terça-feira, 29 de abril de 2025

Donald Trump – um menino mimado

O presidente Donald Trump parece um menino que ficou emburrado após ter sido contrariado por algum acontecimento, e que tem em sua mãe superprotetora a chance de se vingar. Esse acontecimento, poder-se-ia dizer, seria o fato de ter perdido a reeleição em 2020 para Joe Biden.

Agora ele voltou com mais poder ainda, sob os braços da grande mãe estadunidense, e resolveu tocar fogo no parquinho! Sob os olhares atentos da parcela mais radical dos seus eleitores, hipnotizados por promessas megalomaníacas como a “MAGA”, Donald Trump parece tentar partir para o tudo ou nada, talvez objetivando tornar-se um futuro ditador no mundo distópico que se aproxima.

Ao que tudo indica, Donald Trump não tem a intenção de deixar o poder facilmente. De fato, nas últimas semanas ele afirmou que pretende encontrar um meio de concorrer à reeleição, apesar da vedação constitucional existente. Hoje, após o “tarifaço” contra o mundo e os protestos contra seu governo em cidades americanas, me parece que a terceira objeção à tentativa de Donald Trump buscar um terceiro mandato é a mais provável.

Nesse contexto, não deixa de ser interessante ver um baluarte da antiga ordem neoliberal-representativa, como Francis Fukuyama, principal teórico do fim da história, se escandalizar com as medidas protetivas que Donald Trump adotou contra diversos países do globo, uns mais afetados, como o pobre Lesoto na África, o Vietnã, a Malásia etc, que outros, como a rica Inglaterra ou o próprio Brasil, além dos que não foram diretamente afetados como a ditadura russa de Vladimir Putin e seu país-satélite Belarus.

Será que Francis Fukuyama e seus pares acharam mesmo que o neoliberalismo radical dos últimos 40 anos iria dar em outra coisa?

Em uma entrevista recente, Francis Fukuyama admitiu que o déficit comercial americano, baseado numa política econômica de dólar relativamente fraco em comparação a outras moedas de economias fortes, sempre foi uma estratégia imperial de domínio do dólar como moeda de reserva mundial.

Ora, o escândalo, para Francis Fukuyama, é a mudança do status quo dos Estados Unidos de nação liberal-representativa qualificada como única superpotência – embora não mais a principal potência comercial do mundo, posto atualmente ocupado pela China – para nação dominante no cenário global agora sob o controle de um ditador (Donald Trump). É claro que Francis Fukuyama sabe que o mundo não é mais aquele mundo bipolar que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, e ele sabe, também, as consequências, para o bem e para o mal, que advirão de um mundo multipolar.

Contudo, para Francis Fukuyama, ao destruir a ordem neoliberal-representativa que tem regido o planeta nos últimos 40 anos, Donald Trump está acelerando um efeito nefasto do neoliberalismo, a saber, a hiperindividualização dos estados nacionais modernos, quiçá a retomada da regionalização de zonas de influência por potências que ainda não retomaram o alcance militar que possuíam no período das duas grandes guerras, como Rússia e Alemanha, ou mesmo pela China, que caminha com prudência para assumir o controle total do Oriente.

Exsurge das entrelinhas da entrevista de Francis Fukuyama a hipocrisia de que se os Estados Unidos tivessem permanecido como os senhores do mundo, ou seja, se Donald Trump tivesse mantido o status quo da potência hegemônica estadunidense, em que pese todo o mal que já causaram e continuam a causar, a ordem neoliberal-representativa conseguiria mitigar o caos político, econômico e social por mais algumas décadas, até que os teóricos da globalização, como ele, pudessem antever uma solução para o “beco sem saída” que ora se apresenta para o capitalismo técnico-financeiro sem fronteiras.

Para o horror de Francis Fukuyama, Paul Krugman, Joseph Stiglitz e outros, Donald Trump é o “outsider” que os pais fundadores americanos temiam tanto, a ponto de decidirem estabelecer os famosos pesos e contrapesos para a política estadunidense. Nesse sentido, para Donald Trump a política só tem sentido se ele for o protagonista, não importando as elites que comandaram o país ao longo dos últimos 250 anos.

É por isso que ele tanto se identifica com outros ditadores e deles precisa. Com efeito, desde que o mundo é mundo, nenhuma potência imperial governou, de fato, sem a aquiescência de ditadores regionais. Logo, ele precisa de Vladimir Putin, Viktor Órban, Giorgia Meloni, Javier Milei etc.

Mas existe um ponto fora da curva que está deixando a criança emburrada de muito mal humor: a China. Esta se recusou terminantemente a ceder às chantagens e ameaças do menino emburrado, de cabelo cor de milho e bronzeado artificial. Pelo contrário, ela tem batido de frente contra a nova oligarquia estadunidense tecnomilitar. O resultado tem sido péssimo para as chamadas “sete magníficas”, especialmente para a Apple, Amazon, Meta e Tesla, que viram suas ações desabarem mais de 10% desde o início do “tarifaço”.

O resultado é que Donald Trump foi pressionado por elas e por parte dos integrantes do seu partido, que já dá sinais de insatisfação com a insanidade do seu “imperador”, e congelou as tarifas de produtos como smartphones, computadores e alguns outros eletrônicos, além de semicondutores, por 90 dias. É um pequeno recuo, como bem frisou a China, mas de um grande significado.

Basicamente, este recuo indica que Donald Trump já está ultrapassando a linha que divide a ideologia naziprotecionista defendida por Musk, Bezos, Zuckerberg etc e as ambições deles em termos econômicos de dominação global. Ora, o que os novos candidatos a senhores do mundo pretendem é colocar todos os países aliados de joelhos, como vassalos, e os outros países como escravos. Nunca foi a intenção deles criar uma guerra comercial de tal magnitude que interrompa as cadeias produtivas globais. Não à toa Elon Musk já xingou o Secretário econômico de Trump, Peter Navarro, de “imbecil”.

Infelizmente para Donald Trump, que demonstra arrogância desmedida sempre que vai anunciar alguma medida punitiva, as coisas pioraram essa semana, com a decisão da Universidade de Harvard, primeiro, e depois de algumas outras, a exemplo de MIT, Princeton, John Hopkins e até a Columbia (que no primeiro momento cedeu às pressões), de desafiar as tentativas desse governo de ultradireita de amordaçar um dos principais baluartes da liberal-democracia americana, que são as suas universidades.

Conquanto as ameaças sejam realmente sérias, indo de cortes bilionários de verbas até a proibição de matrícula de alunos estrangeiros, parece que as universidades fincaram pé com base na primeira-emenda americana, que protege a liberdade de expressão, religião, imprensa e o direito de reunião, bem assim impede que o Congresso crie leis que limitem esses direitos. Resta ver no que vai dar.

Fato é que Donald Trump, como um menino mimado e sem qualquer lampejo de empatia, bem ao gosto da mãe superprotetora que inculca na cabeça de seu filho, através da linguagem e de atos, que ele é o mais especial entre os mortais, parece dar sinais de impaciência ante os ocorridos desde a sua posse. Se por um lado ele ataca os fundamentos da liberal-democracia, tanto interna como externamente, por outro enfrenta obstáculos que estão incomodando-o nitidamente.

É verdade que muitos países correram para firmar acordo de subserviência. Contudo, Putin não acabou a guerra com a Ucrânia. A ONU já fala abertamente sobre o genocídio de Israel contra a Palestina. A China acabou de vetar a compra de dezenas de aviões do tipo Boeing, como represália, e vetou a transferência das essenciais “terras raras” (componentes químicos para a fabricação de produtos de alta tecnologia).

A própria União Europeia já declarou ter um plano de retaliação tarifárica pronto para o caso de Donald Trump voltar a escalar a questão, vencidos os 90 dias que ele concedeu como “benesse” a seus vassalos que não retaliaram. Internamente, milhares de manifestantes tem se reunido em cidades dos EUA, para protestar contra Donald Trump.

É, a vida não será fácil para o protoditador Donald Trump. Mas isso não significa que ele irá desistir. Pelo contrário. Para narcisistas como ele, as objeções à sua vontade serão enfrentadas com mais violência. Se eu estiver certo, e como a própria história demonstra, o castelo do imperador começará a desmoronar primeiro internamente: já estamos vendo desavenças entre as equipes de trabalho dele e a perda de apoio popular, que irá se intensificar assim que as medidas insanas de tarifas impactarem em cheio o bolso dos seus seguidores.

Mas a ordem internacional terá um peso bastante importante, também, se conseguir pressioná-lo na esfera econômica e deixar de “beijar a bunda dele” (“kissing my ass”), como ele mesmo se vangloriou.

¨      Como o tarifaço de Trump poderia acelerar a aprovação do acordo entre Mercosul e União Europeia. Por Lucila Runnacles

Por conta da nova guerra tarifária de Donald Trump, agora mais do que nunca, há mais chances do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia sair realmente do papel.

Se manter no mercado norte-americano pode ficar mais difícil em breve para alguns países, por isso a Espanha é uma das nações que está de olho no Brasil e deseja seguir conquistando consumidores do nosso país.

A diretora comercial da vinícola espanhola Pago Casa del Blanco diz que a sua empresa já deixou de exportar aos Estados Unidos por conta das novas tarifas impostas por Trump e que a meta agora é defender e proteger o produto espanhol. “Nosso foco será vender dentro da Europa mesmo, e para a América Latina também”, diz Paula Sánchez.

Quem acredita que o atual cenário comercial mundial pode beneficiar tanto o Brasil como a Europa, se o acordo Mercosul-União Europeia or validado, é o presidente da Fundação Euroamérica, Ramón Jáuregui. Ele explica que “a narrativa em torno do debate é que todos os líderes mundiais estão dizendo que as guerras tarifárias são ruins e que todos perdemos com isso. Então, não há dúvidas de que se o acordo for ratificado beneficiará muito a região”.

Essa postura também é defendida pela eurodeputada espanhola Hana Jalloul. “Diante do protecionismo dos Estados Unidos, o Mercosul pode sair mais fortalecido se conseguir capitalizar seu papel como parceiro estratégico da Europa em um momento de reconfiguração do comércio global”, sintetiza.

Para Jalloul, representante do Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE), o contexto de tensões comerciais globais impulsionado pela política tarifária dos Estados Unidos fez com que a necessidade de acelerar acordos estratégicos seja ainda maior.

<><> Tradição vinícola

Com uma produção de 33,6 milhões de hectolitros, a Espanha está entre as três nações que mais produzem vinhos no mundo. Além disso, o país ibérico exporta cerca de 66% dessa produção.

Segundo a Federação Espanhola de Vinho (FEV), no último ano, a Espanha vendeu 10 milhões de litros ao Brasil. A exportação de vinhos espanhóis ao mercado brasileiro triplicaram desde 2015 e se espera um aumento ainda maior se o acordo comercial entrar em vigor.

“A situação com os Estados Unidos está bem tensionada por conta das novas taxas que o governo americano quer impor aos produtos da União Europeia. Abrir novas oportunidades sempre é importante e o Brasil é um mercado muito relevante, já que a população é grande e o país tem um bom intercâmbio cultural com a Espanha¨, afirma uma fonte da FEV.

<><> Azeite de oliva

Se no quesito vinho a Espanha ocupa a terceira posição, em azeite de oliva o país é o líder mundial; é responsável por 42% da produção do planeta.

Depois de Portugal, a Espanha é o segundo maior fornecedor de azeite de oliva à mesa dos brasileiros. Esse é outro setor que está de olho no mercado consumidor do Brasil. Segundo a Associação Espanhola da Indústria e Comércio Exportador de Azeites de Oliva (Asoliva), o Brasil compra cerca de 25 mil toneladas de azeite de oliva de origem espanhol por ano.

“O Brasil é uma economia tão importante para nós que este ano faremos campanhas de marketing somente em cinco países e um deles é o Brasil. Esse é um mercado muito interessante e também prioritário para nós”, afirma Rafael Pico, diretor da Asoliva.

Com relação ao tratado com o Mercosul, Pico diz que a filosofia da associação que preside é a do livre mercado. “Por isso qualquer acordo que for feito entre a União Europeia e o Mercosul nós vamos comemorar.

Recentemente o Brasil zerou a tarifa de importação do azeite de oliva virgem e o ideal seria que isso também se estendesse a outros tipos de azeite”, deseja Pico.

A guerra tarifária promovida por Donald Trump, ao mesmo tempo em que ameaça, abre uma janela de oportunidades para potenciar novas parcerias comerciais. Entretanto, no caso do esperado acordo Mercosul-União Europeia, ele precisa primeiro ser ratificado pelos parlamentos de todos os países envolvidos.

Jáuregui faz a sua aposta e acredita que isso poderia acontecer ainda no final deste ano ou em janeiro de 2026.

“Hoje em dia, quando alguém diz que não está a favor desse tratado, de certa maneira está dizendo que aposta pela guerra comercial. Acho que a Europa, de uma forma bem direta, está tentando mostrar ao mundo outra maneira de se relacionar economicamente e comercialmente com o resto de países, apresentando um contra modelo à estratégia de Trump”, finaliza o diretor.

¨      A semana do presidente Trump: começa com dólar caindo e termina prendendo juíza. Por Simone Mateos

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua tumultuando a economia global – sobretudo a de seu país – e desafiando a independência de poderes, instituições e nações. Esta semana, ele foi mais uma vez obrigado a retroceder e baixar o tom da sua guerra comercial. Mas há sinais de que os investidores estão começando a preferir lugares com regras menos instáveis.

Seus insistentes ataques e ameaças de demitir o presidente do Federal Reserve (Fed) por ele se negar a baixar as taxas de juros, derrubaram na segunda-feira (21/04) não só as bolsas norte-americanas, como o dólar. A independência do Fed é considerada sagrada por Wall Street.

Já na terça-feira (22/04), o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a guerra comercial reduzirá o crescimento global em cerca de US$ 1 trilhão, que terá impacto de longo prazo e que ameaça a estabilidade financeira global. No dia seguinte, o secretário do Tesouro norte-americano defendeu que as missões do FMI e do Banco Mundial deveriam passar por profundas reformas.

Ao longo da semana, como na anterior, o rendimento dos títulos da dívida pública dos Estados Unidos caiu ligeiramente. Analistas avaliam que a queda simultânea das ações, do dólar e dos títulos é sinal claro de fuga de investidores do país. A tendência já ganhou, até o nome de “negociação de venda da América”, diz o jornal britânico Guardian.

Diante das reações negativas, ainda na terça-feira, Trump mais uma vez retrocedeu e anunciou que reduziria substancialmente as tarifas contra a China e que não demitiria o presidente do Federal Reserve. As bolsas se recuperaram.

<><> Blefe desmentido

Entusiasmado com o poder de suas palavras, na quarta-feira (23/04), ele acrescentou que estava negociando com os chineses, com quem conversa “todos os dias”. No dia seguinte, porém, ele foi categoricamente desmentido por Pequim. O governo chinês garantiu não haver atualmente qualquer negociação em andamento entre os dois governos.

Prosseguiu também a chantagem financeira de Trump para calar os críticos e tentar impor um discurso único na sociedade norte-americana. É o caso do congelamento de verbas e subsídios federais para universidades onde ocorrem protestos pró-Palestina, para organizações da sociedade civil que o criticam e para governos estaduais que se negam a colaborar com a política de perseguição aos imigrantes.

Esta semana, no entanto, a Associação de Advogados e a Universidade de Harvard entraram na Justiça contra o congelamento. No caso de Harvard, a suspensão dos repasses foi por ter se negado a submeter sua seleção de alunos e de professores à aprovação do governo federal, que exige informes de posicionamento político de vários deles.

<><> 150 universidades se articulam

Além disso, 150 reitores assinaram um documento contra a intervenção federal nas instituições de ensino federal. Apesar disso, a maioria das universidades vem aceitando fazer muitas concessões às pressões de Trump.

Mesmo Harvard já fez demissões por pressões e, quinta-feira (24/04), a Universidade Coernell cancelou um concerto da cantora R&B Kehlani, por ela ter dito publicamente “Viva a Intifada”. A diversidade de opiniões está proibida no país que se advoga “a terra da liberdade”.

Também na quinta-feira, a guerra de Trump contra as políticas de igualdade chegou ao cúmulo de cancelar um projeto de tratamento de esgoto bruto em área residencial do Alabama. O projeto se destinava a um bairro pobre, de maioria negra, e isso bastou para considerá-lo parte das políticas de diversidade, equidade e inclusão, que o governo decretou ilegais.

O meio ambiente também esteve na mira, com a assinatura de decretos que simplificam e aceleram o licenciamento de projetos relacionados à combustíveis fósseis e à mineração em águas internacionais profundas.

Enquanto as pesquisas mostram que a aprovação do presidente cai lentamente – de 52% para 45% em três meses – Trump aposta em ganhar novos aliados entre os bilionários. Ee ofereceu um jantar aos 220 maiores investidores da $TRUMP, sua principal criptomoeda. Segundo o New York Times, o convite “é, na prática, uma oferta de acesso à Casa Branca em troca de investimento em suas moedas virtuais”.

<><> Prisão de juíza

Também se manteve a guerra à imigração, as disputas legais e os desafios à Justiça. Trump pede à Suprema Corte que restabeleça a proibição de tropas transgênero nas Forças Armadas após a proibição ter sido suspensa por vários tribunais.

Mas foi na sexta-feira (25/04) que os desafios do governo federal à Justiça dos Estados Unidos atingiram patamares inéditos. Nesse dia, o FBI prendeu uma juíza sob a acusação de obstruir a prisão de um imigrante mexicano acusado de três agressões leves.

Segundo o diretor do FBI, juíza Hannah Dugan, de Milwaukee, teria escoltado o imigrante para sair de seu tribunal pela porta lateral do júri a fim de evitar sua prisão pelos agentes federais do país. Ela foi liberada em custódia no mesmo dia, mas a demonstração de força estava feita. A guerra judicial, em todas as frentes, está longe de terminar.

 

Fonte: Por André Márcio Neves Soares, em A Terra é Redonda/Opera Mundi

 

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