Hanseníase: pacientes contam histórias de
preconceito e superação
João Victor Pacheco,
28 anos, descobriu que tinha hanseníase aos 17 anos, quando trabalhava como
padeiro. "Comecei a ter queimaduras, mas não sentia". A diminuição ou
perda da sensibilidade térmica é um dos sintomas da doença. "Desde então,
comecei a minha luta, o ativismo" disse, em conversa com a jornalista Mara
Régia no programa Viva Maria, da Rádio Nacional.
"Buscar o
diagnóstico já é um grande desafio. Os profissionais de saúde não têm o
conhecimento necessário, não fazem o que precisa ser feito. Estou no meu
terceiro tratamento. Iniciei em 2014, depois, fui reinfectado, em 2017. Em
2019, tratei de novo, com resistência. Mas, se em 2014 tivessem examinado meus
familiares, poderia não ter acontecido isso."
O jovem mora em
Cuiabá, capital mato-grossense. O estado é considerado endêmico para hanseníase
e ocupou, por muitos anos, o primeiro lugar no ranking brasileiro de casos.
"De que adianta ter bastante caso diagnosticado e não ter serviço",
questiona o rapaz. Sobre o preconceito vivido desde os 17 anos, ele rebate:
"Não sofro, mas acontece".
"O preconceito e
a discriminação fazem parte da realidade que a gente está. A gente coloca pra
dentro da nossa mente o que é bom. E o preconceito só é bom quando a gente
desconstrói esse preconceito. Mas, quando a gente recebe, não é bom não. É um pré-conceito,
a pessoa está lá achando que é, mas só a gente sabe o que a gente passa."
A técnica em nutrição
Marly Barbosa de Araújo também denuncia a falta de conhecimento dos
profissionais de saúde acerca da doença. Moradora de área nobre na capital
federal, ela conta que o diagnóstico tardio veio em razão de falhas no
atendimento, já que precisou passar por várias unidades até conseguir uma
resposta.
"Digo sempre que
eu sofri um ‘preconceito ao contrário’ dos profissionais de saúde. Como eu
morava numa quadra de classe média alta em Brasília, eles não pensaram em
hanseníase. Isso atrasou o meu diagnóstico. A gente tem que desmistificar que
hanseníase é coisa de pobre. Doença não escolhe classe social."
Marly conta que uma de
suas vizinhas chegou a pedir que ela vendesse seu apartamento quando soube do
diagnóstico de hanseníase e insinuou que o imóvel poderia ter sido
desvalorizado em função da doença da proprietária. "Disse a ela: do mesmo
jeito que eu era dona do meu, ela era dona do dela e, se ela quisesse, que
vendesse o dela".
"Mas não vamos
querer dizer que o preconceito é falta de informação só não. Se fosse só falta
de informação, o profissional de saúde não seria preconceituoso. Ele tem
informação sobre a hanseníase e, ainda assim, eu sofri muito preconceito",
disse. "Pessoas esclarecidas também são preconceituosas", concluiu.
·
Brasil
Entre janeiro e
novembro de 2023, o Brasil diagnosticou ao menos 19.219 novos casos de
hanseníase. Mesmo que preliminar, o resultado já é 5% superior ao total de
notificações registradas no mesmo período de 2022.
Segundo as informações
do Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase, do Ministério da
Saúde, o estado de Mato Grosso segue liderando o ranking das unidades
federativas com maiores taxas de detecção da doença.
Até o fim de novembro,
o total de 3.927 novos casos no estado já superava em 76% as 2.229 ocorrências
do mesmo período de 2022. Em seguida vem o Maranhão, com 2.028 notificações,
resultado quase 8% inferior aos 2.196 registros anteriores.
·
Dia Mundial
O Dia Mundial de
Combate e Prevenção da Hanseníase é celebrado sempre no último domingo do mês
de janeiro.
A hanseníase é uma
doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium Leprae,
também conhecida como bacilo de Hansen (em homenagem à Gerhard Hansen, o médico
e bacteriologista norueguês descobridor da doença, em 1873). O bacilo se
reproduz lentamente e o período médio de incubação e aparecimento dos sinais da
doença é de aproximadamente cinco anos, de acordo com informações da
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Os sintomas iniciais
são manchas na pele, resultando em lesões e perda de sensibilidade na área
afetada. Também pode acontecer fraqueza muscular e sensação de formigamento nas
mãos e nos pés. Quando os casos não são tratados no início dos sinais, a doença
pode causar sequelas progressivas e permanentes, incluindo deformidades e
mutilações, redução da mobilidade dos membros e até cegueira.
Fonte: Agência Brasil
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