Autoridades árabes realizaram reunião
secreta em Riad para discutir o pós-guerra de Gaza, diz mídia
Autoridades de
segurança da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e da Autoridade Palestina
realizaram uma reunião secreta em Riad há dez dias para coordenar os planos
para o futuro pós-guerra da Faixa de Gaza, buscando envolver a Autoridade
Palestina no governo do enclave, informou o portal Axios nesta segunda-feira
(29), citando fontes.
A reunião em Riad foi
organizada pelo conselheiro de Segurança Nacional da Arábia Saudita, Musaed bin
Mohammed al-Aiban, acompanhado pelo chefe do Serviço Geral de Inteligência
palestino, Majed Faraj, e seus homólogos egípcio e jordaniano, disseram as fontes.
As autoridades
sauditas, egípcias e jordanianas teriam dito a Faraj que a Autoridade Palestina
precisava de reformas para renovar a sua liderança política. Eles também
pediram que, se um novo governo palestino fosse criado, seu novo
primeiro-ministro deveria ganhar alguns dos poderes que nos últimos anos
estiveram nas mãos do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas,
informou a mídia.
Os três funcionários
também enfatizaram que as mudanças eram necessárias para trazer a Autoridade
Palestina de volta à administração da Faixa de Gaza após o período de transição
pós-conflito.
Segundo a apuração, o
conselheiro de Segurança Nacional saudita expressou a disponibilidade do seu
país para trabalhar na normalização com Israel em troca de medidas israelenses
para o estabelecimento de um Estado palestino.
O primeiro-ministro
israelense Benjamin Netanyahu já rejeitou anteriormente a possibilidade de a
Faixa de Gaza ficar sob o controle da Autoridade Palestina assim que as
hostilidades terminarem.
As autoridades dos EUA
e de Israel foram informadas do conteúdo da reunião secreta por alguns dos seus
participantes, acrescentaram as fontes.
Em diversas ocasiões,
Netanyahu se manifestou contra a solução de dois Estados, que procura criar um
Estado palestino independente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. No dia 20 de
janeiro, o primeiro-ministro israelense recorreu às redes sociais para reiterar
que o seu país não "comprometeria o controle total da segurança"
sobre todo o território a oeste do rio Jordão, que admitiu ser "contrário
a um Estado palestino".
Em 7 de outubro, o
movimento palestino Hamas lançou um ataque de foguetes em grande escala contra
Israel a partir da Faixa de Gaza, enquanto os seus combatentes violavam a
fronteira, atacando tanto bairros civis como bases militares. Como resultado,
mais de 1.200 pessoas em Israel foram mortas e cerca de 240 foram raptadas.
Israel lançou ataques retaliatórios, ordenou um bloqueio total de Gaza e
iniciou uma incursão terrestre no enclave palestino com o objetivo declarado de
eliminar os combatentes do Hamas e resgatar os reféns. Mais de 26.400 pessoas
foram mortas até agora na Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais.
Em 24 de novembro, o
Catar mediou um acordo entre Israel e o Hamas sobre uma trégua temporária e a
troca de alguns dos prisioneiros e reféns, bem como a entrega de ajuda
humanitária à Faixa de Gaza. O cessar-fogo foi prorrogado várias vezes e
expirou no dia 1º de dezembro. Acredita-se que mais de 100 reféns ainda estejam
detidos pelo Hamas em Gaza.
• Países ocidentais e árabes preparam
plano de novo governo palestino com membros do Hamas
Segundo o Financial
Times, diversos países estão elaborando um plano que deverá parecer "como
se fosse a visão de paz" do presidente americano Joe Biden.
Países ocidentais e
árabes estão discutindo a formação de um novo governo palestino, que pode
envolver a ala política do movimento palestino Hamas, informou no sábado (27) o
jornal britânico Financial Times (FT).
Segundo as fontes, as
autoridades estão discutindo com os líderes palestinos a criação de um novo
governo, e entre as ideias que estão sendo consideradas está a formação de uma
administração tecnocrática dirigida por um primeiro-ministro.
"A ala política
do Hamas será incluída no processo de formação de um novo governo se reconhecer
a existência do Estado judeu nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, quando
Israel ocupou Gaza e a Cisjordânia", escreve o FT.
Salam Fayyad,
ex-primeiro-ministro palestino, bem como Mohammad Mustafa, chefe do Fundo de
Investimento Palestino, são considerados possíveis candidatos à chefia do
governo.
No entanto, diplomatas
árabes sublinham que a administração será escolhida pelos palestinos. Segundo o
jornal, deverão ser realizadas eleições após um período de transição.
Ao mesmo tempo, um dos
diplomatas ressaltou que os países árabes terão que fazer o trabalho principal
de formalização do plano para, em seguida, ele ser adotado pelos EUA, que têm a
maior influência sobre Israel.
"Tem de parecer
como se fosse a visão de paz do [presidente dos EUA, Joe] Biden", apontou.
Benjamin Netanyahu,
primeiro-ministro de Israel, tem se oposto repetidamente a uma solução de dois
Estados, pois, disse ele, Israel somente garantirá sua segurança se mantiver o
controle sobre os territórios palestinos.
• Ministros das Relações Exteriores da
ASEAN defendem a criação de um Estado Palestino Independente
Os ministros das
Relações Exteriores dos estados membros da Associação das Nações do Sudeste
Asiático (ASEAN) reiteraram nesta segunda-feira seu apoio à solução de dois
Estados para o conflito israelo-palestino, solicitando a formação de um Estado
independente da Palestina.
"Reafirmamos
nosso apoio aos legítimos direitos do povo palestino de estabelecer um Estado
independente, com base na solução de dois Estados que permita a coexistência
pacífica e segura, respeitando as fronteiras anteriores a 1967, conforme o
direito internacional e resoluções pertinentes do Conselho de Segurança da
ONU", declararam os principais diplomatas da ASEAN em um comunicado
divulgado após sua reunião abrangente em Luang Prabang, Laos.
Os estados membros da
ASEAN também expressaram preocupação contínua com o conflito armado em curso no
Oriente Médio, exigindo um "cessar-fogo humanitário imediato" e a
"libertação incondicional de reféns e detidos civis", conforme
declarado no comunicado.
Netanyahu é criticado por famílias de
reféns após sugerir que as ações delas ajudam o Hamas
O premiê de Israel
falou com familiares dos reféns sobre o conflito, algo que revelou ser um braço
de ferro em meio às abordagens divergentes.
Benjamin Netanyahu
criticou no sábado (27) as famílias dos reféns, dizendo às vítimas desesperadas
que seus protestos eram inúteis e contribuíam para as exigências do Hamas.
"Entendo que é
impossível controlar as emoções" nessa situação, mas isso também "não
ajuda" e apenas "endurece as exigências do Hamas e atrasa os
resultados que todos nós queremos", disse o primeiro-ministro de Israel
durante uma coletiva de imprensa à noite, citado pelo jornal israelense The
Jerusalem Post.
Os membros do Fórum de
Famílias de Reféns e Desaparecidos reagiram negativamente aos comentários.
"Esperamos que o
primeiro-ministro se lembre de que ele é uma autoridade eleita cujo trabalho é
corrigir os erros [de 7 de outubro], e não repreender aqueles cujos familiares
foram sequestrados", disse o fórum.
"As famílias
estão se reunindo com líderes mundiais, lideraram esforços para a transferência
de medicamentos para os reféns, trouxeram o presidente do Tribunal Penal
Internacional para Israel e mobilizaram a mídia e os influenciadores mais
poderosos do mundo em apoio a Israel e aos reféns", lembrou.
Netanyahu reiterou que
a guerra continuará até a eliminação do Hamas, e que as investigações sobre o
ataque de 7 de outubro de 2023 devem ser conduzidas após a conclusão do
conflito, não durante ele.
Iniciada em 7 de
outubro de 2023, após um ataque do Hamas em território israelense, a ofensiva
já dura mais de três meses e acirrou a tensão no Oriente Médio, causando temor
de que o conflito possa extravasar as fronteiras da região.
Um dos reflexos do
acirramento é a escalada de violência no mar Vermelho, onde milícias houthis
estão atacando navios associados a Israel, em retaliação aos bombardeios em
Gaza. Na sexta-feira (26), o porta-voz dos houthis, Yahya Saree, afirmou que os
ataques continuarão até o fim da agressão israelense contra a Faixa de Gaza.
• ONU punirá funcionários envolvidos em
atos 'terroristas', diz Guterres sobre alegações de Israel
O secretário-geral das
Nações Unidas, António Guterres, prometeu neste domingo (28) responsabilizar
"qualquer funcionário da ONU envolvido em atos de terror" após
alegações de que alguns funcionários da agência para os refugiados estiveram
envolvidos nos ataques do Hamas em Israel, no dia 7 de outubro.
Guterres implorou aos
governos que continuassem a apoiar a Agência das Nações Unidas para os
Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) depois de nove países terem
suspendido o financiamento.
"Qualquer
funcionário da ONU envolvido em atos de terror será responsabilizado, inclusive
através de processo criminal", disse o chefe da ONU em comunicado. "O
secretariado está pronto a cooperar com uma autoridade competente capaz de processar
os indivíduos, em conformidade com os procedimentos normais do secretariado
para tal cooperação."
Ao mesmo tempo,
afirmou que "as dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham
para a UNRWA, muitos deles em algumas das situações mais perigosas para os
trabalhadores humanitários, não devem ser penalizados. As necessidades extremas
das populações desesperadas que servem devem ser atendidas."
Nos seus primeiros
comentários sobre a questão, o secretário-geral da ONU deu detalhes sobre os
funcionários da UNRWA implicados nos "supostos atos abomináveis".
Ainda de acordo com o secretário, dos 12 implicados, nove foram demitidos, um
foi confirmado como morto e as identidades dos outros dois estão sendo
apuradas.
Segundo a Reuters, o
Reino Unido, Alemanha, Itália, Países Baixos, Suíça e Finlândia juntaram-se no
sábado (27) aos Estados Unidos, Austrália e Canadá na suspensão do
financiamento à agência de ajuda, uma fonte crítica de apoio à população de
Gaza, após as alegações de Israel.
"Embora
compreenda as suas preocupações — fiquei horrorizado com estas acusações —
apelo veementemente aos governos que suspenderam as suas contribuições para,
pelo menos, garantirem a continuidade das operações da UNRWA", disse
Guterres.
O chefe da UNRWA,
Philippe Lazzarini, foi ainda mais incisivo dizendo que seria imensamente
irresponsável sancionar uma agência e consequentemente toda uma comunidade que
ela serve em razão das "alegações de atos criminosos contra alguns
indivíduos, especialmente em um momento de guerra, deslocamento e crises
políticas na região".
"As vidas das
pessoas em Gaza dependem deste apoio e o mesmo acontece com a estabilidade
regional", disse Lazzarini.
Fonte: Sputnik Brasil
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