segunda-feira, 4 de março de 2024

Débora Bergamasco: Por “lado certo” na História, Lula não recuará sobre críticas a governo de Israel

Mesmo com alto custo político dentro do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não recuará um centímetro das críticas severas que vem fazendo contra a resposta do governo de Benjamin Netanyahu, de Israel, aos ataques terroristas do Hamas.

Lula sabe que o tema continuará sendo usado pelos adversários políticos para colocar cristãos, sobretudo evangélicos, contra o governo.

Parte das igrejas pentecostais e neopentecostais nutrem devoção por Israel. Entre outras razões, interpretam que a volta de Cristo à Terra está ligada à retomada de Jerusalém pelo povo judeu.

De acordo com fontes ouvidas pela CNN, o presidente sente os efeitos negativos diante do eleitorado interno.

Sabe que seu posicionamento o aparta ainda mais deste público já arrebatado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas, neste caso, não vai arredar. Sempre que puder, especialmente em palcos internacionais, seguirá defendendo o fim da guerra e a criação de um estado soberano para os palestinos.

A comparação que o petista fez há duas semanas com o Holocausto nazista contra judeus aconteceu depois de reuniões com autoridades palestinas e egípcias que já apontavam a ele o colapso total de Gaza. Especialmente após a suspensão do envio de verbas de alguns países para bancar ajuda humanitária.

Fontes da diplomacia disseram à CNN que nessas reuniões foi dito a Lula que Gaza, antes comandada pelo Hamas, agora está acéfala. Sem governo e sem rumo.

Mortes como as do mais de cem civis na fila por comida ocorridas na quinta-feira (29) eram tragédia anunciada.

Depois de sua passagem pelo Egito, Lula ratificou a convicção de que lideranças da comunidade internacional precisam aumentar o tom pelo cessar-fogo para salvar vidas agora.

E mais. Para Lula, quando o tempo correr, a poeira baixar, a guerra acabar e os governos mudarem, a História vai dizer qual lado estava certo. E nutre a fé de que terá acertado em sua escolha.

•        Lula vai pra cima de Netanyahu: genocídio de Israel não tem limite ético ou legal, diz nota do Itamaraty

O governo Lula aumentou ainda mais o tom contra o genocídio perpetrado pelo governo sionista de Israel um dia após o "massacre das farinhas", quando o Exército de Israel abriu fogo e matou ao menos 112 palestinos que buscavam comida em caminhões de ajuda humanitária.

Em uma das mais duras notas já divulgadas pela diplomacia brasileira, o Itamaraty diz que "o governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal".

"O Governo brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio", diz o texto, em um apelo à comunidade internacional para barrar o massacre do povo palestino em Gaza.

Segundo o governo brasileiro, "as aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza".

Em seguida, o Itamaraty afirma que as declarações do governo Netanyahu para tentar explicar o massacre ocorrido no norte da Faixa de Gaza, são "cínicas e ofensivas às vítimas do incidente".

"Autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana", diz o texto.

<<<< Leia a íntegra da nota oficial do Itamaraty

·        Ataque a tiros contra palestinos que aguardavam o recebimento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza

O Governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda consternação, dos disparos por arma de fogo, por forças israelenses, ocorrido no dia de ontem, no Norte da Faixa de Gaza, em local em que palestinos aguardavam o recebimento de ajuda humanitária. Na ocasião, mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento.

As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território.

Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem.

Autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana.

O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.

A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.

Ao expressar sua solidariedade ao povo palestino, sobretudo aos familiares das vítimas, o Brasil reafirma seu firme repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis, sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica.

O massacre de hoje vem se somar às mais de 30 mil mortes de civis palestinos, das quais mais de 12 mil são crianças, registradas desde o início do conflito, além dos mais de 1,7 milhão de palestinos vítimas de deslocamento forçado. O Brasil reitera a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.

O Governo brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.

#GazaHolocaust: Mundo dá razão a Lula

O massacre chocante de 112 civis palestinos promovido pelas forças militares de Israel na Faixa de Gaza, nesta quinta-feira (29), gerou revolta generalizada e despertou boa parte do mundo para as atrocidades que estão sendo cometidas na região.

Centenas de pessoas estavam em uma fila para receber ajuda humanitária quando foram alvos de disparos israelenses. As imagens deixaram até mesmo aqueles que relativizavam as ações de Israel estarrecidos.

A repercussão foi tamanha que, às 21h30 desta quinta-feira, a hashtag #GazaHolocaust (em português, Holocausto de Gaza), foi para a lista de assuntos mais comentados do X, o antigo Twitter. São pessoas de diferentes lugares do mundo repercutindo o morticínio de palestinos e fazendo comparações não só entre o nazismo e o sinonismo, bem como entre o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e Adolf Hitler, o líder do regime nazista na Alemanha que promoveu um genocídio contra o povo judeu.

Indiretamente, essas associações dão razão ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que no dia 18 de fevereiro, em uma corajosa declaração durante a Cúpula da União Africana na Etiópia, comparou a matança de palestinos deflagrada por Israel ao morticínio de judeus promovido pelo nazismo.

·        Nota dura sobre Israel passou por Lula antes de ser divulgada pelo Itamaraty

A nota publicada pelo Itamaraty na manhã de sexta-feira (1º) com duras críticas ao governo de Benjamin Netanyahu, além de apelos à comunidade internacional sobre a situação em Gaza, foi remetida pelo chanceler brasileiro Mauro Vieira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes de ser publicada.

O ministro das Relações Exteriores está em São Vicente e Granadinas para acompanhar o presidente na VIII Cúpula da CELAC. Segundo apurou a CNN, após passar o texto com Lula, Vieira pediu que assessores adotassem um tom mais “incisivo”.

A nota é uma reação à morte a tiros de civis por soldados israelenses. Imagens mostram os palestinos atingidos no momento em que se aproximam de um caminhão com ajuda humanitária.

A publicação do ministro de Segurança de Israel sobre o assunto foi o estopim para um tom mais enfático do Brasil. Itamar Ben-Gvir condenou a entrada de ajuda humanitária em Gaza ao tentar justificar o ataque. O Itamaraty trata o posicionamento do ministro de Netanyahu como “deboche”.

“Hoje ficou provado que a transferência de ajuda humanitária para Gaza não é apenas uma loucura enquanto os nossos raptados estão detidos na Faixa em condições precárias, mas também põe em perigo os soldados das FDI”, disse.

Integrantes da diplomacia brasileira reconheceram à CNN que a nota adotou um tom diferente de outros e que a menção ao governo Netanyahu é proposital.

“O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades.”, diz a nota. Auxiliares de Mauro Vieira já precificaram que deve haver reação de Israel.

Uma possibilidade seria o país convocar o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para uma consulta.

Na última semana, o Brasil fez o mesmo e convocou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Mayer. Para a diplomacia, o gesto mostra a insatisfação de um país com outro.

 

Ø  Waack: Não há sinais de que a tragédia em Gaza vá cessar

 

As cenas em Gaza são horríveis. Pessoas estão morrendo numa fila para entrega de comida.

Segundo o Hamas, foram mortos por disparos feitos por soldados israelenses.

Por outro lado, o Exército Israelense afirma que as vítimas foram atropeladas pelos caminhões de comida quando a fila virou caos, admitindo ter feito disparos.

Os Estados Unidos cobraram explicações do governo israelense, o que hoje é o centro da questão.

O governo israelense se recusa a admitir interferências de quem quer que seja no que considera seu direito de agir militarmente em defesa.

Essa operação militar em Gaza, e seu devastador preço em vidas civis, destruiu boa parte do apoio internacional a Israel. Mais ainda, Israel se opõe a um plano de estabelecer um estado palestino na região, fórmula que tem hoje amplo apoio internacional, inclusive por parte de aliados incondicionais de Israel, como os Estados Unidos.

Em outras palavras, o que Israel considera seu legítimo direito de defesa é o que lhe está custando legitimidade internacional. Dois aspectos são centrais nesta situação grave e aparentemente sem solução.

O primeiro é o fato de que os Estados Unidos não conseguem levar Israel a aceitar o que também Washington considera essencial no momento, que é um cessar-fogo.

E o governo israelense, duramente criticado fora e sabendo que dificilmente sobrevive a uma eleição, quer obter de uma operação militar a solução para uma questão fundamentalmente política.

Não há sinais de que a tragédia vá parar, ou sequer melhorar.

 

Fonte: CNN Brasil/Fórum

 

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