Lampião chamado de ‘ladrão e assassino’: por que filha de
cangaceiro está processando autor?
Mais de oito décadas
após sua morte, Lampião continua
acendendo discussões.
A mais recente envolve
Expedita Ferreira Nunes, que é filha de Virgulino
Ferreira da Silva com Maria
Bonita, e o apresentador Tiago Pavinatto.
Em novembro do ano
passado, Expedita, de 92 anos, entrou com um processo contra Pavinatto,
motivado pelo mais recente livro dele.
Pavinatto lançou em
2023 Da Silva: A Grande Fake News da Esquerda, que trata a
história de Lampião como uma "grande mentira engendrada pelo comunismo
brasileiro”, de acordo com a descrição da editora Almedina.
A filha do casal mais
famoso do cangaço pede uma indenização de R$ 245 mil e que as próximas edições
do livro tenham um texto informativo “para que os leitores tenham conhecimento
de que a versão articulada pelo autor e vendida como realidade não encontra
amparo nas pesquisas históricas até hoje realizadas”, explica o advogado Alex
Daniel, do escritório Cândido Dortas, de Aracaju (SE), que representa Expedita.
Pavinatto aproveitou a
exposição do caso e a proximidade da Black Friday para oferecer
cupons de desconto a seus seguidores (só no Instagram são 1,5 milhão).
“Era só o que me
faltava, a filha de Lampião quer tirar meu livro de circulação”, ele postou em
sua conta no X (ex-Twitter).
“Não há qualquer
pedido de censura”, rebate o advogado Daniel. “Não há sequer previsão para
julgamento do processo.”
O escritório aguarda
para os primeiros meses deste ano o agendamento de uma audiência de
conciliação.
“Depois, haverá
apresentação da defesa de Pavinatto e da Editora Almedina, produção de provas,
audiências, exames periciais, etc”, diz o advogado.
A editora Almedina e
Pavinatto, que já disse na internet que não vai se retratar, não responderam
aos pedidos de entrevista da BBC News Brasil.
·
Ataques
Há muitas décadas,
historiadores debatem os crimes, o contexto social e as motivações dos
cangaceiros.
O livro de Pavinatto
não oferece uma nova visão sobre Lampião.
O que é diferente no
livro do apresentador, além de um tom mais belicoso, é a escolha editorial de
associar Lampião ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos
Trabalhadores (PT).
O livro se chama
"Da Silva" e a capa tem uma mão fazendo o "L", o símbolo da
campanha vitoriosa de Lula para a Presidência em 2022 e que, hoje, é muito
usado por bolsonaristas para criticar o governo.
No processo contra
Pavinatto, o advogado Alex Daniel e sua cliente pedem que sejam suprimidas do
livro as "adjetivações excessivas, a exemplo de: ‘notório estuprador da
história’, ‘psicopata’, ‘terrorista mercenário’, ‘um dos maiores traficantes de
armas pesadas da história do Brasil’, ‘torturador’, ‘ladrão’, ‘assassino’,
‘golpista’, ‘sequestrador’, ‘extorsionário’ etc.”
Na opinião do
historiador e pesquisador do tema Vagner Ramos, mestre pela Universidade
Federal do Ceará (UFC) e doutorando na Unicamp, a capa e o título do livro são
demonstrações de que o autor e a editora queriam mais mobilizar paixões em
torno de Lampião do que analisar fatos.
Ele opina que as
"adjetivações excessivas" podem fazer sentido do ponto de vista
editorial, quando o intuito for “menos para a construção de uma ‘verdade’
plausível e mais para a formação de uma ‘pós-verdade’ a ser consumida por um
público-alvo".
"A diferença
ocorre quando a análise sobre o ‘fato’ importa menos do que as emoções que se
busca acionar no público", diz.
Alex Daniel diz que
não queria que o caso ganhasse muita repercussão, porque, segundo ele, os
vários vídeos e postagens de Pavinatto na internet muitas vezes ofendem sua
cliente.
"Depois do livro
do Pavinatto, passou a existir uma associação dos grupos de extrema-direita,
que atacam indistintamente a família, fazem ameaças e disseminam ódio",
diz ele.
Tal reação não
ocorreu, por exemplo, com outro processo movido por Expedida.
É uma ação contra a
Netflix, que lançou em 2022 uma série satírica, chamada O Cangaceiro do
Futuro, sobre um homem parecido com o rei do cangaço que viaja no tempo e
se encontra com o próprio Lampião.
Por não ter sido
consultada e alegando que a Netflix conseguiu mais de 10 milhões de
visualizações com a série graças ao uso dos nomes de Lampião e Maria Bonita, a
família decidiu processar a gigante do streaming.
A Netflix disse à BBC
News Brasil que não comenta o assunto. O caso está em tramitação no Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Também não houve
manifestações do tipo que Daniel relata agora com outra ação movida pela
família no ano passado, dessa vez contra um motel, que espalhou outdoors no
interior de Pernambuco explorando a imagem do casal.
“Maria Bonita, acenda
o Lampião”, dizia a propaganda.
Pablo Stolze Gagliano
e Rodrigo Moraes, professores de Direito da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), em um artigo no site Migalhas, explicam que herdeiros têm direito a
proteger a imagem de pessoas mortas.
“Existem decisões
judiciais sobre utilização de imagem de pessoa falecida por empresa
jornalística em nítido caráter sensacionalista, com abuso do direito de
informação”, escreveram.
Quando se trata de
personalidades históricas, de interesse público, é possível conciliar direitos
fundamentais, como de imagem e de liberdade de expressão?
Gagliano e Moraes
citam o Enunciado 279 do Conselho da Justiça Federal, que diz que "a
proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente
tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da
liberdade de imprensa".
Nos casos em que os
dois direitos colidem, diz o texto, é preciso levar em conta "a
notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e,
ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa,
biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de
informações.”
O advogado Alex Daniel
diz que Expedita não quer tornar a imagem dos seus pais "intocável".
"Afinal, Lampião
e Maria Bonita são parte da história do povo simples do Nordeste”, diz Daniel.
“Mas ela quer que seja
obedecida a mesma disposição legal que funciona para qualquer outro personagem
histórico. Há um acervo literário e documental imenso, com interpretações
diversas e plurais.”
O advogado afirma que
o livro de Pavinatto, que já vendeu, segundo a editora, 60 mil exemplares,
pertence a outra esfera, de obras “desrespeitosas, ofensivas, que buscam levar
a imagem de personagens históricos ao desprezo público com fins comerciais”.
Para Daniel, não se
trata de uma questão de censura ou não.
“A discussão aqui
deriva para um tema que foi muito abordado no Brasil nos últimos anos:
liberdade de expressão se confunde com liberdade de agressão?”
·
Bibliografia de
Lampião
Lampião é um personagem
histórico que motiva discussões acaloradas.
É cercado de mitos e
lendas – muitas que teriam sido alimentadas por ele próprio, no auge da fama,
segundo historiadores – e tem lacunas significativas em sua biografia.
Portanto, é natural
que, há muito tempo, ele inspire teses e livros com teorias e vieses bem
diferentes entre si.
Em 1996, por exemplo,
o fotógrafo mineiro José Geraldo Aguiar causou estardalhaço ao afirmar que um
homem chamado Antônio Maria da Conceição, que morrera três anos antes, era
Lampião.
O fotógrafo defendia
que o rei do cangaço não teria morrido lutando contra a polícia em 1938, e sim
que viveu ainda muitas décadas no anonimato, em Minas Gerais.
Sua teoria virou o
livro Lampião, o Invencível - Duas vidas, duas mortes, o outro lado da
moeda (Trampolim).
“Pela forma como esses
livros controversos costumam ser construídos, eles estão mais para obras com
apenas algumas visões de passado do que para obras de história”, afirma Ramos.
"Suas escritas
ensinam mais sobre a autoria de quem as fabricou do que a respeito do próprio
fenômeno e sua historiografia em toda sua complexidade."
·
As diferentes versões
de Lampião
O cangaço foi um
fenômeno social típico da Caatinga que surgiu no século 19.
Marcado por grupos de
nômades armados que percorriam os sertões, espalhando medo e admiração, não
tinha um líder de destaque desde 1914, quando Antônio Silvino, o “Rifle de
Ouro”, foi preso.
Em 1922, Virgulino
Ferreira da Silva assumiu a liderança do bando de Sinhô Pereira, que se retirou
da vida no cangaço. Lampião logo ganhou fama como um cangaceiro valente e
estrategista no Nordeste.
Seu maior trunfo
estava na grande rede de coiteiros que cultivava. Coiteiros eram aqueles que,
por interesses diversos, protegiam os cangaceiros. Podiam ser simples vaqueiros
ou coronéis poderosos.
Um deles, o capitão do
Exército Eronildes de Carvalho, foi governador de Sergipe.
Amparado por esses
contatos espalhados pelo Nordeste, Lampião chegou a liderar mais de cem homens,
distribuídos em grupos menores, agindo em uma vasta área que se estendia por
Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Por 16 anos, ele
reinou e zombou da polícia, que, em suas tropas volantes, espalhava um terror
semelhante ao do cangaço.
Os relatos da época
apontam que os cangaceiros roubavam, sequestravam, estupravam, matavam,
torturavam. Mutilavam mulheres e homens e tinham rituais perversos de execução.
Muitos desses relatos
foram publicados em jornais da época cujas fontes eram apenas a polícia. Ou
seja, segundo especialistas, pode haver exageros, incluise com relação aos
crimes atribuídos a Lampião.
“Muitas das crueldades
imputadas a ele foram praticadas por indivíduos de outros bandos”, disse o
pesquisador Amaury Corrêa de Araújo (morto em 2021), autor de diversos livros
sobre o cangaço, à revista Aventuras na História.
A imagem de um bandido
de cunho social, espécie de Robin Hood do sertão, começou a se desenhar
enquanto Lampião ainda estava na ativa.
Em 1935, a Aliança
Nacional Libertadora (ANL), frente de esquerda de caráter antifascista, alçou
Lampião à condição de inspirador político do movimento.
“Depois de adotado
pelos comunistas, sua derrota se tornara questão de honra para (Getúlio)
Vargas”, escreveu o jornalista Wagner Barreira em Lampião e Maria Bonita:
Uma história de amor e balas (Planeta).
Em 1938, durante a
ditadura do Estado Novo, a polícia torturou um coiteiro até ele entregar o
paradeiro de Lampião.
O bando foi
surpreendido em 28 de julho. Em uma batalha de 15 minutos, 11 cangaceiros,
incluindo Lampião e Maria Bonita, acabaram mortos na Grota de Angico, Sergipe.
Se em vida Lampião já
inspirava poetas, morto ele virou notícia internacional.
“Lampião de um olho
só, conhecido como um dos mais implacáveis matadores do Hemisfério Ocidental,
morre em batalha campal”, noticiou, com destaque, o The New York Times na
época.
Todos os corpos foram
degolados, e as cabeças ficaram expostas por mais de 30 anos.
Nessa época, um dos
historiadores mais famosos do século 20, o britânico (e marxista) Eric
Hobsbawn, entrou na discussão.
Na obra Bandidos (1969),
ele tratou Lampião como um defensor do povo, um vingador dos oprimidos, um
exemplo notório do chamado “banditismo social”.
Pouco antes, o
jornalista cearense Rui Facó, ex-membro da ANL e um reconhecido nome da
esquerda nacional, publicou Cangaceiros e Fanáticos (1963).
No livro, ele
justificava a brutal violência do cangaço como uma resposta à violência social
de séculos que assola o semiárido brasileiro.
E não eram só nomes da
esquerda que cultivavam essa imagem de Lampião.
O historiador Vagner
Ramos lembra que o intelectual e notório antissemita Gustavo Barroso, membro da
Ação Integralista Brasileira (AIB), nos anos 1930, valorizava a “valentia” de
Lampião sob um viés folclórico.
Essa visão começou a
cair em desuso com a publicação de Guerreiros do Sol - Violência e
banditismo no Nordeste do Brasil, em 1985, do historiador recifense
Frederico Pernambucano de Mello.
Na obra, ele explica
que as justificativas das ações dos cangaceiros eram mais variadas do que se
imaginava. Às vezes, eles só queriam fugir das autoridades ou arranjar uma nova
fonte de renda, segundo o autor.
Vingança, que já foi
tida como o principal motor que movimentava esses bandos, nem sempre era
importante.
Lampião dizia ter
entrado nessa vida para vingar o pai, morto por um policial.
Mas, mesmo na condição
de “rei do cangaço”, ele não se esforçou para encontrar os assassinos, segundo
Mello.
O sociólogo Gilberto
Freyre assinou o prefácio da primeira edição de Guerreiros do Sol,
escrito por Mello.
Ele destacou o trunfo
dessa mudança de visão, devido à existência de “dois Nordestes, não um só, o
que leva à consideração de existir mais de um banditismo, e não de um só (...).
São vários cangaços, várias honras”.
O livro derruba a
ideia de que cangaceiros eram inimigos dos opressores coronéis.
“Ao contrário do que
teimam em afirmar certos intérpretes, não é possível surpreender uma relação de
antagonismo necessária entre cangaceiro e coronel”, escreveu Mello.
Autor de diversos
livros sobre o cangaço, Mello é considerado o maior especialista no assunto.
O que prosperou, o
autor explica, foi “uma tradição de simbiose entre essas duas figuras,
representada por gestos de constante auxílio recíproco, porque assim lhes
apontava a conveniência”.
A obra Maria
Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço (Objetiva), de Adriana
Negreiros, também trabalha para desmistificar o mito de Lampião como
"Robin Hood do sertão".
"Ele era aliado
dos grandes latifundiários do Nordeste e era amigo de um
interventor", disse
a autora à BBC News Brasil em 2018.
"O fato de ter
passado impune tantos anos se deve à relação que tinha com o poder. Os grandes
prejudicados eram os mais pobres."
Ramos explica que a
historiografia atual observa o tema como um duplo desafio: investigar os fatos
e investigar a forma como esses fatos foram e são descritos por diferentes
grupos ao longo do tempo.
“Há argumentos mais
racialistas que explicam o cangaceiro como criminoso nato e aqueles mais
folclóricos que enfatizam a valentia de quem entrou nessa vida. Há também
argumentos com tom marxista que identificam na vida fora-da-lei uma expressão
contra dominações”, diz.
“Há ainda argumentos
mais sociológicos que visualizam valores de honra que guiam as ações de
cangaceiros. E outros, culturalistas, tratam da estética apurada que eles
tinham na construção de suas indumentárias.”
·
Quem é Pavinatto
Tiago Pavinatto é
formado em Direito, mas se tornou conhecido como apresentador da Jovem Pan
News, onde começou a trabalhar em 2022.
Ele acabou demitido da
emissora no ano passado ao se recusar a pedir desculpas a um desembargador que
ele chamou de “vagabundo e tarado” por ter inocentado um homem acusado de ter
estuprado uma menina de 13 anos.
Em 2006, participou da
fundação do Diversidade Tucana, a ala LGBTQIA+ do PSDB.
Foi membro do
Movimento Brasil Livre (MBL) e candidato a vereador em São Paulo em 2020 pelo
Patriotas.
Autodeclarado gay de
direita, Pavinatto dá cursos e palestras sobre assuntos como oratória e Lei
Geral de Proteção de Dados e mantém um canal no YouTube.
Ele contou, em suas
redes, que a inspiração para concluir sua obra sobre Lampião e para oferecê-la
à editora veio com o Carnaval de 2023, quando, no aniversário de 85 anos da
morte do cangaceiro, Lampião foi tema do desfile da Mancha Verde, em São Paulo,
e da Imperatriz Leopoldinense, no Rio de Janeiro, com a primeira-dama Janja
Silva como madrinha da velha-guarda.
·
Por que Lampião ainda
é relevante?
As muitas versões e as
fronteiras fluidas entre história e ficção inspiraram a Imperatriz
Leopoldinense em 2023.
Pavinatto afirmou em
seu canal que ficou indignado com uma escola de samba homenagear um “notório
estuprador”.
No entanto, o próprio
samba-enredo deixa claro que Lampião era controverso.
"O enredo O
aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não
deu guarida se debruça nas visões delirantes dos cordéis nordestinos
que contam histórias fantásticas sobre a chegada de Virgulino Ferreira da
Silva, o famoso Lampião, ao céu e ao inferno”, explicou a escola carioca nas
redes sociais.
Não são só as escolas
de samba que o cangaço inspira há um século. Cangaceiros já foram retratados na
literatura, música, artes plásticas, cinema, dança e moda.
Grandes nomes como os
escritores José Lins do Rego e Rachel de Queiroz e os pintores Candido
Portinari, Carybé e Aldemir Martins exploraram o tema.
O filme O
Cangaceiro, do cineasta Lima Barreto, ganhou prêmio em Cannes e colocou o
Brasil no mapa do cinema mundial.
Os cangaceiros
difundiram o xaxado, dança de guerra que se tornou uma expressão cultural
importante em algumas regiões do Nordeste.
O ateliê do filho do
criador da sandália de Lampião (que era retangular para que as pegadas não
indicassem o caminho seguido pelo bando) participou da São Paulo Fashion Week e fez parcerias com grifes
brasileiras.
Sem contar o chapéu de
cangaceiro, um ícone cultural brasileiro que toda eleição aparece na cabeça de
algum político em visita ao Nordeste.
Não importa a
orientação política: de Jair Bolsonaro (PL) a Lula (PT), de Sérgio Moro (União)
a Fernando Haddad (PT), de Aécio Neves (PSDB) a Dilma Rousseff (PT), a lista
dos que usaram tal chapéu é longa.
Até o músico Axl Rose,
no primeiro show do Guns N’ Roses em Fortaleza, em 2014, cantou com ele na
cabeça.
"Todo criminoso
tende à ocultação, até para facilitar sua ação. O cangaceiro, na Caatinga
muitas vezes cinzenta, era um porre de cores", disse o escritor Frederico
Pernambucano de Mello em entrevista ao apresentador Jô Soares, em 2010.
Para o especialista,
esses bandidos brutais tinham uma tremenda sensibilidade estética:
"Lampião costurava muito bem em pano e em couro."
Lampião era também um
mestre do marketing pessoal. Posava para fotos, fazia vídeos, dava entrevistas,
o que, sem dúvida, ajudou a alimentar o mito.
Chegou até a ser garoto-propaganda
da farmacêutica Bayer. Em um registro de 1936, distribuiu drágeas de
cafiaspirina a seu bando em frente a um cartaz da marca.
Um dos motivos de
Lampião e do cangaço despertarem tanta polêmica é porque o conceito do cangaço
passou a ser um recurso central no vocabulário das disputas políticas entre
Sudeste e Nordeste.
"Com o tempo, o
conceito de cangaço deixou de ser expressar simplesmente um fenômeno
fora-da-lei e passou a indicar igualmente uma simbologia da região
nordestina", explica Ramos.
"Quer dizer, o
conceito não se aplica a somente quem viveu no cangaço, mas a qualquer pessoa
que pode ser associada ao cangaço, sobretudo quem nasceu na região, fala em
nome dela ou se identifica com valores associados à sua cultura."
Fonte: BBC News Brasil
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