Acordo
extrajudicial acelera reparação a anistiados políticos
A
Advocacia-Geral da União (AGU) firmou acordo com um escritório de advocacia do
Nordeste para permitir que pedidos de reparação por danos morais a anistiados
políticos sejam analisados pela via extrajudicial. De acordo com a AGU, "o
objetivo é prevenir litígios e dar celeridade aos processos de apreciação de
demandas de pessoas que tiveram a condição de anistiado político reconhecida
pela União".
O
acordo foi realizado pela Coordenação Regional de Negociação da 5ª Região, que
atua em seis estados da região, com um escritório que tem dezenas de anistiados
residentes ali. O termo consensual define a forma como as ações devem ingressar
nas unidades do braço jurídico do Estado, os documentos necessários e o relato
sobre a situação que gerou o reconhecimento de anistia.
Atualmente,
pela Lei n° 10.559, de 13 de novembro de 2002, para ser reconhecido como
anistiado político é preciso enquadrar em algumas condições como por exemplo,
atingidos por atos institucionais ou complementares; punidos com transferência
para localidade diversa daquela onde exerciam suas atividades profissionais;
punidos com perda de comissões já incorporadas ao contrato de trabalho ou
inerentes às suas carreiras administrativas; ou compelidos ao afastamento da
atividade profissional remunerada, para acompanhar o cônjuge. A lei também
estabelece como será feita a indenização, que pode ser em prestação única ou em
mensal, permanente e continuada, asseguradas a readmissão ou a promoção na
inatividade.
De
acordo com a AGU, os acordos firmados têm potencial em eliminar etapas do
processo e permitir que as demandas tramitem em menos tempo e com custos
menores, se comparado ao processo normal. Isso se deve ao fato de que na
tramitação extrajudicial, os casos são levados a juízo somente para homologar e
expedir a requisição de pagamento.
<><> Como
funciona
O
acordo para análise extrajudicial poderá ser replicado nas Coordenações
Regionais de Negociação de todo o país, segundo a AGU. Em nota, a procuradora
Nacional da União de Negociação da AGU, Clara Nitão, explica que esse modelo
vai beneficiar a todos. "O ineditismo do acordo firmado na 5ª região está
no fato de a AGU ter criado, em entendimento com magistrados e escritórios de
advocacia, um fluxo para dar celeridade aos pedidos dos anistiados
políticos", destacou.
Segundo
a coordenadora-regional de Negociação da 5ª Região, Katarine de Faria, "o
que se pretende é justamente traçar regras e procedimentos para a fluidez do
fluxo das demandas de reparação de danos morais, tendo como causa o
reconhecimento da condição de anistiado político, sem que seja necessária a
judicialização".
<><> Revisão
da Lei de Anistia
Para
perdoar os crimes políticos realizados entre setembro de 1961 e agosto de 1979,
foi aprovada a Lei da Anistia em 1979. A lei concedeu anistia a todos que
cometeram crimes políticos ou conexos durante esse período. O advogado
constitucional e administrativo Alessandro Soares defende que "com o
advento da Constituição de 1988, tornou-se evidente que o Supremo Tribunal
Federal (STF) precisaria, em algum momento, analisar a constitucionalidade
dessas normas".
De
acordo com o especialista, o principal ponto a ser visto é se a interpretação
que estendia a anistia aos agentes estatais responsáveis por crimes comuns,
como sequestro, lesão corporal, tortura, homicídio e ocultação de cadáver é
compatível com o que é previsto na Constituição. "A solução proposta pelo
relator visava encerrar rapidamente o debate sobre a punição penal de agentes
da repressão, priorizando a "superação" do passado por outros meios,
como o acesso a documentos históricos e a garantia do direito à memória. Nas
palavras do ministro Eros Grau: "É necessário não esquecermos, para que
nunca mais as coisas voltem a ser como foram no passado". Para ele, o
retorno ao passado seria permitido apenas para lembrar, não para punir",
afirma.
Para
o advogado, essa posição do STF precisa ser ratificada devido às ações recentes
contra o Estado como planos de golpe de Estado, sequestro e assassinato de
autoridades, incluindo de ministro da Suprema Corte. "(Essas ações)
evidenciam que a omissão de punir agentes estatais que cometeram crimes atrozes
reforça a necessidade de revisão dessa postura. Vivemos, atualmente, em um
contexto histórico diferente, no qual não há mais espaço para ilusões sobre o
processo de conflito político. Neste cenário, torna-se imprescindível que o STF
reanalise a Lei da Anistia, atribuindo-lhe uma interpretação conforme à
Constituição de 1988 e garantindo o cumprimento de tratados e convenções
internacionais", defende Soares.
¨ Marcelo Rubens Paiva critica fala de Hugo Motta sobre o
8 de janeiro
Marcelo
Rubens Paiva, autor do livro "Ainda estou aqui" que deu origem ao
filme e filho do ex-deputado federal Rubens Paiva, criticou a entrevista do
presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB)
à rádio Arapuan FM, de João Pessoa. Em suas redes sociais, Marcelo afirmou:
"Novo presidente da Câmara demonstra que
o Brasil continuará no atoleiro e nunca alcançará a democracia plena. O
desequilíbrio no caso não é das penas, é dele mesmo. Motta diz que 8/1 não foi
tentativa de golpe e critica penas aplicadas pelo STF", afirmou em
publicação em uma rede social neste fim de semana.
O
autor criticou as falas do novo presidente da Casa durante a entrevista
concedida à rádio Arapuan FM, de João Pessoa, quando declarou que o episódio do
oito de janeiro de 2023 não foi uma tentativa de golpe.
"Foi
uma agressão às instituições, uma agressão inimaginável, ninguém imaginava que
aquilo pudesse acontecer. Ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer.
Querer dizer que foi um golpe? Golpe tem que ter um líder, golpe tem que ter
uma pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as
Forças Armadas. E não teve isso. Ali foram vândalos, baderneiros, que queriam
demonstrar sua revolta achando que aquilo ali poderia resolver talvez com o não
prosseguimento do mandato do presidente Lula", disse em entrevista.
Motta
também criticou as penas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
"Você não pode penalizar uma senhora que passou na frente lá do Palácio,
não fez nada, não jogou uma pedra e receber 17 anos de pena para regime
fechado. Há um certo desequilíbrio nisso. Nós temos de punir as pessoas que
foram lá que quebraram que depredaram, essas pessoas sim, precisam e devem ser
punidas para que isso não aconteça novamente. Mas entendo que não dá para
exagerar no sentido das penalidades com quem não cometeu atos de tanta
gravidade", afirmou.
Em
outras entrevistas, Motta afirmou que o
ex-presidente Jair Bolsonaro não colocou como condição de apoio que o novo
presidente da Casa apoiasse a Lei da Anistia que o PL busca aprovar no
Congresso, mas disse que Bolsonaro pediu para que Motta não atrapalhasse a
tramitação do projeto na Câmara.
¨ A volta do Judiciário em ano de embates
Os
Três Poderes estavam presentes na abertura do ano do
Judiciário que
terá muitos desafios e possíveis embates. A sessão solene no plenário do
Supremo Tribunal Federal (STF) contou com a presença do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, do presidente do Senado,
Davi Alcolumbre (União-AP), do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta
(Republicanos-PB), do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e do
presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto
Simonetti, recepcionadas pelos 11 ministros da Corte.
O
ano começa com uma controvérsia: o poder do Congresso para liberar e executar
emendas. Por trás dos discursos amenos da solenidade, um clima de acomodação no
espaço e prerrogativas de cada poder ameaçam a harmonia.
O presidente do STF,
ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que os Três Poderes do país são
independentes e harmônicos e estão unidos pelos princípios da Constituição.
"Aqui estamos, os presidentes dos Três Poderes. O presidente Lula, que foi
eleito com mais de 60 milhões de votos. O presidente Davi Alcolumbre, eleito
com consagradores 73 votos em 81 senadores, e o presidente Hugo Motta, segundo
candidato mais votado na história da Câmara dos Deputados, com 444 votos em
513", afirmou.
Barroso
acrescentou: "E eu mesmo, que fui eleito com 10 votos em 11. Só eu não
votei em mim. Lembro que todas as democracias reservam uma parcela de poder
para ser exercida por agentes públicos que não são eleitos pelo voto popular,
para que permaneçam imunes às paixões políticas de cada momento. O título de
legitimidade desses agentes é a formação técnica e a imparcialidade na
interpretação da Constituição e das leis".
Barroso
abriu seu pronunciamento com uma espécie de prestação de contas. Começou com um
balanço do plantão Judiciário durante o recesso. No período, mais de quatro mil
processos foram concluídos pela presidência e vice-presidência do Tribunal.
Barroso também apresentou dados atualizados sobre o Judiciário, que conta com
18 mil juízes e 280 mil servidores. "Somos a instituição de maior
capilaridade da República, atendendo a quase todos os seis mil municípios
brasileiros", destacou.
Segundo
o ministro, atualmente existem 80 milhões de processos pendentes, número que
foi reduzido em quatro milhões no último ano. "A maior redução no número
de processos desde que começou essa contabilização", afirmou. Ele também
ressaltou que o Judiciário brasileiro está entre os mais produtivos do mundo,
com uma média de 4.400 processos por juiz.
Seguindo
com os dados, o presidente do STF rebateu ataques apresentando o orçamento do
Judiciário. "É preciso não supervalorizar críticas que, muitas vezes, são
injustas ou frutos da incompreensão do trabalho dos juízes", declarou.
O
ministro explicou que o custo da Justiça brasileira é de R$ 132,8 bilhões, o
que representa 1,2% do PIB. "Trata-se de um valor que, em termos
percentuais, vem diminuindo ao longo dos anos. Em 2009, o Poder Judiciário da
União correspondia a 4,83% do Orçamento fiscal. Em 2025, essa proporção será de
2,93%", destacou. Além disso, em 2024, o Judiciário arrecadou R$ 56,74
bilhões, o que equivale a 52% de suas despesas totais. "Nós somos contra
todo tipo de abuso, e a Corregedoria Nacional de Justiça está atenta",
disse Barroso.
Na
segunda parte de seu discurso, o ministro destacou os projetos previstos para o
ano, incluindo iniciativas para a magistratura, direitos fundamentais e
inovação no Judiciário. Foi instituído o Exame Nacional da Magistratura, que já
teve duas edições e estabelece um padrão nacional de qualidade, sem comprometer
a autonomia dos tribunais para realizarem seus próprios concursos. Medida
semelhante foi adotada para os cartórios, com a criação do Exame Nacional de
Cartórios.
Além
disso, o Conselho Nacional de Justiça regulamentou uma determinação do STF para
enfrentar violações dos direitos fundamentais no sistema prisional e
implementou a paridade de gênero nas promoções por merecimento para o segundo
grau, garantindo que 40% das vagas sejam destinadas a mulheres. Também foi
lançado um programa de bolsas para candidatos negros à magistratura, realizado
com investimentos da iniciativa privada. O programa oferece cursos
preparatórios gratuitos e uma ajuda de custo para os 100 primeiros colocados,
visando refletir na magistratura a diversidade da sociedade brasileira.
"Espera-se fazer com que a demografia da magistratura fique mais parecida
com a da sociedade brasileira", declarou Barroso.
No
campo da sustentabilidade e inovação, o STF inaugurou uma usina fotovoltaica e
plantou 5.500 árvores no Bosque do Supremo, além de lançar o programa Justiça
Carbono Zero, que exige a neutralidade de emissões de carbono em todos os
tribunais até 2030. No âmbito tecnológico, foram implementadas a IA generativa
MarIA, para auxiliar ministros e assessores, e o Portal Único de Serviços do
Judiciário, unificando dados de processos em tramitação. Como parte da
racionalização do Judiciário, o STF e o CNJ promoveram a extinção de 8,4
milhões de execuções fiscais paradas há mais de um ano, além de um mapeamento
das ações contra o poder público, permitindo estratégias para reduzir a
litigiosidade e aprimorar a eficiência do sistema judicial.
Em
seguida, Barroso aproveitou a oportunidade para celebrar a democracia brasileira.
"Os três Poderes aqui presentes são unidos pelos princípios e propósitos
da Constituição. Somos independentes e harmônicos como manda a Constituição.
Porém, mais que isso, somos pessoas que se querem bem e, acima de tudo, querem
o bem do Brasil", destacou o ministro que deixará a presidência em
setembro e será substituído pelo atual vice, Edson Fachin.
Em
concordância com o ministro, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil,
Beto Simonetti, declarou que a democracia deve ser constantemente defendida.
"Reafirmo o compromisso da advocacia com a Constituição, a Justiça e o
Estado Democrático de Direito. A sociedade brasileira permanece vigilante e
consciente de que os direitos fundamentais não são dádivas, mas conquistas que
exigem constante proteção. A OAB reafirma seu compromisso com o discurso
republicano", disse em sua fala.
Por
fim, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, desejou um ano judiciário
frutífero e pleno êxito no árduo e elevado encargo de guardião da Constituição.
"Além desse voto, esta é uma oportunidade adequada para a PGR reafirmar
seu compromisso de atuar com firmeza, coragem e serenidade no exercício das
diversas competências que lhe foram confiadas pelo constituinte, começando por
aquela que é fundamental: a defesa da ordem jurídica e do regime
democrático", diz.
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STF retoma julgamentos controversos
O
Supremo Tribunal Federal (STF) retomou as sessões de julgamento e seguirá em
2025 realizando-as todas as quartas e quintas-feiras do mês. Confira as pautas
de fevereiro:
<><> Revista íntima
O
STF retomou o julgamento sobre revistas íntimas vexatórias em presídios (ARE
v959620), sob relatoria do ministro Edson Fachin. Em outubro, a maioria votou
pela proibição, mas o ministro Alexandre de Moraes destacou o tema para nova
análise, com repercussão geral reconhecida (Tema 998).
Letalidade policial
Foi
retomada a ADPF 635, que questiona a letalidade e violações de direitos humanos
em operações policiais no Rio de Janeiro. O julgamento foi suspenso em novembro
após a leitura do relatório do ministro Edson Fachin e manifestações das
partes.
<><> Anulação de anistias da ditadura
O
STF também julgou ontem a ADPF 777, que contesta a anulação da anistia e
pensões de 313 cabos das Forças Armadas afastados em 1964. O Executivo alegou
falta de provas de perseguição política, enquanto a OAB considera a medida
ilegal. O caso está sob relatoria da ministra Cármen Lúcia.
<><> Repatriação de crianças
Será
analisada a ADI 7686, que questiona a aplicação da Convençooão de Haia sobre
sequestro internacional de crianças. O PSOL pede que o retorno ao país de
origem seja proibido se houver suspeita de violência doméstica. O relator é o
ministro Luís Roberto Barroso. Pela primeira vez, a Procuradoria-geral da
Mulher da Câmara dos Deputados participará do julgamento com sustentação oral
da deputada federal Soraya Santos (PL-RJ).
<><> Atribuições das guardas municipais
Em
13 de fevereiro, o STF retomará o RE 608588, que avalia a constitucionalidade
de normas da cidade de São Paulo sobre a Guarda Civil Metropolitana. O relator
Luiz Fux considerou as normas válidas, mas há divergências entre os ministros.
O caso tem repercussão geral (Tema 656).
<><> Liberdade de imprensa
No
dia 19, o STF analisará embargos no RE 1075412 sobre a responsabilidade da
imprensa por entrevistas com alegações falsas. O ministro Edson Fachin propôs
que veículos só sejam responsabilizados se houver má-fé, negligência ou se não
garantirem direito de resposta.
<><> Nepotismo
Também
no dia 19, será retomado o RE 1133118, que discute a legalidade da nomeação de
parentes para cargos políticos no município de Tupã (SP). O tema tem
repercussão geral (Tema 1000) e está sob relatoria do ministro Luiz Fux.
<><> Abuso de autoridade
No
dia 27, o STF julgará ações sobre abuso de autoridade. A ADPF 338 questiona um
artigo do Código Penal que agrava penas por crimes contra a honra cometidos
contra servidores públicos. Outras ADIs contestam dispositivos da Lei
13.869/2019, que trata de abusos cometidos por agentes públicos.
Fonte:
Correio Braziliense
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