Débora Bergamasco: Por “lado certo” na
História, Lula não recuará sobre críticas a governo de Israel
Mesmo com alto custo
político dentro do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não
recuará um centímetro das críticas severas que vem fazendo contra a resposta do
governo de Benjamin Netanyahu, de Israel, aos ataques terroristas do Hamas.
Lula sabe que o tema
continuará sendo usado pelos adversários políticos para colocar cristãos,
sobretudo evangélicos, contra o governo.
Parte das igrejas
pentecostais e neopentecostais nutrem devoção por Israel. Entre outras razões,
interpretam que a volta de Cristo à Terra está ligada à retomada de Jerusalém
pelo povo judeu.
De acordo com fontes
ouvidas pela CNN, o presidente sente os efeitos negativos diante do eleitorado
interno.
Sabe que seu
posicionamento o aparta ainda mais deste público já arrebatado pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas, neste caso, não vai arredar. Sempre que
puder, especialmente em palcos internacionais, seguirá defendendo o fim da
guerra e a criação de um estado soberano para os palestinos.
A comparação que o
petista fez há duas semanas com o Holocausto nazista contra judeus aconteceu
depois de reuniões com autoridades palestinas e egípcias que já apontavam a ele
o colapso total de Gaza. Especialmente após a suspensão do envio de verbas de alguns
países para bancar ajuda humanitária.
Fontes da diplomacia
disseram à CNN que nessas reuniões foi dito a Lula que Gaza, antes comandada
pelo Hamas, agora está acéfala. Sem governo e sem rumo.
Mortes como as do mais
de cem civis na fila por comida ocorridas na quinta-feira (29) eram tragédia
anunciada.
Depois de sua passagem
pelo Egito, Lula ratificou a convicção de que lideranças da comunidade
internacional precisam aumentar o tom pelo cessar-fogo para salvar vidas agora.
E mais. Para Lula,
quando o tempo correr, a poeira baixar, a guerra acabar e os governos mudarem,
a História vai dizer qual lado estava certo. E nutre a fé de que terá acertado
em sua escolha.
• Lula vai pra cima de Netanyahu:
genocídio de Israel não tem limite ético ou legal, diz nota do Itamaraty
O governo Lula
aumentou ainda mais o tom contra o genocídio perpetrado pelo governo sionista
de Israel um dia após o "massacre das farinhas", quando o Exército de
Israel abriu fogo e matou ao menos 112 palestinos que buscavam comida em
caminhões de ajuda humanitária.
Em uma das mais duras
notas já divulgadas pela diplomacia brasileira, o Itamaraty diz que "o
governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar
em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal".
"O Governo
brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares
emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que
demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática
de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da
Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio",
diz o texto, em um apelo à comunidade internacional para barrar o massacre do
povo palestino em Gaza.
Segundo o governo
brasileiro, "as aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a
ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a
população civil da Faixa de Gaza".
Em seguida, o
Itamaraty afirma que as declarações do governo Netanyahu para tentar explicar o
massacre ocorrido no norte da Faixa de Gaza, são "cínicas e ofensivas às
vítimas do incidente".
"Autoridades da
ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes
organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de
caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e
desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional
diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para
que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras
básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas
às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo
Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no
valor da vida humana", diz o texto.
<<<< Leia
a íntegra da nota oficial do Itamaraty
·
Ataque a tiros contra palestinos que
aguardavam o recebimento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza
O Governo brasileiro
tomou conhecimento, com profunda consternação, dos disparos por arma de fogo,
por forças israelenses, ocorrido no dia de ontem, no Norte da Faixa de Gaza, em
local em que palestinos aguardavam o recebimento de ajuda humanitária. Na
ocasião, mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 feridas por tiros,
pisoteio ou atropelamento.
As aglomerações em
torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação
desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as
dificuldades para obtenção de alimentos no território.
Trata-se de uma
situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de
responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem.
Autoridades da ONU e
especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes
organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de
caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e
desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional
diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para
que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras
básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas
às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo
Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no
valor da vida humana.
O governo Netanyahu
volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem
qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta
para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes
morrerão.
A humanidade está
falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.
Ao expressar sua
solidariedade ao povo palestino, sobretudo aos familiares das vítimas, o Brasil
reafirma seu firme repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis,
sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica.
O massacre de hoje vem
se somar às mais de 30 mil mortes de civis palestinos, das quais mais de 12 mil
são crianças, registradas desde o início do conflito, além dos mais de 1,7
milhão de palestinos vítimas de deslocamento forçado. O Brasil reitera a absoluta
urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária
em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.
O Governo brasileiro
recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela
Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que
Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os
atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a
Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.
#GazaHolocaust: Mundo
dá razão a Lula
O massacre chocante de
112 civis palestinos promovido pelas forças militares de Israel na Faixa de
Gaza, nesta quinta-feira (29), gerou revolta generalizada e despertou boa parte
do mundo para as atrocidades que estão sendo cometidas na região.
Centenas de pessoas
estavam em uma fila para receber ajuda humanitária quando foram alvos de
disparos israelenses. As imagens deixaram até mesmo aqueles que relativizavam
as ações de Israel estarrecidos.
A repercussão foi
tamanha que, às 21h30 desta quinta-feira, a hashtag #GazaHolocaust (em
português, Holocausto de Gaza), foi para a lista de assuntos mais comentados do
X, o antigo Twitter. São pessoas de diferentes lugares do mundo repercutindo o
morticínio de palestinos e fazendo comparações não só entre o nazismo e o
sinonismo, bem como entre o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e
Adolf Hitler, o líder do regime nazista na Alemanha que promoveu um genocídio
contra o povo judeu.
Indiretamente, essas
associações dão razão ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que
no dia 18 de fevereiro, em uma corajosa declaração durante a Cúpula da União
Africana na Etiópia, comparou a matança de palestinos deflagrada por Israel ao
morticínio de judeus promovido pelo nazismo.
·
Nota dura sobre Israel passou por Lula
antes de ser divulgada pelo Itamaraty
A nota publicada pelo
Itamaraty na manhã de sexta-feira (1º) com duras críticas ao governo de
Benjamin Netanyahu, além de apelos à comunidade internacional sobre a situação
em Gaza, foi remetida pelo chanceler brasileiro Mauro Vieira ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) antes de ser publicada.
O ministro das
Relações Exteriores está em São Vicente e Granadinas para acompanhar o
presidente na VIII Cúpula da CELAC. Segundo apurou a CNN, após passar o texto
com Lula, Vieira pediu que assessores adotassem um tom mais “incisivo”.
A nota é uma reação à
morte a tiros de civis por soldados israelenses. Imagens mostram os palestinos
atingidos no momento em que se aproximam de um caminhão com ajuda humanitária.
A publicação do
ministro de Segurança de Israel sobre o assunto foi o estopim para um tom mais
enfático do Brasil. Itamar Ben-Gvir condenou a entrada de ajuda humanitária em
Gaza ao tentar justificar o ataque. O Itamaraty trata o posicionamento do
ministro de Netanyahu como “deboche”.
“Hoje ficou provado
que a transferência de ajuda humanitária para Gaza não é apenas uma loucura
enquanto os nossos raptados estão detidos na Faixa em condições precárias, mas
também põe em perigo os soldados das FDI”, disse.
Integrantes da
diplomacia brasileira reconheceram à CNN que a nota adotou um tom
diferente de outros e que a menção ao governo Netanyahu é proposital.
“O governo Netanyahu
volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem
qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta
para, somente assim, evitar novas atrocidades.”, diz a nota. Auxiliares de Mauro
Vieira já precificaram que deve haver reação de Israel.
Uma possibilidade
seria o país convocar o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para
uma consulta.
Na última semana, o
Brasil fez o mesmo e convocou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico
Mayer. Para a diplomacia, o gesto mostra a insatisfação de um país com outro.
Ø
Waack: Não há sinais de que a tragédia em
Gaza vá cessar
As cenas em Gaza são
horríveis. Pessoas estão morrendo numa fila para entrega de comida.
Segundo o Hamas, foram
mortos por disparos feitos por soldados israelenses.
Por outro lado, o
Exército Israelense afirma que as vítimas foram atropeladas pelos caminhões de
comida quando a fila virou caos, admitindo ter feito disparos.
Os Estados Unidos
cobraram explicações do governo israelense, o que hoje é o centro da questão.
O governo israelense
se recusa a admitir interferências de quem quer que seja no que considera seu
direito de agir militarmente em defesa.
Essa operação militar
em Gaza, e seu devastador preço em vidas civis, destruiu boa parte do apoio
internacional a Israel. Mais ainda, Israel se opõe a um plano de estabelecer um
estado palestino na região, fórmula que tem hoje amplo apoio internacional, inclusive
por parte de aliados incondicionais de Israel, como os Estados Unidos.
Em outras palavras, o
que Israel considera seu legítimo direito de defesa é o que lhe está custando
legitimidade internacional. Dois aspectos são centrais nesta situação grave e
aparentemente sem solução.
O primeiro é o fato de
que os Estados Unidos não conseguem levar Israel a aceitar o que também
Washington considera essencial no momento, que é um cessar-fogo.
E o governo
israelense, duramente criticado fora e sabendo que dificilmente sobrevive a uma
eleição, quer obter de uma operação militar a solução para uma questão
fundamentalmente política.
Não há sinais de que a
tragédia vá parar, ou sequer melhorar.
Fonte: CNN
Brasil/Fórum
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