Alzheimer pode ter 5 variantes diferentes,
mostra estudo
Apesar de o Alzheimer já
atingir cerca de 32 milhões de pessoas no mundo, os cientistas ainda não
conseguiram definir uma causa exata para a doença. O que já se sabe é que
existe um acúmulo de proteínas chamadas beta-amiloide e tau no cérebro em
pacientes que possuem a condição.
No entanto, um novo
estudo pode dar nova luz às possíveis causas da doença neurodegenerativa.
Pesquisadores da Universidade de Amsterdã e da Universidade de Maastricht
identificaram cinco variantes biológicas relacionadas ao Alzheimer. São
elas:
- Crescimento anormal de células nervosas;
- Sistema imunológico hiperativo, o que pode agravar a
progressão da doença;
- Disfunção do metabolismo do RNA;
- Danos no plexo coroide, que é o órgão do cérebro que produz
líquido cefalorraquidiano (responsável por proteger o encéfalo e a medula
espinhal contra choques e pressão);
- Vazamento da barreia hematoencefálica (responsável por
regular o transporte de substâncias entre o sangue e o cérebro).
“O crescimento [de
células nervosas] é um processo normal no cérebro quando as conexões entre as
células nervosas são danificadas, por exemplo, devido ao acúmulo de
beta-amiloide. Mas, aqui, vemos que esse processo fica acelerado e não parece
reparar as conexões com eficiência”, explica Betty Tijms, professora no Centro
Médico da Universidade de Amsterdã e principal autora do estudo, ao Medical
News Today.
As descobertas foram
publicadas no jornal científico Nature
Aging e podem trazer novas perspectivas para o tratamento da
doença.
·
Como o estudo sobre as variantes do
Alzheimer foi feito?
O estudo tinha como
objetivo procurar outros processos biológicos que poderiam estar associados ao
desenvolvimento de Alzheimer, além do acúmulo de
proteínas beta-amiloide e tau. Para isso, os pesquisadores utilizaram técnicas
que possibilitaram medir proteínas do líquido cefalorraquidiano e fornecer uma
imagem dos processos que estariam ocorrendo no cérebro.
“Utilizamos essas
inovações para estudar se poderiam ser identificados certos subgrupos de
pacientes com doença de Alzheimer que compartilham processos biológicos
subjacentes distintos”, comenta Tijms.
Portanto, para
realizar o estudo, foram analisadas mais de mil proteínas no líquido
cefalorraquidiano de 419 pessoas com Alzheimer. Através disso, foi possível
identificar as diferentes variações biológicas dentro desse grupo.
Os pesquisadores
afirmam que as novas descobertas podem mudar a forma como os medicamentos para
Alzheimer serão desenvolvidos e prescritos no futuro. Isso porque, na visão dos
autores, cada subtipo da doença pode demandar um tratamento específico.
Para confirmar essa
hipótese, estudos futuros devem testar o mecanismo de ação de medicamentos
levando em consideração cada variante da doença, para identificar quais
subtipos respondem melhor ao tratamento analisado. O mesmo deve ser feito com
ensaios para investigar os efeitos colaterais de cada medicamento para cada
variante do Alzheimer.
Ø
Exame de sangue que rastreia Alzheimer pode
se tornar realidade, diz estudo
Um novo tipo de exame
de sangue, capaz de rastreiar a Doença de Alzheimer com “alta precisão” antes
mesmo do início dos sintomas, pode se tornar realidade em breve, diz estudo
publicado nesta segunda-feira (22) na revista JAMA Neurology.
Isso seria possível a
partir da identificação de um tipo de proteína no sangue, chamada tau
fosforilada, ou p-tau.
Essa proteína
funcionaria como um biomarcador, já que ela aumenta no sangue ao mesmo tempo
que outras proteínas prejudiciais aumentam no cérebro de pessoas com a doneça.
Atualmente, para
identificar o acúmulo de p-tau no cérebro, os pacientes são submetidos a uma
tomografia cerebral ou punção lombar, que muitas vezes pode ser inacessível e
dispendiosa.
Mas descobriu-se que este simples exame de sangue tem até 96% de precisão na identificação de níveis
elevados de beta amiloide e até 97% de precisão na identificação de p-tau, de
acordo com o estudo.
“O que foi
impressionante com estes resultados é que o exame de sangue foi tão preciso
quanto testes avançados, como testes de líquido cefalorraquidiano e tomografias
cerebrais, para mostrar a patologia da doença de Alzheimer no cérebro”, disse
Nicholas Ashton, professor de neuroquímica na Universidade de Gotemburgo, na
Suécia, e um dos principais autores do estudo.
As conclusões do
estudo não surpreenderam Ashton, que acrescentou que a comunidade científica
sabe, há vários anos, que a utilização de análises de sangue para medir a p-tau
ou outros biomarcadores tem o potencial de avaliar o risco da doença de
Alzheimer.
“Agora estamos perto
desses testes, e este estudo mostra isso”, disse ele.
A Doença de Alzheimer,
um distúrbio cerebral que afeta a memória e as habilidades de pensamento, é o
tipo mais comum de demência, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde.
No ano passado, o
primeiro exame de sangue para avaliar a proteína beta-amilóide foi
disponibilizado para compra ao consumidor nos Estados Unidos,
chamado AD-Detect, para ajudar pessoas com comprometimento cognitivo
leve a identificar o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer.
Alguns pesquisadores
levantaram dúvidas sobre a ciência por trás do teste.
A Quest Diagnostics,
empresa por trás do teste, enfatizou que ele não se destina a diagnosticar a
doença de Alzheimer, mas afirma que ajuda a avaliar o risco de uma pessoa
desenvolver a doença.
O teste utilizado no
novo estudo, denominado ensaio ALZpath pTau217, é uma ferramenta
disponível comercialmente desenvolvida pela empresa ALZpath, que forneceu
materiais para o estudo gratuitamente.
O teste está
atualmente disponível apenas para uso em pesquisa, mas Ashton disse que deverá
estar disponível para uso clínico em breve.
“Esta é uma descoberta
instrumental em biomarcadores sanguíneos para Alzheimer, abrindo caminho para o
uso clínico do ensaio ALZpath pTau 217”, disseram os professores Kaj Blennow e
Henrik Zetterberg da Universidade de Gotemburgo, coautores do estudo, em um
comunicado de imprensa.
“Este ensaio robusto
já é usado em vários laboratórios em todo o mundo”.
ALZpath estima que o
preço do teste pode estar entre US$ 200 e US$ 500 (de, aproximadamente, R$
1.000 a R$ 2.500).
“Um biomarcador
sanguíneo robusto e preciso permitiria uma avaliação mais abrangente do
comprometimento cognitivo em ambientes onde os testes avançados são limitados”,
escreveram os pesquisadores no estudo.
“Portanto, o uso de um
biomarcador sanguíneo visa melhorar um diagnóstico precoce e preciso da DA,
levando a um melhor manejo do paciente e, em última análise, ao acesso oportuno
a terapias modificadoras da doença”.
Por exemplo, o teste
demonstrou “alta precisão” na identificação da patologia tau em pessoas com
teste positivo para beta amilóide, de acordo com o estudo.
Isso pode ajudar a
orientar as decisões de tratamento em pacientes que consideram terapias
direcionadas à beta amiloide, como Leqembi e Aduhelm, uma vez
que podem ser menos eficazes em pacientes com patologia tau avançada,
escreveram os pesquisadores.
“Estes resultados
enfatizam o importante papel do p-tau217 plasmático como ferramenta de rastreio
inicial no tratamento do comprometimento cognitivo, destacando aqueles que
podem beneficiar de imunoterapias antiamilóides”, escreveram.
·
Exame de sangue “definitivo” em 80% dos
participantes
O estudo contou com
dados de 786 pessoaso com idade média de 66 anos de idade e que realizaram
exames cerebrais e punções lombares, bem como amostras de sangue coletadas.
Os dados e essas
amostras vieram dos Biomarcadores Translacionais em Envelhecimento e Demência,
Registro de Wisconsin para Prevenção de Alzheimer e Iniciativa Sant Pau sobre
Neurodegeneração.
Alguns dos
participantes mostraram sinais de declínio cognitivo durante a coleta de dados,
mas outros não.
Os pesquisadores, de
instituições da Suécia, dos Estados Unidos e de outros países, analisaram os
dados dos participantes de fevereiro a junho do ano passado.
Eles descobriram que
quando testaram a amostra de sangue de um participante com o imunoensaio
p-tau217, o exame de sangue mostrou resultados e precisões semelhantes na
identificação de beta amiloide e p-tau anormais como os resultados da punção
lombar ou tomografia cerebral do participante.
Apenas cerca de 20%
dos participantes do estudo tiveram resultados de exames de sangue que, em um
ambiente clínico, teriam exigido mais exames de imagem ou punção lombar por não
serem claros.
“Esta é uma redução
significativa nos exames caros e de alta demanda”, disse Ashton no e-mail.
Portanto, com base nos
resultados do estudo, “pensamos que um exame de sangue e um exame clínico podem
ter uma precisão definitiva em 80%” daqueles que estão sendo investigados para
sinais precoces de demência.
No entanto, embora o
exame de sangue neste estudo tenha sido altamente preciso para prever se alguém
tem características-chave da doença de Alzheimer no cérebro, nem todas as
pessoas com essas características desenvolverão a doença.
Além disso, o teste
p-tau é específico para a doença de Alzheimer, portanto, se alguém tiver um
resultado negativo, mas apresentar sinais de comprometimento cognitivo, este
teste não poderá determinar outras possíveis causas de seus sintomas, como
demência vascular ou demência por corpos de Lewy.
“Um exame de sangue
negativo acelera a investigação de outras causas dos sintomas, e isso é
igualmente importante”, disse Ashton.
No geral, um exame de
sangue para a doença de Alzheimer, como o descrito no novo estudo, pode ser
usado para ajudar a diagnosticar tanto uma pessoa com perda precoce de memória,
quanto antes que um paciente apresente sinais ou sintomas da doença.
Isso porque alterações
no cérebro podem ocorrer cerca de 20 anos antes do início dos
sintomas evidentes, disse o neurologista preventivo Dr. Richard Isaacson,
diretor de pesquisa do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, que
não esteve envolvido no estudo.
“Este é, na verdade, o
teste que tem, neste momento, uma das melhores evidências disponíveis de ser um
único teste para a doença de Alzheimer”, disse Isaacson sobre as conclusões do
estudo.
“Este estudo nos leva
a um passo realmente poderoso em direção à realização desse teste, e a beleza
deste estudo é que ele também analisou as pessoas antes que elas apresentassem
sintomas”.
Os sinais e sintomas
da doença de Alzheimer podem variar de pessoa para pessoa, mas muitas
vezes os problemas de memória são os primeiros sinais da doença, como perder a
noção de datas, perder-se, colocar coisas no lugar errado ou ter dificuldade em
completar tarefas, como tomar banho, ler ou escrever.
Isaacson, que
pesquisou biomarcadores sanguíneos em pessoas com nenhuma ou mínima queixa
cognitiva, comparou o teste de amostras de sangue para detectar sinais da
doença de Alzheimer à forma como as pessoas são submetidas a exames de sangue
de rotina para detectar colesterol alto.
“As pessoas fazem
testes de colesterol antes de terem um ataque cardíaco. As pessoas fazem
testes de colesterol antes de sofrerem um derrame. Para mim, esse tipo de
teste acabará sendo melhor aplicado em pessoas antes que elas comecem a apresentar
sintomas cognitivos”, disse Isaacson.
E “tal como os testes
de colesterol, ao seguir o nível de pTau217 ao longo do tempo, podemos
compreender melhor como várias terapias e mudanças no estilo de vida funcionam
para manter a doença de Alzheimer sob melhor controle”.
·
Forma de “democratizar o acesso”
Testar o Alzheimer
antes que alguém apresente sintomas “deixa muito tempo” para que essa pessoa
faça escolhas saudáveis para o cérebro e converse com
seu médico sobre seus
fatores de risco individuais, disse Isaacson.
Ele também acrescentou
que um exame de sangue também pode ser mais barato e eficaz do que realizar
exames cerebrais ou outros métodos de teste.
“Os exames PET contêm
radiação e podem custar mais de US$ 5 mil. As punções lombares são ótimas
porque você obtém informações detalhadas, mas nem todo mundo quer uma e é cara
e não é coberta pelo seguro. Esses exames de sangue geralmente têm preços
mais razoáveis”, disse Isaacson.
“Fazer um exame de
sangue como este também pode ajudar a democratizar o acesso das pessoas e
apenas tornar mais fácil para o nosso sistema de saúde gerir de forma mais
proativa o tsunami de risco de demência que a nossa sociedade enfrenta”, disse
ele.
“Esta é a chave para
abrir a porta para o campo da prevenção da doença de Alzheimer e da neurologia
preventiva”.
Mais de 6 milhões de
pessoas nos Estados Unidos vivem com demência causada pela Doença de Alzheimer,
de acordo com a Associação de Alzheimer.
A previsão é de que o
número de pessoas afetadas duplique nas próximas duas décadas, aumentando para
cerca de 13 milhões em 2050, somente nos EUA.
No futuro, pode ser
recomendado que adultos com mais de 50 anos sejam submetidos a exames de sangue
de rotina para detectar a doença de Alzheimer, disse David Curtis,
professor honorário da University College London, que não esteve envolvido no
novo estudo.
“Quando tratamentos
eficazes para prevenir a progressão da doença de Alzheimer estiverem
disponíveis, será essencial ser capaz de identificar as pessoas que estão em
alto risco antes que comecem a deteriorar-se. Este estudo mostra que um
simples exame de sangue pode fazer isso medindo os níveis de proteína tau no
sangue que foi fosforilada de uma maneira específica. Isto poderia ter
implicações enormes”, disse Curtis num comunicado distribuído pelo Science
Media Centre, com sede no Reino Unido.
“Todas as pessoas com
mais de 50 anos poderiam ser examinadas rotineiramente a cada poucos anos, da
mesma forma que agora são examinadas para colesterol alto. É possível que os
tratamentos atualmente disponíveis para a doença de Alzheimer funcionem melhor
naqueles diagnosticados precocemente desta forma”, disse ele.
“No entanto, penso que
a verdadeira esperança é que melhores tratamentos também possam ser
desenvolvidos. A combinação de um simples teste de rastreio com um
tratamento eficaz para a doença de Alzheimer teria um impacto dramático para os
indivíduos e para a sociedade”.
Fonte: CNN Brasil
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