quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Aída Chavez: ‘Sanções dos EUA estão por trás da crise na Venezuela’

O presidente Nicolás Maduro parece determinado a sobreviver às recentes eleições na Venezuela.

A oposição tinha grandes esperanças quando o ex-diplomata Edmundo González Urrutia apareceu no último minuto para substituir María Corina Machado, que havia sido impedida de concorrer, mas a autoridade eleitoral do governo venezuelano anunciou uma vitória de Maduro, com uma margem de 51,21% contra 44,2%. A oposição alegou fraude nos resultados e declarou sua própria vitória, levando a Venezuela à beira de uma crise política.

Washington imediatamente aproveitou a eleição conturbada. Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, exigiu que o governo fizesse uma conferência da votação, e emitiu um comunicado na quinta-feira declarando vitória da oposição e pedindo uma “transição pacífica e respeitosa de acordo com a legislação eleitoral da Venezuela e os anseios do povo venezuelano”. Importantes parlamentares americanos, como o senador Chris Murphy, já estão fazendo o circuito dos meios de comunicação com elogios à atuação do governo Biden pela defesa da democracia na Venezuela.

À luz da vitória declarada de Maduro e do rescaldo caótico das controversas eleições, porém, o argumento de que a política dos EUA teria funcionado na Venezuela está cada vez mais frágil. Washington preferiu abraçar uma política de intensas sanções, implementadas pelo ex-presidente Donald Trump e em grande parte mantidas pelo presidente Joe Biden, como forma de pressionar a população em geral para obrigar Maduro a deixar o cargo. Esse objetivo ainda não foi atingido, mas a economia do país foi destruída, levando à morte de dezenas de milhares de venezuelanos e obrigando outros milhões a fugirem, agravando a crise migratória na fronteira dos EUA no processo.

Na Venezuela, ‘pessoas cada dia mais famintas’

“Como podemos culpar os requerentes de asilo que fogem do desespero e da pobreza, se estamos contribuindo exatamente para o desespero e a pobreza de que eles estão tentando fugir?”, disse ao Intercept o deputado Greg Casar, do Partido Democrata do Texas. “No final das contas, o que vimos na prática é que em regra não conseguimos a liberdade de imprensa, as eleições livres e justas e a transparência que demandamos. O que acabamos conseguindo é deixar as pessoas cada dia mais famintas.”

Casar acrescenta que a abordagem dos EUA em relação às sanções significa que “ficamos apenas condenados a sufocar a economia de outros países”. Prejudicamos as pessoas desses país, segundo ele, e “isso acaba também nos prejudicando, porque estamos todos interconectados”.

Como o Washington Postou noticiou recentemente, as sanções dos EUA contra o setor de petróleo da Venezuela contribuíram para uma das mais graves contrações econômicas já registradas em tempo de paz, significativamente mais grave do que a Grande Depressão. Em decorrência disso, mais de 7 milhões de venezuelanos foram levados a fugir do país, desencadeando a maior crise de migração do hemisfério ocidental.

O governo Biden afrouxou temporariamente algumas das sanções, permitindo que a Venezuela exportasse mais petróleo e gás, em troca de uma promessa de “eleições livres e justas”. Em Abril, Biden retomou as sanções mais amplas, embora ainda permita a concessão de licenças caso a caso.

“Se não fosse pelas sanções, a Venezuela teria sofrido uma grande crise econômica na última década, mas teria sido mais parecida com outras grandes crises econômicas na América Latina e até mesmo na história anterior da Venezuela”, diz Francisco Rodríguez, economista e professor venezuelano, que já comandou a assessoria econômica e financeira da Assembleia Nacional da Venezuela. “Não teria sido como o que vimos.”

Trump, reconhecidamente contrário à imigração, aprovou as sanções contra a Venezuela capitaneadas por John Bolton, a despeito dos alertas à Casa Branca, dados por uma série de autoridades do governo dos EUA e de outros países da América Latina, de que a região não teria como lidar com a onda de migração que viria. Agora, os venezuelanos constituem um dos maiores grupos de migrantes na fronteira sul do país e em trânsito pela América Central – com as sanções adicionais impostas por Trump e mantidas por Biden, além do infame embargo de décadas, o número de migrantes de Cuba também aumentou. Na quarta-feira, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, convocou o governo Biden a acabar com a medida “anti-humana”, acrescentando que as sanções só trazem mais fome e violência.

•        ‘Tudo muito confuso’ para os EUA

As sanções se tornaram uma ferramenta cada vez mais popular de política externa dos EUA, porque são consideradas menos prejudiciais do que a guerra direta ou a guerra por procuração. Especialistas das Nações Unidas vêm argumentando que essa medidas coercitivas equivalem a uma guerra econômica, e os civis prejudicados pelas sanções “merecem as mesmas proteções oferecidas pelas Convenções de Genebra às pessoas em guerra”.

A Venezuela oferece um excelente exemplo de como as sanções são fundamentais para as estratégias dos EUA de mudança de regime. Pela senso comum, cidadãos que vivem em declínio econômico são mais propensos a culpar seus próprios governantes, cujas falhas podem ser vistas em primeira mão, do que as análises econômicas que mostram o impacto de sanções impostas por uma potência estrangeira sobre o PIB do país. Essa estratégica foi sucintamente articulada em um telegrama de 1960 do Departamento de Estado, em relação aos objetivos do embargo a Cuba:

Caso essa política seja adotada, ela deverá resultar de uma decisão positiva que suscite uma linha de ação que, embora tão hábil e discreta quanto possível, faça os maiores avanços para negar dinheiro e suprimentos a Cuba, e para reduzir os salários monetários e reais e causar fome, desespero e a derrubada do governo.

A única forma de “alienar o suporte interno” a Fidel Castro, segundo o Departamento de Estado, era por meio do “desencanto e descontentamento com base na insatisfação econômica e nas dificuldades”.

Isso vale para Maduro, que fez campanha direta contra as sanções dos EUA, mas tem visto seu nível geral de apoio ser corroído pelos anos de dificuldade econômica.

As lideranças de oposição da Venezuela, por outro lado, estão plenamente cientes de que as sanções econômicas as beneficiam eleitoralmente, desde que não apoiem abertamente a imposição de punição coletiva pelos EUA contra seus próprios cidadãos. Em uma entrevista concedida em junho, González Urrutia alegou falsamente que as sanções setoriais impostas pelos EUA sobre boa parte da economia da Venezuela “não estão direcionadas contra o país”, mas apenas contra as autoridades do governo. Corina Machado, a ativista conservadora que lidera a oposição, também já alegou falsamente que Maduro é o único responsável pela crise econômica.

Quando a Venezuela irrompeu em protestos após a votação, Rodríguez defendeu que a influência das sanções dos EUA pode estar endurecendo tanto o posicionamento de Maduro, quanto o da oposição. “O governo também é intransigente, claro, mas isso vem dificultando muito chegar a um acordo, porque a oposição se vê apoiada pelos EUA”, diz Rodríguez.

Os responsáveis pelas políticas podem sentir o impulso de intensificar as sanções contra a Venezuela nas próximas semanas, à medida que Maduro resistir, na esperança de que isso estimule as mudanças que pretendem. Mas, ao ser indagado se as sanções comandadas pelos EUA acabavam distorcendo o processo democrático em outros países, Casar reconheceu que “no final, fica tudo muito confuso, e é difícil ver o que a confusão nos traz”.

 

•        'Novo mundo é possível em outra visão': deputado venezuelano destaca a importância do BRICS

Os países do BRICS não só constituem uma opção para a Venezuela diante das sanções impostas pelos Estados Unidos, mas também para o mundo, disse o deputado venezuelano Diosdado Cabello.

"O BRICS não é apenas a alternativa para a Venezuela, é a alternativa para o mundo [...], é a alternativa de que um novo mundo é possível em outra visão", disse Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), durante uma coletiva de imprensa transmitida pelo canal estatal venezuelano de televisão.

Cabello fez este comentário depois de ser consultado sobre o que significaria para a Venezuela entrar no bloco em meio ao bloqueio econômico ou ao possível aumento das sanções por parte dos Estados Unidos.

Na sexta-feira (2), Caracas informou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, convidou Maduro para participar da reunião do BRICS na cidade russa de Kazan nos dias 23 e 24 de outubro, para considerar áreas de cooperação multilateral.

A Venezuela espera juntar-se neste ano, no encontro em Kazan, como membro de pleno direito do bloco fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Neste sentido, Caracas considerou que será um parceiro confiável do BRICS com "lealdade comprovada" e os princípios de independência, amizade, solidariedade e interesses partilhados defendidos pela organização.

O governo venezuelano assegurou que espera contribuir com os seus recursos naturais para os países do bloco para promover projetos comuns de desenvolvimento econômico.

No dia 1º de janeiro, a Rússia assumiu a presidência rotativa do BRICS para 2024, ano que começou com a admissão de novos membros.

A presidência russa do grupo é exercida sob o lema do fortalecimento do multilateralismo em prol de um desenvolvimento global justo e seguro.

<><> Maduro rompe com WhatsApp: aplicativo estaria sendo usado para 'ameaçar' a Venezuela

O presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou, nesta segunda-feira (5), que deixará de utilizar o aplicativo de mensagens WhatsApp (da empresa Meta, proibida na Rússia por ser considerada extremista), depois de garantir que ele está sendo utilizado para ameaçar o seu país.

"Hoje vou romper publicamente relações com o WhatsApp, porque o WhatsApp está sendo usado para ameaçar a Venezuela e depois vou apagar para sempre o meu WhatsApp do meu telefone", disse Maduro em um evento no Palácio de Miraflores, sede do governo do país sul-americano.

Mais tarde, durante o seu programa de televisão Com Maduro+, o presidente desinstalou o aplicativo de seu celular.

O presidente, que acaba de ser declarado vencedor das eleições realizadas no dia 28 de julho pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, afirmou que migrará para o aplicativo Telegram e WeChat, e pediu a seus seguidores que parem de usar o WhatsApp.

Maduro denunciou que, através deste sistema, telefones com códigos da Colômbia, Peru, Chile e Estados Unidos têm ameaçado cidadãos venezuelanos nos últimos dias.

"O WhatsApp entregou a lista da Venezuela aos terroristas, para que pudessem atacá-la [...] as cinco potências estão sob ataque do WhatsApp", denunciou o presidente Maduro.

No último domingo (4), o presidente informou sobre a prisão de mais de 2.000 pessoas supostamente envolvidas em protestos violentos contra o seu governo e denunciou que parte desse grupo foi treinada na Colômbia e em grupos paramilitares, bem como no Peru e no Chile.

Um funcionário foi morto nas manifestações e outros 77 ficaram feridos no estado de Aragua (norte), segundo o Ministério Público.

No dia 2 de agosto, o CNE anunciou a vitória de Maduro com 51,95% dos votos, ante 43,18% obtidos por Edmundo González, após a emissão de um segundo boletim.

 

•        UE e Mercosul podem finalizar acordo comercial até o final do ano, diz mídia

Os países da União Europeia (UE) e Mercosul planejam terminar até o final do ano as negociações sobre um acordo comercial cuja conclusão foi adiada várias vezes, informou o jornal Financial Times, citando fontes.

Segundo o jornal, as autoridades de ambos os lados disseram que, apesar das objeções francesas, há um novo ímpeto para fechar o acordo, que está sendo elaborado há duas décadas.

"A UE e o grupo Mercosul, formado por cinco países sul-americanos, pretendem concluir as negociações antes do final do ano para um acordo comercial há muito adiado, depois de terem feito progressos na resolução de questões contenciosas", indica o artigo.

Um diplomata europeu disse à publicação que o ímpeto para finalizar o acordo foi uma "necessidade geopolítica e econômica".

De acordo com a Comissão Europeia citada pelo Financial Times, o acordo vai criar um mercado de 780 milhões de pessoas e pouparia às empresas da Europa mais de € 4 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões) anuais em tarifas.

No mesmo tempo, as empresas da UE têm investimentos de € 330 bilhões (R$ 2.060 bilhões) nos países do Mercosul.

A única séria oposição era do presidente francês Emmanuel Macron, que disse que o acordo causará danos ambientais e sujeitará os agricultores a uma concorrência desleal.

"No entanto, até o momento, a França foi apoiada apenas pela Áustria, o que é insuficiente para bloquear um acordo, que exige a aprovação da maioria dos 27 governos do bloco", afirma o jornal.

As autoridades da UE afirmam que agora estão preparadas para enfrentar a França e insistem que o tratado incluirá compromissos climáticos cujos termos não agradavam a Paris anteriormente.

A maior locomotiva do acordo, escreve o artigo, são a Alemanha e a Espanha que com outros Estados-membros pressionaram muito pelo acordo.

"Os defensores acreditam que ele impulsionará a economia e os laços comerciais entre os dois blocos em um momento de crescente tensão global".

A presidente reeleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anteriormente comprometida com a finalização do acordo, deve viajar para o Rio de Janeiro em novembro para a cúpula do Grupo dos 20 (G20).

Indica-se que isso pode dar uma oportunidade para resolver quaisquer questões pendentes com Lula da Silva.

Em particular, o artigo afirma que os membros do Mercosul veem as preocupações europeias com o meio ambiente como uma máscara para intenções protecionistas.

"Brasília ficou irritada com uma carta enviada por Bruxelas no ano passado, que buscava adicionar compromissos vinculativos sobre o clima e o desmatamento", disse o jornal.

Uma preocupação séria do Mercosul foi uma lei separada da UE contra o desmatamento, que deve entrar em vigor no próximo ano, que proibirá a importação de bens como madeira, carne bovina e café produzidos em terras desmatadas, relatou o Financial Times.

 

Fonte: The Intercept/Sputnik Brasil

 

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