Moisés Mendes: O carimbo de covardão
Lula decidiu que
também é tarefa dele, e não só de Paulo Pimenta, Gleisi Hoffmann, de outros
líderes mais destemidos e da militância, a desqualificação de Bolsonaro como
chefe fracassado do golpe.
E fracassado por
covardia. Na primeira vez em que se referiu ao chefe do golpe como covarde, dia
28 de fevereiro, em entrevista a Kennedy Alencar na Rede TV, Lula disse:
“Está pedindo anistia?
Você quer apagar a bobagem que fez? A bobagem é que ele se acovardou, pensou o
golpe, não teve coragem”.
Na última sexta-feira,
dia 15, em Porto no lançamento do PAC no Rio Grande do Sul, Lula afirmou diante
de empresários, na sede da Fiergs, a federação das indústrias:
"Tem um outro
tipo de político que, quando não faz nada, ele inventa briga. Ele mente, ele
provoca, ele monta uma fábrica de fake news para não ter que se justificar por
cobrança de nenhuma obra”.
Falando sobre o
crescimento da extrema direita no mundo e na vizinhança, disse:
"É o Milei na
Argentina. Quer fechar Banco Central, passar serrote. É aqui o Bolsonaro, que
eu não queria falar o nome. Até hoje ele não reconhece a derrota dele”.
Não queria falar o
nome, mas falou, diante da elite empresarial gaúcha, e não de militantes
petistas. Poderiam dizer de novo, como costumam repetir, que o presidente pode
ter sido empurrado pela empolgação do improviso na entrevista à TV e no
discurso em Porto Alegre e que por isso citou o inominável.
Mas não há como dizer
que, na abertura de uma reunião ministerial, com transmissão ao vivo, Lula
tenha cometido de novo, no entusiasmo, o que seria o erro de citar Bolsonaro.
Desta vez na mais dura referência ao sujeito, ao falar da tentativa de golpe:
"E não teve golpe
não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não
quiseram fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas também porque o
presidente é um covardão”.
Por que falar do golpe
e chamar o fracassado de covarde na reunião com os ministros? Para deixar claro
que ele, o presidente da República, deve se dirigir sem temor ao covardão que
tentou derrubá-lo.
Será assim daqui pra
frente, ou Lula já cumpriu a missão de bater no golpista politicamente
moribundo e irá moderar? Divirtam-se com a controvérsia do momento sobre o que
seria melhor para Lula, para o governo e para as esquerdas.
Polarizar ou não
polarizar, chamar o chefe do golpismo pelo substantivo-adjetivo certo,
intrigá-lo com os militares e os manés, ou moderar, conciliar com os generais,
terceirizar falas mais agressivas e saltar fora da polarização?
Lula está, como nunca
esteve nos dois governos anteriores, cercado de conselheiros sobre como agir
diante da sobrevida de Bolsonaro e da capacidade da extrema direita de recompor
o rabo perdido no golpe tabajara.
Lula parece ter
decidido, às vésperas do 31 de março, a carimbar Bolsonaro como o chefão
covarde. Para jogá-lo contra os generais do golpe, contra os que desafiaram as
ordens golpistas e contra toda a estrutura de poder das Forças Armadas. É o que
seria a melhor estratégia hoje.
Que o sistema de
Justiça se encarregue dos generais, que dificilmente escaparão, e que a tal
sociedade civil se dedique no 31 de março à memória dos perseguidos pela
ditadura.
E que se desmoralize o
sujeito que fugiu para os Estados Unidos e deixou seu grupo de 3M (milicos,
milicianos e manés) entregues ao desatino do 8 de janeiro.
Lula tem meio século
de sabedoria política. Os que ainda se acham entendidos em marketing da
política e em humores das redes sociais podem até saber mais sobre o que fazer
do que muita gente do entorno de Lula. Mas ninguém sabe mais do que Lula.
Lula acerta ao rotular Bolsonaro como
covardão. Por Tiago Barbosa
Lula acerta,
novamente, em rotular Bolsonaro como covardão - tanto na essência da palavra
como no agendamento do tema.
A desqualificação mira
no núcleo da propaganda extremista de fantasiar um bolsonaro viril, forte,
líder, imponente - falsificação atrativa a segmentos ressentidos por vivências
reais fracassadas.
A desconstrução expõe
o óbvio: trata-se de uma figura abjeta, frágil, débil - e perigosa -, alçada ao
poder pela antipolítica no rastro da concertação golpista.
Manter o tema em
evidência para evitar o sumiço no noticiário é assumir o controle da pauta e
filtrar a abordagem pela ótica do governo.
Não basta prender o
clã bolsonarista - é preciso esmagar a imagem para permitir a criminalização
futura e necessária dessa seita.
Indícios mostram que Braga Netto atuou na
coordenação, mobilização e captação de recursos para o 8/1
Os depoimentos dos
ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes
e o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, respectivamente, trouxeram
detalhes sobre os bastidores da trama golpista que ajudaram a complicar a
situação de Jair Bolsonaro (PL), mas, para a Polícia Federal, o alvo que mais
interessa agora não é o ex-presidente. O foco, segundo a coluna da jornalista
Malu Gaspar, de O Globo, está dirigido ao general Walter Braga Neto, que foi
candidato a vice na chapa encabeçada pelo ex-mandatário.
Os investigadores
consideram que a atuação de Bolsonaro no caso está esclarecida, mas há indícios
de que Braga Neto desempenhou um papel fundamental na coordenação, mobilização
e captação de recursos para os ataques que resultaram na invasão e depredação
das sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro do ano passado.
Segundo a reportagem,
embora o inquérito que investiga a trama golpista não deva esclarecer
completamente o roteiro do 8 de janeiro, incluindo planejamento, liderança e
financiamento, vários elementos serão transferidos para outro inquérito
relacionado às milícias digitais, conduzido pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Uma troca de mensagens
datada de 27 de dezembro de 2022, entre Braga Neto e um assessor de Bolsonaro,
Sérgio Rocha Cordeiro, levantou suspeitas. Nessa comunicação, Braga Neto é
questionado sobre o envio do currículo de uma mulher para um cargo no governo.
“Faltavam três dias para a posse de Lula, que já tinha sido inclusive diplomado
pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas Braga Netto respondeu: "’se
continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda’”.
Ainda conforme a
reportagem, “para a PF, a mensagem é um sinal de que " os investigados
ainda estavam empreendendo esforços para tentar um Golpe de Estado e
acreditavam na consumação do ato, impedindo a posse do governo legitimamente
eleito".
Além disso, evidências
sugerem que Braga Neto estava envolvido na coordenação das milícias digitais,
responsáveis por mobilizar apoiadores de Bolsonaro para os eventos que
culminaram no dia 8 de janeiro. A PF observa que, após a perda de gabinetes na
Esplanada dos Ministérios, os líderes golpistas se tornaram mais dependentes
das redes de mensagens, como WhatsApp e Telegram.
Outros indícios, ainda
não divulgados, estão sendo investigados, incluindo informações contidas no
computador apreendido de Braga Neto na sede do PL. A PF espera encontrar
evidências de que o general, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, também
estava envolvido na captação de recursos para o golpe.
Fogo no covil – Ex-ministro de Bolsonaro
ataca general: “Se borra agora” e “criminoso”
Com os avanços nas
investigações no Supremo Tribunal Federal em relação à tentativa de golpe de
Estado levada a cabo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que recentemente
permitiram a liberação do teor dos depoimentos de 27 envolvidos no levante
criminoso, obtidos após a Operação Tempus Veritatis, o clima nos intestinos do
bolsonarismo anda tenso e, como diz o velho adágio popular, “é cobra engolindo
cobra”.
O senador Ciro
Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, ainda no
papel de defensor do indefensável, mesmo que isso pareça incomodá-lo diante da
absoluta inaptidão e estupidez política de seu “líder”, saiu para o ataque e
foi para cima do general Marco Antônio Freira Gomes, então comandante do
Exército Brasileiro no fim da gestão passada e responsável pela tropa no
período da frustrada tentativa de ruptura institucional.
A oitiva de Freire
Gomes mostrou que o general confirmou que Bolsonaro pediu um golpe,
mostrando-lhe inclusive a minuta apreendida na casa do ex-ministro Anderson
Torres. O chefe do Exército teria inclusive ameaçado prender o então presidente
se ele seguisse com a ideia. Para Ciro Nogueira, Freire Gomes é “um criminoso”.
“O general da ativa
mais importante do país na ocasião que ouviu uma ameaça grave à democracia é o
mesmo que agora bate no ex-comandante em chefe que perdeu as eleições da mesma
forma que bateria continência para o mesmo comandante em chefe, caso ele tivesse
sido reeleito? Está absolutamente provado que há um criminoso inconteste. Ou o
criminoso que cometeu prevaricação ao não denunciar ao país o “golpe” ou o
caluniador que o denuncia hoje, não tendo ocorrido”, disparou o senador
piauiense.
Mas os ataques ao
antigo comandante militar não pararam por aí. Ciro disse ainda que o general
“borra-se agora” e que ele deveria “ter honrado a farda” assim como “o pijama”,
expressão normalmente utilizada para se referir aos oficiais generais que já foram
para a reserva nas Forças Armadas.
“Borrar-se agora
porque não pode fazer as continências que faria é uma vergonha inominável.
Todos os militares têm o dever de honrar sua farda. Alguns deveriam ter ainda
mais compromisso em honrar seus pijamas”, completou o parlamentar bolsonarista.
• Após depoimentos, Múcio defende
necessidade de “apaziguar de vez” relação com militares
O ministro da Defesa,
José Múcio Monteiro disse, nesta segunda-feira (18), que a suspeição sobre a
trama de um plano golpista orquestrado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
ajudará a melhorar a relação entre militares e o governo do PT.
Segundo o ministro,
ficou claro o posicionamento das Forças Armadas após os depoimentos. “As três
Forças não participaram”, disse.
Múcio destacou que a
investigação agora será individualizada, como havia sido defendido por
militares, o que evitará um clima de suspeição sobre às Forças.
“Acho que a gente
agora tem que arrefecer o clima para poder apaziguar de vez. E essas
declarações dos militares foram muito boas, porque a suspeição saiu do coletivo
e começou a ser individualizada. Agora são eles que estão dizendo quem são os
culpados.” - José Múcio
Durante reunião
ministerial desta segunda-feira (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) disse ter certeza de que “o país correu o risco de sofrer um golpe” e
chamou o ex-presidente Bolsonaro de “covardão”, por ter viajado aos Estados
Unidos às vésperas da posse presidencial.
Exército vai apurar se houve punição a
oficiais da ativa que assinaram carta pró-golpe
O Exército vai apurar
quem são os oficiais da ativa que assinaram carta para pressionar o
ex-comandante da força, Freire Gomes, a aderir ao golpe tentado durante o
governo de Jair Bolsonaro (PL).
O atual comandante,
general Tomás Paiva, quer uma análise aprofundada para saber se de fato houve
uma punição, num ato que é considerado ilícito: militares da ativa não podem se
posicionar do ponto de vista político.
A carta foi articulada
por militares nos dias após o segundo turno, quando as conspirações a favor de
um golpe aumentaram. De acordo com a investigação da Polícia Federal, no dia 28
de novembro de 2022, militares da ativa articularam uma reunião no salão de
festas de um prédio na quadra 305, na asa norte de Brasília.
Desse encontro saiu
uma carta, cujo teor foi enviado para o celular de Mauro Cid às 20:02 daquele
dia. O título dela era "Carta ao Comandante do Exército De Oficiais
Superiores da Ativa do Exército Brasileiro". O texto falava que
"covardia e injustiça são as qualificações mais abominadas por soldados de
verdade" e fazia críticas ao Judiciário.
No depoimento à PF,
Freire Gomes aborda a questão e fala em punição. Diz que a publicação da carta
foi feita para pressioná-lo, disse que não considerava lícita a manifestação
dos oficiais da ativa e que foi informado do fato pelo Centro de Comunicação Social
do Exército.
"Determinou que
fosse feita uma apuração em todos os Comandos de Área para que identificassem e
tomassem as providências cabíveis; que foi identificada a participação de
alguns miliares que foram punidos na medida de suas participações no ato",
afirmou Freire Gomes à PF, sem citar nomes nem punição.
No domingo (17), em
sua coluna no jornal O Globo, Miriam Leitão pegou o trecho do depoimento de
Freire Gomes e questionou: "Mas quem são eles? E que punições? Isso ele
não disse nem lhe foi perguntado".
A adesão ao texto
formal começou a ser feita de maneira virtual. Na quebra do sigilo de telefone
de Cid, a PF descobriu que quem mandou o texto para ele foi Bernardo Correa
Netto, que atuava no Comando do Sul e que acabou sendo alvo de prisão na
investigação sobre o golpe.
Segundo o jornal Folha
de S.Paulo, a PF já identificou dois nomes de coronéis da ativa que assinaram o
texto.
Fonte: Brasil
247/Fórum/CNN Brasil/g1
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