Leão
XIV no cenário climático
O mundo
experimentou respiro otimista com a escolha do novo Papa, Leão XIV, que surge
no cenário de esfacelamento do multilateralismo na geopolítica global. O mundo retrocedeu aos primórdios da
conjuntura que marcou o início da Segunda Guerra Mundial.
Felizmente,
o mercantilismo agressivo e oportunista de Donald Trump encontra firme
contraposição na encíclica ecológica “Laudato Si”, a grande realização
literária e ambiental do Papa Francisco.
São
realidades antagônicas. A casa comum, visão global ecossistêmica e solidária da
obra de Francisco, continuará a fazer frente à política unilateral e predadora
de Donald Trump.
Mas
isso ocorre em cenário espinhoso. O ex-embaixador Rubens Barbosa afirmou, em
live promovida pelo instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), que os
retrocessos nas relações multilaterais nos levaram de volta 80 anos.
De
fato, o cenário é de perda de influência dos organismos supranacionais como
Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS). E é neste contexto
que o mundo está conhecendo o Papa Leão XIV. Isso significa forte expectativa
sobre seu posicionamento em relação a questões ambientais, como a mudança
climática.
Os
desafios estão também concentrados na falta da paz global, em função de
crescentes tendências armamentistas e a continuidade dos conflitos localizados
que não contam com ações eficazes do Conselho de Segurança da ONU, cada vez
mais fragilizado pelo estado de falência do multilateralismo global.
Ambientalistas
dentro e fora da Igreja Católica são otimistas ao observarem a trajetória do
cardeal Robert Francis Prevost, frade agostiniano e primeiro sucessor
norte-americano de São Pedro. Os depoimentos dos que o conheceram demonstram
sua sensibilidade para com os mais vulneráveis.
Ronald
Moreno, líder de movimento ambiental católico do Peru, acredita no protagonismo
ambiental de Leão XIV e afirma: “Sua liderança nos inspirará a continuar
trabalhando pela justiça e pelo cuidado de nossa casa comum.”
Ativistas
ambientais católicos aplaudiram a escolha do nome Leão XIV pelo novo Papa, pois
isso sinaliza proximidade com a linha desenvolvida por Leão XIII, que lançou as
bases para a doutrina social católica moderna com sua encíclica de 1891, Rerum
Novarum.
Leão
XIII capturou o espírito de transformações de seu tempo. O texto da Rerum
Renovarum nunca foi tão atual. Versa sobre inquietude e insegurança gerada pela
ganância de poucos e o abandono dos muitos vulneráveis: “Por toda a parte, os
espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta
para mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo. Esta situação
preocupa e põe ao mesmo tempo em exercício o gênio dos doutos, a prudência dos
sábios, as deliberações das reuniões populares, a perspicácia dos legisladores
e os conselhos dos governantes, e não há, presentemente, outra causa que
impressione com tanta veemência o espírito humano”.
De
forma similar, em Laudato Si, o Papa Francisco afirma: “Esta irmã (a Terra)
clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso
dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus
proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no
coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que
notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres
mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada,
que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós
mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos
do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e
restaura-nos.
No
pensamento dos líderes que ocuparam o Vaticano nos últimos 50 anos sempre houve
espaço para reflexões sobre os descaminhos ecológicos do planeta, como relata a
Laudato Si; com a expectativa pacifista de João XXIII com sua Pacen in Terris;
nos pronunciamento de Paulo VI, que declarou que “por motivo de uma exploração
inconsiderada da natureza, [o ser humano] começa a correr o risco de a destruir
e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação”; na percepção de João
Paulo II, ao observar o comportamento humano de “não dar-se conta de outros
significados do seu ambiente natural, para além daqueles que servem somente
para os fins de um uso ou consumo imediatos”; tudo isso coroado pelas
expectativas de Bento XVI, que afirmou a necessidade de “eliminar as causas
estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de
crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente”.
Em
nossos tempos Francisco foi a voz da clareza moral, falando e escrevendo sobre
as consequências sociais da influência humana no planeta. Neste mundo de
emergência climática e de geopolítica individualizada e oportunista, Leão XIV
surge como esperança para a humanidade, em defesa de temas relevantes como
imigração e mudanças climáticas.
O
cardeal Blase Cupid, de Chicago, afirmou que Leão XIV será uma voz para temas
como imigração e meio ambiente, como os papas da idade moderna o fizeram:
“Simplesmente porque estamos falando, de muitas maneiras, sobre a sobrevivência
da raça humana”.
O que
se espera é que, sob a gestão de Leão XIV, a influência e capacidade
articuladora da Igreja Católica estejam voltadas para a superação desses tempos
difíceis, direcionando para a sustentabilidade os caminhos da humanidade.
Afinal,
por mais lúcida que possa ser a voz da razão, não se trata mais apenas de
escolha, justiça ou ideologia. Como dizia Charles Darwin, “não é o mais forte
nem o mais inteligente que sobrevive, mas sim aquele que se adapta”.
Fonte:
((O))eco

Nenhum comentário:
Postar um comentário