sábado, 23 de março de 2024

Kremlin: Rússia retaliará de acordo com seus interesses se UE usar lucros de ativos para armar Kiev

Na semana passada, o chanceler alemão Olaf Scholz, com o presidente da França Emmanuel Macron, anunciou que a UE usará lucros dos ativos russos para armar a Ucrânia. Ontem (20), o chefe da política externa do bloco europeu, Josep Borrell, apresentou um plano para usar os recursos.

Nesta quinta-feira (21), o Kremlin afirmou que a Rússia tomará medidas retaliatórias de acordo com seus próprios interesses e usará todos os mecanismos legais à sua disposição se a União Europeia levar os planos adiante.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, fez os comentários antes de uma reunião de líderes da UE na qual o assunto será discutido.

"Naturalmente, usaremos todos os mecanismos judiciais possíveis, aqueles que estão disponíveis agora e todos aqueles que estarão disponíveis no futuro […] e com base na reciprocidade não retaliaremos na mesma moeda, mas escolheremos métodos diferentes de uma forma que corresponda aos nossos próprios interesses", disse Peskov.

O planejamento feito por Borrell consiste no envio de uma proposta aos Estados-membros sob a qual seria enviado 90% das receitas para o Mecanismo Europeu para a Paz – que é usado principalmente para reembolsar os governos por compras militares com destino à Ucrânia.

Os restantes 10% seriam enviados para o orçamento regular da UE, acrescentou o diplomata, segundo a Bloomberg.

A Europa congelou mais de € 200 bilhões (R$ 1,085 trilhão) em ativos congelados e as receitas extraordinárias ascendem a cerca de € 2,5 bilhões (R$ 13,5 bilhões) a € 3 bilhões (R$ 16,9 bilhões) por ano, dependendo dos níveis das taxas de juros.

Alguns Estados-membros da UE ainda estão pressionando para ir mais longe e confiscar eles próprios os bens imobilizados da Rússia, mas existem obstáculos legais significativos para tal medida e resistência por parte de alguns países.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, comentou que a entrega dos rendimentos dos ativos russos bloqueados para apoio financeiro e militar ao governo ucraniano será considerada roubo.

¨      Opção binária: Europa deve escolher gastos militares ou proteção de seu modelo social, diz mídia

Os Estados-membros europeus da OTAN não estão em sua grande parte prontos para uma guerra de alta intensidade após os cortes na defesa pós-Guerra Fria, segundo um jornal norte-americano.

A Europa enfrenta uma escolha entre reforçar suas capacidades militares em resposta a uma "ameaça russa" ou proteger seu modelo de gastos sociais, diz na quarta-feira (20) o jornal norte-americano The Wall Street Journal (WSJ).

Os líderes da União Europeia estão planejando lidar com as vulnerabilidades de defesa do bloco e expandir seu setor de defesa, mas há decisões dolorosas pela frente. Para aumentar "a segurança do continente", pois tal decisão exigiria que os Estados-membros europeus da OTAN revertessem grandes aumentos nos gastos sociais pós-Guerra Fria.

Os cortes na defesa da Europa desde a Guerra Fria geraram um dividendo de paz de cerca de US$ 2 trilhões (R$ 9,92 trilhões) para o resto da economia. Essas ações deixaram a Europa dependente dos EUA em termos de capacidades militares vitais, como defesa aérea, reabastecimento no ar, engenharia de combate, artilharia e munição, constata a mídia norte-americana.

"A Europa precisaria de pelo menos 20 anos para construir uma força europeia capaz de reverter uma invasão russa na Lituânia e em partes próximas da Polônia sem os EUA, de acordo com uma análise do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think tank, de 2019", indica o WSJ.

O Instituto Ifo de Pesquisa Econômica da Alemanha, por sua vez, prevê que a maioria dos países europeus pode atingir 2% de gastos militares reduzindo outros gastos do governo em menos de um ponto percentual. Para atingir 3%, vários pontos percentuais dos gastos do governo devem ser alocados para a defesa. Como exemplo, o Reino Unido tem uma meta de 2,5%, e para atingir 3%, precisaria aumentar os gastos militares em mais de US$ 40 bilhões (R$ 198,44 bilhões), o dobro do que gasta com seu sistema judiciário.

Embora alguns países europeus estejam mudando seus gastos militares, com a Polônia planejando gastar 4,2% do PIB em defesa, a Suécia e a Finlândia aderindo à OTAN, e a intensificação de suas operações militares na região do mar Báltico, outros têm tido dificuldades para lidar com o financiamento militar, inclusive por causa de eleições.

Assim, o governo de coalizão da Alemanha ainda não decidiu como aumentar os gastos para 2% ou acima disso quando seu fundo especial de defesa acabar em 2027. Os planejadores militares europeus têm dificuldades para lidar com as operações da OTAN sem os altos níveis de apoio dos EUA.

Os planejadores militares europeus ainda têm dificuldade até mesmo para começar a pensar em como a OTAN poderá operar sem um forte apoio dos EUA, disse Edward Arnold, pesquisador de segurança europeia do Instituto de Serviços Real Unido (RUSI, na sigla em inglês) britânico.

"Nas sessões oficiais de planejamento, não haverá nenhuma mudança", disse ele.

"Mas quando forem tomar café nos intervalos, provavelmente todos dirão: 'Meu Deus, se estivéssemos fazendo isso sem os americanos, como seria?'", resumiu.

¨      UE enfrenta déficit de € 56 bilhões nas despesas da OTAN, quase a mesma quantia usada na Ucrânia

Os membros europeus da OTAN despejaram dezenas de bilhões de euros em armamento e munições na Ucrânia para alimentar uma guerra por procuração liderada pelos EUA contra a Rússia, com pouco para mostrar além de crises econômicas e crescentes déficits orçamentários internos e a perda dos seus recursos mais baratos e fontes de energia mais confiáveis.

Os membros europeus da aliança ocidental teriam de desembolsar € 56 bilhões adicionais (cerca de R$ 303,2 bilhões) em dinheiro para cumprir a meta de gastos com defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de 2% do produto interno bruto (PIB), de acordo com uma pesquisa do Instituto Ifo da Alemanha.

O think tank com sede em Munique descobriu que muitos dos maiores gastadores da OTAN estão afogados em dívidas internas que ultrapassam os 100% do PIB e registram déficits orçamentários recorde no meio da crise econômica que atinge a zona euro. A Alemanha, por exemplo, espera que o seu déficit orçamentário atinja € 17 bilhões (aproximadamente R$ 91,9 bilhões) em 2024, com Espanha, Itália e Bélgica seguindo o exemplo com € 11 bilhões (cerca de R$ 59,5 bilhões), € 10,8 bilhões (mais de R$ 58,4 bilhões) e € 4,6 bilhões (quase R$ 25 bilhões), respectivamente. Roma espera que o seu déficit de 7,2% aumente os custos dos juros dos empréstimos governamentais para colossais 9% de todas as receitas neste ano.

"Os países com elevados níveis de dívida e elevados custos de juros não têm muito espaço para aumentar a dívida, por isso a única forma real de fazê-lo é cortando despesas em outras áreas", disse o economista do Ifo, Marcel Schlepper. "Isto não é fácil, como vimos quando a Alemanha tentou cortar os subsídios ao gasóleo agrícola e os agricultores protestaram", observou o analista.

Além dos enormes excessos orçamentários e do aumento da dívida, os países da União Europeia (UE) estão se preparando para novas regras orçamentárias impostas por Bruxelas, que vão forçá-los a cortar orçamentos para cumprirem o requisito de déficit anual de 3% e um limiar aparentemente impossível de atingir 60% da dívida em relação ao PIB, sob pena de sanções da Comissão Europeia.

Treze dos 27 membros da UE (11 deles membros da OTAN) ultrapassam atualmente o requisito de 60% da dívida em relação ao PIB, entre eles as principais potências do bloco, Alemanha, França e Itália. Ao mesmo tempo, em 2023, apenas 11 dos então 30 países da OTAN (oito deles membros da UE) cumpriram o requisito de comprometer 2% do PIB em despesas com a defesa.

Coincidentemente, o déficit de € 56 bilhões aproxima-se dos cerca de € 51 bilhões (aproximadamente R$ 275,8 bilhões) em ajuda militar que os países europeus comprometeram na guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia nos últimos 24 meses, de acordo com dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial. Tendo em conta o apoio econômico e humanitário, a UE poderia ter aumentado confortavelmente as despesas com a defesa durante três anos consecutivos sem quaisquer problemas se não tivesse dado o dinheiro a Kiev, segundo os dados do instituto.

Os líderes europeus com uma posição anti-Rússia linha-dura foram criticados por comandarem uma corrida armamentista, mesmo quando as despesas sociais são cortadas e as economias regionais estão se afundando em recessão. No mês passado, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen foi questionada depois de dizer que os europeus já estão satisfeitos há muito tempo e que é melhor se habituarem à ideia de seus governos despejarem dinheiro dos impostos na defesa em vez de programas sociais.

 

Ø  Avanços militares da China preocupam Pentágono, que pede mais financiamento no Indo-Pacífico

 

Altos funcionários do Pentágono pedem mais dinheiro para reforçar sua postura em Guam, que veem como "prioridade máxima".

A sofisticação e o alcance cada vez maiores da tecnologia de mísseis chineses longe de suas costas tornaram a defesa de Guam uma prioridade máxima para a Marinha dos Estados Unidos no Pacífico, disseram na quarta-feira (20) ao Congresso altos funcionários do Pentágono.

O pedido de mais financiamento, de US$ 400 milhões (R$ 1,99 bilhão), e com maior celeridade e capacidade, "é certamente a prioridade máxima", afirmou o almirante John Aquilino, comandante do Comando Indo-Pacífico dos EUA (USINDOPACOM), perante o Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes do país.

"Articulei a exigência […], que é uma capacidade de defesa integrada de 360 graus contra ar e mísseis, para Guam, que protegeria nossos cidadãos e protegeria as forças de que precisamos, e isso inclui ameaças balísticas, hipersônicas e de mísseis de cruzeiro", disse.

Guam, um território insular dos EUA na Micronésia, com localização a cerca de 3 mil km da província de Fujian, na China continental, deve desempenhar um papel fundamental em uma invasão de Taiwan pela China, escreveu na quinta-feira (21) o jornal chinês South China Morning Post (SCMP).

O Exército dos EUA declarou precisar de US$ 7,2 bilhões (R$ 35,87 bilhões) para melhorar a infraestrutura "em ruínas" de Guam e se proteger contra o aquecimento global, e a Força Aérea dos EUA requisitou US$ 22 bilhões (R$ 109,6 bilhões) para objetivos semelhantes.

O Pentágono também quer criar no Indo-Pacífico uma rede contínua, com "postura de força regional que seja mais móvel, distribuída, resiliente e letal", para enfrentar a China, de acordo com Ely Ratner, secretário assistente de Defesa dos EUA para Assuntos de Segurança do Indo-Pacífico, em uma audiência da Câmara dos Representantes sobre as políticas militares dos EUA na região antes do financiamento para o ano fiscal de 2025.

Ao mesmo tempo, as Forças Armadas dos EUA enfrentam críticas, tais como serem o maior consumidor de energia em Guam e estarem isentas dos periódicos apagões e quedas de energia, disse James Moylan, delegado de Guam na Câmara dos Representantes dos EUA, que não está autorizado a votar no Congresso.

Além disso, citou, cerca de 40% das remessas que passam pelo porto são cargas militares, mas os caminhões das Forças Armadas dos EUA são os únicos que não precisam obedecer aos limites de peso, o que causa danos significativos às estradas.

O pedido de financiamento ocorre em um momento em que a China investe em mísseis ar-ar capazes de atacar muito além do alcance visual, em mísseis intercontinentais com carga convencional e em um número maior de ogivas nucleares, como parte das crescentes capacidades do Exército de Libertação Popular (ELP) do país, cita o SCMP.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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