segunda-feira, 4 de março de 2024

Por ser ‘drag queen’, sobrinho de Malafaia é internado em “clínica espiritual”

Lucas Santos, de 23 anos, era um jovem muito ativo nas redes sociais, especialmente no Instagram como muitos da mesma faixa etária. Até o final de 2023 ele sempre postava conteúdos vestido como uma ‘drag queen’. Mas desde aqueles dias ele simplesmente desapareceu da internet. Acontece que ele é filho da cantora gospel Eyshila Santos com o pastor Odilon Santos e sobrinho de Silas Malafaia, notório líder fundamentalista evangélico.

Segundo o site “O Fuxico Gospel”, especializado em noticiar as vidas particulares de celebridades do seguimento, sua família não gostou nada dos conteúdos expostos por Lucas. Fontes do site ligadas à igreja Assembleia de Deus, de Malafaia, teriam confirmado que o jovem então foi internado numa “clínica espiritual” e teve os seus perfis, incluindo um do OnlyFans, encerrados pela família.

Mas para apimentar ainda mais a “fofoca de Jesus”, ele não foi levado para qualquer “clínica espiritual”, mas para uma de propriedade de outro barão evangélico, o pastor bolsonarista Márcio Valadão, dono da famosa Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte. A instituição, além de ser a dona da suposta “clínica espiritual”, também revelou figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) para a política nacional.

Nas redes sociais, Eyshila, a mãe, fez um post comentando a sexualidade do filho, sem esconder seu desespero em relação à inesperada contradição: o fato do filho não ser um exemplar da heteronormatividade cristã. Outros membros da família não comentaram o caso publicamente.

“São nossos filhos, não nossos troféus. Eles não nossos, mas eles são seres independentes. Não são a nossa continuação, mas têm a sua própria história, com suas escolhas e suas experiências. Pais, amem seus filhos! Amemos sem culpa e sem vergonha alguma. Amemos sem concordar com seus erros, sem compactuar com suas escolhas”, escreveu a cantora.

 

       PL que restringe acesso de pessoas trans a banheiros ‘unissex’ em escolas é aprovado em comissão do Senado

 

O texto fala em “pessoas cujo sexo de nascimento seja diferente do sexo de destinação do banheiro”; Para ativistas da comunidade LGBTQIA+, essa é “mais uma iniciativa fascistoide” de Magno Malta

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A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou nesta quarta-feira (28) um projeto de lei proposto pelo senador Magno Malta (PL-ES) que restringe o acesso de pessoas transexuais e transgênero a banheiros de escolas. De acordo com o texto, os alvos da nova lei só poderão entrar em banheiros caracterizados como “unissex”.

A lei se refere a banheiros de uso coletivo e a mudança, caso aprovada, será válida para instituições públicas e privadas. Assim como o efeito prático que pretende promover, o texto se refere a pessoas trans de uma forma absolutamente preconceituosa.

“Fica vedado em escolas públicas e privadas o uso de banheiro e vestiário, acessíveis por várias pessoas ao mesmo tempo, por usuário cujo sexo de nascimento seja diferente do sexo da destinação do banheiro ou vestiário”, diz o projeto de lei.

Uma inacreditável Comissão de Direitos Humanos aprovou a ideia de Malta em votação simbólica, ou seja, sem qualquer discussão. A relatoria foi do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA). O projeto agora vai a Comissão de Educação do Senado e, se aprovado novamente, vai para a Câmara dos Deputados a não ser que pelo menos nove senadores peçam que o plenário da casa o analise antes.

O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão, disse que não vai deixar o projeto passar para a Câmara sem que seja votado, mas descartou engavetá-lo.

Após a aprovação, Malta e Marinho trocaram afagos. “É verdadeiramente urgente proibir que a mera alegação verbal de uma declarada identidade de gênero permita que pessoas de outro sexo usam vestiários ou banheiros exclusivos para meninas”, disse o relator.

O autor respondeu: “Fico muito feliz pelo seu relatório, pela votação, pelos senhores senadores, e o Brasil é quem ganha com isso em dias tão difíceis (…) O gênero é humano, o resto é macho e fêmea”.

Para ativistas da causa LGBTQIA+ o texto é apenas “mais uma iniciativa fascistoide” de Malta. É o que disse Julian Rodrigues à Fórum. Ele é jornalista, professor e ativista de direitos humanos e da comunidade LGBTQIAP+

"É mais uma iniciativa fascistoide desse senador. O projeto é flagrantemente inconstitucional e uma agitação para as bases fundamentalistas religiosas. Vamos derrotar mais esse PL anti-LGBT!", afirmou.

 

       Prefeito de BH cede às exigências da direita e retira cartazes de centro LGBT

 

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), atendeu às exigências de vereadores de direita e retirou cartazes com as cores do arco-íris do Centro de Referência LGBT+ da capital.

Esta não é a primeira vez que a prefeitura tira símbolos da comunidade LGBT de circulação. No início do mês, Noman já havia retirado outro cartaz LGBTQIAPN+ e com os dizeres “bem-vindes”.

O presidente do Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos-MG), Maicon Chaves, foi quem denunciou a pressão dos parlamentares de direita. "Alguns vereadores e vereadoras da Câmara de BH estão fazendo movimentos para trocar a placa de bem-vindos do Centro de Referência. É um espaço que foi construído, na sua origem, em diálogo com a população LGBT. E me estranha muito que apareça um deputado estadual falando que vai corrigir isso e, de repente, surge um movimento de vereadores e tudo muda", diz Chaves, em um vídeo publicado no Instagram.

“'A concretização dessa iniciativa se mostra um total descaso com a nossa população. Belo Horizonte é um município que mal possui políticas públicas para pessoas LGBTs, sendo o Centro de Referência um dos poucos espaços de acolhimento. Retirar as nossas cores, a nossa IDENTIDADE, de um local que deveria nos acolher é extremamente violento', diz Chaves em um vídeo públicado no Instagram', acrescenta na legenda do post.

Nas redes sociais, parlamentares progressistas se manifestaram contra a retirada dos cartazes.

O Centro de Referência LGBT faz parte da Diretoria de Políticas para a População LGBT da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania. O espaço é responsável pelo atendimento especializado para a população LGBTQIAPN+ e pela promoção dos direitos humanos da comunidade.

•        O que diz a prefeitura

Em coletiva de imprensa, Noman negou a relação entre a pressão de vereadores de direita e a retirada do adesivo. "Em lugar nenhum em Belo Horizonte, em nenhum órgão da cidade, tem nenhum tipo de símbolo na frente. Foi só uma tentativa que foi feita e nós pedimos para tirar. Não tem nada de vereador de direita ou esquerda pedindo para por ou para tirar. Tem é uma política da cidade de não ter nenhum tipo de identificação, a não ser o da área", disse.

•        Ativistas denunciam prefeitura de Porto Alegre ao MP por baixo investimento no setor LGBTI+

A Articulação Brasileira de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis (ArtJovemLGBT) apresentou denúncia à Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul contra a prefeitura de Porto Alegre, a respeito da previsão de baixo investimento em políticas públicas na temática da diversidade sexual e de gênero para 2024.

De acordo com o documento, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, torna impossível o cumprimento da Lei Municipal de Porto Alegre nº 13.598 de 2023, que estabelece diretrizes para a promoção da saúde na área, e a construção de uma casa de acolhimento para a população LGBTQIA+, dentre outras políticas públicas destinadas à diversidade, tais como rubricas específicas para estas áreas, consoante consta no Plano Plurianual (PPA) do Município de Porto Alegre.

A denúncia destaca que o orçamento aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LOA) do município para 2024, especificamente para a implementação das medidas previstas na referida legislação, é de apenas R$ 158 mil. O montante é considerado insuficiente para garantir a efetividade das políticas propostas. Atualmente, dados do IBGE registram que Porto Alegre possui no mínimo 5,1% de pessoas LGBTI+ que se identificam como LGBTQIA+, o que corresponde a mais de 60 mil pessoas. Tal orçamento daria conta de apenas R$ 2,60 por pessoa.

Para a representante da ArtJovem LGBTI no Rio Grande do Sul, a ativista trans e vereadora suplente de Porto Alegre, Natasha Ferreira, a quantidade de recursos destinada pela prefeitura demonstra falta de comprometimento do executivo municipal com a pauta. Ela cita como exemplo que apenas os custos fixos de uma casa de acolhimento com aluguel, energia, água, internet, alimentação, capacitação, transporte, ações sociais e recursos humanos girariam em torno de no mínimo R$ 20 mil por mês e R$ 240 mil ao ano, o que por si só já consumiria todo o orçamento anual e ainda faltaria, isso sem contar todas as outras políticas necessárias.

“Não considero esta situação uma questão isolada ou algum erro de gestão. Para a comunidade LGBTI+ de Porto Alegre, é flagrante que a prefeitura está aliada a políticos extremamente conservadores e que, na hora de definir as prioridades, demandam ao executivo uma postura menos aberta à diversidade. Manter áreas voltadas para a política LGBTI+ sem dedicar orçamento a elas prejudica muito o combate à discriminação, principalmente de pessoas trans das periferias, que são as mais vulnerabilizadas”, disse.

A denúncia também cita que o cenário apresentado repete um padrão de exclusão: na Lei Orçamentária de Porto Alegre para 2023, enquanto R$ 15 milhões foram aprovados para a publicidade, apenas R$ 2 mil foram reservados para a promoção de ações de enfrentamento a LGBTIFOBIA, à violência e à discriminação. Registra também que apenas em 2022 a Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) registrou um aumento de 22% dos casos, impulsionado pelos crimes de injúria discriminatória e LGBTIfobia, somando 493 ocorrências na cidade.

A denúncia encerra demandando ao Ministério Público que intervenha investigando a compatibilidade entre o montante de recursos e o necessário para o cumprimento da legislação e demanda que o poder judiciário seja provocado a intervir na situação considerada inconstitucional.

 

Fonte: Fórum

 

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