terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Luiz Eduardo Romano: A gravidade da seca na Bahia e a necessidade de providências para a contenção de seus efeitos

O Estado da Bahia sofre, atualmente, uma das maiores secas de sua história, fruto, principalmente, da estiagem pluvial e dos efeitos oriundos do fenômeno El Niño, o qual consiste no aquecimento atípico das águas do oceano pacífico, responsável por alterar a situação climática e meteorológica em boa parte do país, não sendo diferente na continentalidade baiana.

Segundo informações divulgadas pela Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB), a secagem anormal ora vivenciada pelos baianos deu ensejo ao número de mais de 130 municípios em situação de emergência, tais como Feira de Santana e Vitória da Conquista, enquanto cidades maiores, e edilidades menores, a exemplo de Cansanção e Uauá, além de outros tantas com dificuldades em razão da carência de chuvas.

Ainda de acordo com os dados explanados pela FAEB, a produção de leite informal foi atingida em mais de 50%, a apicultura sofreu queda em percentual semelhante ao retromencionado, bem como houve a perda de 20% na produção de café, 30% de prejuízo no plantio de banana, sem contar os atrasos no plantio de feijão, milho, dentre outros itens alimentícios.

O cenário não é diferente em relação aos animais, haja vista a falta de comida, a crise no abastecimento de água e o comprometimento de insumos voltados à agropecuária, atividade essa desenvolvida, praticamente, em todos os quadrantes da Bahia, caso que se agrava a partir dos drásticos efeitos da seca, ensejando, inclusive, à morte estimada de 150 a 200 mil cabeças pertencentes a rebanhos e manadas.

Ante a gravidade dos acontecimentos, fundamental afirmar que os efeitos deletérios da seca não são sentidos apenas pelos produtores e comerciantes, cujo prejuízo estimado chega ao patamar de R$ 1 bilhão de reais, mas, principalmente, por toda a população, que tende a pagar ainda mais caro pelos alimentos, em especial por aqueles que compõem a cesta básica.

O alastrar da seca assomado às perdas econômicas tendem a prejudicar, também, a geração de empregos no campo, assim como avolumar a perda de postos de trabalho, dada a tendência de elevação dos custos de produção e das dificuldades de manutenção das atividades desenvolvidas no perímetro rural, que consistem em importante vetor de produção de riqueza e de distribuição de renda na Bahia.

Medidas como o parcelamento e a renegociação de débitos rurais, a concessão de novas linhas de crédito com a finalidade de promover a manutenção de propriedades e assegurar a continuidade das produções agrícolas e pecuárias e, da mesma sorte, o fornecimento de auxílios pelos Governos Federal, Estadual e Municipais para fins de destinação social, de atenção aos que mais precisam, se revelam como significativos à contenção dos efeitos da seca.

Em vista do cenário ora posto, proveniente do avanço da secura em todo o Estado, entendemos ser o caso de haver esforços concentrados de todas as correntes políticas, das mais diversas colorações partidárias e matrizes ideológicas, nas três esferas e instâncias de poder, em conjunto com as entidades da sociedade civil e organismos empresariais, ambos do setor privado, com o escopo de discutir propostas e alternativas para o fim de conter os impactos danosos e maléficos advenientes da aridez.

 

Ø  Falta de uma política nacional para o preço do gás coloca a agropecuária e a indústria petroquímica em risco; Por Eduardo Salles

 

O alto custo do gás natural fornecido pela PETROBRAS fez mais uma vítima recentemente. A UNIGEL AGRO, antiga FAFEN, acaba de anunciar a demissão de 264 trabalhadores e a paralização de suas atividades na Bahia. A empresa fabrica fertilizantes nitrogenados e matéria-prima para indústrias do Polo de Camaçari.

É lamentável para o país considerado celeiro da produção de alimentos do mundo não possuir uma estratégia em relação ao preço do gás, o que inviabiliza a produção de fertilizantes nitrogenados e coloca em risco a agropecuária e a indústria petroquímica nacional, responsáveis pela geração de milhares de empregos e o superávit da balança comercial.

Mas esse desastre não é surpresa para ninguém que acompanha atentamente a situação. Em março, durante reunião na Assembleia Legislativa da Bahia, pontuei com o presidente da empresa, Jean Paul Prates, sobre o grave problema que deixa a agropecuária nacional refém da compra de fertilizantes do mercado internacional e a provável decadência da indústria petroquímica.

Deixo claro que a falta de uma política nacional de preço de gás natural não começou agora. É um problema histórico que diversos governos, das mais variadas bandeiras partidárias, negligenciaram. A ideia agora não deve ser apontar culpados, mas tomar providências urgentes para buscarmos resolver o problema.

O presidente da República e o ministro de Minas e Energia têm um compromisso com o país: sentarem com suas equipes e implantarem uma política estratégica para este segmento, sob o risco de fecharmos diversas indústrias, inclusive a petroquímica, o que pode inviabilizar o Polo Petroquímico de Camaçari.

Em 2019, quando as FAFENs da Bahia e Sergipe anunciaram as paralizações das atividades, realizei audiência na Assembleia Legislativa para chamar a atenção da importância da implantação de uma política nacional para o gás e da necessidade de as fábricas voltarem às atividades. Logo depois a plantas industriais foram concedidas à UNIGEL AGRO e voltaram a funcionar.

Há cerca de quatro anos, quando a UNIGEL AGRO adquiriu as unidades das FAFENs, o preço do gás era de US$ 7,00 por um milhão de BTUs. Agora chega por US$ 14,00, enquanto parte dos concorrentes pagam US$ 3,00.

Sem a produção dos fertilizantes nitrogenados, fósforo e potássio, elementos básicos à produção de alimentos, a agropecuária brasileira precisa importar cerca de 85% desses insumos, o que aumenta os custos e diminui a competividade do setor.

Apenas o que importamos da Rússia, da China, do Marrocos, do Canadá, dos Estados Unidos, do Catar e de Belarus, segundo dados da Comex Stat de 2021, representa 70% das 41,6 milhões de toneladas do insumo que chegaram ao país, representando um déficit de US$ 15 bilhões na nossa balança comercial. O aumento no frete marítimo é mais um complicador nesta equação.

A falta de uma estratégia nacional para o gás natural vai causar, a curto e médio prazo, o fechamento das portas das poucas indústrias de fertilizantes nitrogenados do país, obrigando a agropecuária nacional aumentar o volume de importação do insumo e tornando o país totalmente dependente e vulnerável ao risco de falta de fornecimento destes insumos imprescindíveis à produção de alimentos, seja por questões de guerras ou mesmo estratégicas de países fornecedores.

O aumento desse custo de produção obrigatoriamente chegará ao consumidor, causando inflação e dificuldade de os pobres terem acesso a uma maior diversidade de alimentos, ao mesmo tempo que faz o Brasil diminuir a competitividade com outros países exportadores de grãos, algodão e muitos outros produtos que fazem parte da cesta de exportação nacional.

A agropecuária nacional já deu provas que, mesmo com todas as dificuldades logísticas e alto custo de produção, é um dos setores mais importantes da economia nacional. Imaginem o que o país pode ganhar se oferecermos ao homem do campo melhores condições de produção?

É incrível como seguidos governos brasileiros sigam míopes.

 

Fonte: Política Livre

 

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