maioria das quais eram mentiras".
<><> Castelo de cartas
Pouco depois de assumir o cargo em
Washington, o castelo de cartas construído por George Santos começou a ruir,
depois de reportagens do New York Times e de outros órgãos de mídia.
Alvo de investigação da promotoria de Nova
York e do próprio Congresso, ele entrou para a História ao se tornar o sexto
deputado expulso do Capitólio pelos colegas.
Além da pena de 7 anos e três meses, Santos
terá de devolver U$ 578.752,94 aos cofres públicos.
A lista de acusações formais a ele é extensa,
de acordo com a promotoria:
Santos apresentou relatórios fraudulentos à
comissão de valores mobiliários, desviou fundos de doadores de campanha, roubou
identidades, cobrou cartões de crédito sem autorização, obteve
seguro-desemprego por meio de fraude e mentiu em relatórios à Câmara dos
Representantes dos EUA.
<><> Do Holocausto à tragédia do
clube noturno
As mentiras políticas que o levaram à eleição
deixaram claro tratar-se de um mitômano, mentiroso compulsivo: o bolsonarista
tentou costurar sua história pessoal ao Holocausto, à tragédia do 11 de
Setembro e ao ataque ao clube noturno gay de Orlando em que foram mortas 49
pessoas.
Santos também disse que tinha sido a estrela
do time de vôlei universitário da faculdade e que se dedicou tanto ao esporte
que havia colocado próteses nos dois joelhos. Tudo história da carochinha,
assim como os empregos que ele teria tido na Goldman Sachs e no Citigroup --
formas que ele encontrou de se "vender" como um infalível ator do
mercado financeiro.
John Durham, o promotor que chefiou as
investigações, resumiu: Hoje, George Santos foi finalmente responsabilizado
pela montanha de mentiras, roubos e fraudes que perpetrou. Para o réu, era o
dia do julgamento, e para suas muitas vítimas, incluindo doadores de campanha,
partidos políticos, agências governamentais, órgãos eleitorais, seus próprios
familiares e seus eleitores, é o dia da justiça.
Santos foi eleito na segunda tentativa de
chegar ao Congresso, com 145.824 votos.
<><> Toda sorte de golpe
A fraude eleitoral de Santos começou durante
a campanha de 2022, quando ele e sua tesoureira Nancy Marks falsificaram
informações junto à Comissão Eleitoral Federal (FEC) com o objetivo de
qualificar a campanha a receber fundos partidários.
Santos simulou empréstimos de 11 familiares à
sua campanha com o objetivo de atingir a meta de doações de 250 mil dólares de
terceiros em um trimestre. O Partido Republicano se baseia em relatórios do FEC
para garantir a viabilidade financeira de seus candidatos. Santos também mentiu
que havia emprestado 500 mil dólares à própria campanha, quando tinha
depositados em suas contas bancárias apenas U$ 8 mil.
Entre julho de 2020 e outubro de 2022, George
Santos roubou informações pessoais de seus doadores genuínos de campanha,
através das quais fez transferências de cartões de crédito, inclusive para uso
pessoal. De acordo com a acusação, ele:
procurou vítimas que sabia serem idosos
sofrendo de comprometimento ou declínio cognitivo
Na campanha de 2022, o candidato montou um
esquema de doações que em tese seriam utilizadas para propaganda eleitoral.
Dois doadores transferiram U$ 25 mil cada, mas George Santos desviou o dinheiro
para gastos pessoais.
Durante a pandemia de covid, embora
formalmente funcionário de uma empresa de investimentos baseada na Flórida,
George Santos recebeu ilegalmente U$ 24 mil em seguro-desemprego.
O candidato também mentiu oficialmente e por
escrito em sua declaração de bens: que recebeu U$ 750 mil em salários de sua
própria empresa, a Devolder Organization LLC; que tinha recebido mais de U$ 1
milhão em dividendos da Devolder; que tinha mais de U$ 100 mil em sua conta
bancária pessoal; que tinha mais de U$ 1 milhão em poupança. Era tudo mentira.
Apesar de todas estas acusações, duas semanas
antes de ser cassado pelos próprios colegas na Câmara, George Santos recebeu
uma comitiva de bolsonaristas em seu gabinete, liderada por Eduardo Bolsonaro.
A comitiva foi até Washington denunciar
"perseguição" ao bolsonarismo no Brasil, a mesma estratégia adotada
por Santos antes de se declarar culpado.
<><> Vai passar ao menos dois
anos na cadeia nos EUA
O ex-deputado estadunidense George Anthony
Devolder Santos, um bolsonarista de primeira hora, será sentenciado hoje a no
mínimo dois anos de cadeia.
Caberá à juíza Joanna Seybert determinar se
ele passa a cumprir pena imediatamente ou poderá se apresentar em data futura.
Os 24 meses de cadeia são um pedido da
própria defesa à juiza, depois que Santos se declarou culpado das acusações de
furto agravado de identidade e fraude eletrônica.
Já a promotoria pediu que a pena mínima seja
de 87 meses, para impedir que o público "seja alvo de seus crimes
novamente".
Filho de pais brasileiros, Santos teve uma
carreira meteórica. Foi eleito deputado em 2022 por um distrito do estado de
Nova York, numa campanha que atraiu atenção porque os dois candidatos assumiram
ser gays. Mas George logo se tornou alvo de denúncias sobre as mentiras que
contou durante a campanha, inclusive sobre ser de ascendência judaica.
<><> Holocausto e 11 de setembro
Ele inventou ter avós ucranianos que teriam
fugido para a Bélgica e de lá para o Brasil,
para escapar do Holocausto. Disse que a mãe brasileira havia sobrevivido
aos ataques de 11 de setembro nas Torres Gêmeas, em Nova York, mas Fátima nunca
trabalhou no mercado financeiro: foi cuidadora e empregada doméstica.
George Santos, nascido em Nova York, viveu
parte da juventude no Brasil. Depois que passou a ser investigado pela mídia
estadunidense, descobriu-se que ele havia sido acusado de falsificar a
assinatura em cheques em Niterói, no Rio de Janeiro, num caso que permanece em
aberto.
Um vídeo divulgado pela Globo demonstrou que
Santos já havia se apresentado como a drag queen Kitara Ravache.
Quando usava como identidade o nome Anthony
Devolder, Santos tomou o empréstimo de um amigo nos Estados Unidos para dar
entrada em um imóvel. Depois, sumiu.
"Não acredito em uma palavra que sair da
boca dele", disse o homem enganado, Peter Hamilton, ao New York Times.
<><> Recebeu brasileiros duas
semanas antes de ser cassado
Além de investigado pela promotoria de Nova
York, o deputado também foi alvo de seus próprios colegas, que o expulsaram do
Congresso por desviar recursos de campanha.
Ele arrecadou cerca de 50 mil dólares em nome
de um comitê de ação política de nome Redstone Strategies, mas usou o dinheiro
para cobrir gastos pessoais, inclusive aplicação de botox e viagem para Las
Vegas.
Além da sentença a ser proferida hoje, George
Santos terá de devolver 373 mil dólares a suas vítimas.
Mentiroso compulsivo e golpista em série,
Santos usou uma tática bolsonarista para tentar escapar da punição: ele se
disse perseguido político.
Depois que foi preso, em 10 de maio de 2023,
e saiu depositando fiança de 500 mil dólares, Santos tentou faturar com sua
fama nas redes sociais. Até hoje, se diz fã de Donald Trump, que tem o poder de
eventualmente perdoá-lo.
Mesmo depois da prisão, George Santos ainda
deputado recebeu em Washington uma delegação de deputados brasileiros liderada
por Eduardo Bolsonaro. Dela fizeram parte os senadores Magno Malta e Jorge Seif
e os deputados Altineu Côrtes, Delegado Ramagem, Júlia Zanatta, Capitão Alberto
Neto e Gustavo Gayer, todos do PL.
Na época Eduardo explicou em vídeo o motivo
do encontro: Trazer um pouco da realidade do que está acontecendo no Brasil em
termos de censura, liberdade de expressão, liberdade de imprensa e imunidade
parlamentar.
Duas semanas depois, a Câmara expulsou George
Santos, num voto considerado histórico: foi apenas o sexto deputado a ser
defenestrado por colegas, por 311 votos a 114, com 105 republicanos
"traindo" o colega de partido.
Fonte: BBC News Brasil

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