terça-feira, 30 de janeiro de 2024

"Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega já mataram juntos", diz jornalista

Apesar de negarem envolvimento um com o outro, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega já atuaram juntos em assassinatos. Lessa é acusado de matar a ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes. Adriano, por sua vez, era um miliciano, ex-integrante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que liderava o grupo criminoso carioca conhecido como Escritório do Crime.

O jornalista investigativo Sérgio Ramalho apurou parte do caso Marielle para o livro que fez sobre Adriano de Nóbrega, o Decaído, da Matrix Editora. O nome do miliciano, que foi morto em uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020, também esteve envolvido na execução da vereadora carioca. Ao Correio, o jornalista comentou o caso, deu detalhes sobre como agiam os grupos de matadores no Rio de Janeiro e descreveu a relação de Lessa com Adriano.

"As pontas da intrincada teia de relações envolvendo Adriano e Lessa foram encadeadas a partir da execução de Marielle Franco. Até aquela noite no estácio, os integrantes do consórcio de assassinos de aluguel seguiam intocáveis em seu reduto na franja da Floresta da Tijuca, às margens da Lagoa de Jacarepaguá", conta Sérgio, em trecho do livro Decaído.

"Um caso colocou na cena do crime o capitão Adriano, seu antigo parceiro de empreitadas, o tenente Joãozinho, e o sargento Ronnie Lessa. O alvo dos três ex-integrantes do Bope foi o político Ary Ribeiro Brum. Ex-deputado estadual, ele trabalhava como assessor na Secretaria de Governo de Sérgio Cabral, quando foi tocaiado, às 10h30 de terça-feira, 18 de dezembro de 2007", emenda o jornalista.

O laudo da perícia apontou 26 perfurações no carro em que Ary estava. O ex-deputado, que pretendia se lançar candidato a prefeito de Cachoeiras de Macacu, foi morto com 15 disparos. Essa execução repertiu no noticiário na época. O delegado responsável pelo caso, Roberto Cardoso, argumentou que a morte teria características de crime praticado por assassinos profissionais.

Para justificar essa suspeita, o delegado citou a habilidade dos criminosos em não deixar pistas para trás, pois nenhum estojo de munição foi encontrado na cena do crime. O atirador também foi hábil em disparar de um veículo em movimento contra outro carro. Os nomes de Adriano da Nóbrega, do tenente João e do sargento Lessa chegaram a ser levantados na investigação. O trio tinha fama de pistoleiro no Rio de Janeiro, mas eles não foram ouvidos no inquérito. 

O assassinato de Ary não foi totalmente esclarecido. As investigações não andaram principalmente pela influência de Adriano no Rio de Janeiro. O inquérito não apontou quem foram os matadores, mas indicou um suposto mandante: o empresário Lindemberg Sardinha Meira. Ele era sócio de Ary Brum na aquisição do Hospital IV Centenário. O empresário teria encomendado a morte de Ary após uma auditoria ter identificado um rombo de R$ 800 mil nas contas da sociedade. Lindemberg, no entanto, sempre negou envolvimento no crime.

Após 11 anos do assassinato do ex-deputado, a morte da vereadora Marielle Franco, em 14 de março de 2018, mostrou semelhanças no modus operandi: assim como Ary, Marielle foi assassinada após atirador disparar do banco traseiro, enquanto seguia o carro da vítima.

Além disso, na mesma noite que Marielle foi executada, um concorrente de Adriano e Ronie Lessa foi assassinado na Barra da Tijuca. Segundo o jornalista Sérgio Ramalho, Marcelo Diotti da Matta vinha sendo monitorado há pelo menos três meses pelo grupo criminoso.

·        Caso Marielle

Acusado de disparar contra a ex-vereadora Marielle e o motorista Anderson, Lessa fechou acordo de delação com a Polícia Federal. Mas a colaboração ainda precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Próximo de completar seis anos, o caso é marcado por queimas de arquivo e obstruções de Justiça. Para o jornalista investigativo Sérgio Ramalho, a colaboração de Lessa é importante porque ele é "um arquivo vivo". "Eu acredito que não foi só um mandante, isso faz parte de interesse de um grupo", avalia Sérgio.

Sérgio ressalta que embora as delações sejam instrumentos importantes na investigação, é necessário buscar provas técnicas. "A quebra do sigilo de comunicação, da movimentação financeira desses grupos seria muito mais eficaz para provar quem mandou, o porquê e de onde está vindo o dinheiro. Se o Ronnie Lessa recebeu uma quantia para matar Marielle, aonde foi parar esse dinheiro? Eu espero que a Polícia Federal chegue de fato a um denominador comum mais técnico. A delação do Ronnie Lessa pode ajudar, mas não pode ser a única ferramenta para elucidar o caso", argumenta o jornalista.

·        Relação de Adriano da Nóbrega com o clã Bolsonaro

No livro, Sérgio também relata que a amizade de Adriano da Nóbrega com a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) começou quando o hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) teve um carro roubado no Rio de Janeiro. Na época, Flávio tinha 21 anos, era estudante de Direito e tinha acabado de eleger-se deputado estadual. Adriano passou a atuar como uma espécie de segurança informal do Flávio.

"Depois do episódio, Adriano varreu os morros da Tijuca, onde viviam os Bolsonaros, matando suspeitos em supostos confrontos e ate mesmo praticando sequestros, como o filho de Isaías do Borel, um dos chefes da facção criminosa Comando Vermelho", diz um trecho do livro do jornalista.

Pouco tempo depois, em 2005, Flávio condecorou Adriano da Nóbrega com a medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O miliciano também já foi elogiado em diversas ocasiões e chamado de "herói da Polícia Militar" por Jair Bolsonaro. A proximidade do clã Bolsonaro com Adriano da Nóbrega durou pelo menos duas décadas. 

"Quando Flávio foi eleito senador e Jair presidente, eles se afastaram de Adriano da Nóbrega e inclusive exoneraram a então mulher e mãe de Adriano do gabinete do Flávio. Foi lá que houve uma certa ruptura, embora eles tenham continuado dando apoio com elogios", conta Sérgio.

 

Ø  "Ronnie Lessa é um arquivo vivo", diz jornalista

 

A delação do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de matar a ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes, é vista como fundamental por investigadores para chegar aos nomes de possíveis mandantes dos assassinatos. Próximo de completar seis anos, o caso é marcado por queimas de arquivo e obstruções de Justiça. Para o jornalista investigativo Sérgio Ramalho, a colaboração de Lessa é importante porque ele é "um arquivo vivo". "Eu acredito que não foi só um mandante, isso faz parte de interesse de um grupo", avalia Sérgio.

Ramalho investigou parte do caso Marielle para o livro que fez sobre Adriano de Nóbrega, ex-policial militar do Rio de Janeiro acusado de envolvimento na morte da ex-vereadora, o Decaído, da Matrix Editora. Ao Correio, ele comentou o caso e deu detalhes sobre como agiam os grupos de matadores no Rio. 

"É muito estranho porque as ações desses grupos matadores eram sempre muito bem planejadas. Planejavam por meses, faziam varreduras, colocavam gente seguindo a vítima, pesquisavam os hábitos da pessoa, mandavam fazer placas clonadas para usar o carro na ocasião. Só que, curiosamente, no caso da Marielle, eles dizem que só um carro participou. O Ronnie é uma pessoa muito importante para ajudar a desvendar esse caso", cita Sérgio. Acusado de disparar contra a ex-vereadora Marielle e o motorista Anderson, Lessa fechou acordo de delação com a Polícia Federal. Mas a colaboração ainda precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). 

"O Élcio de Queiroz (que dirigia o carro com Ronnie Lessa no momento do assassinato de Marielle) é uma figura inexpressiva dentro desses grupos criminosos. Ele era um policial corrupto que acabou sendo afastado por isso, passou a trabalhar fazendo bicos e dirigindo táxi. Ele fazia bicos para o próprio Ronnie Lessa. Não acho que o Élcio tenha grandes informações, a grande contribuição dele foi a confirmação de que o Ronnie Lessa disparou contra a Marielle", emenda o jornalista.

Sérgio ressalta que embora as delações sejam instrumentos importantes na investigação, é necessário buscar provas técnicas. "A quebra do sigilo de comunicação, da movimentação financeira desses grupos seria muito mais eficaz para provar quem mandou, o porquê e de onde está vindo o dinheiro. Se o Ronnie Lessa recebeu uma quantia para matar Marielle, aonde foi parar esse dinheiro? Eu espero que a Polícia Federal chegue de fato a um denominador comum mais técnico. A delação do Ronnie Lessa pode ajudar, mas não pode ser a única ferramenta para elucidar o caso", argumenta o jornalista.

Marielle foi morta a tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, localizado na região central da capital fluminense. A vereadora, que saía de um evento com mulheres negras, foi assassinada com quatro disparos na cabeça. Anderson Gomes, motorista do carro que a transportava pela cidade, foi atingido por três projéteis nas costas e também morreu.

·        História de Adriano da Nóbrega

O livro Decaído, lançado pelo jornalista investigativo Sérgio Ramalho em janeiro deste ano e publicado pela Matrix Editora, detalha a trajetória do aspirante a oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que passou de um rapaz tímido a um dos membros mais letais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e morreu como um dos criminosos mais temidos do Brasil. Adriano da Nóbrega era investigado por diversos homicídios e foi morto em uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020.

O capitão Adriano, como era conhecido, era apontado como chefe da milícia carioca "Escritório do Crime". Apesar de ser suspeito de participar da morte de Marielle, Adriano era procurado pela Justiça por causa de outros crimes. Ele foi denunciado pelo Ministério Público por atuar com grilagem de terras; compra, venda e aluguel irregular de imóveis; cobrança irregular de taxas da população local; e extorsão e receptação de mercadoria roubada em Rio das Pedras. 

Inclusive, Adriano da Nóbrega e Ronnie Lessa já atuaram juntos em assassinatos, mas as investigações não andaram porque o ex-Bope tinha muita influência no Rio de Janeiro.

 

Ø  Caso Marielle: regularização de condomínio pode ter motivado morte, diz site

 

A Polícia Federal investiga se a regularização de condomínio na Zona Oeste do Rio de Janeiro teria motivado o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). Em delação, o ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou que Marielle virou alvo porque defendia que terrenos fossem ocupados por pessoas de baixa renda e que o caso fosse acompanhado pelo Instituto de Terras e Cartografia e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.

No entanto, o possível mandante do assassinato da ex-vereadora queria que o condomínio fosse inteiramente regularizado, sem levar em consideração o critério de área de interesse social. As informações são do jornal O Globo. A morte de Marielle e Anderson completará seis anos em 14 de março.

Acusado de disparar contra a ex-vereadora Marielle e o motorista Anderson, Lessa fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Porém, a delação ainda precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O nome citado pelo ex-PM tem foro por prerrogativa de função, por isso cabe ao ministro Raul Araújo analisar o caso.

O nome do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, foi citado tanto por Élcio de Queiroz, que dirigia o carro com Ronnie Lessa no momento do assassinato de Marielle e já fez delação à PF no ano passado, quanto por Ronie Lessa. Brazão já havia sido investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) antes da delação, por atrapalhar as investigações do caso.

A suspeita é a de que o conselheiro teria usado um policial federal aposentado e funcionário do gabinete no Tribunal de Contas para levar o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha, a acusar o então vereador Marcello Siciliano e o miliciano Orlando Curicica como sendo os mandantes do crime. Após o avanço das investigações, Ferreirinha respondeu por obstrução da Justiça.

Ao O Globo, Brazão se declarou inocente e afirmou que Lessa teria o apontado como mandante do assassinato porque "quer esconder alguém. "Eu venho sangrando na cruz há algum tempo com essa acusação. Pelo menos cinco anos. Já fui investigado por todas as esferas: Polícia Civil, Ministério Público e Polícia Federal", disse o conselheiro.

"Ninguém conseguiu provar nada contra mim. Não acredito que esses servidores estivessem dispostos a colocar suas carreiras em jogo para me proteger. A investigação da morte da Marielle e do Anderson prendeu vários milicianos e nenhum está ligado a mim, porque não me misturo a essa gente", acrescentou Brazão.

Marielle foi morta a tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, localizado na região central da capital fluminense. A vereadora, que saía de um evento com mulheres negras, foi assassinada com quatro disparos na cabeça. Anderson Gomes, motorista do carro que a transportava, foi atingido por três projéteis nas costas e também morreu.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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