quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Autoridades árabes realizaram reunião secreta em Riad para discutir o pós-guerra de Gaza, diz mídia

Autoridades de segurança da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e da Autoridade Palestina realizaram uma reunião secreta em Riad há dez dias para coordenar os planos para o futuro pós-guerra da Faixa de Gaza, buscando envolver a Autoridade Palestina no governo do enclave, informou o portal Axios nesta segunda-feira (29), citando fontes.

A reunião em Riad foi organizada pelo conselheiro de Segurança Nacional da Arábia Saudita, Musaed bin Mohammed al-Aiban, acompanhado pelo chefe do Serviço Geral de Inteligência palestino, Majed Faraj, e seus homólogos egípcio e jordaniano, disseram as fontes.

As autoridades sauditas, egípcias e jordanianas teriam dito a Faraj que a Autoridade Palestina precisava de reformas para renovar a sua liderança política. Eles também pediram que, se um novo governo palestino fosse criado, seu novo primeiro-ministro deveria ganhar alguns dos poderes que nos últimos anos estiveram nas mãos do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, informou a mídia.

Os três funcionários também enfatizaram que as mudanças eram necessárias para trazer a Autoridade Palestina de volta à administração da Faixa de Gaza após o período de transição pós-conflito.

Segundo a apuração, o conselheiro de Segurança Nacional saudita expressou a disponibilidade do seu país para trabalhar na normalização com Israel em troca de medidas israelenses para o estabelecimento de um Estado palestino.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu já rejeitou anteriormente a possibilidade de a Faixa de Gaza ficar sob o controle da Autoridade Palestina assim que as hostilidades terminarem.

As autoridades dos EUA e de Israel foram informadas do conteúdo da reunião secreta por alguns dos seus participantes, acrescentaram as fontes.

Em diversas ocasiões, Netanyahu se manifestou contra a solução de dois Estados, que procura criar um Estado palestino independente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. No dia 20 de janeiro, o primeiro-ministro israelense recorreu às redes sociais para reiterar que o seu país não "comprometeria o controle total da segurança" sobre todo o território a oeste do rio Jordão, que admitiu ser "contrário a um Estado palestino".

Em 7 de outubro, o movimento palestino Hamas lançou um ataque de foguetes em grande escala contra Israel a partir da Faixa de Gaza, enquanto os seus combatentes violavam a fronteira, atacando tanto bairros civis como bases militares. Como resultado, mais de 1.200 pessoas em Israel foram mortas e cerca de 240 foram raptadas. Israel lançou ataques retaliatórios, ordenou um bloqueio total de Gaza e iniciou uma incursão terrestre no enclave palestino com o objetivo declarado de eliminar os combatentes do Hamas e resgatar os reféns. Mais de 26.400 pessoas foram mortas até agora na Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais.

Em 24 de novembro, o Catar mediou um acordo entre Israel e o Hamas sobre uma trégua temporária e a troca de alguns dos prisioneiros e reféns, bem como a entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. O cessar-fogo foi prorrogado várias vezes e expirou no dia 1º de dezembro. Acredita-se que mais de 100 reféns ainda estejam detidos pelo Hamas em Gaza.

•        Países ocidentais e árabes preparam plano de novo governo palestino com membros do Hamas

Segundo o Financial Times, diversos países estão elaborando um plano que deverá parecer "como se fosse a visão de paz" do presidente americano Joe Biden.

Países ocidentais e árabes estão discutindo a formação de um novo governo palestino, que pode envolver a ala política do movimento palestino Hamas, informou no sábado (27) o jornal britânico Financial Times (FT).

Segundo as fontes, as autoridades estão discutindo com os líderes palestinos a criação de um novo governo, e entre as ideias que estão sendo consideradas está a formação de uma administração tecnocrática dirigida por um primeiro-ministro.

"A ala política do Hamas será incluída no processo de formação de um novo governo se reconhecer a existência do Estado judeu nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, quando Israel ocupou Gaza e a Cisjordânia", escreve o FT.

Salam Fayyad, ex-primeiro-ministro palestino, bem como Mohammad Mustafa, chefe do Fundo de Investimento Palestino, são considerados possíveis candidatos à chefia do governo.

No entanto, diplomatas árabes sublinham que a administração será escolhida pelos palestinos. Segundo o jornal, deverão ser realizadas eleições após um período de transição.

Ao mesmo tempo, um dos diplomatas ressaltou que os países árabes terão que fazer o trabalho principal de formalização do plano para, em seguida, ele ser adotado pelos EUA, que têm a maior influência sobre Israel.

"Tem de parecer como se fosse a visão de paz do [presidente dos EUA, Joe] Biden", apontou.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, tem se oposto repetidamente a uma solução de dois Estados, pois, disse ele, Israel somente garantirá sua segurança se mantiver o controle sobre os territórios palestinos.

•        Ministros das Relações Exteriores da ASEAN defendem a criação de um Estado Palestino Independente

Os ministros das Relações Exteriores dos estados membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) reiteraram nesta segunda-feira seu apoio à solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino, solicitando a formação de um Estado independente da Palestina.

"Reafirmamos nosso apoio aos legítimos direitos do povo palestino de estabelecer um Estado independente, com base na solução de dois Estados que permita a coexistência pacífica e segura, respeitando as fronteiras anteriores a 1967, conforme o direito internacional e resoluções pertinentes do Conselho de Segurança da ONU", declararam os principais diplomatas da ASEAN em um comunicado divulgado após sua reunião abrangente em Luang Prabang, Laos.

Os estados membros da ASEAN também expressaram preocupação contínua com o conflito armado em curso no Oriente Médio, exigindo um "cessar-fogo humanitário imediato" e a "libertação incondicional de reféns e detidos civis", conforme declarado no comunicado.

 

       Netanyahu é criticado por famílias de reféns após sugerir que as ações delas ajudam o Hamas

 

O premiê de Israel falou com familiares dos reféns sobre o conflito, algo que revelou ser um braço de ferro em meio às abordagens divergentes.

Benjamin Netanyahu criticou no sábado (27) as famílias dos reféns, dizendo às vítimas desesperadas que seus protestos eram inúteis e contribuíam para as exigências do Hamas.

"Entendo que é impossível controlar as emoções" nessa situação, mas isso também "não ajuda" e apenas "endurece as exigências do Hamas e atrasa os resultados que todos nós queremos", disse o primeiro-ministro de Israel durante uma coletiva de imprensa à noite, citado pelo jornal israelense The Jerusalem Post.

Os membros do Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos reagiram negativamente aos comentários.

"Esperamos que o primeiro-ministro se lembre de que ele é uma autoridade eleita cujo trabalho é corrigir os erros [de 7 de outubro], e não repreender aqueles cujos familiares foram sequestrados", disse o fórum.

"As famílias estão se reunindo com líderes mundiais, lideraram esforços para a transferência de medicamentos para os reféns, trouxeram o presidente do Tribunal Penal Internacional para Israel e mobilizaram a mídia e os influenciadores mais poderosos do mundo em apoio a Israel e aos reféns", lembrou.

Netanyahu reiterou que a guerra continuará até a eliminação do Hamas, e que as investigações sobre o ataque de 7 de outubro de 2023 devem ser conduzidas após a conclusão do conflito, não durante ele.

Iniciada em 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas em território israelense, a ofensiva já dura mais de três meses e acirrou a tensão no Oriente Médio, causando temor de que o conflito possa extravasar as fronteiras da região.

Um dos reflexos do acirramento é a escalada de violência no mar Vermelho, onde milícias houthis estão atacando navios associados a Israel, em retaliação aos bombardeios em Gaza. Na sexta-feira (26), o porta-voz dos houthis, Yahya Saree, afirmou que os ataques continuarão até o fim da agressão israelense contra a Faixa de Gaza.

•        ONU punirá funcionários envolvidos em atos 'terroristas', diz Guterres sobre alegações de Israel

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, prometeu neste domingo (28) responsabilizar "qualquer funcionário da ONU envolvido em atos de terror" após alegações de que alguns funcionários da agência para os refugiados estiveram envolvidos nos ataques do Hamas em Israel, no dia 7 de outubro.

Guterres implorou aos governos que continuassem a apoiar a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) depois de nove países terem suspendido o financiamento.

"Qualquer funcionário da ONU envolvido em atos de terror será responsabilizado, inclusive através de processo criminal", disse o chefe da ONU em comunicado. "O secretariado está pronto a cooperar com uma autoridade competente capaz de processar os indivíduos, em conformidade com os procedimentos normais do secretariado para tal cooperação."

Ao mesmo tempo, afirmou que "as dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham para a UNRWA, muitos deles em algumas das situações mais perigosas para os trabalhadores humanitários, não devem ser penalizados. As necessidades extremas das populações desesperadas que servem devem ser atendidas."

Nos seus primeiros comentários sobre a questão, o secretário-geral da ONU deu detalhes sobre os funcionários da UNRWA implicados nos "supostos atos abomináveis". Ainda de acordo com o secretário, dos 12 implicados, nove foram demitidos, um foi confirmado como morto e as identidades dos outros dois estão sendo apuradas.

Segundo a Reuters, o Reino Unido, Alemanha, Itália, Países Baixos, Suíça e Finlândia juntaram-se no sábado (27) aos Estados Unidos, Austrália e Canadá na suspensão do financiamento à agência de ajuda, uma fonte crítica de apoio à população de Gaza, após as alegações de Israel.

"Embora compreenda as suas preocupações — fiquei horrorizado com estas acusações — apelo veementemente aos governos que suspenderam as suas contribuições para, pelo menos, garantirem a continuidade das operações da UNRWA", disse Guterres.

O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, foi ainda mais incisivo dizendo que seria imensamente irresponsável sancionar uma agência e consequentemente toda uma comunidade que ela serve em razão das "alegações de atos criminosos contra alguns indivíduos, especialmente em um momento de guerra, deslocamento e crises políticas na região".

"As vidas das pessoas em Gaza dependem deste apoio e o mesmo acontece com a estabilidade regional", disse Lazzarini.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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