Nas mãos do capital estrangeiro: após 2
anos de conflito, G7 promete continuar financiando a Ucrânia
De acordo com o
comunicado do grupo, o dinheiro vai ser focado na reconstrução e no déficit
orçamentário de Kiev, atendendo aos pedidos da equipe econômica de Vladimir
Zelensky, que desde dezembro de 2023 fala da importância da ajuda ocidental
para que o país continue funcionando.
As principais
economias do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França,
Itália, Japão e Reino Unido) se comprometeram no sábado (24) a continuar
fornecendo ajuda financeira a Kiev, ao mesmo tempo que mantêm a pressão das
sanções sobre Moscou.
De acordo com uma
declaração conjunta dos líderes do G7 após a cúpula online que marcou dois anos
desde o início do conflito na Ucrânia, a sua prioridade atual é a reconstrução
e o déficit orçamentário de Kiev.
"Ajudaremos a
Ucrânia a satisfazer as suas necessidades urgentes de financiamento[...].
Continuaremos a apoiar o direito da Ucrânia à autodefesa e reiteraremos o nosso
compromisso com a segurança da Ucrânia a longo prazo", dizia o comunicado.
Os líderes do G7
saudaram a recente aprovação pela União Europeia (UE) de um pacote de ajuda de
emergência de € 50 bilhões (cerca de R$ 270,6 bilhões) até 2027, mas apelaram
aos aliados ocidentais para o complementarem com apoio adicional para cobrir o
déficit orçamentário remanescente da Ucrânia para este ano. O Ministério das
Finanças ucraniano estimou em dezembro que as necessidades fiscais para 2024
eram de US$ 37,3 bilhões (aproximadamente R$ 186,3 bilhões).
O grupo também
observou que Kiev precisa de mais investimentos privados para a reconstrução
pós-conflito e disse que a questão seria abordada na Conferência de Recuperação
da Ucrânia, em Berlim, ainda neste ano. De acordo com as últimas estimativas, o
custo total da reconstrução e recuperação na Ucrânia é atualmente de US$ 486
bilhões (cerca de R$ 2,4 trilhões).
Entretanto, o G7
também se comprometeu a intensificar a pressão das sanções sobre a Rússia, a
fim de "aumentar o custo da guerra da Rússia [e] impedir os seus esforços
para construir a sua máquina de guerra". O grupo alertou para novas
medidas destinadas a reforçar a aplicação do limite máximo de preços do
petróleo russo, de modo a "limitar as futuras receitas energéticas da
Rússia", mas não entrou em detalhes sobre as novas medidas. Alertou também
para sanções secundárias adicionais contra países terceiros que facilitam a
evasão de sanções à Rússia.
Entretanto, muitos
analistas apontaram para o fato das sanções não terem conseguido desestabilizar
a Rússia e, em vez disso, o tiro saiu pela culatra nos países que as impuseram.
De acordo com os últimos números oficiais, a economia da Rússia expandiu 3,6%
em 2023, ultrapassando os EUA e a UE em crescimento, e ainda é esperado algum
crescimento neste ano. As restrições forçaram o país a reorientar a maior parte
do seu comércio para a Ásia, enquanto muitos Estados ocidentais perderam o
acesso à energia russa barata, o que resultou em um aumento da inflação e em
crises de custo de vida.
O G7 também apelou aos
aliados para que intensifiquem os esforços destinados a utilizar os ativos
congelados da Rússia no exterior para ajudar a Ucrânia. O Reino Unido e os EUA
têm defendido uma apreensão total dos fundos e a sua transferência para Kiev,
mas essa opção carece atualmente de fundamento jurídico. A UE, que detém cerca
de dois terços dos ativos congelados, aprovou recentemente um plano para
confiscar os juros ganhos, mas não chegou a confiscar os próprios fundos.
Moscou denunciou
repetidamente o congelamento dos seus ativos como ilegal, enquanto muitos
políticos e analistas em todo o mundo alertaram que a utilização dos fundos
colocaria em risco a credibilidade do sistema financeiro ocidental e das suas
principais moedas, o euro e o dólar.
Ø
Europa tenta mobilizar sua 'indústria
militar fragmentada' para atender à demanda voraz da Ucrânia
Os obstinados patronos
europeus de Kiev enfrentam desafios crescentes, à medida que tentam equilibrar
a satisfação do insaciável financiamento e exigências militares da Ucrânia com
o relançamento de própria indústria de defesa do continente.
As nações europeias,
ainda determinadas a apoiar a Ucrânia, estão lutando para expandir a produção
de defesa a fim de satisfazer os apetites vorazes de Kiev, ao mesmo tempo que
tentam não esgotar a sua própria capacidade militar, informou o The Washington
Post.
No entanto,
"décadas de desinvestimento" na sequência da Guerra Fria é uma das
razões pelas quais a Europa se encontra lutando para enfrentar o desafio, disse
o veículo citando James Black, pesquisador de defesa e segurança da Rand
Europe.
Além disso, existem
outras "restrições sistêmicas", tais como "a produção militar
fragmentada, mercados de menor escala e barreiras legais à produção
conjunta".
Ao longo dos anos,
embalados pela complacência e pela remota possibilidade de um conflito militar
à sua porta, os países europeus "reconfiguraram" as suas indústrias
de defesa e confiaram em forças militares regionais de menor escala, sublinhou
o analista.
"A Europa está
agora correndo para reaprender a mobilizar a indústria para uma situação de
guerra. Mas você não pode simplesmente apertar um botão", disse Black.
Os líderes europeus
que aderiram ao movimento liderado pelos EUA de ajuda à Ucrânia,
independentemente do custo para si próprios, foram generosos nas fortes
declarações de apoio, mas acabaram em uma "situação em que a produção está
longe de ser algo que se assemelhe a uma economia de guerra", disse
Camille Grand, ex-secretário-geral adjunto da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) para investimentos em defesa, segundo a apuração.
"A realidade não
corresponde às palavras", acrescentou ele.
Outro funcionário da
OTAN citado descreveu o desafio da Europa como "uma crise em formação há
muitos anos", acrescentando que "para muitos aliados, a questão da
produção de munições era profundamente pouco atraente [...]. Agora está no topo
das mentes de todos."
A própria capacidade
de defesa da Europa e a ajuda da Ucrânia dominaram as discussões na recente
Conferência de Segurança de Munique, onde o presidente da Ucrânia, Vladimir
Zelensky, mais uma vez implorou por dinheiro e armas. O apelo de financiamento
surgiu no contexto de uma dolorosa derrota no campo de batalha para Kiev,
quando as forças russas libertaram a cidade de Avdeevka.
Com a "fadiga da
Ucrânia" a fraturar cada vez mais a unidade europeia, muitos orçamentos
nacionais da União Europeia (UE) estão cada vez mais sob pressão para financiar
a guerra por procuração da OTAN com a Rússia na Ucrânia. Em um contexto de rápido
esgotamento dos arsenais de armas e da vacilante produção industrial, os
responsáveis da UE reconheceram que, até março, só vão conseguir fornecer à
Ucrânia metade do milhão de munições de 155 mm prometidas anteriormente pelo
bloco. Um mínimo de 200.000 cartuchos por mês é o que as autoridades ucranianas
têm exigido aos seus patronos, enquanto a produção coletiva da Europa ronda os
50.000 por mês, de acordo com uma análise da Estônia.
A UE aprovou um pacote
de ajuda de € 50 bilhões (cerca de R$ 270,5 bilhões) para a Ucrânia no início
de fevereiro. No entanto, o pacote de ajuda externa dos EUA, que inclui US$ 60
bilhões (aproximadamente R$ 299,7 bilhões) para a Ucrânia, está atualmente
paralisado no Congresso. O presidente da Câmara, Mike Johnson, altamente
crítico do projeto de lei, afirmou que ele não abordava a segurança da
fronteira dos EUA, retirou a votação e anunciou um recesso de duas semanas até
28 de fevereiro.
Em Munique, no final
de semana passado, o chefe da política externa da UE, Josep Borrell, reconheceu
que, embora o bloco europeu tenha capacidade de produção suficiente para
fornecer munições à Ucrânia, os países carecem de financiamento.
A Rússia, que
considera o conflito na Ucrânia como uma guerra híbrida liderada pelos Estados
Unidos, tem alertado consistentemente contra o financiamento contínuo e as
entregas de armas à Ucrânia, dizendo que apenas prolongam o conflito.
Ø
Sem plano B, chanceler da Ucrânia pressiona
aliados por mais armas: 'Não podemos fazer concessões'
O ministro das
Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, declarou que o seu país se
encontra em uma situação em que não pode "fazer concessões em matéria de
fornecimentos militares".
O ministro das
Relações Exteriores ucraniano, Dmitry Kuleba, declarou no sábado (24) que Kiev
está "pressionando" seus aliados para obter mais armas.
Quando questionado na
televisão local sobre o plano B caso a Ucrânia deixe de receber ajuda militar
de Washington, o ministro das Relações Exteriores ucraniano sublinhou que se
concentra na execução do plano A.
"Quando um plano
B é criado em tempos de guerra, é preciso ter certeza que esse plano B vai
ocorrer, porque em uma guerra você tem que estar sempre focado no plano
A", afirmou, detalhando que esse plano consiste na "consideração
máxima dos seus interesses".
"Não estamos em
posição de fazer concessões em fornecimentos militares", disse o ministro.
Nesse contexto, o
ministro afirmou que, se não receberem projéteis dos Estados Unidos,
"daremos a volta ao mundo e traremos projéteis de outras partes do
mundo".
O presidente da
Ucrânia, Vladimir Zelensky, alertou na sexta-feira (23) que o seu país só pode
"derrotar a Rússia" com a ajuda militar dos Estados Unidos e que
certamente fracassará sem essa ajuda financeira.
Entretanto, o
secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Aleksei
Danilov, instou os países ocidentais a entregarem às Forças Armadas do país
todas as armas e equipamento militar de que dispõem. Em sua opinião, no futuro
"a aposta será noutra coisa, a guerra será completamente diferente. [Este
armamento] será sucata de que eles não precisarão porque haverá uma guerra
completamente diferente", disse ele.
·
Mídia norte-americana reconhece
impossibilidade de vitória da Ucrânia em meio aos avanços da Rússia
Apesar da altamente
esperada contraofensiva ucraniana de 2023, ela foi parada e a Rússia começou a
libertação de territórios, uma realidade que os apoiadores de Kiev foram
forçados a reconhecer.
A contraofensiva
ucraniana fracassou, e eventos como a recaptura de Avdeevka pela Rússia
sinalizam uma nova realidade que Vladimir Zelensky foi forçado a reconhecer,
escreveu no sábado (24) a revista norte-americana Time.
"A tão esperada
contraofensiva do ano passado fracassou", reconheceu no sábado (24) em um
editorial Anatol Lieven, do Instituto Quincy, acrescentando que a retórica de
Washington mudou de acordo com isso.
"A estratégia do
governo Biden agora é manter a defesa ucraniana até depois das eleições
presidenciais dos EUA [de novembro de 2024], na esperança de enfraquecer as
forças russas em uma longa guerra de desgaste."
A esperança agora é
que as forças de Kiev alcancem o tão esperado avanço em 2025, ou talvez no ano
seguinte, mas "a Rússia nunca concordará, na mesa de negociações, em ceder
terras que conseguiu manter no campo de batalha", argumentou Lieven.
"Os territórios
ucranianos perdidos estão perdidos", apontou Lieven.
"Por mais
doloroso que um acordo de paz seja hoje, ele será infinitamente mais doloroso
se a guerra continuar e a Ucrânia for derrotada", sugeriu ele.
Oper
Ø
Taiwan está 'extremamente preocupada' com a
possibilidade de EUA abandonarem a Ucrânia
A liderança de Taiwan
está mostrando preocupação com a falta de ajuda militar à Ucrânia, que teme ser
um possível prelúdio para algo semelhante no caso de Pequim organizar uma
invasão da ilha.
Altos funcionários
taiwaneses questionaram repetidamente membros de uma delegação do Congresso dos
EUA sobre a paralisação da ajuda de Washington à Ucrânia devido às repercussões
que isso poderia ter sobre a segurança da ilha, informa no sábado (24) o jornal
norte-americano Politico.
A delegação de cinco
membros se reuniu com a presidente taiwanesa cessante Tsai Ing-wen e o
presidente eleito Lai Ching-te, entre outros altos responsáveis, durante uma
viagem de três dias a Taipé.
"Taiwan está
extremamente interessada na [questão da] Ucrânia e extremamente preocupada com
a possibilidade de estarmos nos afastando da Ucrânia", disse na
sexta-feira (23) Mike Gallagher, presidente do Comitê Seleto da Câmara sobre
Competição Estratégica EUA-China, durante o último dia da visita liderada por
ele.
Gallagher reconheceu
que o fato de os EUA não continuarem apoiando a Ucrânia em seu conflito com a
Rússia, por causa do pacote de US$ 60 bilhões (R$ 299,7 bilhões) paralisado no
Congresso, poderia ter um impacto desestabilizador no estreito de Taiwan.
‘"O resultado na
Ucrânia é importante não apenas para a Ucrânia e para a credibilidade dos EUA,
mas também para a dissuasão no Indo-Pacífico, para a dissuasão através do
estreito" de Taiwan, explicou ele.
O congressista tentou
tranquilizar as autoridades taiwanesas, temerosas de que um segundo mandato de
Donald Trump corte a assistência à ilha.
"O povo de Taiwan
deve ter confiança de que, não importa o quanto nossas eleições sejam
controversas, os Estados Unidos apoiarão firmemente Taiwan."
Ao mesmo tempo, Mike
Gallagher lamentou os atrasos nas entregas de armas a Taiwan, que chegam a US$
19 bilhões (R$ 94,91 bilhões). Ele reconheceu que a questão "não será
resolvida em breve" e exigiu soluções "criativas", incluindo a transferência
da produção de drones aéreos e submarinos dos EUA para Taiwan, a fim de
acelerar as entregas.
O congressista
democrata Raja Krishnamoorthi, por sua vez, notou que altos funcionários
taiwaneses "estão observando os pedidos suplementares para a Ucrânia como
falcões", e acrescentou que Taipé considera uma "vitória da
Ucrânia" algo "incrivelmente importante para enviar uma mensagem ao
Partido Comunista Chinês".
Fonte: Sputnik Brasil
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