Bicampeão olímpico fala de diagnóstico
tardio de TDAH
Quando James Guy
completou 24 anos, ele já havia batido recordes britânicos de natação e se
tornado campeão mundial e europeu. Mas, no fundo, sentia que algo não estava
certo.
Naquele ano, no
entanto, a vida finalmente começaria a fazer sentido para Guy. Ele foi
diagnosticado com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Olhando para trás
agora como bicampeão olímpico, o nadador, de 28 anos, percebe que nunca teve um
defeito. Era apenas diferente.
Estima-se que pelo
menos uma em cada sete pessoas no Reino Unido seja neurodivergente — termo
usado para descrever alguém que pensa de forma diferente devido a condições que
incluem autismo, dislexia, dispraxia e TDAH.
Embora o diagnóstico
tenha ajudado Guy a conhecer a si mesmo, crescer sem ele teve um impacto
duradouro.
"Por volta dos 15
anos, me colocaram em aulas particulares para obter ajuda extra na escola,
porque não era o cara mais inteligente do mundo", diz ele à BBC Sport.
"Achava as coisas
difíceis de entender, e precisava que o professor repetisse quatro vezes,
simplesmente para absorver."
"Me sentia
excluído. Meus amigos riam, me zoavam. Eu não dava bola porque eram meus
melhores amigos, mas era muito constrangedor."
Embora sua escola
fosse atenciosa, Guy acredita que não havia recursos suficientes na época para
identificar seu TDAH.
Quando completou 20
anos, ele percebeu que seus sintomas persistiam fora do ambiente escolar e
impactavam sua vida cotidiana. Com isso, veio à tona o anseio por uma resposta.
"Na minha vida
cotidiana, posso me distrair muito facilmente", ele conta.
"Vou começar uma
tarefa, não vou terminar, vou fazer outra coisa, e não vou terminar. Tento dar
o meu melhor, mas não consigo evitar."
"Até mesmo se a
Courtney (a noiva dele) estiver falando comigo, ela vai perguntar: 'Você está
ouvindo?' Eu vou responder que 'sim', e ela vai dizer: 'Então, o que eu disse?'
E eu respondo 'hum...' — não de uma forma rude, mas porque meu cérebro diverge",
explica.
"Eu disse ao meu
psicólogo que estou 16 quilômetros por hora à frente ou 16 quilômetros por hora
atrás. Não existe meio-termo."
Nos quatro anos
seguintes, o diagnóstico permitiu que Guy abraçasse totalmente a vida na
piscina com TDAH — e que a British Swimming, a federação britânica de natação,
adaptasse o apoio que oferece às suas necessidades.
"Acho difícil
ficar parado, tenho que fazer alguma coisa o tempo todo, e é por isso que nadar
é muito bom para mim", diz ele.
"Quando vou para
casa, como estou mentalmente cansado, consigo sentar no sofá e relaxar."
"Se Ryan (o
treinador dele) estiver lendo algo para mim em voz alta pela primeira vez,
nunca vai entrar na minha cabeça. Preciso ver fisicamente, e repetir",
afirma.
"Amo o que faço
diariamente. A emoção que você sente depois de uma bom treinamento é enorme. É
muito raro ter um dia ruim."
Guy vai competir no
Campeonato Britânico de Natação de 2 a 7 de abril, em busca da classificação
para sua terceira participação consecutiva nos Jogos Olímpicos.
E ao promover a
autoaceitação, o especialista nos 200m livres e 100m borboleta encontrou
maneiras de usar o TDAH a seu favor, incluindo a conquista de duas medalhas de
ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.
"Se estou fazendo
algo, sempre me comprometo 100%. Posso demorar um pouco para chegar lá, mas vou
fazer as coisas adequadamente, e não sem convicção, o que é uma ferramenta
valiosa na vida cotidiana", explica.
• A importância de falar sobre o tema
O diagnóstico, no
entanto, nem sempre é uma resolução clara, já que 80% dos adultos com TDAH
convivem com algum um problema de saúde mental externo em algum momento da
vida.
Isso soa bastante
familiar para o nadador que sofre de ansiedade em relação à saúde desde 20 e
poucos anos.
"Às vezes, fico
muito ansioso quando um treino ou competição importante está chegando",
diz ele.
"Mesmo que ainda
falte muito tempo, meu estômago fica incomodado ou perco o apetite por alguns
dias."
"Não é uma
posição agradável para se estar, mas aprendi como reconhecer e administrar
isso."
"Às vezes, tenho
muito medo de ficar doente, porque não quero perder nenhuma oportunidade na
piscina. Pesquiso meus sintomas e deixo todos os remédios prontos para
uso", relata.
"Preciso que o
médico me diga: 'Não se preocupe com isso, James'."
"Se esse apoio
não existisse, eu realmente teria dificuldade de lidar com isso sozinho",
conclui.
Ao longo desta
jornada, Guy enfatiza a importância de não ter medo de falar sobre
neurodivergência ou saúde mental.
"Minha noiva,
minha mãe, meu pai e irmão sempre me apoiaram. Eles entendem que tenho TDAH, e
não se importam com isso. Eles me amam por quem eu sou."
"Veja os atletas
que estão indo muito bem. Há muitas questões de saúde mental porque estamos
encapsulados nesta bolha em que não sabemos o que é a vida real."
"Nos submetemos à
dor todos os dias. Não é normal, e não é como acredito que a vida deva ser
vivida."
Esse apoio e
consciência significam que os dias em que Guy se sentia um estranho ficaram
para trás. Ele só gostaria de ter crescido com essa informação.
"Eu diria ao
James de 12 anos para… fazer um teste de TDAH", ri o nadador.
Fonte: BBC Sport
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