A
nova loucura imperial de Trump
O
Departamento de Comércio dos Estados Unidos publicou, no último dia 13 de
maio, uma orientação distopicamente imperialista e autoritária.
Segundo
o novo “édito”, o simples uso dos chips de inteligência artificial Ascend 910B,
910C e 910D, da chinesa Huawei, pode ser considerado uma violação das leis de
exportação americanas – mesmo que esses chips sejam usados fora dos EUA,
inclusive dentro da própria China.
Embora
os Ascend sejam projetados e fabricados pela Huawei, o governo dos EUA
argumenta que esses chips foram desenvolvidos utilizando tecnologias, softwares
de design ou equipamentos de fabricação de origem americana. Isso ativa a
chamada Foreign Direct Product Rule (FDPR), uma regra que permite aos EUA impor
restrições a qualquer produto estrangeiro feito com tecnologia americana,
independentemente do país onde ele seja produzido ou utilizado.
Assim,
mesmo que uma empresa chinesa utilize um chip Ascend da Huawei dentro da China,
ela pode estar infringindo as leis dos EUA se o chip tiver sido projetado ou
fabricado com tecnologia americana – o que, segundo o Departamento de Comércio,
é “altamente provável” no caso dos Ascend 910B, 910C e 910D.
A
ofensiva dos EUA contra a Huawei começou em maio de 2019, quando a empresa foi
incluída na “Entity List”, uma lista negra que impede o acesso a fornecedores e
tecnologias americanas. Isso praticamente retirou a Huawei do mercado global de
smartphones, pois ela ficou sem acesso a chips avançados de empresas como TSMC
e Samsung.
Para
contornar o bloqueio, a Huawei acelerou o desenvolvimento de seus próprios
chips em parceria com a estatal chinesa SMIC. Em 2024 e 2025, os chips Ascend
910C começaram a ser entregues em larga escala para clientes chineses, marcando
o retorno da Huawei ao mercado de IA e ameaçando a liderança de empresas como
Nvidia e Apple na China.
Em
janeiro de 2025, os EUA endureceram ainda mais as restrições, ampliando o
controle sobre a exportação de chips de IA avançados para a China e exigindo
licenças rigorosas para qualquer transferência de tecnologia. A China reagiu
com o lançamento de sistemas como o DeepSeek, uma IA treinada inicialmente em
chips Nvidia, mas já adaptada para rodar nos Ascend da Huawei. O DeepSeek
rapidamente se destacou por seu custo baixo e alta performance, tornando-se uma
alternativa competitiva aos modelos ocidentais.
O novo
alerta do Departamento de Comércio dos EUA deixa claro: qualquer empresa, em
qualquer país, que utilize chips Ascend da Huawei pode ser acusada de violar as
leis americanas de exportação. Isso vale mesmo para empresas chinesas, usando
chips projetados e fabricados na China, dentro do território chinês.
Além
disso, os EUA ameaçam aplicar sanções a empresas que usem modelos de IA
chineses – como DeepSeek, Qwen ou InternLM – mesmo que rodem em chips Nvidia,
fabricados nos EUA. O objetivo declarado é impedir que “adversários” tenham
acesso à tecnologia americana, mas, na prática, a medida sufoca a autonomia
digital de países que ainda não têm seus próprios ecossistemas de IA.
As
punições previstas incluem bloqueio comercial, exclusão do sistema financeiro
internacional, perda de acesso a softwares essenciais e até prisão de
executivos em viagens a países aliados dos EUA.
Especialistas
como Bill Gates já alertaram que essa estratégia pode sair pela culatra,
acelerando o desenvolvimento de alternativas tecnológicas fora da esfera
americana. Para a China e outros países, a única resposta possível é investir
em ecossistemas próprios de tecnologia e finanças.
Como
resumiu Jonh Pang, da Multipolar Peace:
“Qualquer
pessoa, em qualquer lugar, que use chips Huawei Ascend pode ser processada por
violar as restrições de exportação dos EUA. Uma empresa chinesa usando um chip
100% projetado e fabricado na China, dentro da China, estaria violando essas
restrições. Mas qualquer um que use chips Nvidia para rodar um modelo chinês
também será punido. O futuro sob a ‘liderança americana em IA’ é ChatGPT em
Nvidia. Monopólio por decreto.”
Linha
do tempo dos principais eventos:
- Maio de 2019:
Huawei entra na “Entity List” dos EUA.
- 2024-2025:
Huawei lança e distribui chips Ascend 910C em grande escala.
- Janeiro de 2025:
Novas restrições americanas sobre exportação de chips de IA para a China.
- 13 de maio de
2025: EUA publicam alerta global sobre o uso dos chips Ascend da Huawei.
O
endurecimento das regras americanas representa um movimento sem precedentes de
extraterritorialidade, com impacto direto sobre a soberania digital de outros
países e o funcionamento do mercado global de tecnologia. O que começou como
uma disputa por inovação, agora é uma batalha aberta por soberania tecnológica
– e os EUA deixam claro: quem não obedecer, será punido.
¨
Estados Unidos - o temerário pastelão na Casa Branca. Por
Virgílio Arraes
No
quarto mês de gestão, Donald Trump obtém inédita impopularidade, ao desfrutar
da aprovação em torno de 40% da população, o mais baixo índice desde a década
de cinquenta. Assim, a sociedade parece já não acreditar de modo precoce na
promessa de janeiro último de uma nova era dourada ao país – alusão à época da
primeira (1865 a 1902).
No dia
da posse, tal qual dirigentes burlescos de filmes satíricos ele de rosto
descoberto alteraria o nome do golfo do México para o de América e assinalaria
9 de fevereiro como dia de comemoração desta porção do mar.
Ainda
que se desconsidere a fanfarronice terminológica, Trump, sem se satisfazer com
a bufonaria com o vizinho ao sul, restauraria a pena de morte para crimes
federais, porém, ao mesmo tempo, concederia o perdão aos acusados da invasão do
parlamento em janeiro de 2021, episódio resultante na morte de cinco pessoas.
Ameaçador,
elevaria em fevereiro o valor das tarifas alfandegárias ao México, Canadá e
China, além de provocar a União Europeia, ao intimidar a Dinamarca, ao
comunicar o desejo de adquirir a Groelândia, e o Panamá, ao endereçar o intento
de retomar o controle de seu canal, devolvido em dezembro de 1999 durante a
administração de Bill Clinton.
Com
desconhecimento do funcionamento do serviço público federal, apesar de
governado por ele entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021, Trump anunciaria de
forma insensível a aspiração de exonerar boa parte do funcionalismo, inclusos
segmentos considerados contrários a suas posições como o do Departamento/
Ministério da Justiça.
Outrossim,
enfraqueceria – pasmem - o Departamento de Educação, ao solicitar ao Judiciário
o cancelamento de subsídios para treinamento do professorado e ao interromper
os vultosos auxílios às universidades de ponta como Harvard e Princeton.
Na
política exterior, efetivaria os passos iniciais para extinguir a USAID,
estruturada em 1961, ao exonerar seus servidores, e se possível o Instituto dos
Estados Unidos pela Paz com medida equivalente. Ademais, manifestaria a vontade
de encolher o número de representações diplomáticas.
Na
Secretaria de Saúde, encabeçado por Robert Kennedy Jr., membro de família
identificada de maneira automática com o Partido Democrata, suspender-se-iam os
recursos destinados à pesquisa de vacinas, malgrado o mundo ter tido amenizado
os efeitos da pandemia do vírus corona graças a elas.
Bravatearia
o encerramento em breve do conflito entre Rússia e Ucrânia, ainda em andamento
infelizmente, e a incorporação da faixa de Gaza aos Estados Unidos, comunicado
logo sem seguida desmentido pelo Departamento de Estado, ao tentar interpretar
a desastrada e perigosa fala como relativa à recuperação da devastada área por
incontáveis investidas.
Concernente
à rixa entre Kiev e Moscou, assumiria Washington sem justificativa o lado do
invasor, ao inverter a posição da administração antecessora, simpática à nação
agredida. Ao isolar Volodymyr Zelensky, a fim de extrair concessões econômicas
do enfraquecido mandatário, proporia cancelar a ajuda financeira e militar.
Mariyinsky terminaria por sucumbir à pressão da Casa Branca.
A
intolerância política de Trump chocaria, ao anular o visto do Nobel da Paz de
1987, Oscar Arias, ex-presidente da Costa Rica por duas vezes (1986-1990 e
2006-2010), por criticá-lo ao comparar a sua postura à de um imperador romano.
Contudo,
a ação mais escandalosa aos olhos da ortodoxia neoliberal do Brasil não teria
sido as dos campos de educação, de saúde ou de cooperação internacional, mas a
na economia, ao pressionar na primeira semana de abril o presidente do Banco
Central, Jerome Powell, a reduzir a taxa anual de juros, situada abaixo de 4,5%
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O que se passa com o governo Trump? Por Virgílio Linares
Nas
semanas anteriores, o anúncio de novas tarifas aduaneiras por Donald Trump
demonstrou que não se trata de apenas mais uma manobra comercial. É o sintoma
de um sistema capitalista em crise profunda, que só sabe responder às suas
contradições com mais exploração, guerras e autoritarismo.
O
coração do imperialismo global, os Estados Unidos, estão asfixiados por seus
próprios conflitos internos de sua classe dominante, mas não só; pela
mobilização de seu povo e particularmente de sua classe trabalhadora formada
por estadunidenses e também por milhões de imigrantes.
Por
décadas a deslocação de linhas de produção para outros países foi a forma de
reduzir o custo do trabalho. Isso quer dizer: fazer com que o custo global de
cada trabalhador seja reduzido ao mínimo, questionando os direitos já
conquistados (jornada, horas-extras, férias, licenças médica…) e claro,
arrochando os salários. Tudo isso baseado no fato que o dólar, moeda que domina
o mundo, já não sustenta sozinho a economia americana. Para manter seu poder, o
governo estadunidense recorre a duas armas: a pilhagem dos povos e a guerra.
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O dólar e a exploração global
Em
1971, o então presidente Nixon desvinculou o dólar do ouro, transformando-o
numa ferramenta de dominação. Até então, o lastro do dólar estava vinculado à
quantidade de ouro armazenado em barras de ouro no “Fort Knox”. Esse sistema
agora está em colapso. O déficit comercial dos EUA é abissal, e a solução de
Trump é fazer o mundo pagar por isso: tarifas absurdas, pressão para comprar
armas americanas e a chantagem econômica contra nações soberanas.
Como
disse Stephen Miran, o chefe dos assessores políticos da Casa Branca: “O
comércio só prospera graças ao poderio militar dos EUA”. Ou seja, quem não
se submeter, sofre as consequências.
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Guerras e genocídios: o preço do lucro
Enquanto
Trump anuncia tarifas, apoia sem hesitação o genocídio em Gaza e faz as
declarações de ocupação da faixa para fazer um resort no território palestino.
Enquanto a Europa se dobra às exigências militares da Organização do Tratado
Atlântico Norte – OTAN, trabalhadores e trabalhadoras são demitidos e serviços
públicos são desmontados para financiar tanques e mísseis.
A
guerra na Ucrânia, o massacre na Palestina e os conflitos na África e no
Oriente Médio não são acidentes. São parte de um projeto: manter o sistema
capitalismo vivo, mesmo que sobre montanhas de cadáveres.
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A resistência cresce
Mas os
povos não estão calados. No Brasil as manifestações do 1º de maio exigem a
redução da jornada do trabalho e o fim da escravidão moderna da escala de
trabalho 6×1, cujo realidade se aprofundou com a reforma trabalhista. Milhões
saíram às ruas nos EUA, gritando “Dinheiro para o povo, não para a
guerra!”, inclusive no 1º de maio, que lá não é feriado (o dia da
classe trabalhadora nos EUA é 1º de setembro). Na França, com
sindicatos e movimentos populares contra a escalada militar e o corte de
recursos para os serviços públicos. Na Itália, exigindo “Verba para
hospitais, não para mísseis!” Nos países árabes e em diversas outros
lugares há uma denuncia permanente do genocídio palestino.
A
classe dominante tem medo. Medo da China, que resiste às tarifas. Medo da
América Latina, que tenta (ainda que timidamente) se organizar. Medo dos
trabalhadores, que começam a ligar os pontos: a crise econômica e as guerras
têm os mesmos responsáveis.
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O que fazer?
É
evidente que não há saída dentro deste sistema. E os sindicatos e a classe
trabalhadora devem debater e se engajar na busca por uma saída baseada nos
interesses do explorados e oprimidos.
No
Brasil não podemos aceitar que os sindicatos caiam na cantilena da defesa do
livre comércio. Há quem questione Trump para defender todas as instituições
globais e a dita “globalização” neoliberal que aplicaram as políticas “reformas
neoliberais” de privatizações, de redução dos serviços públicos e dos
investimentos públicos. Uma política econômica sob o ponto de vista da classe
trabalhadora e da nação não tem nada a ver com Trump, muito menos com a
papagaiada liberal que é vendida pelos telejornais e banqueiros.
A única
resposta é a luta da classe trabalhadora de todo o mundo é juntar suas forças
lutar para romper com os governos que sustentam essa política que alimentam o
financiamento militar para as guerras e destruição.
É
preciso fazer uma luta contra essa política de investimentos militares,
exigindo verbas públicas para saúde, educação, assistência social, comunicação
pública, acolhimento dos imigrantes, recuperação de direitos, fim da jornada
6×1 e salários dignos.
Fonte: O Cafezinho/Correio
da Cidadania/Opera Mundi

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