terça-feira, 5 de março de 2024

Pec da Blindagem: Avanço e novos itens sinalizam que parlamentares querem continuar próximos a Bolsonaro

Os novos acréscimos são um sinal de que, além de buscarem blindagem jurídica no geral, determinados setores buscam, em particular, continuarem associados a Bolsonaro com a certeza de que não serão afetados.

Congressistas responsáveis pela “PEC da Blindagem”, que busca aumentar os privilégios de proteção jurídica a políticos, voltaram a incrementar o projeto com a inclusão de um item que permite que parlamentares investigados pela justiça possam acessar, de forma irrestrita, inquéritos em curso contra eles próprios. O item permite que até mesmo trechos protegidos por sigilo sejam acessados. A informação foi revelada pela colunista d’O Globo, Malu Gaspar.

Os parlamentares buscam ainda proibir operações de busca e apreensão nas dependências do congresso, definir que o início de apurações contra deputados e senadores só comecem com aprovação do congresso e acabar com o foro privilegiado. Por mais que o fim do foro possa parecer algo progressista, a real razão dos deputados para o movimento é fazer com que os processo comecem na primeira instância, escapando assim das garras do Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, parlamentares tẽm a prerrogativa de, em casos envolvendo o exercício do carro, serem julgados diretamente pelo supremo.

Apesar da PEC ser apoiada pelos diversos setores do parlamento (governistas, “centrão” e “oposição”), os principais avanços ocorreram concomitantemente ou após investigações contra a extrema-direita, e particularmente figuras ligadas a Bolsonaro. Foi assim quando o projeto avançou depois de investigações autorizadas por Alexandre de Moraes contra Carlos Jordy (PL), líder da extrema-direita em Campos dos Goytacazes, no RJ, e o ex-chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL).

Os novos acréscimos são um sinal de que, além de buscarem blindagem jurídica no geral, determinados setores buscam, em particular, continuarem associados a Bolsonaro com a certeza de que não serão afetados.

“Não pode ter sigilo para a parte, que não pode ser processada sem saber do que está sendo acusada e sem conhecer as provas. Como ela pode se defender? É cumprir o devido processo legal, a ampla defesa e o direito ao contraditório”, questionou o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), segundo o jornal monopolista O Globo.

Atualmente, os investigados só podem ter acesso a trechos de inquérito que os afetam depois da realização de operações de busca e apreensão e análise dos materiais. Isso ocorre para evitar que o investigado saiba o que está sendo produzido contra ele, seja por meio de documentos, delações, evidências ou mesmo interceptações.

A falta de conhecimento sobre as provas é importante. É justamente essa uma das questões que tem tornado a situação de Bolsonaro particularmente sensível no âmbito jurídico. O esturricado cabecilha da extrema-direita não sabe até agora o que Mauro Cid revelou em sua delação premiada. Desde o dia 23 de fevereiro, Bolsonaro também não sabe o que o general Estevam Theophilo falou em seu depoimento de cinco horas à Polícia Federal. É claro que os esbirros do ex-mandatário não observam a situação sem aprender suas próprias lições.

Toda a nova movimentação para aumentar a blindagem judicial dos parlamentares, inclusive com movimentos planejados especificamente para fugir da alçada do STF e de Alexandre de Moraes (que tem, pelos próprios motivos de disputa e manutenção do bolsão de Poder Político, avançado contra os golpistas de extrema-direita), indica, acima de tudo, que Bolsonaro não morreu politicamente, apesar de enfraquecido. Políticos da chamada “oposição” e até mesmo do “centrão” ainda querem usar da extrema-direita bolsonarista para seus próprios propósitos, mesmo que somente para cálculo eleitoral. Foi assim mesmo no próprio ato bolsonarista de 25/02.

Não obstante, sabem que é um jogo arriscado, e que um mau movimento podem lançá-los na frigideira junto do chefete. Já planejam de forma preventiva, portanto, a blindagem para as novas aproximações.

 

       Afinal, qual é o verdadeiro valor do STF num país carente como o Brasil? Por Conrado Hübner Mendes

 

Se você pensa que o Judiciário é caro, o Judiciário não é caro, não. Melhor fazer a pergunta correta: quanto vale a jurisdição? Foi mais ou menos assim que Luís Roberto Barroso, presidente do STF, deu a nos explicar que o “custo da Justiça pode parecer alto, mas o da falta de justiça é bem maior” (“Quanto vale o Judiciário?”, Folha, 25 de fevereiro).

Ao converter a pergunta orçamentária —quanto custa— numa pergunta moral —quanto vale, Barroso abriu uma trilha que não vai nos ajudar a explicar um dos sistemas de Justiça mais caros e juízes entre os mais bem remunerados do mundo. Em números absolutos ou relativos.

Barroso reduziu as finanças a tema menor. Deu três justificativas sintéticas: a Justiça brasileira é “provavelmente, a mais produtiva do planeta”; temos “alguns dos profissionais mais bem preparados do mercado, embora ganhem menos do que atores de sucesso no ambiente privado”; e “para quem preza a questão financeira, o Judiciário arrecada para os cofres públicos cerca de 70% do que despende”.

A primeira é empiricamente impressionista e ecoa a mitomania magistocrática. Sem uma definição de produtividade e sem dados comparados, sobra só o chute. Não basta a autoafirmação de produtividade, nem um número bruto de “quantas sentenças”. Sem falar da presunção de trabalhar mais que qualquer outra carreira pública no país.

A segunda ecoa arroubo corporativista, segundo o qual cada juiz abre mão de ser advogado rico na Faria Lima e faz sacrifício pelo bem público. Um grito de injustiçados. E a terceira expressa um erro conceitual e induz correlação artificial entre o quanto decisões judiciais contribuem para a arrecadação fiscal e a justificativa de seus salários (e melhor não problematizar o número de 70%). Imagine quanto mereceria ganhar, por esse critério, um agente da Receita Federal.

Mas a ousadia do argumento foi partir para a metafísica e destacar a imaterialidade da justiça. “Justiça é gênero de primeira necessidade. Há na sua atuação um valor inestimável, que não se mede em dinheiro. Coisas que têm valor, mas não têm preço.”

Entre as coisas sem preço, enumerou “correção de injustiças, pacificação social, punição de crime, proteção do consumidor, do meio ambiente e da saúde”. Não surpreende a ausência de “proteção do trabalhador”.

A justiça é inestimável, o Judiciário não. Seus descompassos remuneratórios e despesas mal explicadas devem estar sujeitos a escrutínio público real. A incomensurabilidade da prestação da justiça não faz de quem a presta uma autoridade indevassável e incriticável.

Não conheço quem discorde da essencialidade da Justiça. Nem alguém que, com base nessa premissa, justifique desperdício, promiscuidade, remuneração ilegal, indiferença a conflitos de interesse e negociações de constitucionalidade para garantir toda uma variedade de “auxílios-dignidade” (às vezes retroativos).

Justamente porque a prestação da justiça é inestimável, não é legal que ministros aceitem convite, direta ou indiretamente remunerado, para terem com empresários encontros interessados. Ou que aceitem viagens patrocinadas pelos atores econômicos e políticos que julgam no dia a dia.

Mas Barroso tem razão ao afirmar que a pergunta sobre o custo do Judiciário transcende a dimensão financeira. E se o valor da justiça é intangível, o desvalor da injustiça cruel também é.

O debate sério olha para fatos, não abstrações normativas. Precisamos de um método para calcular, por exemplo, quanto custa o STF para o país. Uma resposta para além da planilha, que aponte o aumento ou redução de sofrimento humano e de concentração de riqueza gerados por suas decisões.

Importante estimar, fora da linguagem financeira, quanto custa o apoio do STF à precarização do trabalho ou o atraso em invalidar a criminalização do porte de drogas. E reconhecer seu acerto em controlar operações policiais em favelas, que reduziu letalidade. E o acerto tardio em se enfrentar Bolsonaro, depois de tantas oportunidades de sancionar uma carreira política construída na delinquência política.

O STF cria agora um inovador programa de transferência de renda de aposentados para empresas que confessaram corrupção e celebraram acordos de leniência assessorados por times de advogados. Alegam tortura e pedem suspensão da multa. O neolavajatismo, como o lavajatismo, não tem preço. Bom observar quem perde e quem ganha. Algo estimável e personificável.

 

       Ciro diz que Bolsonaro será preso, mas critica estrelismo de Moraes

 

O ex-governador do Ceará e ex-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) disse neste sábado (2.mar.2024) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve ser preso e que espera que ele tenha o devido processo legal “como qualquer bandido”.

As declarações foram feitas em entrevista à CNN Brasil. Bolsonaro, ex-ministros e aliados nas Forças Armadas são investigados por suposto planejamento de um golpe de Estado, no âmbito da operação Tempus Veritatis.

Ciro Gomes declarou que, além da prisão, espera que o ex-chefe do Executivo tenha seus direitos legais garantidos.

“Vai ser preso, mas espero que com a prudência e a franquia à qual ele tem direito, como qualquer bandido, mesmo que seja uma pessoa como ele. Qualquer bandido tem direito ao devido processo legal.”

Ciro Gomes teceu críticas ao manejo do caso contra Bolsonaro que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal). “Se por estrelismo continuar fazendo bobagem, com decisões monocráticas e precárias, vai só cevar o argumento que, cada vez mais, faz ilegitima, na opinião pública, a sua conduta.”

O ex-governador do Ceará também criticou diretamente a atuação do ministro Alexandre de Moraes, que está à frente dos inquéritos. Ele afirmou que, apesar de ser muito qualificado, o magistrado corre o risco de ter suspeição de conduta.

“É isso que o Bolsonaro já está incitando no meio do povo.”

Para o pedetista, Bolsonaro deve ter garantido seu direito à “ampla, total e irrestrita defesa”, à presunção de inocência e a todos os recursos na Justiça. Ciro Gomes também disse que, só com uma condenação definitiva, Bolsonaro pode “pagar seus gravíssimos crimes”.

 

Fonte: A Nova Democracia/FolhaPress/Tribuna da Internet

 

Nenhum comentário: