sexta-feira, 16 de maio de 2025

A nova loucura imperial de Trump

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos publicou, no último dia 13 de maio, uma orientação distopicamente imperialista e autoritária.

Segundo o novo “édito”, o simples uso dos chips de inteligência artificial Ascend 910B, 910C e 910D, da chinesa Huawei, pode ser considerado uma violação das leis de exportação americanas – mesmo que esses chips sejam usados fora dos EUA, inclusive dentro da própria China.

Embora os Ascend sejam projetados e fabricados pela Huawei, o governo dos EUA argumenta que esses chips foram desenvolvidos utilizando tecnologias, softwares de design ou equipamentos de fabricação de origem americana. Isso ativa a chamada Foreign Direct Product Rule (FDPR), uma regra que permite aos EUA impor restrições a qualquer produto estrangeiro feito com tecnologia americana, independentemente do país onde ele seja produzido ou utilizado.

Assim, mesmo que uma empresa chinesa utilize um chip Ascend da Huawei dentro da China, ela pode estar infringindo as leis dos EUA se o chip tiver sido projetado ou fabricado com tecnologia americana – o que, segundo o Departamento de Comércio, é “altamente provável” no caso dos Ascend 910B, 910C e 910D.

A ofensiva dos EUA contra a Huawei começou em maio de 2019, quando a empresa foi incluída na “Entity List”, uma lista negra que impede o acesso a fornecedores e tecnologias americanas. Isso praticamente retirou a Huawei do mercado global de smartphones, pois ela ficou sem acesso a chips avançados de empresas como TSMC e Samsung.

Para contornar o bloqueio, a Huawei acelerou o desenvolvimento de seus próprios chips em parceria com a estatal chinesa SMIC. Em 2024 e 2025, os chips Ascend 910C começaram a ser entregues em larga escala para clientes chineses, marcando o retorno da Huawei ao mercado de IA e ameaçando a liderança de empresas como Nvidia e Apple na China.

Em janeiro de 2025, os EUA endureceram ainda mais as restrições, ampliando o controle sobre a exportação de chips de IA avançados para a China e exigindo licenças rigorosas para qualquer transferência de tecnologia. A China reagiu com o lançamento de sistemas como o DeepSeek, uma IA treinada inicialmente em chips Nvidia, mas já adaptada para rodar nos Ascend da Huawei. O DeepSeek rapidamente se destacou por seu custo baixo e alta performance, tornando-se uma alternativa competitiva aos modelos ocidentais.

O novo alerta do Departamento de Comércio dos EUA deixa claro: qualquer empresa, em qualquer país, que utilize chips Ascend da Huawei pode ser acusada de violar as leis americanas de exportação. Isso vale mesmo para empresas chinesas, usando chips projetados e fabricados na China, dentro do território chinês.

Além disso, os EUA ameaçam aplicar sanções a empresas que usem modelos de IA chineses – como DeepSeek, Qwen ou InternLM – mesmo que rodem em chips Nvidia, fabricados nos EUA. O objetivo declarado é impedir que “adversários” tenham acesso à tecnologia americana, mas, na prática, a medida sufoca a autonomia digital de países que ainda não têm seus próprios ecossistemas de IA.

As punições previstas incluem bloqueio comercial, exclusão do sistema financeiro internacional, perda de acesso a softwares essenciais e até prisão de executivos em viagens a países aliados dos EUA.

Especialistas como Bill Gates já alertaram que essa estratégia pode sair pela culatra, acelerando o desenvolvimento de alternativas tecnológicas fora da esfera americana. Para a China e outros países, a única resposta possível é investir em ecossistemas próprios de tecnologia e finanças.

Como resumiu Jonh Pang, da Multipolar Peace:

“Qualquer pessoa, em qualquer lugar, que use chips Huawei Ascend pode ser processada por violar as restrições de exportação dos EUA. Uma empresa chinesa usando um chip 100% projetado e fabricado na China, dentro da China, estaria violando essas restrições. Mas qualquer um que use chips Nvidia para rodar um modelo chinês também será punido. O futuro sob a ‘liderança americana em IA’ é ChatGPT em Nvidia. Monopólio por decreto.”

Linha do tempo dos principais eventos:

  • Maio de 2019: Huawei entra na “Entity List” dos EUA.
  • 2024-2025: Huawei lança e distribui chips Ascend 910C em grande escala.
  • Janeiro de 2025: Novas restrições americanas sobre exportação de chips de IA para a China.
  • 13 de maio de 2025: EUA publicam alerta global sobre o uso dos chips Ascend da Huawei.

O endurecimento das regras americanas representa um movimento sem precedentes de extraterritorialidade, com impacto direto sobre a soberania digital de outros países e o funcionamento do mercado global de tecnologia. O que começou como uma disputa por inovação, agora é uma batalha aberta por soberania tecnológica – e os EUA deixam claro: quem não obedecer, será punido.

¨      Estados Unidos - o temerário pastelão na Casa Branca. Por Virgílio Arraes

No quarto mês de gestão, Donald Trump obtém inédita impopularidade, ao desfrutar da aprovação em torno de 40% da população, o mais baixo índice desde a década de cinquenta. Assim, a sociedade parece já não acreditar de modo precoce na promessa de janeiro último de uma nova era dourada ao país – alusão à época da primeira (1865 a 1902).

No dia da posse, tal qual dirigentes burlescos de filmes satíricos ele de rosto descoberto alteraria o nome do golfo do México para o de América e assinalaria 9 de fevereiro como dia de comemoração desta porção do mar.

Ainda que se desconsidere a fanfarronice terminológica, Trump, sem se satisfazer com a bufonaria com o vizinho ao sul, restauraria a pena de morte para crimes federais, porém, ao mesmo tempo, concederia o perdão aos acusados da invasão do parlamento em janeiro de 2021, episódio resultante na morte de cinco pessoas.

Ameaçador, elevaria em fevereiro o valor das tarifas alfandegárias ao México, Canadá e China, além de provocar a União Europeia, ao intimidar a Dinamarca, ao comunicar o desejo de adquirir a Groelândia, e o Panamá, ao endereçar o intento de retomar o controle de seu canal, devolvido em dezembro de 1999 durante a administração de Bill Clinton.

Com desconhecimento do funcionamento do serviço público federal, apesar de governado por ele entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021, Trump anunciaria de forma insensível a aspiração de exonerar boa parte do funcionalismo, inclusos segmentos considerados contrários a suas posições como o do Departamento/ Ministério da Justiça.

Outrossim, enfraqueceria – pasmem - o Departamento de Educação, ao solicitar ao Judiciário o cancelamento de subsídios para treinamento do professorado e ao interromper os vultosos auxílios às universidades de ponta como Harvard e Princeton.

Na política exterior, efetivaria os passos iniciais para extinguir a USAID, estruturada em 1961, ao exonerar seus servidores, e se possível o Instituto dos Estados Unidos pela Paz com medida equivalente. Ademais, manifestaria a vontade de encolher o número de representações diplomáticas.

Na Secretaria de Saúde, encabeçado por Robert Kennedy Jr., membro de família identificada de maneira automática com o Partido Democrata, suspender-se-iam os recursos destinados à pesquisa de vacinas, malgrado o mundo ter tido amenizado os efeitos da pandemia do vírus corona graças a elas.

Bravatearia o encerramento em breve do conflito entre Rússia e Ucrânia, ainda em andamento infelizmente, e a incorporação da faixa de Gaza aos Estados Unidos, comunicado logo sem seguida desmentido pelo Departamento de Estado, ao tentar interpretar a desastrada e perigosa fala como relativa à recuperação da devastada área por incontáveis investidas.

Concernente à rixa entre Kiev e Moscou, assumiria Washington sem justificativa o lado do invasor, ao inverter a posição da administração antecessora, simpática à nação agredida. Ao isolar Volodymyr Zelensky, a fim de extrair concessões econômicas do enfraquecido mandatário, proporia cancelar a ajuda financeira e militar. Mariyinsky terminaria por sucumbir à pressão da Casa Branca.

A intolerância política de Trump chocaria, ao anular o visto do Nobel da Paz de 1987, Oscar Arias, ex-presidente da Costa Rica por duas vezes (1986-1990 e 2006-2010), por criticá-lo ao comparar a sua postura à de um imperador romano.

Contudo, a ação mais escandalosa aos olhos da ortodoxia neoliberal do Brasil não teria sido as dos campos de educação, de saúde ou de cooperação internacional, mas a na economia, ao pressionar na primeira semana de abril o presidente do Banco Central, Jerome Powell, a reduzir a taxa anual de juros, situada abaixo de 4,5%

¨      O que se passa com o governo Trump? Por Virgílio Linares

Nas semanas anteriores, o anúncio de novas tarifas aduaneiras por Donald Trump demonstrou que não se trata de apenas mais uma manobra comercial. É o sintoma de um sistema capitalista em crise profunda, que só sabe responder às suas contradições com mais exploração, guerras e autoritarismo.

O coração do imperialismo global, os Estados Unidos, estão asfixiados por seus próprios conflitos internos de sua classe dominante, mas não só; pela mobilização de seu povo e particularmente de sua classe trabalhadora formada por estadunidenses e também por milhões de imigrantes. 

Por décadas a deslocação de linhas de produção para outros países foi a forma de reduzir o custo do trabalho. Isso quer dizer: fazer com que o custo global de cada trabalhador seja reduzido ao mínimo, questionando os direitos já conquistados (jornada, horas-extras, férias, licenças médica…) e claro, arrochando os salários. Tudo isso baseado no fato que o dólar, moeda que domina o mundo, já não sustenta sozinho a economia americana. Para manter seu poder, o governo estadunidense recorre a duas armas: a pilhagem dos povos e a guerra.

<><> O dólar e a exploração global

Em 1971, o então presidente Nixon desvinculou o dólar do ouro, transformando-o numa ferramenta de dominação. Até então, o lastro do dólar estava vinculado à quantidade de ouro armazenado em barras de ouro no “Fort Knox”. Esse sistema agora está em colapso. O déficit comercial dos EUA é abissal, e a solução de Trump é fazer o mundo pagar por isso: tarifas absurdas, pressão para comprar armas americanas e a chantagem econômica contra nações soberanas.

Como disse Stephen Miran, o chefe dos assessores políticos da Casa Branca: “O comércio só prospera graças ao poderio militar dos EUA”. Ou seja, quem não se submeter, sofre as consequências.

<><> Guerras e genocídios: o preço do lucro

Enquanto Trump anuncia tarifas, apoia sem hesitação o genocídio em Gaza e faz as declarações de ocupação da faixa para fazer um resort no território palestino. Enquanto a Europa se dobra às exigências militares da Organização do Tratado Atlântico Norte – OTAN, trabalhadores e trabalhadoras são demitidos e serviços públicos são desmontados para financiar tanques e mísseis. 

A guerra na Ucrânia, o massacre na Palestina e os conflitos na África e no Oriente Médio não são acidentes. São parte de um projeto: manter o sistema capitalismo vivo, mesmo que sobre montanhas de cadáveres.

<><> A resistência cresce

Mas os povos não estão calados. No Brasil as manifestações do 1º de maio exigem a redução da jornada do trabalho e o fim da escravidão moderna da escala de trabalho 6×1, cujo realidade se aprofundou com a reforma trabalhista. Milhões saíram às ruas nos EUA, gritando “Dinheiro para o povo, não para a guerra!”, inclusive no 1º de maio, que lá não é feriado (o dia da classe trabalhadora nos EUA é 1º de setembro)Na França, com sindicatos e movimentos populares contra a escalada militar e o corte de recursos para os serviços públicos. Na Itália, exigindo “Verba para hospitais, não para mísseis!” Nos países árabes e em diversas outros lugares há uma denuncia permanente do genocídio palestino.

A classe dominante tem medo. Medo da China, que resiste às tarifas. Medo da América Latina, que tenta (ainda que timidamente) se organizar. Medo dos trabalhadores, que começam a ligar os pontos: a crise econômica e as guerras têm os mesmos responsáveis.

<><> O que fazer?

É evidente que não há saída dentro deste sistema. E os sindicatos e a classe trabalhadora devem debater e se engajar na busca por uma saída baseada nos interesses do explorados e oprimidos. 

No Brasil não podemos aceitar que os sindicatos caiam na cantilena da defesa do livre comércio. Há quem questione Trump para defender todas as instituições globais e a dita “globalização” neoliberal que aplicaram as políticas “reformas neoliberais” de privatizações, de redução dos serviços públicos e dos investimentos públicos. Uma política econômica sob o ponto de vista da classe trabalhadora e da nação não tem nada a ver com Trump, muito menos com a papagaiada liberal que é vendida pelos telejornais e banqueiros. 

A única resposta é a luta da classe trabalhadora de todo o mundo é juntar suas forças lutar para romper com os governos que sustentam essa política que alimentam o financiamento militar para as guerras e destruição. 

É preciso fazer uma luta contra essa política de investimentos militares, exigindo verbas públicas para saúde, educação, assistência social, comunicação pública, acolhimento dos imigrantes, recuperação de direitos, fim da jornada 6×1 e salários dignos.

 

Fonte: O Cafezinho/Correio da Cidadania/Opera Mundi

 

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