sábado, 31 de agosto de 2024

República em risco — a disputa entre os poderes pelo orçamento

O orçamento público é mais do que uma simples ferramenta administrativa, ele é a espinha dorsal do planejamento e da execução das finanças de um país, desempenhando um papel essencial na gestão econômica e social. A Lei Orçamentária Anual (LOA) reflete a organização do sistema orçamentário, mas deve ser entendida como parte de um sistema mais amplo e complexo, composto por planos e programas que estabelecem as diretrizes e prioridades para a alocação de recursos. 

A constitucionalização das finanças públicas trouxe a matéria orçamentária para o centro do ordenamento jurídico, estabelecendo que ela deve ser guiada pelos princípios constitucionais. Nesse contexto, as instituições orçamentárias passaram a ter um papel fundamental na realização dos objetivos delineados pela Constituição.  

O orçamento público, portanto, não é apenas um instrumento técnico, ele se tornou a mais importante lei material após a Constituição, unificando a atividade financeira do Estado e influenciando diretamente o bem-estar coletivo. No entanto, essa centralidade do orçamento também expõe uma série de desafios, como o risco de politização excessiva e a complexidade de garantir que os recursos sejam alocados de maneira eficiente e justa. A importância do orçamento exige uma gestão rigorosa e transparente, mas também uma constante vigilância para que ele não se torne uma ferramenta de poder concentrado nas mãos de poucos. 

 O ciclo orçamentário (que abrange desde a elaboração até a avaliação e controle) e seu processo se insere em um sistema de freios e contrapesos, onde cada poder desempenha um papel específico e limitado. O papel do Presidente da República é apresentar um plano de governo que reflete sua plataforma eleitoral, enquanto o Congresso Nacional tem a responsabilidade de aperfeiçoar essa proposta, garantindo que ela atenda às demandas nacionais de forma equitativa. 

¨      Emendas impositivas — o que está se discutindo? 

 As emendas parlamentares, prerrogativas constitucionais do Legislativo, são ferramentas cruciais para a modificação das propostas orçamentárias enviadas pelo Executivo. Elas permitem ao Congresso influenciar diretamente na alocação dos recursos públicos, transformando-se em instrumentos essenciais para assegurar que as prioridades regionais e setoriais sejam contempladas no orçamento. 

 No entanto, a natureza jurídica do orçamento levanta questões complexas sobre a distribuição de competências no exercício do poder financeiro e sobre o equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo. Embora o orçamento seja tradicionalmente visto como um documento autorizativo, que simplesmente permite ao Executivo realizar despesas, a questão de se o Governo pode ou deve deixar de executar uma lei aprovada permanece um tema de intenso debate. 

 Este cenário nos conduz a uma reflexão necessária sobre os freios e contrapesos que garantem o equilíbrio entre os Poderes. Como assegurar que o Executivo respeite a vontade popular, expressa por meio de seus representantes, na alocação dos recursos públicos? Como evitar que as emendas parlamentares se transformem em meros instrumentos de barganha política, enfraquecendo a autonomia do Legislativo?  Essas seriam as questões que um analista alheio às singularidades do processo de conformação histórico brasileiro poderia formular. Porém, aqueles que estão familiarizados com a força centrífuga deflagrada a partir da ação das elites locais, que, desde o processo de colonização atuam, através de seus braços econômicos e políticos, em prol de projetos de poder patrimonialistas. Do mesmo modo, aqueles que dependem do Estado para o sucesso de seu empreendimento, se esforçam para eleger seus correligionários para garantir a efetiva representação de seus empreendimentos. Este esforço, em um contexto no qual as doações privadas para candidatos foram limitadas e os recursos de campanha se tornaram majoritariamente públicos, passa a depender da capacidade de cada partido de eleger deputados e, em menor escala, senadores para o Congresso Nacional.  

Não obstante, uma vez eleitos esses legisladores poderão irrigar com recursos públicos não apenas as dinâmicas eleitorais que estruturam seus projetos de poder, mas também seus diferentes empreendimentos, utilizando, para isso, as emendas parlamentares. Por este motivo, o patrimonialismo, enquanto apropriação do Orçamento Público para cofres privados, não indica uma dinâmica alheia ao Estado, mas uma sangria que é deflagrada a partir de dentro, pelos atores políticos. Por este motivo, esta dinâmica tem como condição a conquista de mandatos eletivos através de processos eleitorais, que se tornam objeto central dos esforços daqueles que desejam perpetuar seus projetos de poder. É um ciclo que envolve uma triangulação de recursos entre os membros do Congresso Nacional e seus aliados nos municípios onde estabelecem seus projetos de poder, sendo a dimensão territorial um elemento importante que reforça seu caráter centrífugo e pouco republicano, uma vez que, se cada grupo se preocupa apenas com seu território, não há construção do comum, nem do público.

Diante desta configuração aqueles que se dedicam à política em prol de projetos nacionais de desenvolvimento, independentemente de seu matiz ideológico, funcionam como forças centrípetas cuja capacidade de atuação é reduzida pela atuação das forças centrífugas, na medida em que o Orçamento Público é limitado. No entanto, os ocupantes do Executivo Nacional gozam de algumas prerrogativas orçamentárias que reforçavam tais capacidades. É o caso, por exemplo, do caráter incompleto do nosso federalismo, posto que a transferência de competências para os entes federativos não veio acompanhada de proporcional repasse tributário, deixando-os em certa medida dependentes de uma boa relação com a Presidência da República.  

Outro exemplo de prerrogativa diz respeito ao próprio processo de elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), no qual ao Executivo cabia o papel da iniciativa legal, ainda que os legisladores pudessem propor emendas ao projeto enviado. Essa prerrogativa vem sendo ameaçada, bem como a possibilidade de, através do Orçamento Público, implementar políticas desenhadas à luz de projetos nacionais de desenvolvimento, nos quais os objetivos e recompensas retomam os princípios republicanos de comunalidade e publicidade.

·        A escalada do conflito

A Emenda Constitucional nº 86 de 2015 marcou um ponto de inflexão nessa relação. Antes dela, a execução das emendas parlamentares dependia quase que exclusivamente da vontade do Poder Executivo, o que frequentemente as transformava em moedas de troca política.  

No modelo que conhecíamos como Presidencialismo de Coalizão as emendas eram acionadas quando parlamentares individuais membros dos partidos integrantes da coalizão de governo se recusavam a votar conforme a orientação de seus líderes. A partir da nova regra, que tornou obrigatória a execução de parte dessas emendas, o impacto no orçamento público se tornou cada vez mais evidente, especialmente com o aumento significativo dos valores envolvidos. Conforme dados da própria Câmara, naquele ano, o montante destinado às emendas impositivas era de R$ 9,66 bilhões; em 2024, esse valor saltou para R$ 44,67 bilhões, refletindo o crescente protagonismo do Legislativo na alocação de recursos públicos.

A EC 86/2015 foi uma investida do Legislativo sob um Executivo que havia se fragilizado, perdendo popularidade após as Jornadas de Junho e os eventos que a sucederam. A normativa estabeleceu que que 1,2% da Receita Corrente Líquida (RCL) devia atender emendas individuais, dando-lhe algum caráter de impositividade, uma vez que o governo só poderia contingenciá-las na proporção do bloqueio de despesas discricionárias. A decisão, orquestrada pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha, foi um marco, pois iniciou um processo de escalada orçamentária através das emendas parlamentares, representavam 6,1% das despesas discricionárias em 2014, dobrando sua proporção em 2019, ano em que superaram os 12% da RCL.

Essa mudança provocou uma clara redefinição do equilíbrio de poder entre Legislativo e Executivo, reforçando a independência dos parlamentares em relação ao governo e a seus próprios partidos. No lugar deles, enquanto agentes nesses processos de negociação com o Executivo, surge a figura dos presidentes do Senado, e, sobretudo, da Câmara.

O presidente da Câmara dos Deputados assume um protagonismo crucial no processo orçamentário por diversas razões. Em primeiro lugar, é na Câmara que o processo orçamentário se inicia, incluindo as emendas impositivas, conforme estabelecido na Constituição (art. 66, II, b c/c art. 64). Além disso, a Câmara possui um número significativamente maior de parlamentares em comparação ao Senado, o que exige do presidente da Casa uma habilidade refinada para articular uma ampla gama de interesses e demandas regionais. Isso é evidenciado pelo fato de que mais de 75% do orçamento destinado a emendas individuais é atribuído a deputados, conforme o Art. 166, §9º-A da Constituição. Essa posição estratégica confere ao presidente da Câmara uma influência decisiva nas negociações com o Executivo, tornando-o um ator central na dinâmica de poder entre os dois poderes.

A Emenda Constitucional nº 86/2015 deu início a um ciclo de reformas que gradualmente reforçou a natureza impositiva do orçamento público no Brasil. Contudo, ao invés de simplesmente abrir caminho para avanços positivos, essas mudanças trouxeram consigo uma série de desafios e controvérsias. A EC nº 100/2019, ao expandir a obrigatoriedade de execução para emendas coletivas, que incluem programações de bancada dos parlamentares de Estados e do Distrito Federal, ampliou o alcance desse modelo, mas também aumentou a pressão sobre a gestão fiscal.  

Dentro desse contexto, diferentes tipos de emendas impactam o processo orçamentário de maneiras distintas. As emendas individuais permitem que parlamentares direcionem recursos para suas bases eleitorais, enquanto as emendas de bancada, de caráter coletivo, buscam atender a interesses regionais mais amplos. Já as emendas de comissão refletem prioridades setoriais e são propostas por comissões técnicas ou pelas Mesas Diretoras das Casas Legislativas.  

No entanto, na LDO de 2020, a introdução das emendas do relator, associadas ao chamado “orçamento secreto”, trouxe consigo uma nova e significativa controvérsia. Essas emendas, que permitiam a destinação de verbas federais sem identificar o congressista responsável, foram criticadas por promoverem negociações obscuras e práticas patrimonialistas. Em 2020 e 2021 as emendas ficaram acima de 33% dos gastos discricionários anuais do governo federal. A falta de transparência na sua execução gerou intenso debate, culminando na proibição dessas emendas pelo Supremo Tribunal Federal em 2022.

O resultado desse processo foi a consolidação de uma dinâmica de impositividade em face das emendas apresentadas pelo Legislativo ao orçamento, deixando em aberto questões cruciais sobre a eficiência e a equidade na distribuição dos recursos públicos. Essas emendas reforçam inequivocamente o poder do Legislativo, suscitando preocupações sobre a crescente fragmentação do orçamento, na medida em que este poder não atua de maneira coesa em prol de projetos de desenvolvimento nacional, resultando em uma canalização dos recursos públicos para esquemas patrimonialistas de poder nas localidades em que cada deputado configura suas bases eleitorais. 

Esse embate de forças culmina na polêmica sobre a natureza do orçamento: deve ele ser impositivo ou autorizativo? No modelo autorizativo, o Poder Executivo detém maior controle sobre as decisões de gasto; já no modelo impositivo, o Legislativo ganha destaque. Não se pode discutir a natureza do orçamento sem entrar na intricada relação entre os poderes, onde a disputa por controle e influência sobre o uso dos recursos públicos é constante. 

Paralelamente, observa-se que a centralização das emendas impositivas no Legislativo, muitas vezes favorecendo elites locais, tem deslocado o poder de decisão orçamentária do Executivo, contribuindo para uma escalada do Legislativo em termos de controle sobre o orçamento. As emendas impositivas, que originalmente visavam garantir maior autonomia parlamentar, se transformaram em poderosas ferramentas de barganha política, alimentando projetos de poder locais sem qualquer incidência na construção de uma nação melhor para todos os brasileiros.

Neste contexto, o STF tem exercido um papel fundamental na defesa da Constituição. Em 19 de dezembro de 2023, a Ministra Rosa Weber, em decisão monocrática, proibiu o uso das emendas do relator-geral do orçamento para criar despesas ou ampliar as programações previstas no projeto de lei orçamentária anual, destacando que essas emendas devem se limitar à correção de erros e omissões, conforme a Constituição (art. 166, § 3º, III, alínea “a”). Essa decisão provocou um atrito significativo entre os Poderes Judiciário e Legislativo, ao limitar uma prática que vinha sendo usada para moldar o orçamento de forma pouco transparente e à margem do controle constitucional. O Legislativo rapidamente se adaptou, introduzindo as chamadas “emendas pix” — transferências diretas aos municípios sem a exigência de projetos específicos e sem transparência quanto à sua rastreabilidade. 

Em 14 de agosto de 2024, o Ministro Flávio Dino, em decisão monocrática, impôs novas restrições ao uso das emendas impositivas, buscando restaurar o controle do orçamento nacional e reequilibrar o poder entre Legislativo, Executivo e Judiciário. A decisão exige que as emendas cumpram critérios técnicos de eficiência, transparência e rastreabilidade, e atribui ao Executivo a responsabilidade de avaliar, de forma fundamentada, se as emendas estão aptas à execução. Além disso, determina que a execução só ocorrerá se houver um plano de trabalho compatível com o orçamento e plena transparência e rastreabilidade dos recursos.  

Em resposta à decisão de Flávio Dino, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco e dez partidos (PL, União Brasil, PP, PSD, PSB, Republicanos, PSDB, PDT, Solidariedade e PT) apresentaram ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, um pedido de suspensão de liminar das decisões monocráticas de Flávio Dino. No entanto, Barroso manteve a liminar, afirmando que o plenário do STF deveria decidir sobre o assunto. Em uma sessão extraordinária em 16 de agosto, os ministros do STF votaram unanimemente pela continuidade da suspensão das emendas impositivas até que o Congresso estabelecesse novas regras de transparência. Curiosamente, os ministros Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Jair Bolsonaro, também votaram com Dino para suspender os pagamentos das emendas “Pix” e impositivas. Menos de uma semana depois, em uma reunião no Supremo, foi acordado que as emendas Pix continuariam, mas com novas exigências, como a identificação prévia dos objetos, prioridade para obras inacabadas, e prestação de contas ao TCU e à CGU. Decidiu-se também que as emendas de bancada seriam direcionadas a projetos estruturantes, enquanto as de comissão focariam em projetos de interesse nacional ou regional, definidos em conjunto pelo Legislativo e Executivo.  

A decisão recupera, portanto, a ingerência do Executivo sobre a destinação destes recursos, que serão canalizados para projetos nacionais, capitaneados e delineados sob a batuta do presidente da República. Em seu terceiro mandato, assim como nos anteriores, Lula segue apostando no desenvolvimentismo como estratégia para aquecer a economia e aumentar a percepção de bem-estar dos cidadãos, estimulados pelo consumo. Daí sua preocupação em aumentar a arrecadação e conter a sangria orçamentária através das emendas.

Esse resultado enfraqueceu a posição do Legislativo, que agora enfrenta a perspectiva de ceder parte de seu poder nas negociações com o Executivo e o Judiciário. Como resposta, a Câmara dos Deputados rapidamente movimentou-se para frear a atuação do STF. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) colocou em pauta um pacote de medidas que visam restringir os poderes dos ministros do STF.

Entre as propostas em discussão estava a possibilidade de o Congresso suspender decisões da Corte que sejam consideradas uma extrapolação da função jurisdicional. Outra medida era a “PEC das Decisões Monocráticas”, aprovada pelo Senado no ano passado, mas paralisada na Câmara até o recente embate com o STF.  Além disso, o pacote incluía dois projetos de lei que tipificam como crime de responsabilidade dos ministros do STF qualquer “usurpação de competência” do Legislativo ou do Executivo. No entanto, após articulações da base governista, a CCJ adiou a votação dessas propostas, incluindo os dois projetos de lei. Embora os projetos estivessem em discussão na CCJ, isso não implicava que seriam levados ao plenário da Casa para votação.

Embora as emendas impositivas tenham sido criadas com o objetivo de fortalecer a autonomia parlamentar, a modalidade atualmente em discussão no STF levanta sérias preocupações quanto à falta de transparência na alocação dos recursos. A transformação dessas emendas em ferramentas de barganha política compromete a governabilidade e a gestão fiscal eficiente, criando um ambiente propício para o uso indevido dos recursos públicos. É fundamental que o debate no STF leve em consideração a necessidade de aprimorar os mecanismos de transparência e controle, garantindo que essas emendas cumpram seu propósito original de atender ao interesse coletivo de maneira clara e responsável.  

Assim como ocorreu na relação com as derivas autoritárias de Jair Bolsonaro e a PL do Estupro, o STF cumpre o papel que lhe foi outorgado no arranjo neoconstitucionalista, oriundo dos traumas oriundos da Segunda Guerra Mundial, atuando como guardião da Constituição e dos princípios do liberalismo político em face da formação de maiorias contrárias aos seus princípios básicos como os direitos civis e à divisão de Poderes.

 

Fonte: Por Mayra Goulart e Dayenne Oliveira, em A Terra é Redonda

 

'Cinismo histórico': enquanto prega sustentabilidade, União Europeia compra ouro ilegal do Brasil

Um estudo do Instituto Escolhas revelou que 94% do ouro brasileiro adquirido pela União Europeia tem origem em áreas de risco de ilegalidade. À Sputnik Brasil especialistas explicam como funciona a exportação do minério ilegal e afirmam que aos europeus nunca importou a moralidade quando o assunto é enriquecer.

Países da União Europeia importaram um total de 1.665 quilos de ouro do Brasil em 2023, um valor que chega a R$ 99 milhões. Destes, 1.543 quilos, cerca de 94% do total e equivalente a R$ 93 milhões, tem provável origem ilegal, aponta uma pesquisa divulgada pelo Instituto Escolhas.

A Alemanha é o principal destino desse ouro de risco. O país centro-europeu é responsável 1.289 quilos (R$ 78 milhões) do ouro exportado à UE. Figuram na lista também a Itália, República Tcheca e Portugal. Em sua maioria, diz o levantamento, o minério comprado pelos países da União Europeia é oriundo do Amazonas, Pará e São Paulo.

À reportagem, Larissa Rodrigues, diretora de pesquisa do Instituto Escolhas, afirma que nestes estados do Norte há o predomínio de lavras garimpeiras, ou garimpo, método de extração de ouro de difícil fiscalização. Em São Paulo, nem mineração de ouro há.

•        Como é explorado o ouro no Brasil?

Predominam no Brasil dois métodos de exploração de ouro, a lavra garimpeira e a lavra subterrânea. Para que ambas possam acontecer, é preciso obter uma permissão da Agência Nacional de Mineração (ANM).

A primeira está mais presente no Mato Grosso e nos estados do Norte. Feito de forma mais artesanal, o garimpo trabalha o minério de ouro presente na superfície da terra, separando o elemento dos demais metais através do uso de mercúrio.

O próprio governo federal caracteriza a atividade como um regime de extração de substâncias minerais que por seu "pequeno volume e distribuição irregular, não justificam investimento em trabalhos de pesquisa".

Já última, costuma ser realizada por grandes empresas, tem um caráter mais industrial e está concentrada nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás.

Ainda que tenha menor dimensão, o garimpo rivaliza em produção com a escala da mineração industrial. Hoje, o Pará é o segundo maior produtor de ouro do Brasil ficando atrás apenas de Minas Gerais.

•        Como o ouro é 'lavado'?

Minerado em uma lavra garimpeira legal ou ilegal, o ouro pode seguir alguns caminhos, como acabar nas mãos de um grande empresário do garimpo, ou então ser "pulverizado", diz Rodrigo Chagas, coordenador do Laboratório: Amazônia, Ilegalismos e Violências (LAIV) e pesquisado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Na segunda opção, o ouro é utilizado como moeda pelos moradores locais, servindo desde salário nas lavras ao pagamento em comércio e serviços nas cidades, desde transações pequenas ao seu uso na prostituição e no tráfico.

Um dos problemas do ouro ilegal, aponta Chagas, é que ele serve também para ser reinvestido em outras ilicitudes. "O narcotráfico pode investir na garimpagem, mas a garimpagem também pode investir no narcotráfico."

Esse ciclo econômico do ouro de lavra é o que torna difícil o rastreio de sua origem, afirma Larissa Rodrigues. Isso faz com que o minério advindo de um estado como o Pará, onde mais há permissões de lavras garimpeiras, "não seja necessariamente ilegal, mas tenha alto risco".

"Ele passa na mão de um, passa na mão do outro, passa para o piloto de avião, para o cara do combustível, até chegar na DTVM."

A Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), instituição autorizada pelo Banco Central a intermediar ativos financeiros e mobiliários, como ações e commodities, é o último estágio na limpeza de origem do ouro ilegal.

Para ser exportado, todo ouro precisa passar por uma DTVM. É nesse momento que a origem do ouro é declarada para as autoridades. Até meados do ano passado, vigorava no Brasil a "regra da boa-fé", na qual o vendedor do ouro autodeclarava a lavra de onde tinha obtido o minério.

Isso significa que ao realizar a venda para a DTVM, bastava escrever como origem do metal um lavra legal para tornar aquele ouro legalizado.

É por conta dessa brecha legislativa que aparecem nos registros de exportações brasileiras o ouro com origem paulista.

"A regra de boa-fé era um absurdo. Você pode ter boa-fé por um carrinho de cachorro-quente", diz Chagas.

"Agora com o ouro, que é um metal extremamente estratégico, dá para carregar grande quantidade de valor com uma pequena porção de ouro, isso obviamente precisa ser muito bem acompanhado."

Além de ser vendido para a DTVM, o ouro brasileiro pode também ser transportado para outro país pelas fronteiras brasileiras, como as Guianas, Suriname ou Venezuela e ser lavado lá.

"Essas rotas são conhecidas", afirma Rodrigues, "mas não conseguimos dimensionar quanto ouro de fato sai por essas fronteiras brasileiras na Amazônia".

•        A 'sustentabilidade' europeia

Ambos os especialistas consultados pela reportagem destacam o fim da regra da boa-fé como um passo importante para coibir a lavra ilegal. Dados do Instituto Escolhas notam uma queda de aproximadamente 30% nas exportações brasileiras entre 2022 e 2023, e isso em um cenário de preço elevado do ouro. "Em tese, o mercado deveria estar muito aquecido exportando cada vez mais", diz Rodrigues.

No entanto, este é só um começo e, enquanto medidas como a melhor proteção das fronteiras são claramente necessárias para impedir o contrabando, há recursos regulatórios que ajudariam ainda mais a dificultar o garimpo ilegal enquanto atividade econômica.

Em 2021 entrou em voga na Europa a Lei de Minerais de Conflito, que impõe aos importadores a obrigatoriedade de realizar a devida diligência para se certificar que os minérios importados não venham de zonas de risco ou de conflito.

Entretanto, para o Instituto Escolhas falta transparência e há brechas na lei. Por exemplo, os controles se aplicam apenas às importações que atingem um volume mínimo anual de 100 quilos no caso do ouro, o que é facilmente contornável por comerciantes que queiram evitar a regulamentação.

A diretora de pesquisa do instituto afirma que, por outro lado, o Brasil deveria ter também um maior controle quanto a origem de cada ouro lavrado em seu território. "Está faltando um sistema de rastreabilidade obrigatório."

"Precisamos ter documentado no Brasil inteiro, seja por lavra garimpeira, seja por grandes empresas de mineração, a quantidade que estão produzindo, quando o ouro sai, para onde vai. Ter documentado passo a passo do ouro até chegar na exportação."

Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), lembra que a União Europeia faz grandes exigências ambientais Ao Brasil, inclusive na proteção da Amazônia.

O tema tem sido inclusive o grande impeditivo para a ratificação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que quer impor novas demandas de proteção ambiental, mas não oferece contrapartidas próprias.

Para Gonçalves, este tem sido "o comportamento dos europeus ao longo da história".

"Elaboram um discurso moral normativo desde que esse discurso não lhes cause prejuízo. É o certo e o errado sempre em favor dos seus próprios interesses."

Isso é visto na Amazônia através do discurso intransigente de defesa da floresta dos países europeus que, ao mesmo tempo, se beneficiam materialmente da exploração da selva seja do ouro contrabandeado, seja da biodiversidade "que pode resultar em progresso científico".

"Esse cinismo, podemos dizer, é histórico."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

8 sinais e sintomas de autismo (TEA)

Os sinais e sintomas de autismo, também conhecido como transtorno do espectro autista (TEA), são muito variados e nem sempre são fáceis de serem percebidos.

Os sintomas estão relacionados principalmente à dificuldade de comunicação e socialização, no entanto também são acompanhados de comportamentos e interesses incomuns, como interesse excessivo por determinados assuntos ou objetos, dificuldade de adaptação a mudanças na rotina ou movimentos anormais com o corpo.

Embora algumas dessas alterações possam começar a ser encontradas ainda em bebês, muitas vezes o diagnóstico só é feito alguns anos mais tarde. Além disso, quando a gravidade dos sintomas é mais leve pode ocorrer de serem identificados apenas na adolescência ou idade adulta.

<><> 8 principais sintomas de autismo

Os sinais e sintomas mais comuns de autismo são:

1. Pouco contato visual

As pessoas com transtorno do espectro autista tendem a manter menos contato visual ao interagir com outras pessoas.

2. Dificuldade para expressar ideias e sentimentos

No autismo pode haver dificuldade para usar e compreender a linguagem corporal, gestos e expressões faciais. Por isso, é muito comum que essas pessoas apresentem dificuldade para compartilhar seus interesses e demonstrar sentimentos ou afeto, o que pode ser interpretado de forma errada como indiferença.

3. Aborrecimento com mudanças na rotina

É muito comum que crianças com autismo façam birras, chorem muito ou fiquem mais agressivas quando ocorrem mudanças na sua rotina ou no ambiente em que vivem. Essas mudanças podem ser pequenas e nem sempre são claras para os cuidadores, podendo incluir a troca da embalagem do alimento favorito ou fazer trajetos diferentes daqueles acostumados ao sair de casa.

4. Comportamentos repetitivos

Esses comportamentos podem incluir abanar as mãos, estalar os dedos, balançar o corpo para frente e para trás quando sentado e andar nas pontas dos pés. Esses comportamentos podem ser vistos como “manias”, são mais comuns em momentos de felicidade e também podem incluir a repetição de palavras ou frases que ouviram.

5. Maior interesse em objetos do que pessoas

Crianças com autismo geralmente preferem brincar sozinhas e têm menos interesse por estar com outras crianças, podendo até ficar irritadas ou agressivas ao participar de atividades em grupo. Além disso, pode haver interesse incomum e excessivo por determinados objetos, brinquedos ou partes deles.

6. Maior sensibilidade a sons, luzes, cheiros ou contato

Ambientes movimentados ou barulhentos, fogos de artifício, luzes que piscam, cheiros, toque ou o uso de certas roupas, por exemplo, podem despertar o interesse ou causar reações exageradas, como choro ou irritabilidade.

7. Não responder ao próprio nome ao ser chamado

As crianças com transtorno do espectro autista tendem a olhar menos quando chamadas pelo nome.

8. Dificuldades na comunicação

As dificuldades na comunicação podem variar desde atraso do desenvolvimento da fala até dificuldade para iniciar conversas ou participar delas, assim como para se adaptar em diferentes ambientes. Por isso, muitas vezes as pessoas com autismo sentem-se desconfortáveis ao interagir com outras pessoas ou agem de forma considerada inapropriada.

# O que fazer em caso de suspeita

Em crianças, na presença de sinais de autismo, principalmente quando há atraso no desenvolvimento da fala, dificuldades de aprendizado, socialização ou para desenvolver autonomia, é importante consultar um pediatra ou neuropediatra.

No entanto, quando os sintomas e dificuldades do autismo não são identificadas na infância, nem sempre são facilmente percebidos na adolescência ou após. Por isso, em caso de suspeita em adolescentes, é recomendado consultar um neuropediatra e, em adultos, um neurologista.

# Sintomas de autismo em bebês

Bebês por volta dos 6 meses de idade, podem apresentar poucas expressões faciais, baixo contato visual e não sorrir quando interagem com outras pessoas. Aos 9 meses, o bebê pode não responder às comunicações dos cuidadores, não olhar quando é chamado, não balbuciar sons como “mama” ou “papa” e não olhar para onde o adulto aponta. Além disso, aos 12 meses o uso de gestos ou sua imitação, como dar tchau, bater palmas ou jogar beijo, podem estar ausentes e o bebê não ter iniciado as primeiras palavrinhas. 

# Sintomas de autismo em crianças

Nos casos de autismo leve, os sintomas muitas vezes podem passar despercebidos por serem menos visíveis. Já os casos com gravidade moderada e grave os sintomas são mais intensos e as crianças geralmente apresentam dificuldade maior de aprendizado, convívio com outras crianças e no desenvolvimento de autonomia. 

<><> Os sintomas de autismo em crianças podem incluir:

1. Dificuldade na interação social

•        Não olhar nos olhos ou evitar olhar nos olhos;

•        Não sorrir quando alguém sorrir para a criança, ou sorrir pouco;

•        Não se deixar abraçar ou beijar;

•        Ter dificuldade em fazer amigos;

•        Ter dificuldade em se relacionar com outras crianças, preferindo ficar sozinho.

2. Dificuldade de comunicação

•        Não falar tanto quanto as outras crianças;

•        Repetir frases e palavras várias vezes;

•        Não compreender gestos e expressões faciais de outras pessoas;

•        Não entender piadas, ditados populares ou sarcasmo;

•        Deixar de responder ou demorar a responder quando chamado;

•        Manter um tom de voz monótona, semelhante a um robô.

3. Alterações comportamentais

•        Não ter medo de situações perigosas, como atravessar a rua sem olhar para os carros, ou chegar perto de animais perigosos, como cães de grande porte;

•        Ficar muito agitado e aborrecido com pequenas mudanças na rotina;

•        Ter muito interesse por algo muito específico, como a roda de um carrinho ou a asa de um avião;

•        Fazer movimentos repetitivos, como bater as mãos, sacudir os dedos ou balançar o corpo para frente e para trás;

•        Ficar muito agitado quando está em público ou em ambientes barulhentos.

Além disso, os sinais de autismo podem ser diferentes em meninas, que podem ser mais quietas e terem maior dificuldade de se adaptar às situações sociais. De qualquer forma, na suspeita destes sintomas é recomendado consultar um pediatra ou neuropediatra.

<><> Sintomas de autismo em adolescentes e adultos

Algumas vezes, os sinais e sintomas passam despercebidos na infância e são apenas identificados em adolescentes ou na idade adulta, quando as responsabilidades escolares, do trabalho e necessidade de independência são maiores.

Os principais sintomas e sinais de autismo em adolescentes e adultos são:

•        Ter dificuldades em fazer amigos, preferindo ficar sozinho;

•        Evitar contato visual;

•        Ficar mais ansioso durante as interações sociais;

•        Ser mais rude, sincero e desinteressado com os outros sem querer;

•        Apresentar sintomas de depressão e ansiedade;

•        Gostar de planejar as coisas com muito cuidado e atenção;

•        Não conseguir entender o que as pessoas sentem;

•        Perceber melhor pequenos detalhes, como cheiros, sons ou padrões;

•        Ficar muito agitado com a mudança de rotinas e hábitos;

•        Ter dificuldades para entender piadas, ditados populares ou sarcasmo;

•        Ficar incomodado se alguém chegar muito perto ou tocar;

•        Ter interesse excessivo por assuntos pouco comuns, como astronomia e meteorologia, e atividades muito específicas, como acompanhar vários jornais da televisão e estudar todos os detalhes de apenas um assunto, por exemplo.

O diagnóstico de autismo nesta faixa etária muitas vezes é difícil, seja porque os sintomas podem ser muito leves ou porque a pessoa acaba desenvolvendo formas de lidar com as próprias dificuldades, como evitando situações que a façam se sentir desconfortável, por exemplo, o que mascara os sintomas.

<><><> Como é feito o tratamento

Não há tratamento específico para o autismo e as intervenções dependem da gravidade dos sintomas. As medidas orientadas geralmente ajudam a melhorar a comunicação, a concentração e a qualidade de vida da pessoa e o tratamento envolve uma equipe de profissionais de saúde, incluindo médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos de acordo com a necessidade de cada um. Muitas vezes, medicamentos são indicados para ajudar a aliviar alguns sintomas.

 

•        Cerca de 40% dos médicos podem desenvolver transtornos psicológicos, diz estudo

Cerca de 40% dos médicos podem desenvolver transtornos psicológicos. Doenças como depressão, ansiedade e burnout estão presentes em uma parcela significativa destes profissionais. Os dados são do estudo “Qualidade de Vida dos Médicos”, realizado pela Afya por meio do núcleo de pesquisa Research Center.

Segundo a pesquisa, duas em cada três profissionais afetados pelos problemas de saúde citados são do gênero feminino.

Outro dado que chama a atenção é o de que pelo menos metade dos profissionais na faixa etária dos 25 aos 35 anos sofre com transtornos psicológicos.

Dentre os transtornos observados, os mais comuns foram ansiedade (33,5%), sendo que quatro em cada dez profissionais mulheres, seguido de depressão (22,1%) e burnout (6,7%).

A pesquisa foi realizada entre os dias 2 de julho e 6 de agosto de 2024 com um total de 2005 respostas.

“A proposta deste estudo é manter um panorama vivo e dinâmico sobre a qualidade de vida médicos e, a partir disso, incentivar a comunidade a criar soluções que deem suporte e acolhimento a este público. Ao compreender esse cenário, podemos promover um ambiente de trabalho mais saudável, prevenindo o esgotamento e assegurando a continuidade de um cuidado médico de qualidade para toda a população”, explicou Eduardo Moura, médico e diretor de pesquisa do Research Center da Afya, em comunicado enviado à CNN.

Diante do resultado, a Afya lançou, nesta quinta-feira (28), a campanha “Está tudo bem?”, que visa incentivar médicos e estudantes de medicina a procurar por ajuda especializada.

Durante o mês de setembro, médicos e alunos de medicina de todo o país terão acesso ao botão “Está tudo bem?”, nova funcionalidade nas plataformas digitais da Afya. Ao utilizar esse recurso, o usuário será direcionado para um mapeamento de saúde mental, onde poderá contar com suporte médico e psicológico gratuito.

 

Fonte: Tua Saúde/CNN Brasil

 

Controvérsias: aumento de microempreendedores no Brasil expõe fragilidade trabalhista, diz analista

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um dado significativo sobre o microempreendedorismo no Brasil: em um ano, o país viu o surgimento de 1,5 milhão de novos microempreendedores.

No entanto, esses números carregam nuances que merecem uma análise mais detalhada. É o que apontaram especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Atualmente, de acordo com o levantamento do IBGE, cerca de um terço dos microempreendedores brasileiros ganha até meio salário mínimo por mês, evidenciando uma realidade econômica complexa.

Além disso, um terço desses empreendedores está inscrito no Cadastro Único do Governo Federal, o que totalizou 14,6 milhões de inscritos em 2022.

À Sputnik, o doutor em estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jucelino Matos, destacou que "observando os dez estados com mais MEI's cadastrados no CADÚnico (representam 15% dos MEIs cadastrados no pais) e eram beneficiários do Bolsa Família, são em grande parte do Nordeste (6) e Norte (4), com o Piauí no topo, consistindo em 24,09% dos MEI's cadastrados no estado e Paraíba com 21,25%".

"Esses dados apontam para um cenário em que o empreendedorismo está emergindo como uma alternativa necessária, mais do que uma escolha desejada", critica Brenno Almeida, economista especializado em planejamento e gestão pública pela Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Pernambuco (UPE).

<><> Crise no mercado de trabalho e impactos

Os números refletem uma crise persistente na geração de empregos de qualidade, sugere o economista. Embora haja relatos de uma melhora nos padrões de renda média, muitos trabalhadores ainda enfrentam condições precárias.

"A necessidade de uma renda adicional ou melhor se tornou uma força motriz para a criação de novos negócios. Para muitos brasileiros, abrir um empreendimento pequeno é a resposta para a falta de oportunidades de emprego que garantam uma renda digna", argumenta Almeida.

Segundo o especialista, o impacto econômico do crescimento do microempreendedorismo (MEIs) é considerável. Cada novo microempreendedor não só cria uma nova fonte de renda para si, mas também movimenta diversos setores da economia.

"Desde o aluguel de um espaço comercial até a compra de materiais e equipamentos, cada etapa do processo gera atividade econômica. Por exemplo, a abertura de uma loja de acessórios para celulares envolve pagamentos a fornecedores, alugueis, reformas e outras despesas que beneficiam uma cadeia de negócios", detalha o economista.

Apesar do impacto positivo, o cenário não é isento de desafios. A renda baixa de muitos microempreendedores pode afetar a sustentabilidade dos negócios e a qualidade de vida dos empreendedores.

"Muitos desses novos negócios enfrentam dificuldades financeiras, com alguns recorrendo a cartões de crédito para capital de giro, o que pode levar a endividamento e fechamento precoce", observa o economista.

<><> Pouca oportunidade e falta de orientação

A assistência técnica e a educação empreendedora são cruciais para mitigar esses riscos. Organizações como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) oferecem suporte, mas a percepção de burocracia pode desmotivar alguns empreendedores.

"Há uma necessidade crescente de orientações práticas e acessíveis para que os novos empresários possam administrar suas finanças, entender fluxos de caixa e planejar estrategicamente", aconselha Almeida.

O crescimento do microempreendedorismo no Brasil é, em resumo, reflexo das atuais condições econômicas e da falta de empregos adequados, explica. "Para garantir que esse crescimento seja sustentável e benéfico, é essencial que políticas públicas e iniciativas privadas se concentrem na capacitação e no apoio contínuo aos novos empresários", conclui o especialista.

•        Investimento em portos e aeroportos reflete 'desenvolvimento do Brasil', diz ministro

O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, está otimista com recentes iniciativas do governo federal para impulsionar a infraestrutura portuária, aeroportuária e hidroviária do Brasil.

Em entrevista à Sputnik Brasil nesta quinta-feira (29), ele destacou a importância das novas medidas de crédito implementadas pela administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando que essas ações estão em linha com a agenda de desenvolvimento do governo.

Costa Filho ressaltou o progresso em áreas estratégicas, como a ampliação do Fundo da Marinha Mercante e o fortalecimento do Fundo Nacional de Aviação Civil (FENAC), que destinará cerca de R$ 5 bilhões para apoiar o setor aéreo.

Além disso, o ministro anunciou o lançamento de debêntures de infraestrutura, que visam desburocratizar e acelerar investimentos no setor portuário e hidroviário, com objetivo de fomentar o crescimento econômico e a geração de empregos.

Nos últimos dez anos, de 2011 a 2022, foram emitidos cerca de R$ 11 bilhões em debêntures. Segundo ele, o governo Lula já ultrapassou R$ 12 bilhões em apenas dois anos.

"Isso significa dizer que com essa debênture de infraestrutura que foi lançada, a gente espera, nesses próximos três anos, alavancar mais de R$ 30 bilhões em debêntures, que vão estimular projetos portuários, aeroportuários, mas, sobretudo, com o olhar para o desenvolvimento do Brasil".

Os projetos contemplam diversas regiões do Brasil, com ênfase nos grandes empreendimentos em São Paulo, que fortalecem a infraestrutura portuária nacional, segundo ele. O ministro também destacou iniciativas no Norte e Nordeste. "Hoje está havendo a descentralização portuária, [...] São os portos do Rio crescendo, [...] é o Porto do Pecém, é o Porto de Suape, é o Porto do Itaqui do Maranhão, são os portos de Santa Catarina, os portos de Espírito Santo, entre outros.

"Estamos fazendo hidrovias, vamos fazer a ferrovia, que é a Ferrogrão, a gente está fazendo as rodovias. Então, esse plano logístico regional, isso vai potencializando a indústria portuária brasileira."

Segundo o titular da pasta, o Ministério de Portos e Aeroportos elabora plano logístico abrangente que integra investimentos em infraestrutura rodoviária, ferroviária, hidroviária e aérea. "A gente está desenhando o plano logístico, que dialoga também com a agenda de infraestrutura."

Costa assinou portaria nesta quinta-feira (29) que regulamenta o Decreto 11.964/2024, estabelecendo critérios para a emissão de debêntures de infraestrutura.

A cerimônia ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

A nova regulamentação permitirá que a emissão dessas debêntures para financiar investimentos em portos e aeroportos seja feita sem a necessidade de autorização prévia do Ministério, reduzindo o tempo de espera atual, que varia entre dois e três meses.

Em julho, o Ministério realizou consulta pública para atualizar e simplificar tais regras. "Esse é o nosso desejo do ministério, do governo do presidente Lula."

"[A ideia é] nós estreitarmos a relação com o setor produtivo nacional, até porque quem produz é quem gera emprego, gera renda, e esse momento no Brasil exige mais do que nunca unidade para a gente ajudar a desenvolver e crescer, gerando riquezas em todas as regiões do país."

Segundo ele, no início do ano, a perspectiva de crescimento era em torno de 1,2% e, até 2026, pode subir para 4%. Por fim, Costa Filho ressaltou que o Brasil possui a Embraer, com "uma indústria rica, uma indústria importante para a economia brasileira", e que "não tem sentido" as "aéreas brasileiras não preservarem e comprarem aviões no nosso país".

O secretário nacional de Aviação Civil, Tomé Franca, destacou que "esse é um momento histórico para o desenvolvimento da infraestrutura do país, especialmente na área de portos, hidrovias e aeroportos".

"Estamos batendo recordes em investimentos tanto no setor público quanto no privado, por meio das concessões", ressaltou. Ele também relembrou a origem das concessões da infraestrutura portuária, que remonta ao primeiro governo do presidente Lula, o que foi continuado posteriormente.

"Quem viajava pelo Brasil nos últimos 20 anos pôde observar a modernização, a qualidade do serviço e a melhoria da infraestrutura dos aeroportos", finaliza.

<><> Lula e presidente do Peru abordam integração sul-americana em conversa telefônica

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na tarde desta quarta-feira (28) um telefonema da presidente do Peru, Dina Boluarte.

De acordo com o Palácio do Planalto, a conversa durou cerca de 35 minutos e ambos os mandatários reafirmaram a importância da democracia e da integração política, econômica e logística sul-americana.

Boluarte relembrou a reunião presencial que tiveram em Belém (PA), à margem da Cúpula da Amazônia, há um ano, e agradeceu o apoio brasileiro na representação dos interesses do país na Venezuela após o rompimento de relações diplomáticas, bem como a posição assumida pelo Brasil de buscar uma solução para o impasse eleitoral na Venezuela.

Lula agradeceu o convite peruano para participar da Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), a ser realizada em Lima, em novembro, e manifestou interesse em comparecer.

O presidente brasileiro também comentou a necessidade de ter uma secretaria-geral em pleno funcionamento na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para o fortalecimento da organização e dos países amazônicos.

Por fim, Lula convidou o Peru a se juntar à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo Brasil no âmbito do Grupo dos Vinte (G20), que está sendo presidido pelo governo brasileiro desde 1º de dezembro de 2023.

O G20 é um fórum destinado a discutir problemas de cooperação econômica e financeira global. O G20 reúne as maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, cujo produto interno bruto (PIB) conjunto equivale a 85% do PIB global.

Além da União Europeia e da União Africana, integram o G20: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia.

•        'Falta informação e resistência à pressão social', diz analista sobre incêndios no Brasil e Bolívia

Os governos de Bolívia e Brasil concordaram em coordenar ações de enfrentamento aos incêndios que afetam a Amazônia. Até o momento, mais de dois milhões de hectares foram queimados no Estado Plurinacional, principalmente nos departamentos de Beni e Santa Cruz. Do lado brasileiro, já foram consumidos mais de três milhões de hectares.

A Amazônia boliviana constitui 43% do território nacional se levarmos em conta o critério ecológico ou bioma.

La Paz está em diálogo com países da América do Sul, Ásia e Europa, que se comprometeram a enviar bombeiros e equipamentos para enfrentar os incêndios. Ao mesmo tempo, os governos de Luis Arce e Luiz Inácio Lula da Silva detectam e processam os envolvidos na propagação do fogo, tradicionalmente utilizado nesta época do ano para preparar áreas agrícolas.

Representantes de ambas as nações se reuniram recentemente em Corumbá, no estado do Mato Grosso do Sul.

"Analisamos o comportamento do fogo em ambas as fronteiras. Esse problema vem acontecendo desde 12 de agosto. Ainda há fogo na fronteira e também perto dela. Definimos alternativas de intervenção imediata", disse à Sputnik o vice-ministro da Defesa Civil da Bolívia, Juan Carlos Calvimontes.

Segundo previsões de pesquisadores ambientais, setembro e outubro serão os meses mais difíceis para enfrentar o fogo, mas, para o vice-ministro, "este mês [agosto] é o mais crítico, porque o período das queimadas e o fogo provocado pelos agricultores foi antecipado devido ao comportamento do tempo".

Ainda segundo Calvimontes, "a China e outros países nos dão apoio em equipamentos. Com a França, por exemplo, temos um acordo de trabalho porque eles formam os nossos bombeiros florestais".

No caso do Chile e de outros países da região, "vamos gradualmente ver a necessidade de enviarem tropas. Agora acreditamos que não estamos em um nível tão crítico, mas talvez mais tarde precisaremos do seu apoio".

No imediato, as ações da Bolívia e do Brasil terão como objetivo fundamental proteger a Área Natural de Manejo Integrado San Matías (ANMI), de 30 mil hectares, na fronteira entre Santa Cruz e o Brasil.

A Sputnik também conversou com o pesquisador Stasiek Czaplicki Cabezas, que avaliou o panorama e destacou que, além das ações de curto prazo entre os dois países, é necessário um planejamento de longo prazo, considerando que a região amazônica sofre incêndios todos os anos nesses meses.

O pesquisador, que é economista ambiental, identificou fatores que afetam tanto os incêndios no Brasil quanto os da Bolívia.

"Há um processo muito severo de desmatamentos e incêndios [...]", disse o pesquisador acrescentando que as chamas são provocadas pelo avanço da fronteira agrícola: "São incêndios recorrentes que entram na área do Pantanal [compartilhada pelos dois países]. São incêndios que sabemos que ocorrem entre junho e outubro, muitas vezes vêm do Brasil, é o que sempre nos diz a análise das cicatrizes dos incêndios. Não vai mudar, além do acordo entre Brasil e Bolívia", afirmou.

O analista explicou que a chegada do fogo à Bolívia era esperada desde junho passado: "Já sabíamos, mas não podíamos fazer nada, nem o governo brasileiro. Fogo com frente de mais de 50 quilômetros."

Czaplicki comentou que a estratégia atual consiste em tentar conter o fogo até que cheguem as chuvas do próximo mês de outubro: "Nossos bombeiros trabalham para evitar que as casas queimem, mas de forma alguma têm poder para apagar os incêndios. Só quando as chuvas chegarem, que os incêndios serão apagados", disse.

O pesquisador também considerou que falta informação governamental sobre a situação.

"Para ser eficaz, requer um governo boliviano proativo que tenha uma visão de prevenção a médio prazo, que atue com coordenação e que não responda simplesmente à pressão social. Enquanto o governo não adotar esta abordagem, qualquer que seja o acordo, não dará resultados. Em Santa Cruz, quase dois milhões de hectares foram queimados. Sabe-se que no resto do país foram queimados mais um milhão de hectares. Ainda nem começamos setembro e outubro, que são os meses em que queimam as maiores áreas", analisou.

Os governos brasileiro e boliviano também investigam os responsáveis pelos incêndios. A polícia brasileira prendeu dois homens em conexão ao incêndio criminoso em áreas rurais de São Paulo.

O ministro da Defesa boliviano, Edmundo Novillo, disse ao canal estatal Bolivia TV que estão abertos processos criminais contra 51 pessoas, três das quais estão presas por sua responsabilidade nos incêndios descontrolados.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) o Brasil é responsável por quase metade dos focos de queimadas registrados na América do Sul, entre janeiro e agosto. O país contabilizou 115.944 focos apenas em 2024.

Isso corresponde a 46,3% de todos os incêndios na América do Sul, que somaram 250.374. O segundo país com o maior número de incêndios foi a Venezuela, 38.784 focos. A Bolívia foi o terceiro (37.848) e a Argentina, com 17.207 focos, o quarto, mostraram os dados de satélites levantados pelo Inpe e citados pelo portal UOL.

 

Fonte: Sputnik Brasil