Proteção a mulheres, armas e pets: os temas mais frequentes nas
propostas do Congresso em 2023
Deputados e senadores apresentaram, ao longo de
2023, mais de 7 mil propostas legislativas, considerando-se
somente projetos de lei e de lei complementar, propostas de emenda à
Constituição (PEC) e projetos de decreto legislativo.
Não há um número mínimo ou máximo de textos que
podem ser protocolados. Também não há garantia de que uma proposta caminhe
depois de ser apresentada.
Levantamento do g1 aponta que, neste
universo de projetos, a maior parte é voltada para discutir direitos das
mulheres — 302, somando iniciativas na Câmara dos
Deputados e no Senado (leia
mais aqui).
>>> No topo do ranking, também aparecem
propostas:
- relacionadas
aos direitos de crianças e adolescentes, idosos e pessoas com deficiência
(296)
- e para
derrubar normas editadas pelo governo federal (259)
Outros temas também se destacaram ao longo do
primeiro ano de trabalho da nova legislatura do Congresso, como:
- o
acesso a armas de fogo (136)
- proteção
e direitos de animais domésticos, os pets, e silvestres (126)
- aborto
(23)
- inteligência
artificial (23)
- flexibilizações
de regras de exploração e demarcação de terras indígenas (12)
- e
regras para cigarros eletrônicos (6)
<<<< Proteção a mulheres
O volume de projetos que preveem, em alguma escala,
medidas para a população feminina se manteve constante durante 2023. Com este
teor, há textos que endurecem penas de agressores domésticos, que criam o crime
de misoginia e que estabelecem protocolos de proteção de vítimas de violência
doméstica.
Do rol de propostas apresentadas neste ano sobre a
proteção de mulheres, o Congresso aprovou, por exemplo, um projeto
que cria um protocolo de combate e prevenção à violência contra a mulher em
casas noturnas, boates, espetáculos musicais em locais fechados, shows com venda de
bebida alcoólica e competições esportivas.
Também aprovou uma proposta que inclui punições, no
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a advogados que cometem
assédios moral e sexual. Os textos
já foram sancionados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e estão em
vigor.
·
Reações do Legislativo
Em 2023, outros temas conquistaram espaço no
Congresso a partir de desdobramentos sociais.
São os casos das propostas que tratam, por exemplo,
do direito ao aborto e de regras para o uso de inteligência artificial.
Pauta rotineira de parlamentares religiosos e mais
alinhados à direita, a interrupção voluntária da gravidez retornou com força
aos discursos de parlamentares em setembro. O gatilho foi a decisão da então
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Rosa Weber, de pautar e
votar em julgamento — já suspenso e sem data para retornar — que discute a
descriminalização do aborto até a 12ª semana.
Membros da oposição na Câmara e no Senado reagiram
protocolando propostas para criar obstáculos aos casos em que a interrupção é
possível por lei. No Senado, o grupo ainda conseguiu emplacar um projeto que
pede um plebiscito para consultar a população sobre a descriminalização da
prática.
·
Uso da inteligência artificial gerou debates em 2023
A inteligência artificial (IA) ganhou atenção nos
últimos meses deste ano, quando foram noticiados casos de manipulação de
vídeos, imagens e vozes de pessoas reais para a produção de conteúdo
pornográfico. Em um deles, no Rio de Janeiro, as vítimas foram estudantes
menores de idade.
No Congresso, senadores e deputados protocolaram
propostas para tornar crime a prática. Em seu projeto, o senador Jorge
Kajuru (PSB-GO) propõe utilizar um artigo já existente do Código Penal,
que pune quem faz montagem em conteúdo audiovisual para incluir pessoas em cena
de nudez, para estabelecer que a punição também será válida para aqueles que
utilizarem ferramentas de IA.
Deputados reúnem projetos com soluções diversas.
Erika Kokay (PT-DF) e
Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG), por exemplo, defendem a criação de um novo tipo
penal. As penas variam de 6 meses a 3 anos de prisão.
Os presidentes da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do
Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), já
sinalizaram a lideranças que propostas com regras para o uso de inteligência
artificial devem estar entre as
prioridades das Casas em 2024.
·
Causa animal
O teor das propostas apresentadas reflete também as
plataformas utilizadas pelos parlamentares para conquistar votos nas eleições
de 2022. Ganhando cada vez mais espaço no mundo político e no eleitorado, a
causa animal foi um dos “hits” do Congresso em 2023.
Entre os mais de cem projetos apresentados, está um
texto, do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), que
cria um Estatuto do Animal Doméstico, com deveres aos tutores e definição de
crimes contra os pets. O Senado também recebeu proposta que estabelece regras
para a guarda compartilhada de um animal de estimação com tutores divorciados.
Na Câmara, onde há o maior número de projetos sobre
animais domésticos e silvestres (117), foram protocoladas propostas que criam
uma política nacional de doação de sangue para PETs, que regulamentam o
transporte de animais de estimação em aeronaves e que determinam o socorro a
animais atropelados em vias públicas.
·
Oposição na ‘cola’ do governo
Os projetos apresentados em 2023 sinalizam uma
tendência de parlamentares de oposição ao governo Lula em tentar se mobilizar
em torno de temas ainda não pacificados dentro da base aliada no Congresso.
Ao todo, 259 projetos para derrubar normas editadas
pelo governo, como decretos e portarias, foram apresentados neste ano.
Para parlamentares, os textos têm sido utilizados
como forma de demonstrar a posição do Congresso e abrir canais de negociação
com o Planalto.
Foi assim quando, em maio, o Planalto
assistiu à Câmara aprovar a derrubada de trechos de dois decretos editados por
Lula para mudar regras do marco legal do saneamento básico, aprovado
pelo Congresso em 2020.
Na chegada da proposta ao Senado, o governo recuou
e, dois meses depois, revogou os decretos, editando novos textos que atendiam a
demandas dos parlamentares.
Em novembro, uma portaria do Ministério
do Trabalho gerou reação dos congressistas, que apresentaram 15 propostas para
derrubar a norma. O texto, criticado por entidades e parlamentares, restringe o
trabalho aos domingos e feriados no comércio.
A Câmara chegou a aprovar a urgência para votar o
projeto, mas o governo recuou. A portaria, que passaria a valer imediatamente,
foi alterada e ganhou novo prazo para entrar em vigor: março de 2024. Até lá, o
ministro Luiz
Marinho se
comprometeu a estudar uma alternativa junto ao setor e aos parlamentares.
Às vésperas de encerrar os trabalhos deste ano, em
18 de dezembro, a Câmara
aprovou a urgência para votação de um texto que derruba decreto de Lula que
exige visto para
turistas do Canadá, Estados Unidos e Austrália a partir de 2024.
Além deste, outros dois projetos com igual teor
foram apresentados na Câmara e no Senado. A interlocutores, Arthur Lira já
sinalizou apoio à derrubada.
Ø Em 2023,
Conselhos de Ética do Congresso arquivaram mais da metade dos processos por
suposta quebra de decoro
Os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado,
responsáveis por apurar supostas quebras de decoro por parte dos parlamentares,
arquivaram mais da metade dos processos analisados entre janeiro e dezembro de
2023.
Na Câmara dos Deputados, foram 29 representações.
Destas, 19 foram arquivadas e outras três tiveram a tramitação encerrada após
solicitação dos autores das ações. Já no Senado Federal, dos 13 casos
apresentados, seis acabaram arquivados.
Com isso, restaram sete processos em andamento na
Câmara e outros sete no Senado (veja lista ao fim da reportagem). Todos os
casos devem ser retomados em fevereiro, quando o Congresso Nacional retorna do
recesso.
As penas aplicadas por um Conselho de Ética
parlamentar podem ser desde uma censura escrita até a perda do mandato
parlamentar.
Entre os deputados, o caso de maior repercussão foi
protocolado pelo Partido Liberal (PL) contra André Janones (Avante-MG), por
suposta prática de “rachadinha”.
Assessores e ex-assessores do deputado afirmam que
tiveram que repassar ao deputado parte dos salários que recebiam, a partir de
2019, quando o parlamentar assumiu o primeiro mandato.
O Conselho de Ética Câmara instaurou processo para
investigar o esquema em dezembro. Ainda falta, no entanto, a escolha do
relator.
O presidente do grupo, deputado Lomanto Leur Júnior
(União-BA), sorteou três nomes para conduzir o processo contra Janones: Emanuel
Pinheiro Neto (MDB-MT), Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Sidney Leite (PSD-AM).
Autor da representação, o PL afirma ser inaceitável
que um deputado desvie os salários de servidores do seu gabinete com objetivo
de enriquecer ilicitamente. O partido pede a perda de mandato de Janones.
“É inaceitável que um parlamentar ataque o Brasil
de tal maneira e ainda utilize de verba pública, tão cara aos contribuintes,
para amealhar patrimônio pessoal”, afirmou a sigla na representação.
Desde que o caso veio à tona, Janones tem negado as
acusações. Segundo ele, ficará comprovado que nunca houve “qualquer crime
cometido”.
No Senado, destaque para o caso do senador Chico
Rodrigues (PSB-RR), flagrado em 2020 com maços de dinheiro na cueca durante
operação da Polícia Federal.
Os policiais investigavam, à época, um suposto
esquema de desvio de recursos públicos que deviam ser destinados ao combate à
Covid-19 em Roraima.
Em junho, o colegiado abriu processo contra o
parlamentar. Os partidos Rede Sustentabilidade e Cidadania pedem a cassação do
mandato.
Rodrigues, no entanto, nega qualquer irregularidade
no caso e alega que o episódio aconteceu “pelo pânico e pelo medo” no momento
da operação da PF.
Confira os casos que ainda tramitam nos Conselhos
de Ética da Câmara e do Senado:
<<< Conselho de Ética da
Câmara
- Ricardo
Salles (PL-SP): denunciado por suposta fala em defesa da ditadura
- Sâmia
Bomfim (PSOL-SP): denunciada por supostas intervenções desrespeitosas
durante CPI do MST
- Jandira
Feghali (PCdoB-RJ): denunciada por ter chamado o deputado Nikolas Ferreira
(PL-MG) de “moleque” durante sessão da CPMI do 8/1
- General
Girão (PL-RN): denunciado por suposta ameaça de violência contra o
deputado Glauber Braga (PSOL-RJ)
- Lindbergh
Farias (PT-RJ): denunciado por ter chamado a deputada Carla Zambelli
(PL-RJ) de “terrorista”
- Abílio
Brunini (PL-MT): denunciado por supostas intervenções desrespeitosas
durante audiência para debater a situação da população palestina na Faixa
da Gaza
- André
Janones (Avante-MG): denunciado por suposta prática de “rachadinha”
<<< Conselho de Ética do
Senado
- Cid
Gomes (PDT-CE): denunciado por ter chamado Arthur Lira (PP-AL_, na época
em que ele era líder do partido, de “achador” – pessoa que extorque
dinheiro de outra pessoa
- Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ): denunciado por suposta relação com a milícia
do Rio de Janeiro
- Jorge
Kajuru (PSB-GO): denunciado por suposta acusação de que outros senadores
teriam apresentado notas falsas para obterem reembolsos
- Chico
Rodrigues (PSB-RR): denunciado por suposto desvio de recursos públicos
destinados à pandemia de Covid-19
- Jorge
Kajuru (PSB-GO): denunciado por ter gravado, de forma clandestina,
conversa telefônica o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
- Styvenson
Valentim (Podemos-RN): denunciado por suposta fala irônica contra uma
violência doméstica sofrida pela então deputada Joice Hasselmann
- Randolfe
Rodrigues (sem partido-AP): denunciado por ter chamado o governo de Jair
Bolsonaro (PL) de “criminoso”, “corrupto” e “genocida”
Fonte: g1/CNN Brasil
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