Aída Chavez: ‘Sanções dos EUA estão por
trás da crise na Venezuela’
O presidente Nicolás
Maduro parece determinado a sobreviver às recentes eleições na Venezuela.
A oposição tinha
grandes esperanças quando o ex-diplomata Edmundo González Urrutia apareceu no
último minuto para substituir María Corina Machado, que havia sido impedida de
concorrer, mas a autoridade eleitoral do governo venezuelano anunciou uma
vitória de Maduro, com uma margem de 51,21% contra 44,2%. A oposição alegou
fraude nos resultados e declarou sua própria vitória, levando a Venezuela à
beira de uma crise política.
Washington
imediatamente aproveitou a eleição conturbada. Antony Blinken, secretário de
Estado dos EUA, exigiu que o governo fizesse uma conferência da votação, e
emitiu um comunicado na quinta-feira declarando vitória da oposição e pedindo
uma “transição pacífica e respeitosa de acordo com a legislação eleitoral da
Venezuela e os anseios do povo venezuelano”. Importantes parlamentares
americanos, como o senador Chris Murphy, já estão fazendo o circuito dos meios
de comunicação com elogios à atuação do governo Biden pela defesa da democracia
na Venezuela.
À luz da vitória
declarada de Maduro e do rescaldo caótico das controversas eleições, porém, o
argumento de que a política dos EUA teria funcionado na Venezuela está cada vez
mais frágil. Washington preferiu abraçar uma política de intensas sanções, implementadas
pelo ex-presidente Donald Trump e em grande parte mantidas pelo presidente Joe
Biden, como forma de pressionar a população em geral para obrigar Maduro a
deixar o cargo. Esse objetivo ainda não foi atingido, mas a economia do país
foi destruída, levando à morte de dezenas de milhares de venezuelanos e
obrigando outros milhões a fugirem, agravando a crise migratória na fronteira
dos EUA no processo.
Na Venezuela, ‘pessoas
cada dia mais famintas’
“Como podemos culpar
os requerentes de asilo que fogem do desespero e da pobreza, se estamos
contribuindo exatamente para o desespero e a pobreza de que eles estão tentando
fugir?”, disse ao Intercept o deputado Greg Casar, do Partido Democrata do
Texas. “No final das contas, o que vimos na prática é que em regra não
conseguimos a liberdade de imprensa, as eleições livres e justas e a
transparência que demandamos. O que acabamos conseguindo é deixar as pessoas
cada dia mais famintas.”
Casar acrescenta que a
abordagem dos EUA em relação às sanções significa que “ficamos apenas
condenados a sufocar a economia de outros países”. Prejudicamos as pessoas
desses país, segundo ele, e “isso acaba também nos prejudicando, porque estamos
todos interconectados”.
Como o Washington
Postou noticiou recentemente, as sanções dos EUA contra o setor de petróleo da
Venezuela contribuíram para uma das mais graves contrações econômicas já
registradas em tempo de paz, significativamente mais grave do que a Grande
Depressão. Em decorrência disso, mais de 7 milhões de venezuelanos foram
levados a fugir do país, desencadeando a maior crise de migração do hemisfério
ocidental.
O governo Biden
afrouxou temporariamente algumas das sanções, permitindo que a Venezuela
exportasse mais petróleo e gás, em troca de uma promessa de “eleições livres e
justas”. Em Abril, Biden retomou as sanções mais amplas, embora ainda permita a
concessão de licenças caso a caso.
“Se não fosse pelas
sanções, a Venezuela teria sofrido uma grande crise econômica na última década,
mas teria sido mais parecida com outras grandes crises econômicas na América
Latina e até mesmo na história anterior da Venezuela”, diz Francisco Rodríguez,
economista e professor venezuelano, que já comandou a assessoria econômica e
financeira da Assembleia Nacional da Venezuela. “Não teria sido como o que
vimos.”
Trump, reconhecidamente
contrário à imigração, aprovou as sanções contra a Venezuela capitaneadas por
John Bolton, a despeito dos alertas à Casa Branca, dados por uma série de
autoridades do governo dos EUA e de outros países da América Latina, de que a
região não teria como lidar com a onda de migração que viria. Agora, os
venezuelanos constituem um dos maiores grupos de migrantes na fronteira sul do
país e em trânsito pela América Central – com as sanções adicionais impostas
por Trump e mantidas por Biden, além do infame embargo de décadas, o número de
migrantes de Cuba também aumentou. Na quarta-feira, o presidente da Colômbia,
Gustavo Petro, convocou o governo Biden a acabar com a medida “anti-humana”,
acrescentando que as sanções só trazem mais fome e violência.
• ‘Tudo muito confuso’ para os EUA
As sanções se tornaram
uma ferramenta cada vez mais popular de política externa dos EUA, porque são
consideradas menos prejudiciais do que a guerra direta ou a guerra por
procuração. Especialistas das Nações Unidas vêm argumentando que essa medidas
coercitivas equivalem a uma guerra econômica, e os civis prejudicados pelas
sanções “merecem as mesmas proteções oferecidas pelas Convenções de Genebra às
pessoas em guerra”.
A Venezuela oferece um
excelente exemplo de como as sanções são fundamentais para as estratégias dos
EUA de mudança de regime. Pela senso comum, cidadãos que vivem em declínio
econômico são mais propensos a culpar seus próprios governantes, cujas falhas podem
ser vistas em primeira mão, do que as análises econômicas que mostram o impacto
de sanções impostas por uma potência estrangeira sobre o PIB do país. Essa
estratégica foi sucintamente articulada em um telegrama de 1960 do Departamento
de Estado, em relação aos objetivos do embargo a Cuba:
Caso essa política
seja adotada, ela deverá resultar de uma decisão positiva que suscite uma linha
de ação que, embora tão hábil e discreta quanto possível, faça os maiores
avanços para negar dinheiro e suprimentos a Cuba, e para reduzir os salários
monetários e reais e causar fome, desespero e a derrubada do governo.
A única forma de
“alienar o suporte interno” a Fidel Castro, segundo o Departamento de Estado,
era por meio do “desencanto e descontentamento com base na insatisfação
econômica e nas dificuldades”.
Isso vale para Maduro,
que fez campanha direta contra as sanções dos EUA, mas tem visto seu nível
geral de apoio ser corroído pelos anos de dificuldade econômica.
As lideranças de
oposição da Venezuela, por outro lado, estão plenamente cientes de que as
sanções econômicas as beneficiam eleitoralmente, desde que não apoiem
abertamente a imposição de punição coletiva pelos EUA contra seus próprios
cidadãos. Em uma entrevista concedida em junho, González Urrutia alegou
falsamente que as sanções setoriais impostas pelos EUA sobre boa parte da
economia da Venezuela “não estão direcionadas contra o país”, mas apenas contra
as autoridades do governo. Corina Machado, a ativista conservadora que lidera a
oposição, também já alegou falsamente que Maduro é o único responsável pela
crise econômica.
Quando a Venezuela
irrompeu em protestos após a votação, Rodríguez defendeu que a influência das
sanções dos EUA pode estar endurecendo tanto o posicionamento de Maduro, quanto
o da oposição. “O governo também é intransigente, claro, mas isso vem dificultando
muito chegar a um acordo, porque a oposição se vê apoiada pelos EUA”, diz
Rodríguez.
Os responsáveis pelas
políticas podem sentir o impulso de intensificar as sanções contra a Venezuela
nas próximas semanas, à medida que Maduro resistir, na esperança de que isso
estimule as mudanças que pretendem. Mas, ao ser indagado se as sanções comandadas
pelos EUA acabavam distorcendo o processo democrático em outros países, Casar
reconheceu que “no final, fica tudo muito confuso, e é difícil ver o que a
confusão nos traz”.
• 'Novo mundo é possível em outra visão':
deputado venezuelano destaca a importância do BRICS
Os países do BRICS não
só constituem uma opção para a Venezuela diante das sanções impostas pelos
Estados Unidos, mas também para o mundo, disse o deputado venezuelano Diosdado
Cabello.
"O BRICS não é
apenas a alternativa para a Venezuela, é a alternativa para o mundo [...], é a
alternativa de que um novo mundo é possível em outra visão", disse
Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV),
durante uma coletiva de imprensa transmitida pelo canal estatal venezuelano de
televisão.
Cabello fez este
comentário depois de ser consultado sobre o que significaria para a Venezuela
entrar no bloco em meio ao bloqueio econômico ou ao possível aumento das
sanções por parte dos Estados Unidos.
Na sexta-feira (2),
Caracas informou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, convidou Maduro
para participar da reunião do BRICS na cidade russa de Kazan nos dias 23 e 24
de outubro, para considerar áreas de cooperação multilateral.
A Venezuela espera
juntar-se neste ano, no encontro em Kazan, como membro de pleno direito do
bloco fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Neste sentido, Caracas
considerou que será um parceiro confiável do BRICS com "lealdade
comprovada" e os princípios de independência, amizade, solidariedade e
interesses partilhados defendidos pela organização.
O governo venezuelano
assegurou que espera contribuir com os seus recursos naturais para os países do
bloco para promover projetos comuns de desenvolvimento econômico.
No dia 1º de janeiro,
a Rússia assumiu a presidência rotativa do BRICS para 2024, ano que começou com
a admissão de novos membros.
A presidência russa do
grupo é exercida sob o lema do fortalecimento do multilateralismo em prol de um
desenvolvimento global justo e seguro.
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Maduro rompe com WhatsApp: aplicativo estaria sendo usado para 'ameaçar' a
Venezuela
O presidente
venezuelano Nicolás Maduro anunciou, nesta segunda-feira (5), que deixará de
utilizar o aplicativo de mensagens WhatsApp (da empresa Meta, proibida na
Rússia por ser considerada extremista), depois de garantir que ele está sendo
utilizado para ameaçar o seu país.
"Hoje vou romper
publicamente relações com o WhatsApp, porque o WhatsApp está sendo usado para
ameaçar a Venezuela e depois vou apagar para sempre o meu WhatsApp do meu
telefone", disse Maduro em um evento no Palácio de Miraflores, sede do
governo do país sul-americano.
Mais tarde, durante o
seu programa de televisão Com Maduro+, o presidente desinstalou o aplicativo de
seu celular.
O presidente, que
acaba de ser declarado vencedor das eleições realizadas no dia 28 de julho pelo
Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, afirmou que migrará para o
aplicativo Telegram e WeChat, e pediu a seus seguidores que parem de usar o
WhatsApp.
Maduro denunciou que,
através deste sistema, telefones com códigos da Colômbia, Peru, Chile e Estados
Unidos têm ameaçado cidadãos venezuelanos nos últimos dias.
"O WhatsApp
entregou a lista da Venezuela aos terroristas, para que pudessem atacá-la [...]
as cinco potências estão sob ataque do WhatsApp", denunciou o presidente
Maduro.
No último domingo (4),
o presidente informou sobre a prisão de mais de 2.000 pessoas supostamente
envolvidas em protestos violentos contra o seu governo e denunciou que parte
desse grupo foi treinada na Colômbia e em grupos paramilitares, bem como no
Peru e no Chile.
Um funcionário foi
morto nas manifestações e outros 77 ficaram feridos no estado de Aragua
(norte), segundo o Ministério Público.
No dia 2 de agosto, o
CNE anunciou a vitória de Maduro com 51,95% dos votos, ante 43,18% obtidos por
Edmundo González, após a emissão de um segundo boletim.
• UE e Mercosul podem finalizar acordo
comercial até o final do ano, diz mídia
Os países da União
Europeia (UE) e Mercosul planejam terminar até o final do ano as negociações
sobre um acordo comercial cuja conclusão foi adiada várias vezes, informou o
jornal Financial Times, citando fontes.
Segundo o jornal, as
autoridades de ambos os lados disseram que, apesar das objeções francesas, há
um novo ímpeto para fechar o acordo, que está sendo elaborado há duas décadas.
"A UE e o grupo
Mercosul, formado por cinco países sul-americanos, pretendem concluir as
negociações antes do final do ano para um acordo comercial há muito adiado,
depois de terem feito progressos na resolução de questões contenciosas",
indica o artigo.
Um diplomata europeu
disse à publicação que o ímpeto para finalizar o acordo foi uma
"necessidade geopolítica e econômica".
De acordo com a
Comissão Europeia citada pelo Financial Times, o acordo vai criar um mercado de
780 milhões de pessoas e pouparia às empresas da Europa mais de € 4 bilhões
(cerca de R$ 25 bilhões) anuais em tarifas.
No mesmo tempo, as
empresas da UE têm investimentos de € 330 bilhões (R$ 2.060 bilhões) nos países
do Mercosul.
A única séria oposição
era do presidente francês Emmanuel Macron, que disse que o acordo causará danos
ambientais e sujeitará os agricultores a uma concorrência desleal.
"No entanto, até
o momento, a França foi apoiada apenas pela Áustria, o que é insuficiente para
bloquear um acordo, que exige a aprovação da maioria dos 27 governos do
bloco", afirma o jornal.
As autoridades da UE
afirmam que agora estão preparadas para enfrentar a França e insistem que o
tratado incluirá compromissos climáticos cujos termos não agradavam a Paris
anteriormente.
A maior locomotiva do
acordo, escreve o artigo, são a Alemanha e a Espanha que com outros
Estados-membros pressionaram muito pelo acordo.
"Os defensores
acreditam que ele impulsionará a economia e os laços comerciais entre os dois
blocos em um momento de crescente tensão global".
A presidente reeleita
da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anteriormente comprometida com a
finalização do acordo, deve viajar para o Rio de Janeiro em novembro para a
cúpula do Grupo dos 20 (G20).
Indica-se que isso
pode dar uma oportunidade para resolver quaisquer questões pendentes com Lula
da Silva.
Em particular, o
artigo afirma que os membros do Mercosul veem as preocupações europeias com o
meio ambiente como uma máscara para intenções protecionistas.
"Brasília ficou
irritada com uma carta enviada por Bruxelas no ano passado, que buscava
adicionar compromissos vinculativos sobre o clima e o desmatamento", disse
o jornal.
Uma preocupação séria
do Mercosul foi uma lei separada da UE contra o desmatamento, que deve entrar
em vigor no próximo ano, que proibirá a importação de bens como madeira, carne
bovina e café produzidos em terras desmatadas, relatou o Financial Times.
Fonte: The
Intercept/Sputnik Brasil
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