Relatora no STF amplia prazos para plano de
proteção da Amazônia
A ministra Cármen
Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), reformulou nesta quinta-feira (29)
voto proferido sobre a legalidade das medidas tomadas pelo governo de Jair
Bolsonaro na área ambiental. O caso
começou a ser julgado em 2022 e foi retomado na tarde de hoje.
Ao reajustar voto
proferido anteriormente, Cármen Lúcia sugeriu ampliar prazo para o atual
governo cumprir as metas de desmatamento da Amazônia, por meio da quinta fase
do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
(PPCDAm). A retomada do programa foi anunciada em junho do ano passado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar do entendimento
da ministra, o julgamento foi interrompido mais uma vez e será retomado no dia
13 de março.
Em 2022, Cármen Lúcia,
que é relatora das ações, determinou prazo de 60 dias para o governo Bolsonaro
apresentar um plano de execução efetivo de combate a crimes ambientais e de
diminuição do desmatamento ilegal em terras indígenas e unidades de conservação
na Amazônia Legal.
Segundo a ministra, o
reajuste no voto ocorreu diante do processo de “reconstitucionalização
ambiental” do atual governo, que apresenta redução nos níveis de desmatamento.
O prazo de ampliação para cumprir as metas será definido na retomada do
julgamento.
Cármen Lúcia também
votou para determinar que o andamento das ações do PPCDAm seja comunicado ao
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e verbas do Fundo Amazônia sejam liberadas.
“É preciso que haja
compromisso do Estado brasileiro, independente de qual governo, do dever
constitucional de garantir meio ambiente ecologicamente equilibrado”, afirmou a
ministra.
O ministro André
Mendonça também votou para determinar medidas de proteção da Amazônia, mas não
reconheceu o “estado de coisas inconstitucional”.
• Entenda
A Corte julga cinco
ações protocoladas durante o governo Bolsonaro por sete partidos (PSB, Rede,
PDT, PV, PT, PCdoB e Psol), que pediram que o PPCDAm fosse executado de forma
efetiva pelas autoridades ambientais.
Em abril de 2022,
Cármen Lúcia votou pelo reconhecimento do chamado estado de coisas
inconstitucional em matéria ambiental, ou seja, reconheceu que medidas tomadas
pelo governo Bolsonaro em relação à matéria são inconstitucionais e justificam
a intervenção do Judiciário.
• Cármen Lúcia diz que fim de desmate é
processo não acabado
A ministra Cármen
Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), relatora de um conjunto de ações que
apontam omissão de autoridades na proteção do meio ambiente, ajustou parte do
seu voto após defender, em agosto de 2022, que há um “estado de coisas inconstitucional”
na política ambiental do país.
O julgamento foi
retomado nesta quinta, 29, no plenário da Corte. A ministra afirmou que houve
avanços com a mudança do governo federal, como a redução do desmatamento na
Amazônia, mas ponderou que há um processo de “reconstitucionalização” ainda não
acabado nessa seara.
“Estou convencida que
isso (combate ao desmatamento) não é política de governo, é política de Estado.
Acho que o Brasil não pode, a cada governo, ter um soluço antidemocrático
ambiental. É preciso que a gente mantenha como a estabilidade respiratória democrática”,
afirmou a ministra.
Ela ainda propôs um
novo prazo para que o governo federal apresente um plano de fiscalização
ambiental – de 2023 para 2025. “Houve realmente diminuição do desmatamento, mas
não se chegou nem ao nível que o Brasil tinha adotado como compromisso para
2022”, apontou.
• Cármen Lúcia: ‘Brasil não pode ficar a
cada governo tendo um soluço antidemocrático ambiental’
Em discussão no
plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a chamada “pauta verde”, a
ministra Cármen Lúcia disse, nesta quinta-feira, 29, que o governo Lula avançou
nas medidas de política ambiental. Mas, a magistrada não reduziu as exigências
feitas ainda durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2022,
quando a pauta entrou em julgamento na Corte, a ministra afirmou que as
políticas adotadas eram ineficientes.
“Estou convencida de
que isso não é política de governo, é política de Estado. Acho que o Brasil não
pode ficar a cada governo tendo um soluço antidemocrático ambiental. É preciso
que a gente mantenha como uma estabilidade respiratória democrática”, disse a
ministra nesta quinta-feira.
O plenário do STF
retomou, nesta quinta-feira o julgamento de cinco ações da chamada “pauta
verde”, as quais cobram a elaboração de um plano governamental para preservação
dos biomas Amazônia e Pantanal.
Carmen reajustou seu
voto inicialmente proferido em abril de 2022. A ministra afirmou que “há um
processo de retomada da constitucionalidade, de reconstitucionalização, mas há
um processo, ainda não completado, no combate ao desmatamento ilegal da Amazônia
pelo Estado brasileiro no exercício da sua função protetiva, e esse estado de
coisas não foi ainda superado”.
A Amazônia enfrenta um
recorde de focos de incêndio para o mês de fevereiro, segundo dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da
Ciência e Tecnologia. Com 2.924 pontos de queimadas identificados pelas imagens
de satélite até o último dia 26, a quantidade é a maior desde o início da série
histórica, iniciada em 1999. O Ministério do Meio Ambiente diz adotar medidas
com combatentes e aeronaves na região.
Após paralisação do
julgamento a pedido do ministro André Mendonça, a análise foi retomada e novas
medidas foram estabelecidas pela ministra:
– Conclusão, até 2027,
de objetivos específicos da quinta fase do Plano de Ação para Prevenção e
Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam);
– Redução progressiva
e eliminação do desmatamento ilegal em terras indígenas e unidades de
conservação até 2030;
– Acompanhamento de
resultados dos órgãos de fiscalização e combate a ações contra o meio ambiente;
– Garantia de
eficiência e fortalecimento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Biodiversidade
(ICMBio) e da Fundação Nacional do Índio (Funai);
– Inclusão no PPCDAm
de um cronograma que garanta dotação orçamentária e liberação de recursos do
Fundo Amazônia;
– Apresentação de
relatórios mensais ao Observatório do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do
Poder Judiciário, criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Durante seu parecer, a
ministra também criticou a redução do orçamento do Ministério do Meio Ambiente,
de R$ 4,3 bilhões em 2023 para R$ 3,6 bilhões em 2024.
Mendonça seguiu a
ministra em seu voto e determinou prazo de 60 dias para o Executivo demonstrar
que o cumprimento da decisão não influenciará nas demais políticas ambientais
adotadas e comprovar a eficiência da quinta fase do PPCDAm, que visa reduzir o desmatamento
amazônico.
Ø
Países ricos usam seis vezes mais recursos
naturais do que países de baixa renda, aponta relatório do PNUMA
A extração dos
recursos naturais triplicou nas últimas cinco décadas, em decorrência da
significativa expansão de infraestrutura em muitas partes do mundo e dos altos
níveis de consumo de materiais, especialmente em países de renda média-alta e
alta.
A extração de material
deve aumentar 60% até 2060 e pode atrapalhar os esforços para alcançar não
apenas as metas globais de clima, biodiversidade e poluição, mas também a
prosperidade econômica e o bem-estar humano, de acordo com um relatório
publicado hoje pelo Painel Internacional de Recursos do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O Panorama Global de Recursos 2024 (Global Resource Outlook 2024), desenvolvido pelo Painel Internacional de Recursos com
autores de todo o mundo foi lançado durante a sexta sessão da Assembleia das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, pede mudanças políticas abrangentes para
que a humanidade viva dentro de suas possibilidades e reduza em um terço o
crescimento projetado para o uso de recursos, ao mesmo tempo em que expande a
economia, melhora o bem-estar e minimiza os impactos ambientais.
O relatório conclui que,
desde 1970, o uso de recursos cresceu de 30 para 106 bilhões de toneladas – ou
de 23 para 39 quilos de materiais usados em média por pessoa por dia –,
acarretando impactos ambientais dramáticos. No geral, a extração e o
processamento de recursos são responsáveis por mais de 60% das emissões de
aquecimento do planeta e por 40% dos impactos da poluição do ar relacionados à
saúde.
A extração e o
processamento de biomassa (por exemplo, culturas agrícolas e silvicultura) são
responsáveis por 90% da perda de biodiversidade relacionada à terra e estresse
hídrico, bem como um terço das emissões de gases de efeito estufa. Da mesma
forma, a extração e o processamento de combustíveis fósseis, metais e minerais
não metálicos (por exemplo, areia, cascalho, argila) são responsáveis por 35%
das emissões globais.
“A tripla crise
planetária das mudanças climáticas, da perda da natureza e da poluição é
impulsionada por uma crise de consumo e produção insustentáveis. Devemos
trabalhar com a natureza, em vez de apenas explorá-la”, disse Inger Andersen,
diretora-executiva do PNUMA, afirmando que:
“Reduzir a intensidade
de recursos dos sistemas de mobilidade, habitação, alimentação e energia é a
única maneira de alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, em
última análise, um planeta justo e habitável para todas as pessoas.”
No centro do uso
global de recursos estão desigualdades fundamentais:
- Países de baixa renda consomem seis vezes menos materiais e
geram 10 vezes menos impactos climáticos do que aqueles que vivem em
países de alta renda.
- Os países de renda média alta mais do que dobraram o uso de
recursos nos últimos 50 anos devido ao seu próprio crescimento em
infraestrutura e à realocação de processos intensivos em recursos de
países de alta renda.
- Ao mesmo tempo, a utilização de recursos per capita e os
impactos ambientais conexos nos países de baixo rendimento têm permanecido
relativamente baixos e quase inalterados desde 1995.
Onde os níveis de
consumo são muito altos, um maior foco na redução dos níveis de consumo de
recursos e materiais para complementar a ação sobre a produção e a eficiência de
recursos pode reduzir cerca de 30% do uso global de recursos em comparação com
as tendências históricas, ao mesmo tempo em que desenvolve a economia global,
melhora vidas e permanece dentro dos limites planetários.
Nos casos em que a
utilização dos recursos precisa aumentar, podem ser criadas estratégias para
maximizar o valor de cada unidade de recurso utilizada e satisfazer as
necessidades humanas de uma forma que não exija muitos recursos, de modo a que
os benefícios da utilização dos recursos ultrapassem largamente a taxa da sua
extração e os impactos ambientais e na saúde se mantenham em conformidade com
as obrigações internacionais em matéria de clima, biodiversidade e
sustentabilidade.
A incorporação de
externalidades ambientais nos acordos comerciais, o fortalecimento da
regulamentação dos mercados de commodities financeiras e a implementação de
políticas de ajuste de fronteiras relacionadas ao impacto são apenas algumas
das maneiras pelas quais os países podem evitar uma corrida para o fundo do
poço nos padrões ambientais e sociais da extração de recursos e maximizar e
reter o valor dos processos de extração no país.
“Não devemos aceitar
que para satisfazer as necessidades humanas seja necessário o uso intensivo de
recursos e devemos parar de estimular o sucesso econômico baseado na extração.
Com uma ação decisiva dos políticos e do setor privado, uma vida decente para
todos é possível sem custar à Terra”, disse Janez Potočnik, co-presidente do
Painel Internacional de Recursos.
“A conferência
climática do ano passado concordou com a transição para longe dos combustíveis
fósseis. Agora é a hora de trazer todos à mesa para desenvolver soluções para
tornar isso possível. Agora é a hora de intensificar as soluções baseadas em
recursos para o clima, a biodiversidade e a equidade para que todos, em todos
os lugares, possam viver uma vida com dignidade”, disse Izabella Teixeira,
co-presidente do Painel Internacional de Recursos.
As recomendações
específicas incluem:
- Institucionalizar a governança dos recursos e definir os
caminhos para o uso dos recursos, especialmente a consideração do uso
sustentável dos recursos nas estratégias de implementação dos Acordos
Ambientais Multilaterais (MEAs) e melhorar a capacidade dos países de
avaliar e estabelecer metas para o consumo e a produtividade dos recursos.
- Direcionar o financiamento para o uso sustentável de
recursos, refletindo os custos reais dos recursos na estrutura da economia
(ou seja, subsídios, regulamentações, impostos, estímulos, infraestrutura
e planejamento). Outras recomendações incluem a canalização do
financiamento privado para o uso sustentável dos recursos e a incorporação
do risco relacionado aos recursos nos mandatos dos bancos públicos e
centrais
- Integrar as opções de consumo sustentável, garantindo que
os consumidores tenham as informações corretas, acesso a bens e serviços
sustentáveis e que possam pagar por eles. Essas medidas devem ser
acompanhadas de regulamentações para desestimular ou proibir opções que
utilizem muitos recursos (como produtos plásticos de uso único não
essenciais).
- Tornar o comércio um mecanismo de uso sustentável de
recursos, criando condições equitativas em que os verdadeiros custos
ambientais e sociais dos produtos sejam refletidos nos preços, introduzindo
as MEAs nos acordos comerciais, por exemplo.
- Criar soluções circulares, eficientes em termos de recursos
e de baixo impacto, além de modelos de negócios que incluam a recusa, a
redução, o design ecológico, a reutilização, o reparo e a reciclagem, bem
como a regulamentação de apoio e a avaliação dos sistemas existentes.
Implementadas em
conjunto, essas políticas podem transformar o ambiente construído, a
mobilidade, os sistemas alimentares e de energia, resultando em um aumento das
energias renováveis e da eficiência energética, descarbonização da produção de
materiais, cidades mais caminháveis e acessíveis por bicicleta, com melhores
oportunidades de transporte público e trabalho remoto, bem como redução da
perda e do desperdício de alimentos. Países de renda alta e média-alta veriam
uma mudança na dieta com a redução do consumo de proteína animal e cidades mais
compactas, enquanto as economias de renda mais baixa experimentariam um aumento
no uso de recursos para permitir uma vida digna.
Essas mudanças
sistêmicas são projetadas para atingir o pico de extração de recursos até 2040
e, em seguida, diminuir o uso para apenas 20% acima dos níveis de 2020 até
2060:
- As emissões de gases de efeito estufa cairiam mais de 80%,
os estoques de materiais relacionados aos transportes e materiais de
construção cairiam 50% e 25%, respectivamente, e o uso da terra para a agricultura
cairia 5%.
- Ao mesmo tempo, a produção de alimentos aumentaria em 40%,
para apoiar as populações, mesmo onde há crescimento e segurança
alimentar, a economia global cresceria 3% e o Índice de Desenvolvimento
Humano melhoraria em 7%, aumentando a renda e o bem-estar.
Dado o fracasso até
agora em cumprir muitos compromissos políticos em MEAs e a urgência da tripla
crise planetária, o relatório apoia ações imediatas, seguindo o princípio da
“melhor ciência disponível”.
·
Sobre o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA)
O PNUMA é a principal
voz global sobre o meio ambiente. Fornece liderança e incentiva a parceria no
cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e permitindo que nações e
povos melhorem sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
·
Sobre o Painel Internacional de Recursos
(IRP)
O IRP foi lançado em
2007 pelo PNUMA para estabelecer uma interface ciência-política sobre o uso
sustentável dos recursos naturais e, em particular, seus impactos ambientais ao
longo de todo o ciclo de vida. O Painel é composto por eminentes cientistas com
experiência em questões de gestão de recursos. Ele estuda questões-chave em
torno do uso global de recursos e produz relatórios de avaliação com as mais
recentes descobertas científicas, técnicas e socioeconômicas para informar a
tomada de decisões.
Fonte: IstoÉ/Onu
Brasil
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