sexta-feira, 22 de março de 2024

Não tínhamos ideia do tamanho dessa fraude, diz ministro da CGU sobre cartão de vacina de Bolsonaro

A Controladoria-Geral da União (CGU) não tinha ideia do “tamanho da fraude” sobre a suposta falsificação do cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse à CNN o ministro da pasta, Vinícius Marques de Carvalho.

Bolsonaro foi indiciado nesta terça-feira (19) pela Polícia Federal (PF) junto ao o tenente-coronel, Mauro Cid, seu antigo ajudante de ordens, por supostamente falsificar seus cartões de vacina contra Covid-19. Além dos dois, mais 15 pessoas foram indiciadas. A defesa de Bolsonaro acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo esclarecimentos sobre indiciamento.

“A gente não tinha ideia no começo, inclusive, do tamanho dessa fraude e nem das suas articulações.” - Vinícius Marques de Carvalho

A CGU é responsável por lidar com ilícitos praticados por servidores públicos, como o ex-presidente.

Sobre o que pode resultar do indiciamento do antigo chefe do Executivo, o ministro disse que a suposta fraude do cartão pode estar relacionada a outros temas, como o possível plano de golpe de Estado, pelo qual Bolsonaro também está sendo investigado.

“Cumpre à Justiça decidir, mas parece que vai ficando cada vez mais claras as articulações entre a questão da fraude do cartão de vacinação com outros temas relacionados com aquele ponto culminante do dia 8 de janeiro”, diz ele.

Além da suposta trama golpista, o chefe da pasta disse acreditar que a questão dos cartões de vacina também pode estar relacionada a outras investigações envolvendo Bolsonaro, como o caso da Abin Paralela.

“Isso tudo está sendo investigado”, responde o ministro. “São passos que vão se dando nessa direção e vão chegando a esse mesmo contexto de uma estrutura de poder que se montou de maneira arbitrária, que vai carcomendo as instituições do Estado brasileiro, que vai minando a legitimidade da atuação do Estado, para depois se tentar chegar ao resultado que se tentou”.

•        “Saímos de especulações para provas”, diz Gilmar Mendes sobre indiciamento de Bolsonaro

O ministro do Supremo Tribunal Federal(STF), Gilmar Mendes, disse estar “admirado” com os dados obtidos pela Polícia Federal e que levaram ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, do seu ex-ajudante de ordens Tenente Coronel Mauro Cid e de mais 15 pessoas, no inquérito que apura fraudes em cartões de vacinação.

“Nós saímos de especulações para provas. [Os dados] São de fato muito convincentes de que algo muito ruim estava em marcha”, disse o ministro após participar de evento organizado pela Esfera Brasil e pela Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB), em Brasília.

Ao ser questionado por jornalistas, Mendes avaliou ainda que raramente houve avanços tão significativos, se tratando das investigações que envolvem o ex-presidente e que agora, cabe ao STF aguardar os trâmites do processo.

“A Polícia Federal fará relatório, mandará para a Procuradoria Geral, a Procuradoria Geral avaliando, fará denúncia, a denúncia terá que ser submetida ao Crivo do Supremo Tribunal Federal, então haverá direito de defesa e aí então o Tribunal recebe a denúncia.

Depois dessa fase, vem a fase da instrução, se tudo isso ocorre positivamente e aí apresentam-se provas de um lado e de outro e se julgam, aí assim a gente tem a conclusão”, afirmou.

•        Waack: Bolsonaro arriscado a virar réu por vacina que combateu

Enquanto foi presidente, Jair Bolsonaro brigou com a vacina contra a Covid-19. E agora tem altíssima probabilidade de virar réu na justiça por falsificar cartão de vacinação contra a Covid-19. A Polícia Federal o indiciou por este crime, falsidade ideológica e associação criminosa.

A PF chegou ao indiciamento após uma investigação que dura já bem mais do que um ano.

Apoiada em diligências, mas também na delação premiada feita pelo “sombra” de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex ajudante de ordens.

Segundo Cid, Bolsonaro o mandou proceder à falsificação, documento que precisava para viajar aos Estados Unidos depois da eleição na qual foi derrotado.

Bolsonaro alega por meio de seus defensores que é vítima de perseguição judicial e que o indiciamento é um absurdo.

O problema para esta defesa, digamos, “política” de Bolsonaro é o nível de detalhes divulgados pela PF no indiciamento.

Eles arredondam um quadro que seria cômico, tal a incompetência dos participantes na falsificação, não fosse duplamente trágico um presidente dar um jeito de falsificar documento oficial para encobrir sua postura ideológica contrária à vacina.

No caso da falsificação dos cartões de vacinação, os investigadores acreditam ter conseguido responder ao clássico repertório de perguntas: quem mandou fazer o quê, quando e como.

Mais complicada é a investigação que trata de uma tentativa de golpe de Estado, atribuída a Bolsonaro.

A Polícia Federal liga o cartão de vacinação ao golpe de Estado. É neste âmbito que precisa apresentar os detalhes.

•        Bolsonaro pode ter problemas com a Justiça dos EUA, avaliam investigadores

O relatório final da Polícia Federal (PF) que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 16 pessoas informa que ainda há uma diligência não concluída.

Dependendo do resultado, o que vier à tona pode dar ainda mais dor de cabeça para parte dos indiciados.

No relatório da PF consta a informação de que ainda são esperados dados de auxílio jurídico solicitado junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

De acordo com o documento, essas informações “podem esclarecer se os investigados fizeram uso dos certificados de vacinação ideologicamente falsos quando da entrada e estadia em território norte-americano, podendo configurar novas condutas ilícitas”.

No dia 30 de dezembro de 2022, Bolsonaro e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, além de outros acompanhantes, viajaram aos Estados Unidos, país que exigia cartão de vacinação para ingressar no país.

O advogado Fabio Wajngarten, que integra a defesa do ex-presidente, publicou por meio de uma rede social nota dizendo que “enquanto exercia o cargo de presidente, ele estava completamente dispensado de apresentar qualquer tipo de certificado nas suas viagens”.

Os dois, no entanto, permaneceram em solo americano mesmo depois de ter vencido o mandato presidencial.

À CNN, fontes ligadas à investigação afirmam que se cartões fraudados foram usados para nos EUA, Bolsonaro e outros acompanhantes podem ter fraudado o processo migratório norte-americano e poderão, eventualmente, ter que prestar contas à Justiça no exterior.

•        Por fraude no cartão de vacinação, Bolsonaro poderia pegar de 3 a 15 anos de prisão

O inquérito da Polícia Federal indicia o ex-presidente Jair Bolsonaro por dois crimes: inserção de dados falsos em sistema de informações (art. 313-A do Código Penal) e associação criminosa (art. 288 do Código Penal).

Advogados ouvidos pela CNN apontam que a pena para estes crimes pode ir de 3 a 15 anos de prisão, a depender dos agravantes e atenuantes.

“A pena maxima em tese é de 15 anos. A pena provável, se condenado por tudo, 3 a 5 anos. Até 4 anos é possível substituir por penas alternativas. Se superar os 4 anos de condenação, existe a possibilidade de regime semi aberto”, afirma Aury Lopes. A tese é reforçada pelos advogados Daniel Bialski e Bruno Sales.

Criminalistas, no entanto, dizem que o Ministério Público tem a prerrogativa de alterar a tipificação dos crimes, excluindo ou acrescentando novas acusações à lista original da Polícia Federal. É a chamada ‘capitulação’, que é apontar o equadramento legal dos crimes nas denúncias oferecidas à Justiça.

“Eles podem ser condenados pela somatória das penas de cada ítem do indiciamento. São quatro crimes diferentes: falsidade idológica, uso documento falso, inserção de dados falso sistema informações e associação crimonosa”, diz o criminalista Francisco Pereira de Queiroz.

O advogado Alessandro Soares, professor de Direito Constitucional, também avalia que o caso especifico de Bolsonaro poderia ter inclusos nas denúncias esses quatro crimes elencados.

•        Indiciamento não impede Cid de concorrer a promoção, mas é demérito para se tornar coronel

O indiciamento do tenente-coronel Mauro Cid por participação em esquema de fraude em registro no cartão de vacina contra a Covid-19 não é o suficiente para impedir o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) de concorrer à promoção dentro do Exército.

Apesar disso, o caso é considerado uma “situação demeritória” que, segundo integrantes da Força, tira as chances de ele se tornar coronel neste momento.

O ex-ajudante de ordens é apontado como o articulador de um esquema que fraudou registro de vacina contra a Covid-19.

Nesta terça-feira (19), Cid, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 15 pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal.

Cid só deixaria de participar da disputa por uma promoção caso fosse denunciado formalmente e se tornasse réu no inquérito.

Sem essa condição “sub-judice”, ele segue na fila para ser elevado ao posto de coronel, mas com chances remotas visto que a análise leva em consideração o mérito e a vida militar.

Formado na turma de 2000 da Academia Militar das Agulhas Negras, Cid tem a primeira oportunidade de concorrer a promoção no próximo dia 30 de abril.

Depois há outras três chances: em 25 de agosto e 25 de dezembro deste ano, e em 30 de abril de 2025.

Nas três primeiras oportunidades, a promoção ocorre por merecimento. A última é por antiguidade no posto.

Mesmo antes do indiciamento no caso das vacinas, a possibilidade de Cid se tornar coronel era considerada improvável pela Cúpula Militar, como mostrou a CNN em fevereiro.

Isso porque a promoção por merecimento leva em consideração a vida militar e com isso Cid leva desvantagem a outros militares sem histórico conturbado.

Além de ser indiciado no caso da vacina, Cid também é investigado no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado e também no caso da venda de joias sauditas dadas de presente ao ex-presidente Bolsonaro.

Outro ponto em desfavor de Cid é o fato de ele não ter ocupado postos de comando. Em janeiro de 2023, ele foi impedido pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva, de assumir o 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais, em Goiânia (GO).

Inicialmente, Cid foi designado para ocupar um posto administrativo na direção do Comando de Operações Terrestres (Coter), em Brasília. Porém, preso em maio justamente por causa da fraude no cartão de vacina, o tenente-coronel está afastado das funções militares.

O ex-ajudante de ordens ficou preso por 116 dias e foi solto em setembro após assinar um acordo de colaboração premiada com Polícia Federal.

•        Não era para ter esse indiciamento, diz advogado de Mauro Cid sobre cartão de Bolsonaro

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), disse à CNN que o indiciamento dele no caso da fraude do cartão de vacinação do ex-presidente não estava previsto no acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal (PF).

Nesta terça (19), foi revelado que a PF indiciou o ex-presidente, o tenente-coronel e outras 15 pessoas por participação em esquema de fraude em registro no cartão vacinal contra a Covid-19.

“Não corresponde ao nosso acordo de colaboração premiada. Nós discordamos veementemente deste [indiciamento]. É uma agressão ao acordo que foi celebrado. Não era para fazer esse indiciamento”, disse o advogado Cezar Bitencourt.

Segundo apurou a CNN, Cid e Bolsonaro foram indiciados pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos.

Cid teria iniciado um esquema para forjar um certificado físico de vacinação para Covid-19 para sua esposa, segundo a PF. Posteriormente, houve a “adesão de outras pessoas, atuando de forma estável e permanente para inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em benefício do então Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, sua filha e outras pessoas, de acordo com a corporação.

De acordo com Bittencourt, a defesa irá questionar o relatório. “Esse questionamento, essa briga, é dentro dos autos que a gente vai ter. Com a Polícia Federal, com o ministro relator, seja com quem for. Não é para ser assim”.

Não é para fazer indiciamento. É para verificar a eficiência da delação. Em sendo eficiente — como foi, como foi reconhecido pela própria Polícia Federal de que a delação foi eficiente e contribuiu da forma que tinha que fazer — não pode ter aplicação de pena. É simples. Mas eu acho que não pode sequer haver denúncia. É isso que nós vamos questionar ainda

·        Cezar Bittencourt

Do lado de Bolsonaro, a estratégia será questionar o vazamento do relatório. A defesa do ex-mandatário já acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir esclarecimentos.

Bitencourt afirmou, no entanto, que não pretende seguir por este caminho. “Não muda nada [o vazamento]. A rigor, o que eu pretendo é questionar o próprio indiciamento. O Cid não poderia ser indiciado. Esse é o nosso acordo”, reiterou.

A CNN procurou a Polícia Federal para comentar as declarações do advogado e aguarda retorno.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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