Zero Transparência! Câmara esconde lista de
deputados que assinaram pedido de impeachment contra Lula
A Secretaria-Geral da
Mesa da Câmara dos Deputados se recusou a fornecer a lista oficial de deputados
federais que assinaram o pedido de impeachment contra Lula (PT) protocolado por
bolsonaristas em decorrência da comparação feita pelo petista da ação de Israel
em Gaza ao Holocausto.
A Folha de S.Paulo tem
requisitado a informação desde a semana passada --o pedido foi protocolado na
quinta-feira-- (22), mas a Câmara orientou apenas a formulação de um pedido via
LAI (Lei de Acesso à Informação), cujo prazo de resposta pode ser de até 30
dias.
A própria LAI, porém,
estabelece que qualquer interessado na informação, que é pública, pode
solicitá-la "por qualquer meio legítimo" e que cabe ao órgão, de
posse dos dados, "autorizar ou conceder o acesso imediato à informação
disponível".
A Folha de S.Paulo
pediu uma posição formal à Secretaria-Geral da Mesa sobre o motivo da recusa à
informação, além de procurar diretamente o presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), por meio de sua assessoria. Não houve resposta nem da secretaria nem de
Lira até a publicação desta reportagem.
A LAI estabelece como
condutas ilícitas que acarretam responsabilidade do agente público, que pode
responder por improbidade administrativa, "recusar-se a fornecer
informação requerida nos termos desta Lei, retardar deliberadamente o seu
fornecimento ou fornecê-la intencionalmente de forma incorreta, incompleta ou
imprecisa".
A coleta de
assinaturas para o pedido de impeachment de Lula foi organizada pela deputada
bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), segundo quem 140 dos 513 deputados
apoiaram a proposta.
Na semana passada, a
Câmara informou que, após revisão das assinaturas, o documento reunia 139 delas
(mas sem disponibilizar os nomes dos parlamentares).
De acordo com a lista
divulgada pela parlamentar, a maioria das assinaturas é do PL de Jair
Bolsonaro, mas há também integrantes de partidos que têm ministérios no governo
Lula --União Brasil, PSD, PP, MDB e Republicanos.
Esses parlamentares,
porém, apesar de integrarem legendas da base governista, já são em sua
totalidade oposicionistas, a maior parte deles bolsonaristas assumidos.
É o caso, por exemplo,
dos três parlamentares do MDB na lista de Zambelli --o ex-ministro de Bolsonaro
Osmar Terra (RS), Delegado Palumbo (SP) e Thiago Flores (RO).
Como a Folha de
S.Paulo mostrou, membros do governo federal afirmaram a parlamentares da Câmara
que aqueles que assinaram o pedido de impeachment irão sofrer consequências do
Executivo.
O entendimento foi o
de que deputados que assinaram o pedido e indicaram cargos regionais perderão
esses postos, bem como serão menos atendidos pelo Executivo, o que contempla
emendas parlamentares.
O número de
assinaturas em um pedido de impeachment não tem efeito prático, apenas
simbólico. Pela lei, qualquer cidadão pode requisitar a destituição do
presidente da República.
Dois presidentes
eleitos após a redemocratização do país foram alvo de pedidos de impeachment e
acabaram destituídos, Fernando Collor (1992) e Dilma Rousseff (2016).
Para que ocorra o
impeachment, porém, é preciso, em primeiro lugar, autorização para a tramitação
pelo presidente da Câmara, que hoje é aliado de Lula.
Além disso, a história
mostra ser necessária uma confluência de fatores externos que incluam crise
econômica, pressão popular nas ruas, desaprovação acentuada do governo e falta
de uma base de apoio mínima no Congresso --bastam 172 dos 513 deputados para
barrar a abertura do processo de impeachment caso a tramitação seja liberada
pelo presidente da Câmara, passe por comissão especial e vá a plenário, por
exemplo.
Líderes de bancadas no
Congresso Nacional afirmam ser zero a chance de a ofensiva prospera, nesse
momento.
Lula já teve 20
pedidos de impeachment protocolados, 18 assinados por bolsonaristas, alguns
deles também em bloco. O primeiro deu entrada antes de o petista completar um
mês de governo.
A Folha de S.Paulo
também já requisitou à Câmara a lista de parlamentares que assinaram os pedidos
anteriores, mas a informação foi igualmente sonegada. Assim como a lista de
deputados que assinaram pedidos no governo Bolsonaro.
Jair Bolsonaro (PL)
teve 158 pedidos ao longo dos quatro anos em que esteve na Presidência.
O CAMINHO DO
IMPEACHMENT
O presidente da Câmara
dos Deputados é o responsável por analisar pedidos de impeachment do presidente
da República e encaminhá-los
O atual presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é aliado de Lula e ex-aliado de Jair Bolsonaro.
Ele pode decidir sozinho o destino dos pedidos e não tem prazo para fazê-lo
Nos casos
encaminhados, o mérito da denúncia deve ser analisado por uma comissão especial
e depois pelo plenário da Câmara. São necessários os votos de pelo menos 342
dos 513 deputados para autorizar o Senado a abrir o processo
Iniciado o processo
pelo Senado, o presidente é afastado do cargo até a conclusão do julgamento e é
substituído pelo vice. Se for condenado por pelo menos 54 dos 81 senadores,
perde o mandato
Os presidentes eleitos
após a redemocratização do país foram alvo de pedidos de impeachment. Dois
foram processados e afastados: Fernando Collor (1992), que renunciou antes da
decisão final do Senado, e Dilma Rousseff (2016)
·
Capitão Assumção tem prisão preventiva
mantida em audiência de custódia
O deputado estadual
Capitão Assumção (PL-ES), pré-candidato a prefeito de Vitória, teve a prisão
preventiva mantida após passar por audiência de custódia na tarde desta
quinta-feira, 29. Ele foi preso nesta quarta, 28, pela Polícia Federal (PF) por
descumprir medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito dos atos antidemocráticos.
A defesa pediu a
transferência do deputado, que está no Quartel da Polícia Militar, para a sede
do Corpo de Bombeiros. O advogado Fernando Dilen considera que, por fazer parte
da comissão de segurança na Assembleia Legislativa, Capitão Assumção corre risco
se ficar preso entre policiais militares.
O advogado também
prepara um recurso para tentar revogar a prisão preventiva. “O deputado está
indignado com a situação. O sentimento de injustiça é muito grande”, afirma
Dilen ao Estadão. Para a defesa, a decisão viola das prerrogativas
parlamentares. “O que está em jogo aqui é o exercício da democracia.”
A ordem de prisão
atendeu a um pedido apresentado pelo Ministério Público do Espírito Santo
(MP-ES). Procurado, o MP informou que o inquérito tramita em sigilo no STF e
que, por isso, não pode dar mais detalhes do caso.
O deputado é
investigado pela PF por participar dos bloqueios de estradas promovidos por
apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro após a vitória do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
Capitão Assumção
violou pelo menos duas medidas cautelares impostas pelo STF. Ele continuou
usando as redes sociais, embora estivesse proibido de acessar os perfis. O
deputado terá que pagar uma multa de R$ 20 mil pelo descumprimento. O
parlamentar também publicou imagens dos atos golpistas de 8 de Janeiro, logo
após à invasão da Praça dos Três Poderes, e escreveu: “Supremo é o povo.”
Em discurso na tribuna
da Assembleia Legislativa, em fevereiro do ano passado, ele simulou retirar a
tornozeleira eletrônica que usava por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Capitão Assumção chamou o aparelho de “porcaria” e afirmou que o Poder
Legislativo estava sendo “achincalhado”.
O deputado prestou
depoimento à Polícia Federal na noite de ontem. O Estadão apurou que
ele foi questionado sobre os episódios e também sobre a participação em
milícias digitais ou nos atos golpistas, o que negou.
O deputado Marcelo
Santos (Podemos), presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santos,
divulgou um comunicado em defesa do colega nesta quinta. Ele afirmou que
Capitão Assumção “vem exercendo de forma digna e respeitosa o seu mandato” e
que a sociedade capixaba “perde significativamente a legitimidade democrática
consagrada pelo voto popular”.
“A Assembleia
Legislativa, nesse momento sensível para o parlamento capixaba e à margem de
qualquer ideologia política ou partidária, vem externalizar sua preocupação com
a integridade física e psicológica do deputado, suas prerrogativas e garantias
constitucionais”, diz a nota.
Ø
Pacheco e Lira divergem de propostas que
atingem o Supremo e Lula quer distância de polêmica
Uma lista de propostas
que atingem o Supremo Tribunal Federal (STF) divide os presidentes do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL). A divergência da vez se refere à Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) que blinda deputados e senadores de operações da Polícia
Federal e investigações. Mas há também discordâncias entre os dois sobre a
proposta que limita decisões individuais de ministros da Corte e a que
estabelece mandato com tempo determinado para magistrados.
Os caminhos opostos
seguidos pela dupla no Congresso preocupam o Palácio do Planalto, mas o governo
não quer interferir em questões relacionadas ao Supremo. Como mostrou
o Estadão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem
investido na aliança com a Corte para enfrentar os problemas com o Congresso e
descobrir como foi armada a tentativa de golpe, em 8 de janeiro do ano passado.
Dias depois de se
reunir com Lira e líderes de partidos da base
aliada, no Palácio da Alvorada, Lula
programou outro happy hour, desta vez com Pacheco e seus colegas, para a
próxima terça-feira, 5. O encontro será regado a drinks e salgadinhos, no mesmo
estilo da reunião com Lira, deputados e ministros.
“É bom dialogar com o
presidente, ouvir o que ele tem a dizer e ele também nos ouvir”, afirmou
Pacheco. Ao contrário de Lira, que rompeu relações com o ministro das Relações
Institucionais, Alexandre Padilha, o senador mantém bom relacionamento com o
coordenador político do governo.
Está no radar do
Senado, agora, a PEC que acaba com a possibilidade de reeleição para
presidente, prefeito e governador, a partir de 2030, e estabelece mandato de
cinco anos.
Lula já disse, em
várias ocasiões, que considera justo um governante ter o direito de se
reeleger. O tema, porém, racha o PT. O líder do governo no Senado, Jaques
Wagner (PT-BA), por exemplo, afirmou ser favorável à proposta. “Não tem
salamaleque”, disse ele, quando questionado se havia novidade no texto.
Na outra ponta, a
presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é contra a ideia. “De novo a conversa sobre
fim da reeleição para presidente? Qual o sentido disso?”, perguntou a deputada,
em post no X (antigo Twitter).
Plano é fim da
reeleição e tirar julgamentos do STF
O Senado quer votar a
PEC ainda neste ano, mas, para entrar em vigor, a proposta também precisa ser
aprovada pela Câmara. Lira é defensor do semipresidencialismo – sistema de
governo que introduz no cenário político a figura do primeiro-ministro e dá mais
poder ao Congresso –, mas evita se manifestar sobre fim da reeleição. Na
contramão de Pacheco, ele não dá importância ao assunto, ao menos por enquanto.
Cobrado pelos colegas,
que pedem uma reação do Congresso às operações de busca de apreensão da Polícia
Federal em gabinetes de parlamentares, o presidente da Câmara solicitou aos
líderes das bancadas que consultem seus pares. Embora simpático à blindagem,
Lira quer saber se a PEC sobre o assunto tem apoio para tramitar na Casa, assim
como o plano de transferir o foro de julgamento dos parlamentares para outros
tribunais que não o Supremo.
A cada dia que passa,
as diligências da PF fecham mais o cerco contra Bolsonaro, militares e seus
aliados. “As operações são decisões judiciais. Serão avaliadas no âmbito do
Judiciário e as alterações legislativas, se houver, sempre terão de ser
negociadas entre Câmara e Senado”, declarou Lira, após agentes da PF
vasculharem o gabinete do deputado Carlos Jordy (PL-RJ), acusado de incitar a
tentativa de golpe.
Policiais federais
também entraram no gabinete do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi
diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo
Bolsonaro. Ramagem é alvo da operação que investiga a montagem de uma “Abin
paralela” para monitorar adversários do ex-presidente.
As medidas contra
Jordy e Ramagem foram autorizadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Os
dois negam as acusações. Agora, deputados querem não apenas que operações assim
passem antes pelo crivo do Congresso como pretendem encaixar na PEC o pedido
para acesso a trechos de inquéritos contra eles, protegidos pelo sigilo.
Pacheco discorda.
“Qualquer iniciativa que busque extinguir a possibilidade de investigação
contra qualquer cidadão, independentemente da posição que ele ostente, pode
gerar perplexidade e até questionamento do ponto de vista constitucional”,
afirmou o presidente do Senado.
Aliado de Bolsonaro, o
deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) defendeu a PEC para retomar o que chamou
de “prerrogativas dos parlamentares” e criticou Pacheco.
“Ele está tendo a
postura de um presidente do Congresso que não defende os congressistas”,
reclamou Sóstenes. “Não dá para continuar com o Parlamento desmoralizado pelo
Judiciário, como está ocorrendo”, emendou o deputado, que integra a Frente
Parlamentar Evangélica. Na tentativa de desfazer o mal-estar e
evitar “disse me disse”, o presidente do Senado telefonou nesta quinta-feira,
29, para Lira, como informou a Coluna do Estadão.
No rol de prioridades
de Pacheco está a PEC apresentada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), que
fixa prazo de oito anos para o mandato dos ministros do STF. Atualmente, os
magistrados não têm tempo determinado de mandato e se aposentam aos 75 anos.
Lira, porém, não vê
com bons olhos essa proposta, que está hoje na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado e, se receber sinal verde, irá para a Câmara.
·
Bolsonaristas pressionam presidente da
Câmara
Desde o ano passado,
bolsonaristas pressionam Lira para impor limites às ações do Supremo, reduzir o
tempo de mandato dos magistrados e levar à votação uma outra PEC, aprovada pelo
Senado em novembro, que restringe decisões individuais de ministros da Corte.
Na prática, o
presidente da Câmara está em situação delicada. É devedor da Corte,
principalmente do ministro Gilmar Mendes – que barrou investigações contra ele
relacionadas a desvios de recursos públicos em contratos de kit de robótica
para escolas de Alagoas –, mas também precisa dos votos de aliados de Bolsonaro
para eleger seu sucessor à presidência da Câmara, em 2025. Mesmo assim, ao que
tudo indica, adotou a estratégia de ganhar tempo.
Outro fator de
apreensão no Planalto é a CPI da Braskem, que foi instalada no Senado e
investiga danos ambientais causados em Maceió pela empresa petroquímica. A CPI
acirra os ânimos entre Lira e
o senador Renan
Calheiros (MDB-AL), dois adversários políticos que são muito importantes para
Lula.
Não foi à toa que o
Planalto atuou, nos bastidores, para barrar a entrada de Renan na relatoria da
CPI, presidida por Omar Aziz (PSD-AM). Na avaliação dos auxiliares de Lula, o
senador do MDB provocaria um problema a mais para a base de sustentação do governo
porque trabalharia para destruir o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o
JHC, que é aliado de Lira e candidato à reeleição.
Foi justamente por
esse motivo que a vaga de relator da CPI da Braskem coube ao senador Rogério
Carvalho (PT-SE). Em conversas reservadas, Renan atribuiu o movimento para
tirá-lo da comissão aos senadores baianos Jaques Wagner e Otto Alencar
(PSD-BA).
Fonte: FolhaPress/Agencia
Estado
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