Luiz Eduardo Romano: A gravidade da seca na
Bahia e a necessidade de providências para a contenção de seus efeitos
O Estado da Bahia
sofre, atualmente, uma das maiores secas de sua história, fruto,
principalmente, da estiagem pluvial e dos efeitos oriundos do fenômeno El Niño,
o qual consiste no aquecimento atípico das águas do oceano pacífico,
responsável por alterar a situação climática e meteorológica em boa parte do
país, não sendo diferente na continentalidade baiana.
Segundo informações
divulgadas pela Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB), a secagem
anormal ora vivenciada pelos baianos deu ensejo ao número de mais de 130
municípios em situação de emergência, tais como Feira de Santana e Vitória da
Conquista, enquanto cidades maiores, e edilidades menores, a exemplo de
Cansanção e Uauá, além de outros tantas com dificuldades em razão da carência
de chuvas.
Ainda de acordo com os
dados explanados pela FAEB, a produção de leite informal foi atingida em mais
de 50%, a apicultura sofreu queda em percentual semelhante ao retromencionado,
bem como houve a perda de 20% na produção de café, 30% de prejuízo no plantio
de banana, sem contar os atrasos no plantio de feijão, milho, dentre outros
itens alimentícios.
O cenário não é
diferente em relação aos animais, haja vista a falta de comida, a crise no
abastecimento de água e o comprometimento de insumos voltados à agropecuária,
atividade essa desenvolvida, praticamente, em todos os quadrantes da Bahia,
caso que se agrava a partir dos drásticos efeitos da seca, ensejando,
inclusive, à morte estimada de 150 a 200 mil cabeças pertencentes a rebanhos e
manadas.
Ante a gravidade dos
acontecimentos, fundamental afirmar que os efeitos deletérios da seca não são
sentidos apenas pelos produtores e comerciantes, cujo prejuízo estimado chega
ao patamar de R$ 1 bilhão de reais, mas, principalmente, por toda a população,
que tende a pagar ainda mais caro pelos alimentos, em especial por aqueles que
compõem a cesta básica.
O alastrar da seca
assomado às perdas econômicas tendem a prejudicar, também, a geração de
empregos no campo, assim como avolumar a perda de postos de trabalho, dada a
tendência de elevação dos custos de produção e das dificuldades de manutenção
das atividades desenvolvidas no perímetro rural, que consistem em importante
vetor de produção de riqueza e de distribuição de renda na Bahia.
Medidas como o
parcelamento e a renegociação de débitos rurais, a concessão de novas linhas de
crédito com a finalidade de promover a manutenção de propriedades e assegurar a
continuidade das produções agrícolas e pecuárias e, da mesma sorte, o fornecimento
de auxílios pelos Governos Federal, Estadual e Municipais para fins de
destinação social, de atenção aos que mais precisam, se revelam como
significativos à contenção dos efeitos da seca.
Em vista do cenário
ora posto, proveniente do avanço da secura em todo o Estado, entendemos ser o
caso de haver esforços concentrados de todas as correntes políticas, das mais
diversas colorações partidárias e matrizes ideológicas, nas três esferas e instâncias
de poder, em conjunto com as entidades da sociedade civil e organismos
empresariais, ambos do setor privado, com o escopo de discutir propostas e
alternativas para o fim de conter os impactos danosos e maléficos advenientes
da aridez.
Ø
Falta de uma política nacional para o preço
do gás coloca a agropecuária e a indústria petroquímica em risco; Por Eduardo
Salles
O alto custo do gás
natural fornecido pela PETROBRAS fez mais uma vítima recentemente. A UNIGEL
AGRO, antiga FAFEN, acaba de anunciar a demissão de 264 trabalhadores e a
paralização de suas atividades na Bahia. A empresa fabrica fertilizantes
nitrogenados e matéria-prima para indústrias do Polo de Camaçari.
É lamentável para o
país considerado celeiro da produção de alimentos do mundo não possuir uma
estratégia em relação ao preço do gás, o que inviabiliza a produção de
fertilizantes nitrogenados e coloca em risco a agropecuária e a indústria
petroquímica nacional, responsáveis pela geração de milhares de empregos e o
superávit da balança comercial.
Mas esse desastre não
é surpresa para ninguém que acompanha atentamente a situação. Em março, durante
reunião na Assembleia Legislativa da Bahia, pontuei com o presidente da
empresa, Jean Paul Prates, sobre o grave problema que deixa a agropecuária
nacional refém da compra de fertilizantes do mercado internacional e a provável
decadência da indústria petroquímica.
Deixo claro que a
falta de uma política nacional de preço de gás natural não começou agora. É um
problema histórico que diversos governos, das mais variadas bandeiras
partidárias, negligenciaram. A ideia agora não deve ser apontar culpados, mas
tomar providências urgentes para buscarmos resolver o problema.
O presidente da
República e o ministro de Minas e Energia têm um compromisso com o país:
sentarem com suas equipes e implantarem uma política estratégica para este
segmento, sob o risco de fecharmos diversas indústrias, inclusive a
petroquímica, o que pode inviabilizar o Polo Petroquímico de Camaçari.
Em 2019, quando as
FAFENs da Bahia e Sergipe anunciaram as paralizações das atividades, realizei
audiência na Assembleia Legislativa para chamar a atenção da importância da
implantação de uma política nacional para o gás e da necessidade de as fábricas
voltarem às atividades. Logo depois a plantas industriais foram concedidas à
UNIGEL AGRO e voltaram a funcionar.
Há cerca de quatro
anos, quando a UNIGEL AGRO adquiriu as unidades das FAFENs, o preço do gás era
de US$ 7,00 por um milhão de BTUs. Agora chega por US$ 14,00, enquanto parte
dos concorrentes pagam US$ 3,00.
Sem a produção dos
fertilizantes nitrogenados, fósforo e potássio, elementos básicos à produção de
alimentos, a agropecuária brasileira precisa importar cerca de 85% desses
insumos, o que aumenta os custos e diminui a competividade do setor.
Apenas o que
importamos da Rússia, da China, do Marrocos, do Canadá, dos Estados Unidos, do
Catar e de Belarus, segundo dados da Comex Stat de 2021, representa 70% das
41,6 milhões de toneladas do insumo que chegaram ao país, representando um
déficit de US$ 15 bilhões na nossa balança comercial. O aumento no frete
marítimo é mais um complicador nesta equação.
A falta de uma
estratégia nacional para o gás natural vai causar, a curto e médio prazo, o
fechamento das portas das poucas indústrias de fertilizantes nitrogenados do
país, obrigando a agropecuária nacional aumentar o volume de importação do
insumo e tornando o país totalmente dependente e vulnerável ao risco de falta
de fornecimento destes insumos imprescindíveis à produção de alimentos, seja
por questões de guerras ou mesmo estratégicas de países fornecedores.
O aumento desse custo
de produção obrigatoriamente chegará ao consumidor, causando inflação e
dificuldade de os pobres terem acesso a uma maior diversidade de alimentos, ao
mesmo tempo que faz o Brasil diminuir a competitividade com outros países
exportadores de grãos, algodão e muitos outros produtos que fazem parte da
cesta de exportação nacional.
A agropecuária
nacional já deu provas que, mesmo com todas as dificuldades logísticas e alto
custo de produção, é um dos setores mais importantes da economia nacional.
Imaginem o que o país pode ganhar se oferecermos ao homem do campo melhores
condições de produção?
É incrível como
seguidos governos brasileiros sigam míopes.
Fonte: Política Livre
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