sexta-feira, 16 de maio de 2025

Como Itália, Reino Unido e Portugal estão restringindo nacionalidade, cidadania e imigração

Governos europeus anunciaram mudanças neste ano que dificultam a entrada de imigrantes em seus países.

Nos últimos dois meses, Itália e Reino Unido anunciaram mudanças em regras de procedimentos de obtenção de vistos de trabalho, de residência ou de cidadadania. Já o governo em Portugal disse que pretende enviar um projeto para discussão no Parlamento após eleições que serão realizadas no domingo (18/05).

No Reino Unido, o premiê Keir Starmer prometeu que fará cair "significativamente" o número de imigrantes que chegam ao país. Na Itália, um dos objetivos é estabelecer limites mais precisos e "evitar abusos", como a "comercialização de passaportes".

Ao anunciar as mudanças nas regras para se obter cidadania italiana, em março, o vice-primeiro-ministro da Itália, Antonio Tajani, tinha em mãos folhas de papel com algumas propagandas de empresas do Brasil especializadas em obter cidadania italiana que ofereciam até mesmo "desconto Black Friday".

Tanto no caso da Itália como do Reino Unido, o objetivo é diminuir a imigração legal ao país — aquela feita através da obtenção de vistos, residências e cidadanias.

Confira abaixo que está acontecendo com regras de imigração em Itália, Portugal e Reino Unido.

<><> Itália

A Itália anunciou em março novas regras para quem pede cidadania italiana. A maoria das medidas novas já está em vigor.

A partir de agora, apenas pessoas com pelo menos um dos pais ou um dos avós nascidos na Itália poderão se tornar cidadãos daquele país.

Anteriormente, não havia esse limite geracional: caso a pessoa interessada em obter essa documentação conseguisse comprovar um vínculo com alguém nascido na Itália após março de 1861 (quando o Reino da Itália foi criado), ela tinha direito à cidadania.

Segundo o governo italiano, o objetivo é "valorizar o vínculo efetivo entre a Itália e o cidadão residente no exterior".

As mudanças serão adotadas em duas fases.

A primeira delas — que já entrou em vigor — prevê que os descendentes de italianos que nasceram no exterior serão considerados automaticamente cidadãos por apenas duas gerações.

Ou seja, a partir de agora, somente os indivíduos com pelo menos um dos pais ou um dos avós italianos terão direito à cidadania.

Na segunda fase do projeto, que já ganhou o sinal verde do governo italiano, serão implementadas medidas para que "cidadãos nascidos e residentes no exterior mantenham vínculos reais com a Itália ao longo do tempo".

Essas pessoas precisarão "exercer os direitos e os deveres de cidadão pelo menos uma vez a cada 25 anos".

Isso inclui votar, renovar o passaporte, atualizar a carteira de identidade italiana (carta d'identita) ou pagar impostos.

Para cidadãos italianos nascidos no exterior, é obrigatório registrar a certidão de nascimento antes de completar 25 anos. Caso contrário, não será mais possível solicitar a cidadania italiana.

O filho menor de pais cidadãos italianos, se não tiver nascido na Itália, só poderá adquirir a cidadania se residir na Itália por pelo menos dois anos, após declaração de intenção dos pais.

Os interessados em obter documentos italianos não vão mais se dirigir aos consulados. Haverá um "escritório especial centralizado" no Ministério das Relações Exteriores do país, localizado em Roma.

A perspectiva é que esse processo de transição até a criação do tal escritório leve um ano.

<><> Reino Unido

O número que mede o movimento de imigração no país (entrada de imigrantes deduzida da saída definitiva de cidadãos britânicos) quadruplicou entre 2019 e 2023.

O critério adotado pelo governo é manter a imigração daqueles que mais contribuem para o crescimento econômico, especialmente trabalhadores com qualificações maiores.

O governo do Reino Unido apresentou ao parlamento projeto de lei modificando vários critérios para obtenção de vistos e residências no país:

  • Introdução de novos requisitos de proficiência em inglês, tanto para os requerentes principais quanto para seus dependentes.
  • Para os que pedem cidadania britânica, o período mínimo de residência exigido dobrou para 10 anos.
  • Requisitos mais rígidos para que instituições de ensino patrocinem vistos de estudantes internacionais. Graduados só poderão permanecer no Reino Unido após seus estudos por um período de 18 meses.
  • Fim do recrutamento no exterior para vistos de pessoas que trabalham com assistência social.
  • Aumento nos requisitos de trabalhadores qualificados. Nas palavras do governo britânico trabalhador "qualificado deve significar qualificado". A imigração é limitada às ocupações em que há escassez de longo prazo. Haverá "rotas direcionadas para os talentos globais mais brilhantes".
  • O governo prometeu maior rigidez na análise de situações complexas de família, em que dependentes recebem vistos. Segundo o governo, hoje há muitos casos que são tratados como "excepcionais", em vez de haver regras claras.

<><> Portugal

Portugal é outro país que estuda modificar suas regras de cidadania. Ao contrário do Reino Unido e Itália, no caso de Portugal as propostas ainda estão em análise.

Portugal vai realizar eleições legislativas no domingo (18/05), e o partido governista PSD avisou que, caso se mantenha no poder, pretende enviar um projeto ao parlamento para ampliar o prazo para que imigrantes tenham direito a adquirir a nacionalidade portuguesa.

O período exigido para residência em Portugal passaria para 10 anos.

Não há maiores detalhes sobre o novo prazo ou como a medida seria aplicada — mas acredita-se que ela afetaria milhares de brasileiros que moram atualmente em Portugal.

Além disso, neste mês, o governo de Portugal anunciou que vai notificar 18 mil imigrantes em situação ilegal para que deixem o país.

O ministro da Presidência do governo português, António Leitão Amaro, afirmou que os imigrantes que deverão deixar o país tiveram os seus pedidos de residência negados pela Agência para a Integração, Migrações e Asilo (Aima), depois de um período de análise, por não cumprirem as regras locais.

¨      Senado da Itália aprova novas regras para cidadania italiana

 

O Senado italiano aprovou o texto do decreto-lei com mudanças que restringem os critérios sobre quem tem direito à cidadania do país, com 81 votos a favor e 37 contra.

Na prática, agora apenas pessoas com pelo menos um dos pais ou um dos avós nascidos na Itália poderão se tornar cidadãos do país.

O texto será enviado para a Câmara dos Deputados na próxima segunda-feira (19/5). O decreto já está em vigor desde março, mas ainda precisa ser aprovado pelas casas legislativas.

Anteriormente, não havia esse limite geracional: caso a pessoa interessada em obter essa documentação conseguisse comprovar um vínculo com alguém nascido na Itália após março de 1861 (quando o Reino da Itália foi criado), ele tinha direito à cidadania.

Segundo o governo italiano, a decisão tem como objetivo estabelecer limites mais precisos e "evitar abusos", como a "comercialização de passaportes".

"A cidadania deve ser algo sério", afirmou Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores da Itália.

As novas regras não mudam nada para quem já possui a cidadania italiana.

Entenda a seguir todos os detalhes da lei e como ela impacta o Brasil e a América do Sul.

<><> As novas regras da cidadania italiana

O governo diz que o objetivo é "valorizar o vínculo efetivo entre a Itália e o cidadão residente no exterior".

Para o ministro Tajani, o princípio ius sanguinis — ou "direito de sangue", usado por muitos países como critério para definir quem tem direito à cidadania — não deixará de existir.

Segundo a agência italiana Ansa, Tajani destacou ainda que o país não fará mais "reconhecimentos automáticos em favor de pessoas nascidas no exterior que não tenham pelo menos um dos pais ou avós com cidadania exclusivamente italiana". Entretanto, "os filhos de cidadãos italianos nascidos no exterior continuarão a ter a possibilidade de adquirir a cidadania, se seus pais a solicitarem".

A agência informou ainda que, por proposta de Tajani, o Senado também aprovou uma emenda que abre o pedido de readquirir a cidadania para emigrantes italianos que tiveram que renunciar à cidadania para trabalhar nos países onde se estabeleceram.

As mudanças serão adotadas em duas fases.

A primeira delas — que já entrou em vigor — prevê que os descendentes de italianos que nasceram no exterior serão considerados automaticamente cidadãos por apenas duas gerações.

Ou seja, a partir de agora, somente os indivíduos com pelo menos um dos pais ou um dos avós italianos terão direito à cidadania.

Na segunda fase do projeto, que já ganhou o sinal verde do governo italiano, serão implementadas medidas para que "cidadãos nascidos e residentes no exterior mantenham vínculos reais com a Itália ao longo do tempo".

Essas pessoas precisarão "exercer os direitos e os deveres de cidadão pelo menos uma vez a cada 25 anos".

Ainda não está claro como isso será feito na prática ou a partir de quando essa segunda fase entra em vigor.

O governo da Itália também prometeu revisar "os procedimentos para o reconhecimento da cidadania".

A principal alteração aqui é que os interessados em obter documentos italianos não vão mais se dirigir aos consulados. Haverá um "escritório especial centralizado" no Ministério das Relações Exteriores do país, localizado em Roma.

A perspectiva é que esse processo de transição até a criação do tal escritório leve um ano.

"Os consulados se concentrarão na prestação de serviços àqueles que já são cidadãos, e não mais na 'criação' de novos cidadãos", pontua um comunicado publicado no site do Consulado Geral da Itália em São Paulo.

<><> Aumento de novos pedidos

Os consulados italianos espalhados pelo Brasil também informaram que suspenderam todos os agendamentos para o depósito da documentação necessária no requerimento de cidadania, além da marcação de novos pedidos.

"Novas atualizações serão fornecidas assim que estiverem disponíveis", diz o comunicado.

A medida pode ter um impacto significativo na América do Sul, especialmente em Brasil e Argentina, países que receberam grandes ondas de imigração italiana na virada dos séculos 19 e 20.

Dados do Ministério das Relações Exteriores da Itália apontam um "forte aumento nos reconhecimentos de cidadania" nesses locais.

"Desde final de 2014 até final de 2024, o número de cidadãos italianos residentes no exterior aumentou de aproximadamente 4,6 milhões para 6,4 milhões, representando um crescimento de 40% em 10 anos. Atualmente, há mais de 60 mil processos judiciais pendentes para o reconhecimento da cidadania."

Ainda segundo o ministério, na Argentina o número de reconhecimentos passou de cerca de 20 mil em 2023 para 30 mil no ano seguinte.

No Brasil, o total aumentou de mais de 14 mil em 2022 para 20 mil no ano passado.

"Estima-se que, potencialmente, o número de descendentes de italianos em todo o mundo que poderiam solicitar o reconhecimento da cidadania, com base na legislação vigente, esteja entre 60 e 80 milhões."

O governo italiano argumenta que a reforma "alinha os critérios para o reconhecimento da cidadania italiana" aos de outros países europeus e vai "liberar recursos para tornar os serviços consulares mais eficientes, permitindo que se concentrem exclusivamente em quem realmente precisa, devido ao seu vínculo concreto com a Itália".

"O sistema atual compromete a eficiência dos escritórios administrativos e judiciais italianos, que sofrem pressão de pessoas que viajam à Itália apenas para acelerar o processo de reconhecimento da cidadania, o que também favorece fraudes e práticas irregulares", conclui o ministério.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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