quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Perito faz linha do tempo e detalha como se deu a farsa contra o Padre Júlio Lancellotti

O perito Mário Gazziro, professor de engenharia de informação na Universidade Federal do ABC (UFABC) e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da Universidade de São Paulo (USP), divulgou neste domingo (28) um vídeo em que traz mais detalhes sobre como foi armada a farsa contra o padre Júlio Lancellotti.

Membros do Movimento Brasil Livre (MBL), bolsonaristas e nomes da direita paulistana vêm repercutindo, nas últimas semanas, um vídeo falso em que acusam o padre de pedofilia. Perícia feita pelo professor Mário Gazziro e divulgada pela Fórum já apontou que o vídeo em questão é falso.

"As evidências indicam que os vídeos e montagens NÃO PERTENCEM AO SUPOSTO ACUSADO, Padre Júlio Renato Lancellotti, após constatação de montagens sobre vídeos para simular vídeo-chamadas", diz trecho do laudo de Gazziro, que identificou uma série de técnicas de edição e montagens a partir de análise forense. 

Na verdade, o vídeo que tentam associar ao padre Júlio circula nas redes sociais desde 2020. À época, um laudo emitido pelo perito Onias Tavares de Aguiar foi submetido junto a uma denúncia ao Ministério Público (MP), que arquivou o caso por falta de materialidade nas supostas provas apresentadas.

Mais recentemente, o vereador Rubinho Nunes (MDB-SP), que tentou abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo para perseguir o padre Júlio, encomendou um laudo junto ao escritório do perito bolsonarista Reginaldo Tirotti - o resultado da perícia também foi desmontado pelo professor Mário Gazziro, que apontou falhas grosseiras na análise.

Ao analisar e cruzar as informações dos dois laudos (de 2020 e de 2024), Mário Gazziro constatou que o mais antigo, encomendado pelo ex-deputado estadual Arthur do Val, o "Mamãe Falei", teria sido fraudado - para além das montagens no próprio vídeo que circula nas redes - com o objetivo de ludibriar o MP. Segundo o professor, Do Val e seu perito teriam incorrido em crime de fraude processual, com pena prevista de detenção de três meses a dois anos, e multa.

"O crime foi perpetrado pela dupla Onias Tavares de Aguiar e Arthur Moledo do Val, respectivamente o perito que redigiu e adulterou o laudo, e seu contratante, o qual forneceu os vídeos. Onias adulterou deliberadamente o topo do cabeçalho dos quadros extraídos do suposto vídeo acusatório, de forma a ocultar o fato de que NÃO SE TRATAVA DO MESMO APARELHO CELULAR apresentado ao longo do documento, visto que nas seções anteriores do laudo, o modelo de aparelho celular utilizado para apresentar os supostos diálogos de pedofilia foi outro", afirma Gazziro.

Em vídeo divulgado neste domingo (28), Mário Gazziro faz uma linha do tempo de como a farsa contra o padre Júlio Lancellotti começou a ser montada, desde 2020, e explica as fraudes que constatou nos laudos que tentam incriminar o religioso. O professor já comunicou o fato ao Ministério Público.

 

       Perito aponta falhas grosseiras em laudo encomendado por Rubinho Nunes sobre o vídeo

 

Em atualização de laudo concluída nesta quinta-feira (25), o perito Mário Gazziro, professor de engenharia de informação na UFABC e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da USP, apontou falhas grosseiras na perícia encomendada pelo vereador Rubinho Nunes (MDB-SP) ao escritório do bolsonarista Reginaldo Tirotti, que foi divulgado na última semana pela revista Oeste.

"Mais uma vez, as evidências apresentadas aqui indicam que o padre Júlio Renato Lancellotti não pode ser atribuído como protagonista do vídeo em questão em face apenas dos relatos técnicos dos pareceres que assim o pediram, pois todos eles incorreram em falhas grosseiras ao tentarem imbuir essa comprovação", diz Gazziro, que já havia desmontado o laudo anterior, feito em 2020 por Onias Tavares Aguiar.

Segundo Gazziro, a nova perícia aponta "diversas comprovações técnicas que apontam a existência de um eventual impostor", usado pelo fundador do MBL e por grupos bolsonaristas para acusar o pároco de pedofilia.

"O material provavelmente foi produzido em casa ou estúdio de gravação, no qual tentou mimetizar ao máximo às características dos ambientes do Padre Lancellotti (amplamente divulgadas nas redes sociais dele), porém não conseguiram itens como um sofá similar, quadro, santa de madeira correta, etc", conclui.

Entre os elementos novos apresentados por Gazziro está uma análise feita pelo serviço web Yoti´s Facial Age que aponta divergências de idade entre padre Júlio e o impostor usado na montagem do vídeo.

"Eles nos retornaram em caráter urgente com o resultado de 67 anos para o Padre e 63 (~62,8) para o indivíduo do vídeo, respeitadas a devida margem de erro para essa idade, de cerca de 3,5 anos", diz o perito.

"Notar que mesmo dentro da margem de erro, não seria possível o indivíduo do vídeo ter a mesma idade que o Padre, algo que foi avaliado pelo software americano, mas que também é visivel nas análises, pela ausência de rugas de expressão e manchas de pele", emenda.

•        Falhas grosseiras

A atualização da perícia ainda lista cinco falhas grosseiras utilizadas pelos "especialistas" contratados por Rubinho Nunes no laudo divulgado pela revista Oeste.

A primeira falha, segundo Gazziro, é "assumir o ano de produção do material sem respaldo nas evidências visuais".

"Os peritos assumiram como sendo o ano de 2019 a produção desse novo material sem nenhum embasamento para tal, pois mesmo em sendo comprovadamente sem edição o video e o frame apresentado acima, ele NÃO apresenta o ANO em questão, apenas o dia, hora e o mês", afirma.

A segunda falha é "induzir os leitores leigos do parecer com inclusão excessiva de imagens verdadeiras do suposto autor acusado".

O terceiro erro é "ocultar item de interessa na análise utilizando marcador visual e induzir o leitor à constatação errônea de compatibilidade".

"A trivialidade dessa tentativa de impor culpabilidade por conta de uma característica quase onipresente na terceira idade, como mostra a foto ao lado de um indivíduo qualquer, se mostrou bastante infantil e inócua, sequer podendo ser classificada

como uma atividade pericial contundente", ressalta Gazziro.

Na quarta falha, o perito aponta o "uso de características praticamente onipresentes na terceira idade como fator de comprovação de culpabilidade".

Segundo Gazziro, as características usadas em perícias judiciais profissionais se reserva a "pintas, cicatrizes ou marcas de nascença, que possam diferenciar o indivíduo de forma efetiva".

"Os peritos não tiveram sequer a preocupação de adotar imagens do suposto acusado com datas próximas às da produção do suposto vídeo, ignorando às mudanças corporais antes e depois dessa data no corpo do suposto acusado, meramente fazendo uso de livre escolha da melhor foto que se encaixava em suas necessidades de comprovação de similaridade", diz o perito.

Por fim, Gazziro aponta a realização de "análise prosopográfica incompleta e tendenciosa, ignorando fatores contrários ao seu interesse".

"Com relação aos adornos, como pulseira e óculos, sequer vamos dedicar mais do que essas linhas para explicar o quão inválidos são esses itens como provas forenses", diz a perícia, que foca no ambiente forjado pelos produtores do vídeo, cujas falhas foram ignoradas pela perícia divulgada pela revista Oeste.

"Não se faz menção ao desaparecimento do sofá no vídeo, já que os próprios peritos consideram o fato da porta ser a mesma que aparece no vídeo, mas quanto à ausência do sofá, não tecem qualquer comentário", diz Gazziro.

 

       Fim da farsa: Arquidiocese de SP arquiva investigação contra o Padre Júlio Lancellotti e comunica o Vaticano

 

A Arquidiocese de São Paulo, instância máxima da Igreja Católica no estado, informa em nota oficial divulgada nesta terça-feira (23) que arquivou uma investigação contra o Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, que havia sido aberta a partir de denúncia feita pelo presidente da Câmara Municipal paulistana, Milton Leite (UB), que tinha como base um vídeo de teor sexual difundido pela extrema direita da capital para perseguir e atacar o religioso.

Referência no trabalho de assistência à população mais vulnerável, principalmente pessoas em situação de rua e dependentes químicos, Lancellotti vem sendo alvo de fake news principalmente após a tentativa de abertura uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que tinha como objetivo criminalizar sua atuação social. Em meio a essa perseguição, vereadores de extrema direita resgataram um vídeo que mostra um homem se masturbando e mandando mensagens de cunho sexual para um outro homem e o associaram ao religioso.

O vídeo em questão, entretanto, trata-se de uma montagem e não mostra o Padre Júlio Lancellotti, conforme apontou laudo do perito Mário Gazziro, professor adjunto de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pós-doutorando e pesquisador visitante na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP).

Após receber o material, que segundo o presidente da Câmara Municipal de São Paulo consistiria em uma denúncia "gravíssima" contra o padre, a Arquidiocese de São Paulo informou que não há materialidade comprovando que se trata do religioso nas imagens.  A circunscrição da Igreja Católica menciona, ainda, o parecer do Ministério Público (MP) emitido em 2020 sobre o mesmo vídeo, descartando sua veracidade.

A Arquidiocese anunciou, ainda, que já informou ao Vaticano sua decisão de arquivar a denúncia contra o pároco.

>>> Confira abaixo a íntegra da nota

"A Arquidiocese de São Paulo, mediante ofício enviado por e-mail ao vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 6 de janeiro, protocolado na Câmara Municipal no dia 8 sucessivo, solicitou-lhe que fosse enviado o material referente à suposta denúncia contra o Padre Júlio Renato Lancellotti.

Finalmente, na tarde do dia 22 de janeiro, o material foi entregue na Cúria Metropolitana de São Paulo. Tomado conhecimento do material recebido, constatou-se que se trata do mesmo conteúdo divulgado em 2020. Naquela ocasião, a Cúria Metropolitana de São Paulo, conforme prescreve as normas da Igreja para esses casos, realizou um procedimento investigativo para apurar a denúncia recebida.

Concomitantemente, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) passou a investigar a dita denúncia, conforme inquérito aberto junto ao Setor de Atendimento de Crimes da Violência contra Infante, Idoso, Pessoa com deficiência e Vítima de tráfico interno de pessoas.

O MPSP, considerando ausência de materialidade, a seu tempo, emitiu parecer contrário à instauração de uma ação penal, acompanhado pelo D. Juiz que decidiu pelo arquivamento do inquérito.

A Arquidiocese de São Paulo, não chegando à convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia e considerando as conclusões do MPSP, bem como da Justiça Paulista, também decidiu pelo arquivamento e informou a Santa Sé.

Distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados."

 

       Bolsonaro se juntou à horda fascista nos ataques contra padre Júlio Lancellotti

 

Jair Bolsonaro (PL) resolveu se juntar à horda fascista nos ataques de ódio ao padre Júlio Lancellotti nas redes sociais.

Mantendo silêncio sobre o tema até o momento, o ex-presidente publicou um storie em seu perfil no Instagram. A imagem é uma montagem de vídeo antigo de Lula gravado nos bastidores de um debate presidencial em que o petista assiste à Tv.

No meme, as imagens que passam na televisão são de encontros do próprio Lula com o padre. Lancellotti virou alvo novamente dos extremistas após o vereador Rubinho Nunes (MDB), fundador do MBL, tentar instaurar uma CPI na Câmara paulistana para investigar o trabalho do religioso junto aos pobres.

Desde o início dos ataques, Lula se solidarizou com padre Júlio. “Graças a Deus a gente tem figuras como o padre Júlio Lancellotti na capital de São Paulo, que há muitos e muitos anos dedica a sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania às pessoas em situação de rua. Que dedica sua vida a seguir o exemplo de Jesus. Seu trabalho e da Diocese de São Paulo são essenciais para dar algum amparo a quem mais precisa”, escreveu Lula na rede X.

Nas redes, o fundador do MBL ganhou apoio de bolsonaristas radicais no levante contra o padre. Nesta segunda-feira (22), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) incitou as redes de ódio contra o padre.

"Só pela investida da esquerda, judiciário e mídia em blindar o Júlio Lancellotti e acabar com a CP,  já é um sinal que tem algo de muito errado com esse padre", escreveu Ferreira na ilação, incitando os apoiadores.

Neste fim de semana, a horda fascista voltou a atacar fortemente o religioso após laudo forjado pelo escritório do bolsonarista Reginaldo Tirotti, que repete perícia de 2020, de Onias Tavares de Aguiar, já desmontada pelo professor de engenharia de informação na UFABC e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da USP, Mário Gazziro.

•        Perito desmonta novo laudo

Em um vídeo react, o perito Mário Gazziro analisou ponto a ponto um outro vídeo contratado pela revista de extrema-direita Oeste, feito para criminalizar o padre Júlio Lancelotti. O primeiro ponto abordado por Gazziro é a divisão frame a frame que o escritório do bolsonarista Reginaldo Tirotti alega ter feito.

Segundo Gazziro, o procedimento é muito comum e não é capaz de detectar a geração de fakes. “Nós, os cientistas, estamos brigando pra tentar descobrir ferramentas pra detectar deepfake. Estão usando programas de inteligência artificial bem poderosos pra poderem detectar se um vídeo é fake ou não porque os humanos, por si só, não conseguem”.

A seguir ele demonstra, com vídeos antigos que circulam nas redes que é perfeitamente possível alterar um vídeo. “Não existe essa coisa de detectar artefato no pescoço, olhar visualmente e detectar um deepfake. É um desafio muito grande”, afirma. Gazziro mostra então cinco vídeos idênticos com atrizes diferentes em que são trocados só o rosto.

Logo depois, o perito compara o cenário usado no vídeo e diz que os adereços, as estátuas de imagens religiosas, além de parecerem diferentes dos que aparem no vídeo apresentado, são muito fáceis de serem encontrados à venda. E ele mostra um anúncio do Mercado Livre para comprovar.

Mário Gazziro rebate o que á afirmado no vídeo de que teria sido contratado pela Revista Fórum para fazer uma perícia. “A Revista Fórum não contrata. Nós fazemos um trabalho de extensão universitária pró-bono (gratuito) pra todo mundo”, explica.

 

Fonte: Fórum

 

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