Esquenta para o Carnaval fortalece folia
sem cordas de Salvador
O Carnaval tá aí,
Salvador! Com um calendário de festas de verão que teve início ainda em
novembro de 2023 com a Festa de São Nicodemus, já estamos na contagem
regressiva para, finalmente, viver o Carnaval de 2024. E ajudando a abrir os
portais para a Maior Festa de Rua do Mundo – e encerrando o ciclo das festas de
largo do verão deste ano –, a Festa de Iemanjá acontece na próxima sexta-feira,
2 de fevereiro, cobrindo o Rio Vermelho de branco, dando regra e compasso para
a intensidade do Carnaval soteropolitano sem cordas – que começou faz tempo!
“Tenho observado um
crescente movimento pré-carnavalesco, com festas para todo público e gosto.
Adoro esse clima festivo de verão que Salvador transmite. A Bahia é uma ótima
anfitriã e a cidade está lotada de turistas”, afirma a aposentada Lúcia
Menezes, uma das fundadoras e gestora do movimento Palhaços do Rio Vermelho –
que arrastou uma multidão alegre e colorida na noite de ontem. Moradora do Rio
Vermelho desde 1960, Lúcia vai guardar energias nos próximos dias para festejar
e agradecer na Festa de Iemanjá.
Vendo a mãe presentear
e fazer pedidos à Iemanjá desde criança, há décadas Lúcia segue a mesma
tradição. “Apesar de sermos católicos, cresci nesse ambiente do sincretismo e
posso afirmar que foi assim que nasceu a minha fé na Rainha do Mar.
Antigamente, depois de uma feijoada em casa, eu levava meu balaio acompanhada
de uma charanga e um monte de amigos, mas desde 1997 faço um altar para ela na
entrada de casa, e levo meu balaio na cabeça às 3h da manhã para esperar o
presente principal e ver a alvorada”, conta.
• Iemanjá
“A Festa de Iemanjá é
um elo profundo com a tradição, o mar e a devoção compartilhada pelos
pescadores da colônia Z-01”, afirma o professor de teatro e pescador amador,
Fernando Lopes. Ele é o dono do barco Rio Vermelho, que leva o presente
principal na festa, mas ressalta: a festa da Rainha do Mar é uma expressão
artística e religiosa que transcende o barco principal. “Todos os barcos são
principais, é o pulsar da nossa comunidade, um tributo às águas que nos
sustentam e, principalmente, um agradecimento”, pontua.
Porém, a Festa de
Iemanjá em 2024 trouxe um questionamento para muita gente: porque ela vai
acontecer tão perto do Carnaval? E a resposta é, na verdade, bem simples: a
festa momesca é calculada a partir da data da Páscoa, que é decidida a partir
do dia do equinócio. Assim, por ser uma data móvel, ter outras festas tão
próximas está longe de ser novidade deste Carnaval, pontua o pesquisador,
escritor, jornalista e publicitário Nelson Cadena. “E essa proximidade de datas
fez com que algumas festas fossem compreendidas como parte da programação
carnavalesca”, explica.
A Lavagem de Itapuã,
que acontece no próximo dia 1º de fevereiro, é um grande exemplo disso: data
móvel desde a década de 1930, a Festa de Itapuã acontece na quinta-feira antes
do Carnaval. “Ela é uma das festas que sempre consideram estar incorporada, de
alguma forma, ao Carnaval. Na verdade, essas festas costumavam ter muitos
elementos carnavalescos. No tempo dos carros alegóricos, por exemplo, aqueles
que desfilavam em festas como a do Rio Vermelho e a Segunda-feira Gorda da
Ribeira, também desfilavam no Carnaval”, explica o pesquisador.
• Libertação
Festas feitas com
alegria nas ruas, sem cordas e sem limite de público: esse tipo de Carnaval é
um momento de libertação e harmonia, afirma a idealizadora, coordenadora e
regente do Projeto Percussivo Oficina de Sons, Poliana Coelho. “É a sintonia
entre pessoas diferentes que buscam se alegrar, emanar e trocar experiências. É
uma simbiose entre os músicos que se prepararam com a perspectiva de levar a
sua música para as ruas e encontrar nessas pessoas essa validação”.
Criado em 2017, o
Oficina de Sons é composto principalmente de mulheres e marcou presença na
Festa do Bonfim em 2024 e hoje (28), o projeto irá levar sua batucada para a
Lavagem de Santo Amaro da Purificação. Seguindo o ritmo de uma boa festa sem
cordas, a próxima parada do grupo será na madrugada do dia 1º para 2 de
fevereiro da Festa de Iemanjá, seguido pela estreia do projeto no Fuzuê (3) e
no Furdunço (4) logo depois. “O Carnaval sem cordas é uma potência muito
valiosa que a gente precisa continuar defendendo com grande verdade”, salienta
Poliana Coelho.
E em 2024 o Carnaval
sem cordas está vindo com toda a força: somando as contratações da Prefeitura
de Salvador e o Governo da Bahia, cerca de 200 atrações sem cordas devem
carnavalizar os circuitos, bairros e palcos na capital baiana, com shows de
grandes nomes como Léo Santana, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Marina Sena,
Baco Exu Do Blues, Ludmilla, Xamã, Timbalada, entre outros. Além disso, no dia
10 de fevereiro na Barra acontece uma das apresentações mais esperadas do
Carnaval de 2024: o desfile do Trio da Cultura, com Gilberto Gil, Margareth
Menezes e Chico César cantando juntos.
• Pertencimento
Coordenador do Centro
Cultural Que Ladeira É Essa?, que organiza o Banho de Mar à Fantasia da Ladeira
da Preguiça desde 2013, Marcelo Teles salienta que eventos como esses destacam
o direito à cidade ao fortalecer o sentimento de pertencimento das comunidades.
“Ao criar espaços de celebração cultural, o evento contribui para a reafirmação
da identidade local, garantindo que as comunidades sejam participantes ativas
na transformação da cidade”, aponta ele, ressaltando ainda a importância que é
que festas assim sejam feitas por muitas pessoas e a importância do papel de
toda a comunidade na continuidade delas.
Este ano, o Banho de
Mar à Fantasia - que está em sua 90ª edição - acontece no próximo dia 4 de
fevereiro, e com uma estimativa de público beirando 60 mil pessoas, Marcelo
explica que, em meio aos desafios da gentrificação, o evento se torna uma
ferramenta estratégica para preservar a autenticidade das comunidades locais.
“Ao fortalecer parcerias com organizações comunitárias e garantir que os
benefícios do evento se estendam às populações locais, o Banho de Mar à
Fantasia busca atenuar os impactos negativos da gentrificação, promovendo o
desenvolvimento inclusivo, econômico e cultural”, enfatiza o coordenador.
Fonte: A Tarde
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