sábado, 17 de maio de 2025


 

'Sou milícia e sou polícia': veja diálogos entre PMs suspeitos de integrar 'Novo Escritório do Crime' no Rio

O policial militar Bruno Marques da Silva, um dos alvos de uma operação desta quinta (15) do Ministério Público do Rio de Janeiro, desabafou em conversas com outros integrantes de um grupo de extermínio que estava trabalhando demais para a organização criminosa. No entanto, disse que tinha um objetivo por trás das "horas extras":

"Não tô vivendo mais não. Às vezes eu deixo de marcar minhas coisas, de resolver minhas coisas porque p&rra, eu marco um bagulho e aí toda hora tem missão. A meta é ficar milionário!”, diz ele, em um dos áudios de conversas interceptadas pelo MPRJ".

O grupo do qual Bruno fazia parte, chamado de "Novo Escritório do Crime", segundo o MP, praticou duas execuções em uma semana em 2021:

        Fábio Romualdo Mendes, surpreendido dentro do carro e atingido por vários disparos, em setembro de 2021, em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio.

        Neri Peres Júnior a tiros de fuzil, em 4 de outubro de 2021 em Realengo, também na Zona Oeste.

Em outro trecho, quando reclama de integrantes de uma milícia rival, Bruno, apelidado de "Bruno Estilo", diz orgulhoso:

"Sou milícia e sou polícia, fod**e eles", diz o homem.

Em um dos áudios, Bruno cita uma execução feita em Realengo, o que para o MP indica que ele pode ter se referido ao caso de Neri:

"Viu o maluco que a gente pegou ontem? Viu? Lá em Realengo. Se eu soubesse disso naquela época eu tinha ido mais vezes, ia ganhar muito mais", afirma ele.

Segundo as investigações, o grupo atuava nos moldes do antigo grupo de extermínio liderado pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega.

O ex-PM Thiago Soares Andrade Silva, o Batata ou Ganso, é apontado pelo MP como chefe do novo grupo de extermínio. Mesmo da cadeia, para onde foi levado posse de arma de uso restrito, ele ditava ordens para os comparsas. Ele teria sido o mandante dos dois homicídios investigados pelo MPRJ.

Investigações da polícia e do MP apontam que Thiago trabalhava para o bicheiro Rogério Andrade.

>>>> Veja a lista dos denunciados:

1.       Thiago Soares Andrade Silva, vulgo "Batata" ou "Ganso", já preso

2.       Alessander Ribeiro Estrella Rosa, vulgo "Tenente Alessander", foragido

3.       Bruno Marques da Silva, vulgo “Bruno Estilo” ou “Estilo”, já preso

4.       Diogo Briggs Climaco das Chagas, vulgo “Briggs”, foragido

5.       André Costa Bastos, vulgo “Boto”, já preso

6.       Rodrigo de Oliveira Andrade de Souza, vulgo “Rodriguinho”, já preso

7.       Anderson de Oliveira Reis Viana, vulgo “Papa” ou “2P”, foragido

8.       Diony Lancaster Fernandes do Nascimento, vulgo “Diony”, já preso

9.       Vitor Francisco da Silva, vulgo “Vitinho Fubá", foragido

Todos os alvos foram denunciados à Justiça por organização criminosa armada, sequestro e comércio ilegal de armas de fogo e munição — materiais apreendidos em operações eram, segundo o Gaeco, vendidos clandestinamente.

        Diálogo com vítima de sequestro

Segundo as investigações do Ministério Público, Bruno praticava sequestros a mando da organização criminosa. Um dos sequestros descobertos pelo MP foi de um integrante de uma milícia rival. Bruno colocou o homem encapuzado dentro de um carro e só o libertou depois de fazer uma série de ameaças:

"Que que tu vai falar quando chegar em casa pra tua família? abre a boca e fala!"

"Vou falar pra ela que eu tava devendo um agiota, consegui pagar ele", respondeu a vítima.

"Vai ficar boiando? se tu boiar que que vai acontecer contigo? "

"Vou morrer", pontuou.

        Outros crimes

Além de homicídios e sequestros, o grupo também praticava venda de armas e munições. Alguns dos principais negociadores do grupo eram policiais, que revendiam os itens que eram levados em grandes apreensões das polícias civil e militar.

"O cara está querendo 40. Tá com uma (pistola) glock .40, uma pistola e uma (metralhadora) uzi (de fabricação israelense)", diz Bruno em uma das escutas feitas pelo MP.

Ele cita o cabo Diogo Briggs, do 9º BPM (Rocha Miranda), que também foi alvo da operação e está foragido.

"Eu acho que tu pegou a pistola dele uma vez, mano. Ele é aqui do 18, cara, é o Briggs. Tá me dando várias moral, vendendo várias paradas", afirmou Bruno sobre Briggs, homenageado pelo então vereador Felipe Michel na Câmara do Rio com uma moção de louvor em 2024.

Outro foragido, o capitão Alessander Ribeiro Estrella Rosa, do 39º BPM (Belford Roxo), também vendia armas, segundo o Ministério Público. Ele foi homenageado por um deputado federal e pelo governador Cláudio Castro em 2024 e 2023, respectivamente.

Em nota, o deputado federal afirmou que "a indicação se baseou em critérios técnicos e resultados operacionais", e que seu mandato "reafirma o compromisso com a segurança pública, a legalidade e a apuração rigorosa de qualquer conduta incompatível com a ética e a lei."

À TV Globo, o governo do Rio afirmou que "a concessão da medalha por 10 anos de serviços prestados foi criada por decreto em 1979 e a listagem com os nomes dos agraciados é encaminhada ao Poder Executivo pela Polícia Militar. A assinatura do ato de concessão, com a publicação dos nomes em Diário Oficial, é uma formalidade exigida pelo decreto.

Procurada, a assessoria da PM afirmou que deu apoio à operação e que um dos policiais procurados já estava preso.

Procurado, Felipe Michel não respondeu até a publicação desta reportagem.

        O Escritório do Crime ‘original’

O Escritório do Crime “original” era um grupo formado por policiais militares e ex-policiais, especializado em assassinatos por encomenda, que atuou principalmente na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Os matadores utilizavam técnicas avançadas de planejamento, aprendidas dentro das forças de segurança, para executar suas ações de forma precisa e dificultar investigações.

Desde 2009, há pelo menos 13 assassinatos em que os integrantes do Escritório são suspeitos de participação. A quadrilha se envolveu ainda em grilagem de terras, construções ilegais e exploração imobiliária clandestina.

O grupo foi chefiado por Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope, e pelo major da PM Ronald Paulo Alves Pereira. Ambos foram alvos da Operação Intocáveis, que visava a desarticular milícias no Rio de Janeiro.

Após a morte de Adriano em 2020, o comando passou para os irmãos Leonardo Gouvêa da Silva, o Mad, e Leandro Gouvêa da Silva, o Tonhão. Em 2024, ambos foram condenados a 26 anos e 8 meses de prisão pelo assassinato do contraventor Marcelo Diotti da Mata, ocorrido em 2018.

        Boate, elevador, cofres e 1,3 mil m²: mansão no Novo Leblon de suspeito de lavar dinheiro do CV é avaliada em R$ 25 milhões

Uma mansão de três andares, avaliada em mais de R$ 25 milhões em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O RJ2 teve acesso ao local onde, na última terça-feira (13), a polícia encontrou um verdadeiro arsenal.

O dono da mansão, segundo a polícia, era Jonnathan Ianovich, investigado por lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho. Ele foi preso nesta terça-feira (13) em São Paulo.

A casa tem 1,3 mil m² de área construída. Na área externa, ficam a piscina, a academia e um espaço reservado para eventos. No interior, a decoração sofisticada indica que não houve economia na construção e no acabamento da casa.

Um elevador facilita o deslocamento entre os andares, e há indícios de que os donos gostavam festas. Um dos cômodos foi transformado em uma boate, equipada com aparelhagem completa de som e iluminação.

Um detalhe chamou a atenção dos investigadores: ao entrar nessa área, o sinal de celular é automaticamente bloqueado.

A polícia investiga se o imóvel foi comprado com dinheiro lavado para o tráfico de drogas.

Na sala de estar, um armário composto inteiramente por cofres chamava a atenção. No local, foram encontrados fuzis, pistolas e US$ 18 mil em espécie.

A compra da mansão também está sendo investigada como fruto do esquema ilegal.

A polícia afirma que Jonnathan Ianovich tinha um método próprio de lavar dinheiro, e o Comando Vermelho seria um dos beneficiários.

Os investigadores identificaram inúmeras transações suspeitas, muitas delas envolvendo funcionários como laranjas.

<><> Bens nos nomes dos filhos

A polícia afirma que Ianovich adquiria imóveis de luxo em nomes de terceiros e depois recomprava esses mesmos imóveis com valores menores. Em seguida, ele colocava os bens em nomes dos filhos.

No relatório, a polícia analisou depósitos feitos por um dos operadores financeiros de Jonnathan e destaca que os valores depositados na conta de Ianovich apresentavam aspecto mofado, sujo, empoeirado, a ponto de a máquina contadora de cédulas recusar algumas notas.

Para polícia, tal circunstância pode indicar que o dinheiro em questão tenha sido mantido enterrado, prática comum entre as organizações criminosas, envolvidas com tráfico de drogas, para esconderem seus ganhos ilícitos de operações policiais.

Os investigadores da Polícia Civil e do Ministério Público dizem que Jonnathan Ianovich declarava ser dono de algumas empresas, duas delas em um mesmo endereço, apesar de serem de ramos totalmente diferentes: uma de produtos de informática, e outra de construção civil.

A investigação ainda ganhou novos elementos. Isso porque 24 horas depois da operação, a polícia voltou ao condomínio e descobriu que a poucos metros da casa, havia um caminhão estacionado, que também pertencia a Jonathan.

Ao abrir o caminhão, os investigadores encontraram vários quadros de obras de arte. Eles já foram levados para a Cidade da Polícia e agora serão avaliados por especialistas para saber a origem e os valores dos quadros.

Ao analisar a movimentação financeira de Ianovith, a polícia descobriu dezenas de transações bancárias entre ele e Geneviève Boghici, viúva de Jean Boghici, que morreu em 2015 e era considerado um dos mais importantes marchands e colecionadores de arte no Brasil.

Entre abril e maio de 2021, a viúva fez três depósitos para Ianovich que somam mais de R$ 18 milhões.

Ianovich alegou que recebeu esse valor como comissão pela venda de um quadro de obra de arte.

Ao banco, ele argumentou que a quantia correspondia a 10% do valor da venda, ou seja, ele teria vendido um quadro no valor de R$ 180 milhões para um cliente na Argentina.

Mas Ianovich jamais apresentou a documentação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O nome de Geneviève Boghici ganhou destaque em 2022, quando sua própria filha, Sabine Boghici, foi apontada como uma das responsáveis por aplicar um golpe contra ela.

De acordo com a polícia, ela roubou 16 quadros, incluindo obras de Tarsila do Amaral e de Di Cavalcanti, todas do acervo do pai.

A mãe de Sabine, segundo os investigadores, sofreu um prejuízo, estimado em R$ 725 milhões, entre pagamentos sob extorsão e quadros roubados.

Na noite desta quinta-feira (15), dois caminhões trazidos pelos investigadores chegaram à Cidade da Polícia.

Neles estavam 200 armas e 40 mil munições. Três carros de luxo também foram apreendidos — um deles, um Cadillac, comprado nos Estados Unidos por mais de R$ 2 milhões.

O material estava no interior de São Paulo com um outro preso na mesma operação.

Eduardo Bazzana é dono de um clube de tiros em americana. A polícia identificou transações bancárias entre ele e Ianovich. Bazzana é acusado de vender armas para o Comando Vermelho.

 

Fonte: g1


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