Colágeno: quais os efeitos reais do
suplemento na pele?
Colágeno em cápsulas,
misturas em pó e até em forma de balinhas são facilmente encontradas online e em
lojas de produtos naturais pelo Brasil.
Mas apesar de ser um
suplemento popular, ele ainda carece de boas evidências científicas que
respaldem o principal benefício promovido: aprimorar a aparência da pele,
promovendo firmeza e reduzindo rugas e marcas de expressão.
O colágeno é uma
proteína essencial encontrada no corpo humano, responsável pela resistência e
elasticidade de diferentes tecidos, como pele, ossos e cartilagens.
Com o envelhecimento,
a produção dessa proteína diminui, e rugas, marquinhas e flacidez aparecem em
uma pele que anos antes era mais lisa e firme.
"Por conta dessa
diminuição na produção, a indústria propõe suplementos orais, alegando que a
ingestão contribui para estimular a produção de colágeno", diz Elisete
Croco, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A dúvida sobre a
reposição oral proporcionar benefícios ou não é bem comum nos consultórios,
explica Croco.
"A resposta pode
estar em uma dieta adequada com a correta ingestão de aminoácidos por meio de
alimentos. A evidência científica sobre a efetividade dos produtos,
infelizmente, é escassa."
A médica explica que
alguns poucos estudos conseguiram demonstrar, via ultrassonografia, uma leve
melhora no espessamento da pele de mulheres que utilizaram esses produtos.
"Mas é crucial
observar que esses estudos são conduzidos pela própria indústria e muitas vezes
envolvem 20 ou 30 pacientes - uma amostra pequena demais para considerar os
resultados."
·
Os tipos diferentes de
colágeno
Existem diferentes
tipos de colágeno. Entre os principais, estão:
Tipo 1: Encontrado na
pele, ossos, tendões e dentes, proporciona resistência e suporte estrutural. Na
pele, é responsável por manter a firmeza e elasticidade.
Tipo 2: Presente nas
cartilagens, desempenha um papel crucial na absorção de impacto e na
flexibilidade das articulações. Contribui para a saúde das articulações e previne o desgaste.
Tipo 3: Predominante
nos tecidos reticulares, suporta órgãos internos, como fígado, baço e
intestinos. Também é encontrado em vasos sanguíneos, desempenhando um papel
importante na elasticidade vascular.
Tipo 4: Componente da
membrana basal, ajuda a manter os tecidos bem estruturados. Atua como suporte
para células e ajuda na regulação de substâncias que passam através da
membrana.
"O mais
comercializado é o verisol, um tipo de colágeno 1", explica Mariele
Bevilaqua, médica dermatologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
O verisol é composto
por peptídeos de colágeno bioativos — fragmentos menores da proteína, que, em
teoria, são absorvidos de forma mais eficiente no organismo.
"E vale ressaltar
que todas as versões são de origem animal, o que exclui a possibilidade de
serem consumidos por pessoas veganas. A proteína é extraída de tecidos
conectivos dos bichos, como pele, ossos e cartilagens de bovinos, suínos,
peixes ou aves."
·
Quando o suplemento
pode fazer alguma diferença
A médica Elisete
Croco, da SBD, explica que a suplementação pode ser benéfica em situações
específicas de tratamentos.
"Ao realizar
procedimentos dermatológicos como peelings, lasers e microagulhamento,
promovemos uma destruição controlada de estruturas celulares, desencadeando a
produção de neocolagênese. O corpo, então — e não o procedimento em si — é
responsável por criar fibras novas em resposta a essa destruição."
Dessa forma, uma maior
disponibilidade da proteína do colágeno no
organismo ajudaria, teoricamente, a acelerar esse processo de
"neocolagênese", uma produção de colágeno extra no processo de
recuperação das fibras da pele.
"Aos meus
pacientes, sugiro iniciar a suplementação pelo menos um mês antes do
procedimento. Dessa forma, a pele terá mais matéria-prima para o estímulo de
colágeno durante e após os tratamentos estéticos", afirma Bevilaqua.
A médica aponta que o
custo do suplemento pode chegar a R$ 150 por mês.
"É um
investimento considerável. Portanto, a suplementação deve ser avaliada caso a
caso."
Outra possível
indicação de suplementar colágeno é em casos de lesões ortopédicas.
"Em situações de
trauma, especialmente em articulações, a suplementação com colágeno de
qualidade pode contribuir para uma melhor reparação do tecido fibroso, embora a
eficácia também careça de estudos robustos."
·
Suplementação ou
proteção?
"É importante
destacar que o impacto mais significativo não são intervenções, mas sim
abordagens preventivas. Iniciar cuidados desde cedo, ainda na fase da
juventude, e construir hábitos saudáveis nos primeiros 50 anos da vida é
fundamental", aponta Croco.
Entre as ações que
beneficiam a pele, a médica Mariele Bevilaqua, cita se proteger da exposição
solar, não fumar, manter uma boa dieta, com poucos alimentos ultraprocessados e
boa hidratação, e uma boa rotina de sono.
E se a pessoa já nota
sinais como linhas finas, rugas e manchas na pele, produtos com
ativos como os ácidos podem entrar na rotina de skin care, mas
os casos devem ser avaliados individualmente de acordo com as queixas de cada
um.
"Outra opção é
apostar nas intervenções não injetáveis, utilizando tecnologias ou
procedimentos mais naturais, pois é o próprio corpo que produz o colágeno nesse
caso. Realizar um procedimento como o microagulhamento, por exemplo, duas vezes
ao ano, ao perceber sinais discretos de envelhecimento, pode ser
considerado um trabalho preventivo sem exageros, mantendo um resultado
natural", indica Croco.
Fonte: BBC News Brasil
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