"Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega já
mataram juntos", diz jornalista
Apesar de negarem
envolvimento um com o outro, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega já atuaram juntos em assassinatos.
Lessa é acusado de matar a ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista
Anderson Gomes. Adriano, por sua vez, era um miliciano, ex-integrante do
Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que liderava o grupo
criminoso carioca conhecido como Escritório do Crime.
O jornalista
investigativo Sérgio Ramalho apurou parte do caso Marielle para
o livro que fez sobre Adriano de Nóbrega, o Decaído, da Matrix
Editora. O nome do miliciano, que foi morto em uma operação policial na Bahia,
em fevereiro de 2020, também esteve envolvido na execução da vereadora carioca.
Ao Correio, o jornalista comentou o caso, deu detalhes sobre como
agiam os grupos de matadores no Rio de Janeiro e descreveu a relação de Lessa
com Adriano.
"As pontas da
intrincada teia de relações envolvendo Adriano e Lessa foram encadeadas a
partir da execução de Marielle Franco. Até aquela noite no estácio, os
integrantes do consórcio de assassinos de aluguel seguiam intocáveis em seu
reduto na franja da Floresta da Tijuca, às margens da Lagoa de
Jacarepaguá", conta Sérgio, em trecho do livro Decaído.
"Um caso colocou
na cena do crime o capitão Adriano, seu antigo parceiro de empreitadas, o
tenente Joãozinho, e o sargento Ronnie Lessa. O alvo dos três ex-integrantes do
Bope foi o político Ary Ribeiro Brum. Ex-deputado estadual, ele trabalhava como
assessor na Secretaria de Governo de Sérgio Cabral, quando foi tocaiado, às
10h30 de terça-feira, 18 de dezembro de 2007", emenda o jornalista.
O laudo da perícia
apontou 26 perfurações no carro em que Ary estava. O ex-deputado, que pretendia
se lançar candidato a prefeito de Cachoeiras de Macacu, foi morto com 15
disparos. Essa execução repertiu no noticiário na época. O delegado responsável
pelo caso, Roberto Cardoso, argumentou que a morte teria características de
crime praticado por assassinos profissionais.
Para justificar essa
suspeita, o delegado citou a habilidade dos criminosos em não deixar pistas
para trás, pois nenhum estojo de munição foi encontrado na cena do crime. O
atirador também foi hábil em disparar de um veículo em movimento contra outro
carro. Os nomes de Adriano da Nóbrega, do tenente João e do sargento Lessa chegaram a ser levantados
na investigação. O trio tinha fama de pistoleiro no Rio de Janeiro, mas eles
não foram ouvidos no inquérito.
O assassinato de Ary
não foi totalmente esclarecido. As investigações não andaram
principalmente pela influência de Adriano no Rio de Janeiro. O inquérito não
apontou quem foram os matadores, mas indicou um suposto mandante: o empresário
Lindemberg Sardinha Meira. Ele era sócio de Ary Brum na aquisição do Hospital
IV Centenário. O empresário teria encomendado a morte de Ary após uma auditoria
ter identificado um rombo de R$ 800 mil nas contas da sociedade. Lindemberg, no
entanto, sempre negou envolvimento no crime.
Após 11 anos do
assassinato do ex-deputado, a morte da vereadora Marielle Franco, em 14 de
março de 2018, mostrou semelhanças no modus operandi: assim como Ary, Marielle
foi assassinada após atirador disparar do banco traseiro, enquanto seguia o
carro da vítima.
Além disso, na mesma
noite que Marielle foi executada, um concorrente de Adriano e Ronie Lessa foi
assassinado na Barra da Tijuca. Segundo o jornalista Sérgio Ramalho, Marcelo
Diotti da Matta vinha sendo monitorado há pelo menos três meses pelo grupo criminoso.
·
Caso Marielle
Acusado de disparar
contra a ex-vereadora Marielle e
o motorista Anderson, Lessa fechou acordo de delação com a Polícia Federal. Mas
a colaboração ainda precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça
(STJ). Próximo de completar seis anos, o caso é marcado por queimas de
arquivo e obstruções de Justiça. Para o jornalista investigativo Sérgio
Ramalho, a colaboração de Lessa é importante porque ele é "um arquivo
vivo". "Eu acredito que não foi só um mandante, isso faz parte de
interesse de um grupo", avalia Sérgio.
Sérgio ressalta que
embora as delações sejam instrumentos importantes na investigação, é necessário
buscar provas técnicas. "A quebra do sigilo de comunicação, da
movimentação financeira desses grupos seria muito mais eficaz para provar quem
mandou, o porquê e de onde está vindo o dinheiro. Se o Ronnie Lessa recebeu uma
quantia para matar Marielle, aonde foi parar esse dinheiro? Eu espero que a
Polícia Federal chegue de fato a um denominador comum mais técnico. A delação
do Ronnie Lessa pode ajudar, mas não pode ser a única ferramenta para elucidar
o caso", argumenta o jornalista.
·
Relação de Adriano da
Nóbrega com o clã Bolsonaro
No livro, Sérgio
também relata que a amizade de Adriano da Nóbrega com a família do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) começou quando o hoje senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ) teve um carro roubado no Rio de Janeiro. Na época, Flávio
tinha 21 anos, era estudante de Direito e tinha acabado de eleger-se deputado
estadual. Adriano passou a atuar como uma espécie de segurança informal do
Flávio.
"Depois do
episódio, Adriano varreu os morros da Tijuca, onde viviam os Bolsonaros,
matando suspeitos em supostos confrontos e ate mesmo praticando sequestros,
como o filho de Isaías do Borel, um dos chefes da facção criminosa Comando
Vermelho", diz um trecho do livro do jornalista.
Pouco tempo depois, em
2005, Flávio condecorou Adriano da Nóbrega com a medalha Tiradentes na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O miliciano também já foi elogiado em
diversas ocasiões e chamado de "herói da Polícia Militar" por Jair
Bolsonaro. A proximidade do clã Bolsonaro com Adriano da Nóbrega durou pelo
menos duas décadas.
"Quando Flávio
foi eleito senador e Jair presidente, eles se afastaram de Adriano da Nóbrega e
inclusive exoneraram a então mulher e mãe de Adriano do gabinete do Flávio. Foi
lá que houve uma certa ruptura, embora eles tenham continuado dando apoio com
elogios", conta Sérgio.
Ø
"Ronnie Lessa é um arquivo vivo",
diz jornalista
A delação do
ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de matar a ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o
motorista Anderson Gomes, é vista como fundamental por investigadores para
chegar aos nomes de possíveis mandantes dos assassinatos. Próximo de
completar seis anos, o caso é marcado por queimas de arquivo e obstruções de
Justiça. Para o jornalista investigativo Sérgio Ramalho, a colaboração de Lessa
é importante porque ele é "um arquivo vivo". "Eu acredito que
não foi só um mandante, isso faz parte de interesse de um grupo", avalia
Sérgio.
Ramalho investigou
parte do caso Marielle para o livro que fez sobre Adriano de Nóbrega,
ex-policial militar do Rio de Janeiro acusado de envolvimento na morte da
ex-vereadora, o Decaído, da Matrix Editora. Ao Correio,
ele comentou o caso e deu detalhes sobre como agiam os grupos de matadores no
Rio.
"É muito estranho
porque as ações desses grupos matadores eram sempre muito bem planejadas.
Planejavam por meses, faziam varreduras, colocavam gente seguindo a vítima,
pesquisavam os hábitos da pessoa, mandavam fazer placas clonadas para usar o
carro na ocasião. Só que, curiosamente, no caso da Marielle, eles dizem que só
um carro participou. O Ronnie é uma pessoa muito importante para ajudar a
desvendar esse caso", cita Sérgio. Acusado de disparar contra a
ex-vereadora Marielle e o motorista Anderson, Lessa fechou acordo de delação
com a Polícia Federal. Mas a colaboração ainda precisa ser homologada pelo
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
"O Élcio de
Queiroz (que dirigia o carro com Ronnie Lessa no momento do assassinato de
Marielle) é uma figura inexpressiva dentro desses grupos criminosos. Ele era um
policial corrupto que acabou sendo afastado por isso, passou a trabalhar
fazendo bicos e dirigindo táxi. Ele fazia bicos para o próprio Ronnie Lessa.
Não acho que o Élcio tenha grandes informações, a grande contribuição dele foi
a confirmação de que o Ronnie Lessa disparou contra a Marielle", emenda o
jornalista.
Sérgio ressalta que
embora as delações sejam instrumentos importantes na investigação, é necessário
buscar provas técnicas. "A quebra do sigilo de comunicação, da
movimentação financeira desses grupos seria muito mais eficaz para provar quem
mandou, o porquê e de onde está vindo o dinheiro. Se o Ronnie Lessa recebeu uma
quantia para matar Marielle, aonde foi parar esse dinheiro? Eu espero que a
Polícia Federal chegue de fato a um denominador comum mais técnico. A delação
do Ronnie Lessa pode ajudar, mas não pode ser a única ferramenta para elucidar
o caso", argumenta o jornalista.
Marielle foi morta a
tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, localizado na região
central da capital fluminense. A vereadora, que saía de um evento com mulheres
negras, foi assassinada com quatro disparos na cabeça. Anderson Gomes,
motorista do carro que a transportava pela cidade, foi atingido por três
projéteis nas costas e também morreu.
·
História de Adriano da
Nóbrega
O livro Decaído,
lançado pelo jornalista investigativo Sérgio Ramalho em janeiro deste ano
e publicado pela Matrix Editora, detalha a trajetória do aspirante a oficial da
Polícia Militar do Rio de Janeiro, que passou de um rapaz tímido a um dos
membros mais letais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e
morreu como um dos criminosos mais temidos do Brasil. Adriano da
Nóbrega era investigado por diversos homicídios e foi morto em uma
operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020.
O capitão Adriano,
como era conhecido, era apontado como chefe da milícia carioca "Escritório
do Crime". Apesar de ser suspeito de participar da morte de Marielle,
Adriano era procurado pela Justiça por causa de outros crimes. Ele foi denunciado
pelo Ministério Público por atuar com grilagem de terras; compra, venda e
aluguel irregular de imóveis; cobrança irregular de taxas da população local; e
extorsão e receptação de mercadoria roubada em Rio das Pedras.
Inclusive, Adriano da
Nóbrega e Ronnie Lessa já atuaram juntos em assassinatos, mas as
investigações não andaram porque o ex-Bope tinha muita influência no Rio de
Janeiro.
Ø
Caso Marielle: regularização de condomínio
pode ter motivado morte, diz site
A Polícia Federal
investiga se a regularização de condomínio na Zona Oeste do Rio de Janeiro
teria motivado o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). Em delação, o ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou que
Marielle virou alvo porque defendia que terrenos fossem ocupados por pessoas de
baixa renda e que o caso fosse acompanhado pelo Instituto de Terras e
Cartografia e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.
No entanto, o possível
mandante do assassinato da ex-vereadora queria que o condomínio fosse
inteiramente regularizado, sem levar em consideração o critério de área de
interesse social. As informações são do jornal O Globo. A morte de
Marielle e Anderson completará seis anos em 14 de março.
Acusado de disparar
contra a ex-vereadora Marielle e o motorista Anderson, Lessa fechou acordo
de delação premiada com a Polícia Federal. Porém, a delação ainda precisa ser
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O nome citado pelo ex-PM
tem foro por prerrogativa de função, por isso cabe ao ministro Raul Araújo
analisar o caso.
O nome
do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, foi citado tanto por Élcio de Queiroz, que dirigia o
carro com Ronnie Lessa no momento do assassinato de Marielle e já fez delação à
PF no ano passado, quanto por Ronie Lessa. Brazão já havia sido
investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) antes da delação, por
atrapalhar as investigações do caso.
A suspeita é a de que
o conselheiro teria usado um policial federal aposentado e funcionário do
gabinete no Tribunal de Contas para levar o policial militar Rodrigo Jorge
Ferreira, conhecido como Ferreirinha, a acusar o então vereador Marcello
Siciliano e o miliciano Orlando Curicica como sendo os mandantes do crime. Após
o avanço das investigações, Ferreirinha respondeu por obstrução da Justiça.
Ao O Globo,
Brazão se declarou inocente e afirmou que Lessa teria o apontado como mandante
do assassinato porque "quer esconder alguém. "Eu venho sangrando na
cruz há algum tempo com essa acusação. Pelo menos cinco anos. Já fui
investigado por todas as esferas: Polícia Civil, Ministério Público e Polícia
Federal", disse o conselheiro.
"Ninguém
conseguiu provar nada contra mim. Não acredito que esses servidores estivessem
dispostos a colocar suas carreiras em jogo para me proteger. A investigação da
morte da Marielle e do Anderson prendeu vários milicianos e nenhum está ligado
a mim, porque não me misturo a essa gente", acrescentou Brazão.
Marielle foi morta a
tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, localizado na região
central da capital fluminense. A vereadora, que saía de um evento com mulheres
negras, foi assassinada com quatro disparos na cabeça. Anderson Gomes,
motorista do carro que a transportava, foi atingido por três projéteis nas
costas e também morreu.
Fonte: Correio
Braziliense
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