Ao celebrar libertação de Auschwitz pelos
soviéticos, Scholz diz que 'neonazistas estão em ascensão'
Chanceler alertou para
crescente onda "neonazista obscura" no Estado alemão e saudou as
manifestações que acontecem no país contra extremistas. Em fevereiro, Scholz se
encontrará com Biden para angariar mais ajuda militar à Ucrânia.
Neste sábado (27), o
chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, expressou preocupação com o aumento das
tendências de extrema direita em seu país, 79 anos após a libertação do campo
de extermínio de Auschwitz, segundo o Yahoo.
"Novos relatórios
estão surgindo o tempo todo: sobre os neonazistas e suas redes obscuras […]. Ao
mesmo tempo, os populistas de direita estão ganhado terreno, alimentando o medo
e semeando o ódio", disse o social-democrata em um discurso gravado em
vídeo comemorativo da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas em 27 de
janeiro de 1945.
Na verdade, os
protestos contra o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD)
têm ganhado força na sequência de um relatório segundo o qual dois membros
seniores da legenda participaram de uma reunião para discutir planos de
deportação em massa de cidadãos de origem estrangeira.
Manifestações contra o
projeto eclodiram em todo o país e dirigirem-se para sua terceira semana. No
final de semana passado, 1,5 milhão de pessoas saíram às ruas, em várias
cidades da Alemanha, em protesto contra a AfD.
Os manifestantes
procuram reduzir o apoio ao partido, que ocupa o segundo lugar nas sondagens a
nível nacional e o primeiro nos três estados da Alemanha Oriental que realizam
eleições este ano.
"É a coesão dos
democratas que torna a nossa democracia forte. Mostrar isso com confiança em
público – como está acontecendo agora – é bom", acrescentou o chanceler.
Scholz também saudou a
decisão histórica de cortar o financiamento ao partido radical de direita Die
Heimat, o que provocou um debate sobre se uma medida semelhante poderia ser
tomada contra o partido nacionalista AfD, referindo-se à decisão como "muito
boa".
·
Viagem aos EUA
Apesar de condenar a
crescente onda nazista na região, a Alemanha foi, desde o começo da operação
russa na Ucrânia, um dos países que mais enviaram ajuda militar a Kiev.
No próximo dia 9 de
fevereiro, Scholz viajará aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente
Joe Biden, na Casa Branca, a fim de discutirem apoio para assistência adicional
à Ucrânia em meio ao bloqueio de verba pelo Congresso norte-americano, segundo
a Bloomberg.
O chanceler instou as
nações a intensificarem o seu apoio, alertando no início deste mês que os
países da União Europeia não estavam fazendo o suficiente para ajudar.
As Forças Armadas da
Rússia começaram a operação militar especial na Ucrânia em 24 de fevereiro de
2022 tendo como alguns de seus objetivos principais a "desmilitarização e
desnazificação" do país vizinho.
Ø
80 anos da libertação de Leningrado: as
lições que a vitória soviética tem para nos ensinar
Neste sábado (27)
completou 80 anos da libertação do cerco a Leningrado, um dos capítulos mais
importantes da Grande Guerra pela Pátria durante a Segunda Guerra Mundial. Com
grandes lições para o mundo de hoje, a importância dessa grande batalha não se
limita somente ao século passado, afirma o historiador João Cláudio Pitillo à
Sputnik Brasil.
Durante quase 900
dias, Leningrado, hoje São Petersburgo, ficou sob o cerco das forças
nazifascistas do Eixo, enfrentando bombardeios e ataques aéreos diários,
escassez de alimentos e de combustíveis, além dos brutais invernos russos.
Milhões de pessoas morreram por conta dos ataques, da fome e do frio.
Ainda assim, a cidade
nunca foi conquistada pelas forças nazistas. Para João Cláudio Pitillo, autor
do livro "Aço vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra
Mundial", a vitória soviética representou um grande recado para o mundo:
"Estamos vivos, vamos resistir, o inimigo não é tão poderoso assim."
·
O que aconteceu no cerco de Leningrado?
Entre as batalhas da
Frente Leste, principal área de combate na Europa, é possível destacar muitas
grandes vitórias soviéticas, como a de Stalingrado, a mais sangrenta, e a de
Kursk, que abriu grandes caminhos para a vitória, mas em termos estratégicos e
de simbolismo, Leningrado é uma das maiores.
"Leningrado era a
segunda maior cidade da União Soviética, uma grande capital política, cultural
e financeira, e era um dos principais objetivos da operação Barba Ruiva",
aponta Pitillo.
A operação Barba
Ruiva, ou Barbarossa, definiu os planos de invasão da União Soviética pelas
forças do Eixo. Ela possuía três grandes objetivos: a tomada da Crimeia, a
tomada de Moscou e a tomada de Leningrado.
Sobreviver ao cerco,
aponta Pitillo, causou grandes problemas estratégicos aos alemães, uma vez que
"reteve uma quantidade grande de tropas fascistas, alemães, finlandesas,
espanholas, italianas".
"Se a derrota de
Leningrado tivesse acontecido, teria liberado forças para atacar Moscou e a
Batalha de Moscou poderia ter tido outro destino."
Em janeiro de 1944,
com a vitória e a liberação total da cidade, "não só se libera todas essas
forças soviéticas para voltarem a atuar na guerra", diz Pitillo. "Mas
também conflui para os avanços do Exército Vermelho em direção aos Estados
Bálticos, pondo fim por completo à invasão alemã naquela região."
·
A resistência e a vitória: o espírito do
povo soviético
Por aqui no Brasil não
tivemos dimensão das conquistas soviéticas na Segunda Guerra Mundial. A
imprensa brasileira da época "noticia a conta-gotas as vitórias
soviéticas", fruto da censura do governo Vargas e seu Departamento de
Imprensa e Propaganda, sublinha Pitillo, que também escreveu o livro "O
Exército Vermelho na mira de Vargas".
"No primeiro
momento era a ditadura Vargas que não permitia, era o anticomunismo que reinava
no Estado Novo que não permitia. Havia o medo de que essas informações
influenciassem o movimento comunista no Brasil."
Depois, com a mudança
dos ventos advindos das derrotas alemãs na Europa e na África, o paradigma da
censura foi afrouxado, "até porque o Brasil também fazia parte do contexto
aliado de luta contra os alemães". Mas, mesmo assim, os brasileiros da
época não tiveram dimensão da vitória soviética.
"Foi uma coisa
épica resistir ao cerco, conseguir vencer esse cerco e continuar avançando
desde então."
Não foram só 900 dias
de cerco, reforçou Pitillo, mas 900 dias de batalha. As forças da URSS não
ficaram só detidas na cidade, mas "criaram e desenvolveram várias
operações ofensivas ao longo desses três anos".
Em termos de
resistência, o especialista destaca três grandes veias de ação: a militar, a
científica e a popular.
Ainda em 1941, os
militares estabeleceram perímetros defensivos nas áreas periféricas e rurais,
não permitindo que os nazistas se aproximassem do centro da cidade. Ainda
assim, a força de ataque é grande, com ataques ao norte partindo diretamente da
Finlândia e rompendo as ligações com o lago Ladoga.
"A segunda grande
resistência é todo o aparato logístico, a capacidade inventiva do governo em
apresentar soluções para os problemas que vão acontecendo."
Os cientistas em
Moscou e Leningrado, por exemplo, estabelecem uma conexão de rádio com códigos
cada vez mais seguros. Eles desenvolveram alimentos para a população sob o
cerco e, com grande destaque, houve o estabelecimento da Estrada da Vida sob o
Ladoga, uma ferrovia sobre o gelo que era refeita manualmente a cada inverno.
"Um trabalho
gigantesco dos cientistas soviéticos de entender qual a espessura mais indicada
para você atravessar jipes, caminhões, vagões de trem, qual era a tonelagem
permitida, quantos centímetros você precisava para que uma composição
ferroviária passasse."
Porém, mais importante
do que tudo isso foi o espírito do povo soviético, apontou Pitillo. Havia uma
coesão muito grande entre o Partido Comunista, o governo, as forças militares e
os agrupamentos civis em manter a cidade de pé, ressaltou. "Então, acho
que esses são pontos de extremo heroísmo."
"Foi isso que a
população de Leningrado, treinada pela Revolução de 1917, fez. Ela só conseguiu
resistir a quase 900 dias debaixo de ataques nazistas, fome e frio, porque
estava mobilizada."
·
Leningrado: as lições para o século XXI
A vitória da URSS na
Grande Guerra pela Pátria e na Segunda Guerra Mundial teve uma importância que
se expande muito além do século XX. Suas repercussões chegam até hoje na
cartografia geopolítica do mundo. "Ela nos deu o mapa do mundo que está
aí, nos deu a ONU [Organização das Nações Unidas], os blocos e nos mostrou a
verdadeira face do fascismo."
"A Segunda Guerra
Mundial nos mostrou que o capitalismo não se furta em usar o fascismo, a sua
face mais brutal, no momento de crise."
O fascismo "é uma
cachorra que está sempre no cio", diz Pitillo citando Bertolt Brecht.
"Ele é ativado de tempos em tempos pelo sistema econômico chamado
capitalismo."
Todas essas grandes
batalhas travadas nas cidades da União Soviética, aponta, contaram com uma
resistência da população muito grande. "O nazismo, o fascismo, nunca foi
visto como opção na União Soviética. Nunca foi recebido de braços abertos.
Nunca foi visto como positivo."
"Esse é o grande
legado que os leningrandenses passaram para o mundo 80 anos depois."
A libertação de
Leningrado revela o peso da coesão social existente na população da União
Soviética naquele momento, de não permitir a entrada do fascismo na cidade, de
optar "pelo modelo que o socialismo gradativamente lhes foi entregando:
justiça, paz, igualdade, desenvolvimento e soberania".
Para Pitillo, essa
resistência "é o que marca a vitória e nos direciona, nesse 2024, para
entender o papel do fascismo e do imperialismo".
"A maneira segura
que nós temos de rechaçar essas ideologias é a construção de uma sociedade
justa, fraterna, igualitária, onde a coesão social seja vista a partir de um
projeto de desenvolvimento."
Fonte: Sputnik Brasil
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