Enquanto seu poder geopolítico cai,
fundamentalismo religioso cresce nos EUA, avaliam especialistas
O governador do estado
norte-americano da Louisiana, Jeff Landry, homologou uma lei na qual todos os
estabelecimentos de educação pública, escolas ou faculdades, devem dispor os
dez mandamentos cristãos. Para especialistas, essa medida representa um aumento
no fundamentalismo religioso nos EUA, o que pode influenciar sua política
externa.
Apresentado pelos
jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, o episódio do Mundioka desta
quinta-feira (1º) aborda a questão religiosa nos Estados Unidos. Como o
Cristianismo, principal religião do país, afeta desde as políticas locais às
decisões nacionais da Casa Branca? O país está ficando cada vez mais
fundamentalista? Será que isso está levando os EUA ao caminho certo?
De acordo com Marcelo
Suano, professor de relações internacionais do Ibmec, ao contrário do que
muitos podem imaginar a partir das imagens de metrópoles como Nova York e Los
Angeles, a religião possui um papel fundamental na vida do estadunidense que
vive afastado dos grandes centros urbanos — em especial, a religião cristã, na
qual os protestantes são maioria, com os católicos em segundo.
"Os Estados
Unidos são, na realidade, aquela sociedade do interior, que é mais voltada para
a comunidade […], que tem o hábito de discutir os seus problemas da sociedade
na igreja."
Essa junção do local
de adoração religiosa com o de discussões políticas locais, aponta Suano,
reflete até mesmo na hora das eleições.
O chamado Bible Belt
(Cinturão da Bíblia, em tradução livre) é um termo usado pelos acadêmicos e
pesquisadores norte-americanos para se referir a uma região que compreende
cerca de 20 estados norte-americanos e onde a vida cultural e a vida religiosa
são bastante interligadas.
Ademais, em sua
maioria, esses estados costumam eleger políticos conservadores, seja para
eleições locais, seja para a eleição presidencial.
"Normalmente eles
tendem a eleger governadores ou presidentes da República dentro do ideário
republicano, que é um ideário mais voltado para as questões especiais dos
interesses estratégicos dos Estados Unidos e comungam desses valores cristãos."
Segundo Suano, a
escolha por um candidato considerado mais conservador, um republicano, e um
mais progressista, um democrata, não tem influência somente nas questões
internas dos EUA, mas também em sua política externa.
O republicano, diz
Suano, "é mais individualista. Ele negocia os interesses de forma pontual
e bilateralmente". Essa é a razão pela qual normalmente, "quando os
republicanos estão no poder, eles podem fazer guerra, mas fazem guerras pontuais
com países que estão incomodando".
"Diferentemente
dos democratas, que quando fazem guerra, envolvem o mundo inteiro."
<><> EUA
estão indo para o buraco?
Buscar maior
religiosidade não é o mesmo do que fundamentalismo religioso, aponta Suano. No
entanto, ao impor a publicação dos dez mandamentos, a medida do governador da
Louisiana pode ser vista como tal pelas cortes norte-americanas.
O problema não é
necessariamente o conteúdo dos dez mandamentos, mas as consequências que a
publicação pode ter, como a preferência por uma religião em específico.
"Isso poderia ser um processo de doutrinação canalizando para uma religião
específica."
A ser julgada pelos
tribunais dos EUA, essa lei poderá ser considerada algo próximo do
fundamentalismo religioso por violar o Estado Democrático de Direito, algo que
os EUA se veem como "fundadores".
Ao Mundioka, Roberto
Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), detalhou que
apesar de toda essa pompa de superioridade moral, em termos reais, o país está
vendo uma decadência tanto em termos domésticos quando internacionais.
Internamente, diz
Menezes, os Estados Unidos passam por uma série de crises, desde a epidemia de
opioides, em especial o fentanil, que cria imagens "aterrorizantes",
aos problemas de infraestrutura e saúde pública.
O último estudo feito
pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura estadunidense avaliou a
infraestrutura pública com um D+. Ou seja, "nem passou de ano" diz
Menezes.
O especialista lembrou
de uma ocasião na qual o presidente dos EUA, Joe Biden, foi a uma cidade
inaugurar uma obra de infraestrutura criada a partir de um programa
governamental de US$ 1,2 trilhão (R$ 6,78 trilhões). Logo, antes de chegar no
município, no entanto, outra ponte desabou. "Uma ponte pequena, não era
muito grande, mas caiu."
No entanto, os maiores
sinais de decadência norte-americana podem ser observados pela queda de sua
hegemonia ao redor do mundo pelo menos desde os anos 1980. "Os Estados
Unidos têm uma interrogação muito grande sobre a sua hegemonia", afirmou.
Em termos de comércio
exterior e de produção científica, a China se aproxima cada vez mais dos EUA,
aponta Menezes. "Na área econômica, eu diria que ela [a vantagem dos EUA]
já não é tão grande assim, e na área tecnológica ainda tem uma boa vantagem,
mas que também vem sendo alcançada, em especial pela China."
Um dos principais
articuladores dessa perda de poder dos EUA é justamente o BRICS, grupo
geopolítico que os norte-americanos veem com grande preocupação, segundo o
pesquisador do INCT-INEU.
"Os Estados
Unidos […] não admitem que outras potências estejam emergindo. Então procuram,
a todo custo e usando todos os meios, exatamente bloquear a possibilidade, até
mesmo de efetivação de um mundo de fato multipolar."
Uma das formas que os
norte-americanos tentam fazer isso é por meio das sanções econômicas, que
funcionaram em muitos palcos diferentes, como Irã, Cuba e Iraque. Mas agora que
são aplicadas contra a Rússia, "elas não surtiram o efeito que os Estados
Unidos e seus aliados pretendiam".
"Hoje, o comércio
da Rússia, em grande parte, se dá com a China, e se dá nas moedas locais, no
yuan, no renminbi e no rublo", destacou Menezes.
¨ Incidentes islamofóbicos sobem quase 70% nos EUA em meio a
conflito entre Israel e Hamas
Nos primeiros seis
meses deste ano, quase cinco mil queixas foram apresentadas ao Conselho de
Relações Islâmico-Americanas, conforme relatado pelo jornal The Times.
De acordo com o
jornal, foram 4.951 as denúncias de discriminação contra muçulmanos e
palestinos no primeiro semestre, em comparação com 2.937 registradas no mesmo
período de 2023.
O aumento dos
episódios de discriminação e assédio ocorre em meio a uma onda global de
islamofobia e antissemitismo, intensificada desde o início do conflito entre
Israel e o Hamas, que já causou milhares de mortes. Numerosos países e
organismos internacionais classificaram a atuação do governo do
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como "genocídio".
O relatório revela
ainda que houve um aumento significativo de queixas no âmbito educacional por
islamofobia em maio, durante os protestos nas universidades dos EUA contra as
ações do governo de Israel.
Conforme Corey Saylor,
diretor de pesquisa e defesa do conselho, o "clima geral de preconceito
levou universidades e empregadores a punirem trabalhadores por expressarem
pontos de vista pró-palestinos".
As denúncias
registradas também incluíram crimes de ódio e discriminação em processos de
imigração, asilo e emprego.
O conselho ainda
recebeu 8.061 queixas durante todo o ano de 2023, sendo quase metade —3.578—
nos últimos três meses de 2023, após o início da guerra no Oriente Médio.
Ao mesmo tempo, a Liga
Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização que protege os direitos
humanos das pessoas judias ao redor do mundo, informou que os incidentes
antissemitas nos EUA aumentaram 140% em 2023 na comparação com o ano anterior.
"Os 8.873 atos de
agressão, assédio ou vandalismo foram o maior número desde que a ADL começou a
registrar dados em 1979, incluindo um pico de 5.204 incidentes após 7 de outubro",
finalizou a nota.
¨ Guerra por procuração do Ocidente na Ucrânia pode levar a
'consequências desastrosas', diz mídia
Guerra por procuração
do Ocidente na Ucrânia pode levar a 'consequências desastrosas', diz mídia
Os países ocidentais
têm de parar sua guerra por procuração, que pode levar a resultados
potencialmente catastróficos, escreveu na quinta-feira (1º) um ex-assistente
especial de Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA (1981-1989).
"A Rússia tem
cada vez mais motivos para tratar os países da OTAN como beligerantes formais,
o que pode ter consequências desastrosas", comentou Doug Bandow em um
artigo para a revista norte-americana The American Conservative.
Bandow sublinhou que,
se os aliados de Kiev não quiserem iniciar uma guerra mundial, eles terão que
buscar uma negociação de paz para o conflito. Em sua opinião, para atingir tal
objetivo, o Ocidente precisa retomar o diálogo com a Rússia e discutir uma nova
estrutura de segurança que respeite os interesses de Moscou.
Moscou tem sublinhado
repetidamente que não representa uma ameaça para nenhum dos países da OTAN, mas
não ignorará ações potencialmente perigosas para seus interesses. Ao mesmo
tempo, ela diz que continua aberta ao diálogo, mas em pé de igualdade, e que o
Ocidente deve abandonar seu curso de militarização da Europa.
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Rússia está disposta a cooperar com resolução da crise na Ucrânia, considerando
seus interesses
A Rússia está pronta
para cooperar com todos aqueles que buscam facilitar a solução da crise na
Ucrânia, levando em consideração os interesses russos e as realidades atuais,
disse a representante do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria
Zakharova, à Sputnik.
Comentando a recente
visita do secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, à Ucrânia, ela
disse que suas declarações em geral estão alinhadas com os esforços de mediação
do Vaticano.
"Considerando a
importância da figura do secretário de Estado na hierarquia da Igreja Católica
Romana, certamente levamos suas declarações muito a sério, considerando-as a
posição oficial da Santa Sé", disse Zakharova.
"Até hoje, não
recebemos nenhuma solicitação oficial sobre a visita de Parolin à Rússia. O
diálogo com o Vaticano continua. Nosso país está pronto para cooperar com todos
aqueles que buscam facilitar uma solução pacífica da crise ucraniana, levando em
conta os interesses conhecidos da Rússia e as realidades atuais", disse
ela.
Anteriormente, o
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia está aberta a uma
resolução diplomática, mas o mesmo aparentemente não se aplica à Ucrânia.
"A Rússia está
aberta a todas as iniciativas, e a Rússia está aberta a um caminho diplomático
para um acordo, mas vemos que, infelizmente, não há tal reciprocidade por parte
da Ucrânia no momento", disse Peskov.
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Preocupado, Zelensky diz que eleição presidencial dos EUA representa desafio e
risco para a Ucrânia
Vladimir Zelensky
disse que os resultados da próxima eleição presidencial nos EUA representam um
desafio e riscos para a Ucrânia.
"A situação atual
nos Estados Unidos é um desafio. Há riscos que não podem ser previstos. Se
Donald Trump vencer, não sabemos qual será o nosso diálogo. Costumava ser
bastante razoável, mas não sabemos o que acontecerá depois da eleição",
disse Zelensky nesta quarta-feira (31) ao jornal Le Monde.
Apesar da dúvida e
eminente preocupação em relação a uma eventual vitória de Trump, Zelensky
mostrou que acredita que a maioria no Congresso dos EUA continuará a apoiar a
Ucrânia.
A eleição presidencial
dos Estados Unidos será realizada no dia 5 de novembro. No início de julho, o
presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou sua retirada da corrida presidencial e
indicou a atual vice-presidente, Kamala Harris, para ser a representante do
Partido Democrata.
O ex-presidente dos
Estados Unidos Donald Trump garantiu sua indicação pelo Partido Republicano no
início deste mês e escolheu o senador de Ohio J. D. Vance como companheiro de
chapa. A escolha por Vance foi descrita como um "desastre" para a Ucrânia
por autoridades da União Europeia (UE). Vance tem sido incisivo em sua oposição
ao fornecer ajuda adicional a Kiev.
Em maio, Trump afirmou
que acabaria com o conflito na Ucrânia em 24 horas e teria reiterado sua
intenção de acabar com o conflito em um telefonema com Zelensky. No início
deste mês, o diretor de comunicação da campanha de Trump, Steven Cheung,
confirmou que negociar o fim do conflito na Ucrânia será "uma das
principais prioridades no segundo mandato [de Trump] e será negociar
rapidamente um fim" para o conflito entre Rússia e Ucrânia.
¨ BRICS pode vir a ter sistema de pagamento internacional já em
outubro, segundo autoridade russa
A presidente do
Conselho da Federação da Rússia (câmara alta do parlamento), Valentina
Matvienko, disse esperar que na cúpula do BRICS na cidade de Kazan, em outubro
deste ano, seja tomada a decisão de criação de um sistema de pagamento
independente para os países do grupo.
Ela acrescentou que o
sistema de pagamento SWIFT e o dólar perderam muita da sua credibilidade.
Segundo a autoridade, a apropriação por países ocidentais das reservas russas
em moeda estrangeiras e da renda por elas gerada desacreditaram os princípios
da economia mundial.
"Espero que em
outubro, na cúpula dos chefes de Estado em Kazan, é certo que isso vai ser
discutido, talvez até seja aprovado ou, de qualquer forma, discutido e seja
tomada uma decisão quando e em que formato, em que prazo deve ser finalizado
", disse ela acrescentando que este processo "já não é teórico, está
ativamente em andamento, é prático".
A chefe do Conselho da
Federação acredita também que uma situação em que é possível pegar as reservas
cambiais ou a renda dessas reservas de um país estrangeiro e apropriar-se delas
desacredita os fundamentos da economia mundial e os sistemas monetário e
financeiro mundiais.
O uso das reservas
cambiais da Rússia pelos países ocidentais levou a um aumento no processo de
acordos mútuos em moedas nacionais dentro do BRICS, o que levou a um declínio
na parcela do dólar.
"Começaram as
discussões sobre a plataforma BRICS Bridge, que seria independente e garantiria
as trocas comerciais em uma plataforma conjunta segura", disse Matvienko.
Além disso, ela
abordou a questão da segurança global lembrando que a Rússia está sempre pronta
para o diálogo nessa questão, mas em termos iguais e levando em conta seus
interesses.
"Estamos sempre
prontos para o diálogo, estamos sempre prontos para negociações sobre a
segurança global, sobre outras questões críticas de interesse para o mundo
inteiro. Mas em igualdade de condições, levando em conta nossos interesses
nacionais, e não negociações sob comando."
Ela enfatizou que a
Rússia está pronta para participar apenas de um diálogo igualitário que
contribua para a segurança unida e indivisível de cada Estado e para a
estabilidade do mundo como um todo.
Fonte: Sputnik Brasil
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